A
Igreja da Suécia é conhecida pelo seu extremo liberalismo. As mulheres são
sacerdotes desde 1960 e bispos desde 1997. Os casamentos religiosos entre
pessoas do mesmo sexo foram aprovados em 2009. A diocese de Estocolmo teve à
sua frente entre 2009 e 2019 Eva Brunne, homossexual, casada com uma outra
sacerdote, que defendeu que uma determinada igreja retirasse as cruzes para que
ali pudessem rezar pessoas de outras religiões. Desde 2013 que o cargo de
Arcebispo de Uppsalla, Primaz da Igreja da Suécia, é ocupado por uma mulher, Antje
Jackelén, a primeira bispa a ser
recebida pelo Papa no Vaticano, em 2015.
Mesmo
sabendo deste historial, ainda surpreende que a partir de Maio de 2018 passasse
a ser proibido referir-se a Deus como “Ele” ou “o Senhor”. Os livros do
cerimonial e de cânticos foram adaptados. A Trindade deixou de ser “Pai, Filho
e Espírito Santo”. A linguagem inclusiva, verdadeiro mantra dos tempos modernos
que a Academia Francesa descreveu como “aberração”, é o motivo subjacente.
País
luterano desde a Reforma Protestante do século XVI, a Suécia conserva uma
Igreja própria, a Igreja da Suécia, que até ao ano 2000 foi igreja de Estado –
como continua a acontecer noutros países nórdicos – Dinamarca, Noruega e
Finlândia – que mantém as ligações formais entre o Estado e a suas Igrejas. Em
Setembro de 2017 houve eleições na Igreja da Suécia, as mais participadas desde
1950, relatou a imprensa. Envolvimento ou entusiasmo com a instituição? Nem por
isso. Dominadas pelos partidos políticos, as eleições prenderam-se com as
posições partidárias na questão dos imigrantes e dos refugiados, que se tornou
central no debate político nacional. A Suécia é, de acordo com estatísticas
divulgadas, o país ocidental menos religioso do Mundo.
Reflexo,
em boa medida, de uma sociedade profundamente liberal nos costumes, a Igreja
evoluiu no mesmo sentido. A ordenação de mulheres, por exemplo, tornou-se
obrigatória por lei pelo Parlamento sueco em 1958, depois de a Assembleia da
Igreja a chumbar no ano anterior. Os homens que se recusaram a colaborar com as
mulheres ordenadas deixaram de poder ser ordenados em 1994. A Igreja da Suécia
acompanhou, à força quando foi necessário, a mentalidade do Estado (ou dos
legisladores) e da sociedade. Deixou de parte tradições, dogmas ou doutrinas e
agora referências milenares. Tudo para ser aquilo que se convencionou chamar
“politicamente correcta”.
Apesar
de números aparentemente altos de pertença formal à Igreja da Suécia (a
inscrição era automática com o registo de nascimento até há uns anos), as
estatísticas dão conta de uma perda anual de fiéis que se assemelha a um
sangramento. A participação nas liturgias é residual, com menos de 2% da
totalidade de fiéis a comparecerem nas celebrações dominicais.
Vem
este intróito pouco canónico a despropósito do filme Os Dois Papas, de Fernando Meirelles, e da ideia que me parece resultar
central no mesmo, que é a de necessidade imperiosa e inadiável de uma profunda
reforma da Igreja. A par desta ideia, as críticas que vou lendo, de pessoas mais
ou menos ligadas à Igreja, evidenciam um certo estado de maniqueísmo – nas redes
sociais, nos jornais, sente-se uma necessidade aguda de clarificação de
facções, ora em apaixonada defesa do Papa Francisco, ora em desagravo das
ofensas ao Papa Emérito Bento XVI. Salva-se a quase unanimidade no elogio à
qualidade do filme e dos actores – que eu acompanho.
Os
dois assuntos, o maniqueísmo papal e a necessidade de reforma, vão claramente
de mãos dadas. Mas vou tentar tratar dos dois de forma separada.
O maniqueísmo papal
É
possível gostar dos dois Papas ou pelos menos de aspectos dos seus pontificados
e das suas personalidades e, por insólito que pareça, o filme de Meirelles até
parece adocicar a imagem de Bento XVI – mas porque o aproxima de Bergoglio e
não porque o explica como Ratzinger. Mas há inquestionavelmente uma certa
tendência para, ao preferir um, encontrar defeitos no outro.
