O João pediu-me autorização para publicar uma
fotografia que, por um acaso onomástico, foi tirada por outro João. É de acasos
onomásticos, deliberados ou involuntários, que trata este blogue, fantástico,
que agora descobri. Mensagens de publicidade amadora (ou profissionalmente amadora), avisos e escritos, sínteses do
quotidiano, palavras que, estas sim, dizem mais do que mil imagens. As palavras
estão lá para dizer o que se pretende («não entre», «não suba», «desça por
aqui», «compro» ou «vendo») mas fazem-no de uma forma que ultrapassa a
intenção e a pretensão de quem as escreve. De quem as escreve de forma directa
e incisiva, assertiva e comunicativa, tendo graça infinita sem desejar tê-lo.
Gente que escreve exactamente como pensa, livremente, e no exercício dessa
liberdade total, quase anárquica, acaba por dizer mais, muito mais, do que
aquilo do que quis pensar e, logo, escrever. As pessoas que escrevem isto são os maiores heróis da liberdade de expressão ou os grandes mártires da comunicação verbal, pois subvertem, com involuntária coragem, a tirania dos códigos e dos cânones linguísticos que nos impedem de escrever exactamente como pensamos. Desenganem-se os que julgam que isto é «Portugal no seu melhor», título de uma rubrica antiga da imprensa, pois o fenómeno do involuntário comunicacional é universal (mesmo que haja uns ditos que só nesta terra soalheira, ainda que endividada, poderiam ser produzidos). O blogue Acasos de Comunicação é fantástico pois mostra o poder das
palavras, a sua capacidade mágica de se libertarem das intenções de quem as
profere, indo muito mais além, até raiar o melhor dos humores, aquele que é
involuntário e sans conscience de soi. É isso que torna o resultado final tão
maravilhoso. Repito, fascinado: o melhor humor é sempre não intencional.
António Araújo
P.S. - obrigado ao João Gama, obrigado à Sofia e ao João Tinoco, obrigado ao Jorge Lima, que ontem lançou ao mundo o seu livro do Dalai Lima e, na sessão de lançamento, recordou o dia em que, na cidade de Coimbra, deparou com um anúncio numas obras que dizia tão-só: «Proibida a Entrada a Pessoas Estranhas». De imediato, e para todo o sempre, o Jorge desejou ardentemente descobrir, talvez beijar, o génio que escrevera aquela frase extraordinária. Quem fora ele, esse génio? Nunca se sabe. Se o melhor humor é o involuntário, o maior génio é sempre o mais anónimo.
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