Há coisa de 850 anos, também num dia
18 de Janeiro, o Papa canonizou Bernardo de Clairvaux. E o que é que eu tenho a
ver com isso? - pensam vocês. É que este santo da actual França teve um papel
determinante na independência de Portugal.
Bernardo nasceu numa família
aristocrata, o que, historicamente, já era meio caminho para chegar a santo.
Apenas três anos depois de entrar na ordem de Cister (com mais 30 familiares e
amigos), recebeu aval para fundar uma abadia em Clairvaux. Aí, nos anos que se
seguiram, os seus escritos, regra monástica e lista de contactos atraíram muita
gente. Inclusive o futuro Papa Eugénio III.
Eugénio III tornou-se Papa em 1145.
No ano seguinte, pediu a Bernardo que pregasse a cruzada contra os muçulmanos.
O discurso deste perante as ordens militares ficou para a História: disse-lhes
que Deus estava zangado com a cristandade por permitir o avanço dos infiéis e
garantiu que quem fosse combater teria a eternidade no Paraíso. Resultou. Ao
longo dos séculos seguintes, o espírito de cruzada e guerra santa foi muito
forte.
Cá no rectângulo, Dom Afonso
Henriques andava há anos a combater os almorávidas entre Coimbra e Leiria. Em
1147, pediu ajuda de cruzados para tentar tomar Santarém e Lisboa. Foi então
que prometeu a Bernardo de Clairvaux (borgonhês tal como o pai de Afonso) ceder
44 mil hectares de território a Cister se Santarém passasse para mãos cristãs.
Vieram charters de cruzados, claro.
Santarém caiu e, logo a seguir, o
território do actual concelho de Alcobaça, mais coisa menos coisa, passou para
as mãos de Cister. A ordem religiosa englobou esses terrenos no seu vasto
sistema de produção e comércio agrícolas, que ia de Portugal à Suécia,
aproveitando a muita mão-de-obra gratuita (os camponeses trabalhavam para
comer). Cister continuou tão poderosa que Bernardo se manteve influente no
Vaticano. E essa influência (mais os rios de dinheiro que Dom Afonso Henriques
enviou ao Estado papal, vá) foi fundamental para que, em 1179, o Papa
declarasse a independência de Portugal.
Em Alcobaça, a Ordem de Cister ergueu
um mosteiro imponente, símbolo da vitória de Portugal sobre os mouros. A poucos
metros do Mosteiro de Alcobaça, e voltada para ele, pode ver-se uma estátua em
honra do santo, numa rotunda que leva o seu nome: a 𝗥𝗼𝘁𝘂𝗻𝗱𝗮 𝗱𝗲 𝗦𝗮𝗼 𝗕𝗲𝗿𝗻𝗮𝗿𝗱𝗼.
Rui
Passos Rocha
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