Convenhamos:
é difícil não ficar desconcertado e comovido com alguns gestos de Francisco. O
seu beijo nas chagas de um doente, logo no início do Pontificado, é uma das
imagens mais fortes que alguma vez vi. E Francisco é eficaz no nosso tempo,
pouco dado a leituras e reflexões – as suas mensagens são mais simples e o Papa
privilegia os gestos, as imagens, porque sabe que poucos serão os que lerão o
que diz ou escreve.
Já
Bento XVI foi mostrado desde o princípio como o fiel guardião da doutrina e
apesar da solidez do seu pensamento e da profundidade (e acerto) das suas
reflexões sobre o nosso tempo, levou e levará colado o rótulo de antiquado e
retrógrado. O facto de se ter rodeado por tanta beleza litúrgica e
para-litúrgica, cheia de significados e com o objectivo primeiro de glorificar
a Deus foi sempre explorado para o denegrir. Meirelles faz dele uma caricatura,
mostrando-o altivo, rude e até ansioso por ser eleito.
Como
o António
escreveu no seu texto sobre os sapatos papais, somos muito influenciados
pela percepção que nos dão sobre os assuntos. Nada que o António escreva hoje
vai mudar a convicção tão profunda quanto errada que milhares de pessoas têm de
que os sapatos vermelhos de Bento XVI eram um capricho, corrigido pelo novo
Papa para bem do povo de Deus.
Ora,
o problema central deste belo filme é o facto de reforçar estereótipos – uns
bons e outros maus, mas sobretudo uns verdadeiros e outros falsos – em relação
a ambos os papas e à Igreja. E, partindo de uma ideia (falsa) de que estamos
perante uma base verídica, transmite uma percepção errada do que é a Igreja e
do que são os dois papas escolhidos para a liderar neste início de século e de
milénio.
Creio
que não basta dizer que o filme não é um documentário. A não ser que
desconheçamos alguma informação secreta soprada a Meirelles, a parte essencial
do filme – as conversas entre Ratzinger e Bergoglio sobre a Igreja – são puríssima
ficção. Não apenas no seu conteúdo, mas no facto de terem sequer existido como
antecâmara da histórica decisão de renúncia de Bento XVI. Ou seja, tirando a existência
de dois Conclaves e alguns pormenores da vida de Jorge Mario Bergoglio, a
estrutura do filme não tem correspondência com a realidade.
Aparte
disso, apesar de se chamar Os Dois Papas,
o filme é essencialmente – como Fernando Meirelles já reconheceu – um filme
sobre o Papa Francisco. Outra referência de Meirelles é de que se trata de “um
filme sobre perdão”.
Creio
que aqui se pode encontrar a chave do descontentamento dos que sentem que Bento
XVI é injustiçado. Há, no filme, dois assuntos que motivam a necessidade de
perdão: (1) a actuação do Papa Francisco durante o regime autoritário militar
na Argentina e (2) a actuação do Papa Bento XVI nos casos de pedofilia,
centrado no filme na figura de Marcial Maciel, dos Legionários de Cristo.
Sobre
o primeiro discorrem longos e belos minutos em flashback na vida de Bergoglio, numa penitência que parece até
explicar alguns dos seus actos já como pontífice. Sobre o segundo, é ignorada
não apenas a actuação de Ratzinger contra Maciel antes de ser eleito Papa em
2005, como tudo o que fez para combater a pedofilia depois de ser eleito Papa –
o perdão não chega a surgir, aparecendo antes um ralhete do Cardeal Bergoglio
na sacristia da magnífica Capela Sistina.
Ora,
embora não seja o assunto do filme, a questão da pedofilia e dos abusos sexuais
na Igreja é um dos mais sérios e graves assuntos, que devem envergonhar os
Papas e todos os cristãos e que precisam de uma resposta firme. Mas se os
problemas não começaram com São João Paulo II, também não terminaram com as
respostas firmes de Bento XVI ou de Francisco em relação aos processos
judiciais, nem com os seus pedidos de desculpa às vítimas. Mas o que é certo –
e histórico – é que a resposta começou com Bento XVI e isso está ausente do
filme, que trata este grave assunto de forma ligeira e portanto injusta.
A
injustiça é até agravada pelas dúvidas que foram sendo levantadas sobre
diversas decisões e declarações do Papa Francisco em relação a outros
escândalos noticiados já no seu pontificado. Não se trata de medir quem tem
mais culpas. Trata-se de olhar os assuntos de forma séria e não tentar que
fique a ideia – que creio que fica do filme –, de que os escândalos são da era
de Ratzinger e a luz da era de Francisco. Embora perceba praticamente tanto de
futebol como o Papa Emérito, creio que é relativamente evidente que a mudança
de treinador, neste caso de Papa, não resolve os problemas da equipa – e a
equipa são, neste caso, milhares de sacerdotes e milhões de crentes laicos que
formam a Igreja. E isto, leva-nos ao tema central do filme.
