impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 54 - CHET
BAKER
Fotografia de Bob Willoughby (1953)
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Fotograma de Bruce Weber (1988)
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Causou pungente impressão no público
europeu o regresso de Chet Baker no final da década de 70.
Tal como tantos outros músicos de jazz antes
dele, Baker procurara no Velho Continente o aplauso e a tranquilidade que os
Estados Unidos, por serem muito mais competitivos, dificilmente concedem. Ao
contrário do que sucedera cerca de quinze anos antes, quando acabou banido da
Alemanha e da Grã-Bretanha, desta vez logrou alguma estabilidade musical,
experimentando o período mais prolífico da sua carreira. Foi também na Europa
que recebeu a morte, que há tanto tempo o perseguia, ou ele desafiava. E morte desastrosa,
concertada com o fado da sua vida, estatelando-se de um quarto de hotel para a
rua, sabe-se lá se por acidente se empurrado – em ambos os casos a mando da
heroína.
Distantes estavam os primórdios dos anos
50 em que um fugacíssimo lustro foi quanto bastou para que muito mais tarde
Chet Baker e James Dean fossem reverenciados como as figuras icónicas de uma
geração e da versão de Los Angeles da tendência estilística denominada de West
Coast Cool. Cada um por seu lado, Dean radiando o glamour reluzente do cinema, Chet (apenas 2 anos mais velho), o
outro lado da moeda, projectando as sombras expressionistas da boémia, ambos apresentaram-se
como rebeldes sem causa, atraídos pelo perigo frívolo – não tiveram idade para
ir à guerra – galhardeando a T-shirt branca e os jeans dobrados nos tornozelos,
mas sobretudo um olhar de menino triste sublinhado pela poupa tão irrepreensível
que dir-se-ia lacada. Foi como se tivessem inventado a adolescência.
Também tal como James Dean, Chet Baker
gozou um êxito muito precoce e fulminante. Aos 22 anos de idade integrou o memorável
quarteto sem piano de Gerry Mulligan e nele participou na origem do cool jazz.
Passados dois anos, em 1954, cantou em “Chet Baker Sings” e a sua voz fez
furor, por na secura e na falta de vibrato,
ser tão divergente ao que era esperado de um crooner. Daqui em diante termina a sincronia de Baker com Dean,
porque o trompetista impediu-se de morrer cedo e ter um belo cadáver, ao
derivar na inexorável mas morosa degradação da droga.
The
Touch of Your Lips
1979 (1994)
SteepleChase
- SCCD 31122
Chet Baker (trompete), Doug Raney (guitarra),
Niels-Henning Ørsted Pedersen (contrabaixo)
É um espectro o Chet Baker a quem a
editora dinamarquesa SteepleChase deu acolhimento em 1979. No rosto curtido
como de um pescador desvanecera-se a aura de bad boy de outrora e sulcavam-se as marcas do calvário por que
passara. O pior fora terem-lhe partido os dentes numa rixa, obrigando-o a
reaprender a embocadura do trompete. Na gravação do disco “The Touch of Your
Lips”, manifestamente incapaz de arcar com o fragor da bateria ou a amplitude
do piano, foi defendido pelo guitarrista Doug Raney, domiciliado em Copenhaga
havia dois anos, e o contrabaixista local Niels-Henning Ørsted Pedersen, que no
Clube Montmartre robustecera o pulso acompanhando uma bela galeria dos grandes
intérpretes que passavam em digressão pela Dinamarca.
Nem no apogeu Chet Baker revelara dons
instrumentais de virtuoso. O seu cariz e a sua popularidade estavam,
precisamente, em contrastar a intensidade dada como vernácula do jazz, com uma
acústica límpida e estendida, derramada de modo descontraído. Mas o que dantes
tinha o atrevimento de sugerir indiferença ou displicência, em 1979 expunha, de
maneira cruel, as inúmeras imperfeições e debilidades técnicas de Chet Baker. Ora
é exactamente por esta brecha que o prodígio se introduz em “The Touch of Your
Lips”; socorrendo-se de uma paleta de recursos harmónicos minimal, de uma meia-dose
de acordes que em nenhum momento sobrelevam o registo médio, desprendendo
frases lineares e rarefeitas e cantando numa voz a que lhe falta o fôlego, Chet
Baker supera em pathos o que lhe escasseia em perícia.
Talvez por ser uma das obras mais
melancólicas do jazz, “The Touch of Your Lips” nunca falha em comover quem
ouve.
José Navarro de Andrade
Um dos de pódio.
ResponderEliminarE por isso vai ser difícil escolher o que publicar.
Até breve.
Aquele que me fez adquirir vários cds. ADORO!!!
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