impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 91 - TERENCE
BLANCHARD
A hegemonia e a consistência dos irmãos
Marsalis, liderados pelo primogénito Wynton, descobriu a influência do pai
Ellis, até então desconhecida, na formação e na projecção daquela fornada de
excelentes músicos que brotaram, como que de repente, de Nova Orleães, no
início da década de oitenta. Formar quatro dos seus filhos e um par de amigos
deles – Terence Blanchard e Harry Connick Jr. – e ainda, dez anos depois, ter
instruído Nicholas Payton, deu ao magistério de Ellis granjeou uma notoriedade
que honrou o labor da mal-agradecida e anónima multidão de professores
particulares de música.
Wynton e Blanchard estão separados por
três anos de idade – uma insignificância em adultos, mas um enorme desfasamento
enquanto jovens. Ambos trompetistas, a comparação tornou-se inevitável e esta
terrível distância etária não foi suficiente para se ouvir Blanchard como uma
defluência ou uma progressão de Wynton, o que lhe daria espaço e oportunidade
para se emancipar dele, mas seria mais do que bastante para perpetuar Blanchard
como sombra de Wynton.
Embora o jazz seja um género musical
mais encolhido que outros, é ainda assim capaz de contrariar aquele adágio dos
western que assegurava serem certas cidades demasiado pequenas para acomodarem
dois pistoleiros. Eximindo-se ao morgadio do mais velho, Terence Blanchard
arredou-se da competição e portanto da acareação, com Wynton. A solidariedade
geracional e bairrista levou este a indicá-lo como seu sucessor no posto de
trompetista na formação dos Jazz Messengers de Art Blakey, onde várias levas de
músicos entravam como estagiários e saíam doutores. Mas daí em diante Terence
Blanchard partiu rum ao pôr-do-sol, à procura da sua voz própria e de uma
carreira frutuosa.
Foi sobretudo como compositor que
Terence Blanchard obteve alguma satisfação artística e adquirir um trem de vida
agradável, permitindo-lhe não ter de abandonar residência na sua Nova Orleães
natal e ficar em contacto com “as raízes”. Escreveu uma quantidade considerável
de bandas sonoras cinematográficas, tendo como mentor Spike Lee, aceitou
encomendas para bandas, espectáculos teatrais, performances e foi director
artístico de inúmeros cursos musicais. No mesmo passo desenvolveu uma
discografia para etiquetas de fino trato como a Columbia e a Blue Note, que o
levou a sentar-se em treze ocasiões na secção de nomeados na plateia dos
Grammys, tendo subido ao palco umas respeitáveis três vezes.
Tudo isto parecerá um hino ao
conformismo, mas ninguém gosta de ter a barriga vazia, embora muitos gostem de
fomes heróicas e mortes abjectas em nome da arte, desde que sejam as de outros,
os que passaram a ser venerados depois de baixarem à terra, sem que na vida os seus
admiradores lhes tivessem seguido o exemplo. Detentor de uma competência perfeccionista
e tendo demonstrado possuir o toque da inspiração, Terence Blanchard integrou a
linhagem de músicos que depois da década de 70 renunciou às mortificações do
idealismo e optou pelo realismo, enfrentando a difícil opção de dizer que “sim”
às incumbências sem se alienar – clube que tem como sócios honorários Herbie
Hancock e Pat Metheney, por exemplo.
Flow
2005
Blue
Note - 78273
Terence
Blanchard (trompete), Brice Winston (saxofones tenor e soprano), Lionel Louke
(guitarra), Herbie Hancock (piano), Aaron parks (piano), Derrick Hodges
(contrabaixo), Kendrick Scott (bateria), Howard Dossin (sintetizador), Gretchen
Parlato (voz).
Faltaria à trajectória de Terence
Blanchard um marco que provasse o seu mérito para além da excelência
convencional. Ele surgiu em 2005 com o disco “Flow”, uma produção com todos os
matadores, porque entregue ao supino Herbie Hancock. Serviu o luxo de tempo
para ensaios e de estúdio (é nestes pormenores que se consomem os orçamentos…) para
reviver a experiência dos Jazz Mesengers, fazendo-se rodear de um grupo de
jovens músicos à beira do futuro, mas ainda sem pé firme no presente, como o
guitarrista Lionel Louke, ainda a três anos do seu estrondoso “Karibu”, ou o
pianista Aaron Parks, também a caminho de se afirmar com “Invisible Cinema” –
curiosa ou intencionalmente, todos rapazes da escuderia Blue Note, a editora de
“Flow”.
Também no repertório de “Flow” Terence
Blanchard demonstra liberalidade, entregando boa parte dos títulos à pena dos
seus áulicos. Foi obviamente também trabalho de Hancock, que não se coibiu de
participar ao piano nalguns temas, ligar numa tapeçaria harmoniosa o que
tenderia a redundar em manta de retalhos. Mas por cima e por dentro, tecendo um
fio de seda, paira o trompete de Blanchard. Em “Flow” a música vai para onde
quer, mas até o mais empedernido ortodoxo convirá que nunca desabita o jazz.
José Navarro de Andrade
Muito muito bom este músico.
ResponderEliminarInfelizmente muito discreto.
ResponderEliminarDo último não tenho nada, deste tenho e irei publicar aquilo que poderá ser uma boa surpresa.
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