A reforma
O
actual Papa é uma personalidade que marca indubitavelmente o nosso tempo. Em
2013, na noite em que foi escolhido no Conclave, estive na RTP a comentar a sua
eleição. Referi que o desconhecido Bergoglio me recordava o Papa João XXIII e
referi que o despojamento seria muito provavelmente a marca do seu pontificado,
uma vez que aparecera sem as vestes tradicionais que os seus antecessores
envergaram na mesma ocasião. Falhei redondamente noutra previsão, de que seria
a Argentina o seu primeiro destino após a eleição. Não voltou a pôr lá os pés,
o que é ainda hoje desconcertante.
Francisco
gerou, desde a primeiríssima aparição na varanda de São Pedro, uma forte
empatia não apenas dos fiéis mas também da comunicação social. À boa imprensa
juntou-se o aplauso dos críticos da Igreja, que viram no Papa Bergoglio e nas
suas primeiras declarações críticas para a Cúria a oportunidade da tão ansiada
reforma – defendida sobretudo pelos que não fazem ideia nenhuma do que é a
Igreja e que, por muito que mude, continuarão ao largo.
Os
estereótipos e as percepções que nos são inculcadas sobre a Igreja, sobre o seu
imobilismo, sobre a sua rigidez moral e a sua inadaptação ao mundo, tornam
praticamente unânime a convicção da necessidade de uma reforma.
Francisco
deu gás a esta ideia, criando um comité para reformar a Cúria e aludindo por
diversas vezes aos pecados, falhas e insuficiências da Igreja e dos seus
pastores. Curiosamente são estas as declarações de Francisco que têm mais
repercussão mediática e que criaram a imagem de justiceiro, amplificada pelo
filme de Meirelles mas que vem desde o início do Pontificado. Por contraste,
sempre que o Papa reafirma a posição da Igreja sobre o aborto ou sobre a
eutanásia as suas declarações são em geral ignoradas ou objecto de uma
circunspecta nota de rodapé (e apenas muito raramente, alvo de um espirro de um
crítico).
Então,
se a reforma é inevitável, resta perguntar, que
reforma? E para quê?
Retomando
o brusco exemplo de arranque deste texto, não há nada, do ponto de vista dos
parâmetros sociais de hoje, de criticável na Igreja da Suécia, naquilo que
aceita para a sua hierarquia e para os seus fiéis. Reformou-se em todos os
aspectos em que a Igreja Católica é alvo de crítica – a ordenação feminina, a
questão da orientação sexual (o casamento dos sacerdotes já vinha de trás, de
Lutero), até se adaptou à linguagem inclusiva. Mas o exemplo sueco mostra também
é que a incorporação forçada da “moral” do nosso tempo não tornou a aquela
igreja mais próxima das pessoas, nem reforçou o seu papel evangélico. Pelo
contrário, esvaziou-a, tornou-a indistinguível da sociedade, socialmente
irrelevante.
Além
disso – e naturalmente esta não é uma questão de somenos importância – é muito
difícil encontrar uma sustentação nos Evangelhos que nos permita dizer que
aquela igreja sueca que os homens moldaram à sua imagem é a Igreja que Cristo
instituiu há quase 2000 anos.
O
que nos leva a outra questão: é melhor uma Igreja que desafia e tenta moldar a
sociedade ou uma Igreja irrelevante, que não se distingue da sociedade?
Há
meios-termos, claro. A reforma a fazer não tem de ser radical como a levada a
cabo a partir do parlamento de Estocolmo, por diktat administrativo. Há elementos reformáveis na Igreja Católica
– e nem sequer tenho posição definida em relação a todas as questões. É
evidente que se devem corrigir erros e sobretudo impedir a repetição de crimes,
como os hediondos que referi e que envergonham todos os católicos. Mas a ideia
de que a salvação da Igreja só é possível através de uma reforma que abale os
seus alicerces, uma revolução que a deixe quase irreconhecível nas suas
posições morais, parece-me um erro profundo – precisamente porque a Igreja que
não se distinga da sociedade, que não incomode pela sua doutrina, não servirá o
propósito que Cristo teve ao fundá-la.
