Em A Dimensão Oculta, Edward T. Hall abordou o
conceito de proxémica, o modo diverso como nós, humanos, nos relacionamos com o
espaço. Nunca gostamos que, estando uma sala de cinema vazia, alguém se venha sentar mesmo ao nosso lado. Ou num banco de jardim, havendo outros bancos disponíveis e solventes. Para um nómada do Sara ou para um japonês de Osaka o espaço é muito
diferente. Na realidade e no conceito que dele fazemos. Para um informático de
Osaka, um canteiro numa varanda é um jardim imenso. Para os aborígenes da
Austrália, a terra é tão vasta que só através de songlines se orientam, tanto nos corpos como nos espíritos.
Não são de
hoje as imagens das viagens urbano-subterrâneas em jeito de sardinha em lata.
Os que as viram, recordam certamente as fotografias do Metropolitano de Tóquio,
com uns funcionários de farda e luva branca a compactar os obedientes
nipónicos nas carruagens à cunha. Mais recentemente, em Tóquio como noutros lugares
(no Brasil, por ex.), notícias da abertura de carruagens exclusivamente
femininas. Para evitar os assédios e os apalpões e, no caso do Japão, para
impedir que os tarados por fardas de colegiais tirassem fotografias com
telemóveis ao underwear das lolitas
trajadas de minissaias – e depois as colocassem na Net, para consumo solitário
de otakus, uma tribo estranha.
Falando doutra tribo estranha: os extreme commuters. Em Microtendências, Mark Penn fala deles a
propósito dos Estados Unidos. Mas a moda começou no Japão: pessoas, geralmente
homens, que fazem centenas de quilómetros para cá e para lá, na ida e regresso
do trabalho. No Japão, em comboio-bala; na América, pela auto-estrada fora.
Horas e horas por dia, dias por ano, anos ao fim de uma vida de homo laborans (60 anos são 20 mil dias,
dizem os cultores do carpe diem).
Naturalmente, são devastadoras as consequências desta tendência para os
familiares agregados a tal sina. Daí o dito japonês contemporâneo segundo o
qual uma criança só vê as costas do pai.
Quando o progenitor regressa, arrasado e de gravata à banda, já os filhos
dormem há várias horas.
Estas imagens do Metropolitano de Tóquio
só têm paralelo nas dos mártires da pintura medieval. Ou, talvez
melhor, nas geniais esculturas de Franz Xaver Messerchmidt. Pensar que foram
feitas no século XVIII deixa-nos boquiabertos, ávidos de querer saber mais,
pelo que ao tema espero regressar em breve.
Franz Joseph Messerschmidt (1736-1783)
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.....Em Tóquio, vemos gente esmagada
contra o vidro sfumato de tanto ar
condensado. Suor sem lágrimas. As plangentes imagens de rostos distorcidos, em esforço de sobrevida, são, porventura, a síntese perfeita da nossa modernidade líquida. Ninguém sorri, ninguém está feliz. Há quem diga que as fotografias são «impróprias para
claustrofóbicos». Não. São indignas de um país que se diz «civilizado».
Mas, ao que parece, a moda
já chegou aos ares. Trata-se de um caso isolado, motivado por uma necessidade impreterível.
Mas imaginem o que será viajar num avião com o corredor atravancado por 29
praticantes de sumo. Foi o que aconteceu recentemente, segundo notícia do
imprescindível The Aviation Herald.
Como sempre, foi o João Gama que trouxe isto a conhecimento da minha santíssima
ignorância, e por isso lhe agradeço, com um abraço do
António Araújo
Vivi e trabalhei no Japão grande parte de um ano e há tanto tempo que a minha filha mais nova tinha 3 anos e a minha neta filha dela hoje já namora ...e já era assim !
ResponderEliminarCreio que isto é uma daquelas ideias feitas que não traduzem a realidade.Outra?Tokio é uma cidade caríssima!Não é.Tem uma oferta para todas as bolsas ao contrario dos paises nordicos por exemplo.São civilizados sim ou civilizados somos nós?
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