A vergonha dos manuais escolares
Como é possível que cada disciplina tenha pelo menos seis livros disponíveis, crescendo esse número até 12 à medida que se avança nos ciclos?
Muito se tem falado na baixa de natalidade do país, havendo muitas
explicações para o facto de estarmos a morrer mais do que nascemos. Olhando
para o que se passa no ensino básico e no secundário, entendemos como é difícil
para a maioria das famílias terem mais de um filho. Mas comecemos pelas creches
que são mais caras que as próprias universidades, como alguém chamou a atenção
há pouco tempo. Fará algum sentido, num país que está a hipotecar o futuro com
tão poucos nascimentos, que não exista uma rede nacional de creches que permita
às famílias menos abonadas deixarem os seus rebentos enquanto vão trabalhar?
Quando chega a hora de entrarem na escola, a conversa continua a ser
surreal: os livros de um ano não dão para o outro e, assim, as famílias com
mais de um filho são obrigadas a despender o que não têm. Nesta edição fomos
tentar perceber as razões deste descontrolo e as acusações são mútuas entre
livreiros e professores, ficando os pais no papel de prejudicados e revoltados
com a situação.
Como é possível que cada disciplina tenha pelo menos seis livros
disponíveis, crescendo esse número até 12 à medida que se avança nos ciclos?
Não se percebe quem foi a cabeça bem pensante que deu esta oportunidade às
escolas, mas sabe-se que antigamente cada família sabia que os livros serviam
de um ano para o outro, a não ser que houvesse uma mudança radical de
programas. Supostamente, agora os livros deveriam ter um período de vigência de
seis anos, mas são alterados todos os anos. Como é possível?
Os directores de escola atiram-se às editoras, o Movimento Reutilizar ataca
os professores por “compactuarem” com estas. É de todo inaceitável as manobras
que as editoras fazem para inutilizar os livros de um ano para o outro.
Desde colocarem exercícios no meio dos livros – quando há cadernos
específicos para isso – até não permitirem tecnicamente que se apaguem as
referências a lápis. Será que podemos ir aprender com outros países onde os
manuais são distribuídos gratuitamente a todos os alunos, desde que não os
estraguem e possam ser utilizados no ano seguinte?
Vítor
Rainho
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