Foi num dia 16 de Janeiro que Augusto se fez imperador e assim
criou o Império Romano. Por cá, foi o culminar de séculos em que Roma
“pacificou” à força os lusitanos e os outros povos ibéricos – uma gente
incivilizada que não queria a paz.
Sabemos o que se seguiu: estradas, termas e villas; leis e
administração; cidadãos de primeira e de segunda; recursos minerais extraídos
até ao tutano; e o poder político lá longe. Mais ou menos o que Portugal depois
fez nas ex-colónias. Aprendemos a civilizar com os melhores.
Uns bons dezoito séculos depois do nascimento do Império Romano
nasceu um outro império, mais pequeno em escala, mas não em sonho: a vila de
Manique do Intendente, com 2000 habitantes (à data e também hoje), entalada
entre a serra de Montejunto e o Tejo. A povoação azambujense já existia, mas
Dona Maria II achou boa ideia renomeá-la, fazer dela concelho e assim honrar
Pina Manique, que lá tinha morgadio.
Pina Manique também achou boa ideia. Assim que se viu com uma
vila nas mãos, contratou arquitectos e idealizou a sua Manique do Intendente
com uma grande praça hexagonal, ladeada por edifícios em estilo neoclássico,
com um pelourinho ao centro e cinco longas ruas a projectarem-se da praça para
os concelhos vizinhos. Cada rua com o nome de um ilustre romano: Sertório,
Júlio César, Augusto, Trajano e Justiniano.
Dois séculos depois, resta o pouco que se construiu naqueles
anos: as ruas com os nomes romanos, que iam ser longas, têm meia dúzia de
metros e não levam a lado nenhum; e dos edifícios neoclássicos fez-se apenas o
da Câmara Municipal, visível na imagem. Nesse edifício funciona hoje um centro
de dia, porque a vila já não é concelho, nem sequer freguesia, apenas parte de
uma união de freguesias.
Ali perto, resta também a fachada do palácio que Pina Manique
mandou erguer, mas que assim ficou, pela fachada e pouco mais, quando ele
morreu.
Esta é a ordem natural das coisas: desaparecer e virar fachada.
Tal como desapareceu o Império Romano, subsistindo hoje nessa modesta fachada
que é a 𝗣𝗿𝗮𝗰̧𝗮 𝗱𝗼𝘀 𝗜𝗺𝗽𝗲𝗿𝗮𝗱𝗼𝗿𝗲𝘀 𝗱𝗲 𝗠𝗮𝗻𝗶𝗾𝘂𝗲 𝗱𝗼 𝗜𝗻𝘁𝗲𝗻𝗱𝗲𝗻𝘁𝗲, um hexágono com 300 metros quadrados no meio do nada.
Rui
Passos Rocha
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