Não
sei qual é a experiência nas outras paróquias. Na minha, as igrejas não me
parecem mais cheias por causa da popularidade do Papa Francisco ou da sua vontade
de promover uma reforma. De resto não tenho, nem procurei ter, dados sobre as
vocações, mas duvido que os seminários estejam a abarrotar. Ao ler alguns dos
comentários e crónicas, fico com a sensação de que há muitos fãs, alguns até
devotos, do Papa Francisco que não são devotos de Cristo, nem sequer ponderam
sê-lo. Apreciam, de certo modo, a humanidade do Papa, ignorando que ele
representa, entre nós, algo de substancialmente maior e intemporal.
A
culpa não é do Papa, nem deste, nem do anterior – a sociedade de hoje, marcada
por um forte individualismo, que quase abjura a presença de qualquer referência
a Deus e a Cristo, torna porventura inevitável que a Igreja se torne mais
pequena. Não deve ser imutável, foi mudando ao longo de dois milénios;
tornou-se pior quando se aproximou dos homens e das guerras e foi melhorando e
corrigindo erros ao longo do último século e meio, quando se centrou no divino.
Mas o radical esvaziamento sueco – que é apenas um exemplo que tem paralelo
noutros países e noutras igrejas protestantes – mostra que é preciso cautela
quanto à solução, para que o efeito de uma reforma não seja o contrário do
pretendido.
A
Igreja não é um partido político, não é um clube de futebol, nem uma associação
que precisa de membros para justificar a sua relevância. Como Hopkins-Ratzinger
refere no filme de Meirelles, deve evitar ficar fora de moda e para isso deve
evitar procurar estar na moda. Não deve procurar ir ao sabor do vento, perdendo
a referência fundacional que são os textos dos Evangelhos. Melhor do que
Hopkins, o Ratzinger original, numa
das suas homilias mais poderosas, a última como cardeal, na missa que antecedeu
o Conclave de 2005:
“Quantos ventos de doutrina
conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas
modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi
muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo
ao liberalismo, até à libertinagem, ao colectivismo radical; do ateísmo a um
vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante.
Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano
dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé
clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como
fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e
além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à
altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo
que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o
próprio eu e as suas vontades.
“Ao contrário, nós, temos outra
medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro
humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a
última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com
Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para
discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Devemos amadurecer
esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé só esta fé
que gera unidade e se realiza na caridade.”
Recordo-me
de ouvir um repórter americano referir, em 2005, que as palavras de Ratzinger
tinham sido a sua desistência de ser eleito papa, de tão radical que era a
recusa da “ditadura do relativismo” e das “ondas da moda”. Mas o cardeal alemão
proclamava, sobretudo, a fidelidade à mensagem de Cristo e por isso foi tão
importante tê-lo como Papa, para trazer para o centro essa radicalidade
original do cristianismo – uma radicalidade baseada na fidelidade, no amor e no
perdão.
A
Igreja pode ser fiel a essa mensagem, sem que, com isso, tenha de ser
inflexível e de atear fogueiras aos pés de quem com ela não concorde; mas deve
poder permanecer fiel, sem que lhe ateiem diariamente fogueiras aos pés,
forçando uma reforma que a anule no seu propósito, um propósito que transcende
o nosso tempo. Podemos continuar a rezar em latim, em português, em grego, em
russo, a cantar e até a dançar. Podemos ter uma Igreja misericordiosa, mas no
essencial creio que deve ser fiel à mensagem salvífica, essa sim
verdadeiramente revolucionária, que Cristo nos trouxe há 2000 anos.
Termino
com outra citação:
“Ao principiar este ano, descubramos
de novo a adoração como exigência da fé. Se soubermos ajoelhar diante de Jesus,
venceremos a tentação de olhar apenas aos nossos interesses. De facto, adorar é
fazer o êxodo da maior escravidão: a escravidão de si mesmo. Adorar é colocar o
Senhor no centro, para deixarmos de estar centrados em nós mesmos. É predispor
as coisas na sua justa ordem, reservando o primeiro lugar para Deus. Adorar é
antepor os planos de Deus ao meu tempo, aos meus direitos, aos meus espaços.”
São
também estas palavras, no fundo, contra a mesma “ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa
como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades” de que Ratzinger
falava em 2005, contra aquilo que nos convém em cada momento, contra uma
igreja-à-la-carte. Esta citação é da belíssima
homilia do Papa Francisco, esta semana, a 6 de Janeiro de 2020, na Solenidade
da Epifania.
Ademar
Vala Marques
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