impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 55 - LENNIE TRISTANO
Fotografia de Roberto Polillo
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Quase todas as suas
fotografias são formais, num preto e branco muito contrastado, com uma sombra
nos olhos. Cego de nascença e seco de carnes, de perfil ascético e senhor da
sua própria ortodoxia, Lennie Tristano demonstrou ser uma das personagens mais fugidias
do jazz do seu tempo.
Vindo de fora da
tradição e tendo subsistência estável como professor de música, a sua rigidez
conceptual e algum criticismo fizeram de Tristano um objeto estranho ao meio.
Não deixa de ser curioso que tenha granjeado bastante consideração entre os
principais do be bop, já que das
várias linhagens formadoras do cool,
um dos cromossomas primevos e mais férteis forneceu-o Lennie Tristano. Ou não
tivesse sido ele o mestre de Lee Konitz, comparsa de Miles Davis em The Birth of the Cool.
O estilo de
Lennie Tristano inspirava-se ao mesmo tempo em Art Tatum e Bach, o que
constituiu uma das razões para que Charlie Parker o definisse lapidar e
elogiosamente: “I call him the great acclimatizor”. A outra razão terá sido
porque Tristano conseguiu aclimatar a escala cromática ao jazz, ainda mais do
que o próprio Parker, que tinha fama de não desperdiçar nenhuma nota.
Do muito que Lennie Tristano tocou ao vivo pouco
ficou. Sempre especioso com os contratos, assinou para a etiqueta Atlantic os
disco “Lennie Tristano” em 1955 e “The New Lennie Tristano” em 1962, que em
posteriores edições acabaram fundidos numa peça.
LENNIE TRISTANO /
THE NEW LENNIE TRISTANO
1955-1962
Atlantic / Wea 71595
Lennie Tristano
(piano); Lee Konitz (saxofone alto); Peter Ind, Gene Ramey (contrabaixo); Art
Taylor, Jeff Morton (bateria).
Entre outras singularidades os
quatro primeiros temas assentam em experiências técnicas assaz iconoclásticas.
Em “Line Up” e “East 32nd” a fita de registo foi ligeiramente acelerada na
transcrição para o suporte e tanto “Requiem” como “Turkish Mambo” resultam de
sobreposições de três pistas, dando a impressão de haver mais do que duas mãos
ao piano.
Estas invenções criaram celeuma.
Por exemplo, o poeta e aficionado de jazz Philip Larkin, considerou “Line Up”
brilhante, claro, mas sombrio e opressivo produzindo o efeito de uma pessoa a
tocar só com uma mão. Já “Requiem” que supostamente Tristano compusera e tocara
no funeral de Charlie Parker, tem um inusitado sabor a blues, coisa rara no
repertório do pianista.
Após estas quatro irreverentíssimas faixas iniciais,
aquilo que antes constituía ao lado B de “Lennie Tristano” prossegue em registo
mais canónico, tanto em quarteto como em trio de piano, nos quais Lee Konitz
tem espaço e tempo para desenvolver as suas melodias serenas. “The New Lennie
Tristano” decorre em registo de piano solo, virtuoso e milimétrico, mas sem
nunca perder o norte emocional. Três mundos contem este disco e tão alienígenas
entre si.
Pouco depois destas gravações
Lennie Tristano silenciou-se. No final dos anos 60 a cena do jazz ao vivo pedia
exacerbamentos: musicais, emocionais e intelectuais. Bem o contrário da atitude
contida de Tristano e do seu estilo esotérico. Também a sua relação com as
editoras já conhecera melhores dias. Tudo junto, fez com que ele se retirasse,
dedicando-se quase exclusivamente ao ensino. De metrónomo em punho, minucioso
com o legato e com o staccato, tratava os alunos com cordialidade e exigência.
Assim como chegou, Tristano partiu;
mas deixou um legado cuja sensibilidade tem aumentado com o tempo.
José Navarro de Andrade
Devia ter vergonha mas não conheço ou melhor conheço o nome mas não a musica que é o que interesa .Mais despesas.Obrigado.
ResponderEliminarNot so fast.
EliminarHoje vou colocar à disposição de todos o "Intuition" com Warne Marsh e
Lee Konitz.
Temos que ser uns para os outros.
Ferol: para já não há que ter vergonha de nada, o que eu tenho descoberto ao ir fazendo estas fichazitas...
EliminarF.A. obrigado pelo apoio musical.
Obrigada por existir
ResponderEliminarEu é que agradeço que me leia.
EliminarHa um outro pianista que eu gosto particularmente e que tambem era cegoi.Tive a oportunidade de o ouvir ao vivo.Quase não se fala .Catalão.Tete Montoliu.Merecia creio reedições que estão tanto em voga em caixas generosas que me fazem chorar o dinheiro que gastei pelos que ja tenho.Enfim é a vida.
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