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Vêem-se agora janelas aos quadradinhos formados por
apliques de plástico colados sobre um pano de vidro único. No Caramulo, há
ainda casas com janelas de caixilhos em madeira com um vidro pequeno em cada
quadrado. O vidro era caro. Se um vidro se partia, o tamanho contava.
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Há
ainda eiras, ou uma só?, em lajeado de xisto. Quente ao sol, secava os cereais.
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Também há, ainda, espigueiros em granito, telha vã e
madeira. Aqui está um. Agora são de telhado em fibrocoiso e paredes em tijolo
vermelho ou de cimento.
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Há, escondidos na sombra de muitas árvores, antigos
moinhos de água. Só ruínas. Paredes de granito tosco e restos de telhas.
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Já não corre a água para a mó.
As condutas em madeira
caíram e são terra.
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Cresce o musgo em cada pedra esquecida.
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Caem árvores sobre as últimas paredes.
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Confundem-se as ruínas com o arredor.
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Pertencia cada moinho a muitos herdeiros de família.
Moíam o milho, outro milho, em migalhas grossas de amarelo torrado de que se
faziam broas a saber a milho ainda na maçaroca, pesadas e coloridas, com o
miolo interior mal cozido. A porta do moinho não tinha chave. Dividia o lá
dentro do tempo cá fora. Agora as últimas portas apodrecem abertas.
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As ervas crescem lá dentro. A porta do moinho abandonado
dá para o interior que agora é exterior, e o exterior é agora o interior da
nossa vida.
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Memória, nostalgia? Choro não, certamente. Mas o fim da
pobreza tem sido também um adeus ao laço, submisso mas qualquer coisa mais, com
as pedras e os vivos da natureza. Esse
laço agora é isto: imagens, viagens, lazeres, entreténs.
Texto e fotografias de
Eduardo Cintra Torres
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