.
Se o título Timor na II Guerra Mundial situa temporalmente os acontecimentos de que fala este blogue, o subtítulo Contributos para uma memória portuguesa do conflito explica em grande parte a motivação para o colocar em linha. Não consigo deixar de ter a sensação de que a memória é uma coisa à qual nós, portugueses, somos naturalmente avessos quando a mesma não nos é simpática e o caso da ocupação de Timor, primeiro pelos Aliados em finais de 1941 e depois pelo Japão entre 1942 e 1945, é um desses casos.
A descoberta deste pedaço particular de memória nasceu de um fascínio de infância pela figura de um tio-avô, que nunca conheci, morto naquela ilha enquanto combatia a ocupação japonesa. A descoberta recente de que este fora, mais do que um resistente à invasão, um informador activo dos serviços secretos australianos, não só renovou o meu fascínio pela personagem como despertou um ainda maior interesse pelos acontecimentos da época. Daí ao recolher de toda a informação que conseguia encontrar sobre o assunto foi um passo. Depois, veio a natural vontade de começar a divulgar os resultados da recolha. Uma vez estabelecido o propósito de a dita divulgação ser o mais abrangente possível, a imagem como ferramenta de comunicação impunha-se como indispensável e a hipótese de um blogue surgiu como natural.
Acontece que imagens do período da II Grande Guerra em Timor, ou mesmo anteriores, é coisa que infelizmente rareia. Tirando as imagens que a equipa de reconhecimento da Secção de História Militar australiana fez entre o final 1945 e início de 1946, já após o fim da guerra, praticamente não há, penso, imagens publicadas que documentem o período da ocupação. O facto de a então colónia portuguesa estar desde há muito isolada, aliado à destruição dos centros urbanos do território e à desestruturação da sociedade provocada pela guerra, poderá ter contribuído decisivamente para este rarear de imagens. A procura de fotografias tornou-se portanto numa actividade paralela à da leitura e é assim que um dia, numa visita ao “e-Bay”, encontro uma das poucas imagens de que tenho conhecimento da sociedade europeia em Timor no período imediatamente antes da guerra. É uma foto de um almoço ou jantar, de homens impecavelmente vestidos de branco como seria costume nos “trópicos”, e na qual a figura central é um menino timorense descalço e fardado de grumete. Assim que ampliei a fotografia no ecrã do computador pareceu-me reconhecer dois dos comensais, ambos na mesma mesa: o Governador da colónia, Ferreira de Carvalho, e o deportado republicano Cal Brandão. Depois de confrontar a imagem com outras, continuo convencido das respectivas identidades. À mesma mesa, provavelmente num salão do Sporting ou do Benfica de Díli, estavam o representante do regime e um deportado político. Não será motivo para grande espanto se pensarmos que o número total de europeus na ilha deveria andar na época entre os quatrocentos e quinhentos e que aos deportados políticos era dado o direito a exercer a profissão.
Dei portanto um lugar de destaque à referida fotografia no blogue, com o pedido de colaboração dos leitores que, podendo, forneçam pistas para a identificação das restantes figuras na imagem. Estou em crer que, mesmo pelas ausências — as senhoras por exemplo — é uma fotografia fiel da sociedade europeia, em Díli, na época. Será também muito bem-vinda a colaboração de quem possa ter em casa outras imagens com importância para o estudo deste período em Timor. Algumas já chegaram, com muito interesse, com origem no corpo expedicionário que, em 1945 / 1946, esteve encarregue de ajudar no restabelecimento da soberania portuguesa no território. Uma versão do blogue em inglês está a ser preparada. Estou certo de que bons contributos poderiam vir de países como a Austrália ou o Japão e esta será uma forma de o abrir a um muito maior número de leitores.
João Tinoco
Sem comentários:
Enviar um comentário