Falo disto à
vontade aqui, porque o António decidiu contar tudo. E fez bem, neste tempo em
que se discute revelar todas as ligações secretas, as mais e as menos
organizadas, mais vale dar o exemplo. E o António Araújo fê-lo naquele que é
simultaneamente o melhor blogue do mundo, mas também de Portugal, o Malomil.
Caía o pano do ano – e que ano – quando o António, no trinta e um, procedeu a este outing botânico
e contou ao mundo do Plantas.
O Plantas é o nome curto do Plantas Tristes, e o Plantas Tristes, criado
em 20 de outubro de 2017, e com sete pessoas, é um grupo de WhatsApp. Um grupo
de WhatsApp, nem mais nem menos. E o que é o Plantas? É um grupo onde adultos
partilham consensualmente fotografias de plantas tristes. E o que são plantas tristes? Recorro aqui às
palavras do António, que é uma pessoa boa, de palavra, além de colaborador
deste Diário: "E o que são plantas tristes? – perguntais bem.
Difícil explicar, é preciso sentir o conceito. Talvez por exemplos: plantas que
jazem sozinhas nas entradas dos prédios, em terra árida e pouco regada, amiúde
urinada, e resmas de beatas. Ou plantas solitárias entorpecidas em escritórios,
que nascem e morrem sem conhecer outras plantas e, por isso, são incapazes,
coitadinhas, de alegrar um ambiente de trabalho.
Plantas Tristes,
em síntese apertada, é uma espécie de escravatura botânica, não sendo
necessário, creio, acrescentar mais nada. Ora, tudo isso é triste, muito
triste, como decerto compreendereis, corações bondosos." É isto mesmo, são
plantas de hall de prédio, junto aos molhos de panfletos do
Aldi, cuidadas por uma porteira ou vizinha de mãos verdes, quietas como
tartarugas num aquário, ou plantas nos escritórios, nas salas de espera, nos
corredores, nas entradas e nas saídas. E sim, é isso que fazem estes sete
adultos, passam numa rua à porta de um prédio e lá dentro jaz uma planta,
saca-se do telemóvel e sem edição, pumba, entra no Plantas. É uma espécie de
adição e ninguém do grupo espera que ninguém fora do grupo compreenda, aceite
ou sequer ache normal. Então porque escrever sobre o Plantas nas páginas
do Diário de Notícias. Tem tudo que ver com o Trump, já lá chego.
A definição do
António, que exemplifica (e portanto em rigor não é uma definição, mas eu é que
lhe chamei definição) com plantas em halls e escritórios,
esquece uma categoria importante de plantas tristes, talvez menos triste do que
as outras (esta opinião é estritamente pessoal e não vincula o grupo) – são as
plantas tristes em edifícios públicos. Por mais parteira que seja a porteira,
por mais jardineira que seja a gente da manutenção do banco a tratar da planta
da entrada, nenhuma planta é tão bem tratada como a que jaz em edifício
público, repartição, direção-geral, gabinete de estudos, instituto de sigla com
muitas letras, a última delas um p; plantas na entrada, nos corredores
burocráticos em que não se corre e pouco ocorre, pautados por secretárias de
pau-santo protegidos por senhoras santas, calendários, pirilampos mágicos em
fila num monitor, plantas envasadas a ladear portas para salas onde pouca gente
entra, plantas em nichos e recantos.
Mas são as menos tristes estas plantas, porque no público há mais
carinho, mais tempo, um futuro certo, um amanhã infinito. São plantas feias
como as outras, sobreviventes às sombras mais sombrias, aos dias mais pardos,
plantas que habituadas a serem plantas de passagem, em que ninguém para nem
repara, que nunca ninguém elogiou, plantas que quem mais olhou para elas depois
da cuidadora informal foi um grupo de sete estranhos no WhatsApp, mas são
plantas resolvidas, plantas do Estado-que-cuida.
E o que me preocupa,
agora que me resta tão pouco espaço e por isso tenho de voltar ao tema, é que
Trump assinou um decreto com o sugestivo nome "Making Federal Buildings
Beautiful Again" com o objetivo de que os edifícios federais deixem de
andar ao sabor dos arquitetos e que correspondam ao gosto clássico (?) do povo,
no fundo menos edifícios do FBI, mais Casas Brancas. E, nisto, como ficam as
plantas? O novo plano promove ou demove as plantas? É que pela América, em
Washington, em Nova Iorque, não faltam plantas tristes à procura de serem
felizes. O que pensará Trump sobre isto? Quer acabar com o brutalismo, com o
cimento, com os volumes – quererá exterminar as plantas ou enxamear de plantas?
E se o leitor
ficou curioso, lamento informar mas o grupo é muito seleto, não aceitamos
casais nem no fundo queremos muito mais gente. Mas se achar que é um bom
candidato a descobrir a tristeza escondida das plantas, já sabe, resposta a
este jornal.
João Taborda da
Gama
(in Diário de Notícias, de 15/02/2020)
As reported by Stanford Medical, It is indeed the SINGLE reason women in this country get to live 10 years more and weigh an average of 19 kilos lighter than us.
ResponderEliminar(And by the way, it has NOTHING to do with genetics or some secret exercise and absolutely EVERYTHING to around "how" they eat.)
BTW, I said "HOW", and not "WHAT"...
Click on this link to determine if this brief quiz can help you decipher your true weight loss potential