Há uns anos, intrigado e agastado com o frenesim “fazedor”
de um certo governante, e achando que essa agitação permanente não era sadia
nem aproveitava a ninguém, o escritor Yann Martel criou uma listopia aí com uma
meia centena de livros e empreendeu enviar um de 15
em 15 dias à irrequieta personagem.
Os livros, selecionou-os não tanto pelo
valor literário, mas sim por “expandirem quietude”.
Daí que na lista tanto conste o Read All About It! de Laura
Bush, como as Meditações de Marco
Aurélio e A Sonata Kreutzer, de Tolstoi (olha, Tolstoi a
escrever sobre Beethoven? Ignorante a dobrar, fui ver à net e fiquei banzada
com o que li. E agora que li, já não posso desler).
Perguntou-se Martel:
"Who is
this man? What makes him tick? No doubt he is busy. No doubt he is deluded by
that busyness. No doubt [o cargo] fills his entire consideration and froths his
sense of busied importance to the very brim. But he must have moments of
stillness. And so this is what I propose to do: not to educate—that would be
arrogant, less than that—, to make suggestions to his stillness”.
Imbuída do mesmo espírito, e porque diz que até ler à
pressa faz mal às pessoas e à sociedade, é minha intenção vir aqui de vez em
quando falar à quietude de cada um e de cada uma, mesmo que seja aquela que nos
dispõe a dançar – ou vice-versa.
Não sendo, ainda assim, uma lírica e conservando o
sentido das realidades, não ponho aqui nada que leve mais de 5 minutos a ouvir
(em média, digamos; ao fim-de-semana não digo que não me passe uns 3-4 minutos
dos limites: sejamos loucos).
Ora, 5 minutos é capaz de ser menos do que nos tomam
alguns dos magníficos textos do Malomil. Hei-de inspecionar com um cronómetro, levando
já em linha de conta que haverá quem leia à pressa – no que faz mal (ver
supra).
Uns auscultadores à mão ajuda à quietude, tanto mais que
o fio prende os leitores-ouvintes ao computador, caso não sejam wifi (os
auscultadores, não os leitores – ainda, creio).
Prometo coisas elevadas e culturais. Fica
uma amostra.
Pobre Boccherini, as minhas desculpas.
Agora é que é: a
sério
Até
ao Carnaval
Manuela Ivone Cunha
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