sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Robert Capa, 100 anos.




 

Robert Capa (1913-1954)






No dia 22 do mês passado decorreram precisamente cem anos sobre o nascimento de Robert Capa. Se fosse vivo, Capa teria hoje cem anos e um mês. Uma idade improvável para o comum dos mortais, mais do que improvável para quem teve uma vida tão incomum e tão mortal.  

         Poder-se-iam contar dezenas de histórias sobre a vida de Bob Capa, desde a da controversa imagem do soldado caído na Guerra de Espanha à dos rolos de fotografia no desembarque da Normandia, passando por outra – maravilhosa – sobre o modo como Irwin Shaw e Robert Capa conseguiram chegar à fala com Ingrid Bergman, no Ritz de Paris.

         A biografia de Capa, da autoria de Richard Whelan, conta os seus últimos momentos, com um pormenor final que resume toda uma vida de aventura e boémia, porque de tudo isso, além de imagens inesquecíveis, se construiu o mito. A lenda daquele que nasceu em Budapeste, em 22 de Outubro de 1913, com o nome Endre Ernö Friedman.

         Em Abril de 1954, o fotógrafo da Life que cobria a guerra da Indochina teve de regressar a casa, pois a sua mãe fora acometida por um ataque cardíaco e tinha poucos dias de vida. Convidaram Robert Capa para o substituir. O fotógrafo, que estava por perto, no Japão, aceitou. Por duas razões, ambas convergentes: precisava do dinheiro e, segundo disse, iria ter muito gozo neste regresso a um cenário de guerra (“I didn´t take the job from a sense of duty but with real great pleasure”, escreveu). Não aceitara às cegas, conhecia bem os riscos, aquele era o quinto grande conflito armado que iria fotografar. Sabia que quem ia para um cenário de guerra com a excitação do perigo raramente saía de lá vivo. Anos antes, quando o fotógrafo da Magnum Ernst Haas se voluntariou para a guerra da Coreia, Capa mandou-o fazer uma reportagem na Grécia: “Ernst, you were so enthusiastic to go into war. One gets very easily killed that way.”.

         Na Indochina, Capa integrou uma coluna militar juntamente com os jornalistas John Mecklin, correspondente da Time, e Jim Lucas, da agência Scripps-Howard. A meio da manhã, chegaram à fortificação de Dongquithon, cujo comandante os convidou para almoçar. Capa declinou o convite e preferiu circular por ali, captando imagens, sentindo os combates. Por volta das duas da tarde, a coluna partiu, sofrendo uma emboscada. Robert Capa perguntou ao comandante o que se passava. “Viets partout”, disse o coronel Lacapelle, debaixo de fogo cerrado. Capa, como sempre, saltou para o tejadilho do jipe, para tirar uma última fotografia, antes de se abrigar. “That was a good picture”, disse depois.

         Por volta das 14h50, a coluna imobilizou-se, era arriscado avançar. Os colegas de Capa, John Mecklin e Jim Lucas, acharam mais prudente ficar na viatura. Robert Capa saiu do jipe, andou por ali. Entrou campo dentro, caminhando ao lado das tropas, de quem tirou uma fotografia a preto e branco e, mudando de máquina, outra a cores. Esta seria a última imagem que captou, antes de pisar uma mina dos viets.
 
 

 
 
 

         Assim que souberam que Capa tinha tido um acidente grave, Mecklin e Lucas acorreram ao local, cerca das três da tarde. Bob estava deitado de costas, mas respirava ainda – apesar de ter a perna esquerda esfacelada e uma grande ferida aberta no peito. Uma das mãos ainda agarrava a máquina Contax, mas a Nikon tinha sido arremessada para longe pela explosão da mina. John Mecklin sussurrou o seu nome várias vezes e, numa delas, Robert Capa moveu os lábios. Em redor, várias minas explodiam. O coronel Lacapelle chamou uma ambulância, que levou o moribundo de regresso a Dongquithon, a cinco quilómetros dali. Em Dongquithon, um médico vietnamita declarou a sua morte.

         Quando as notícias da morte de Robert Capa chegaram a Paris e Nova Iorque, gerou-se o pânico e a incredulidade. Muitos julgaram que se tratava de um erro, pois nesse mesmo dia chegara a notícia da morte de outro fotógrafo da Magnum, Werner Bischoff, falecido dias antes num acidente de automóvel, quando fotografava nos Andes. Muitos julgaram que era uma confusão, que Robert Capa não tinha morrido. Ao fim de tantos anos e tantas guerras, não era difícil pensar que Capa era imune às balas e às granadas.

         Os seus restos mortais foram sepultados em Hanói, antes da trasladação para os Estados Unidos. No funeral em Hanói, os franceses cobriram-no de honras e condecorações, algo que, em vida, Capa nunca apreciara. Aliás, a viúva declinou a oferta do Exército americano para que o corpo fosse enterrado no cemitério de Arlington, alegando que o marido nunca fora um soldado. Mas ali, em Hanói, teve direito a salvas e  guarda de honra e recebeu a Croix de Guerre com palma, uma das mais altas distinções militares francesas. Mais expressiva era, porém, a coroa de flores deixada pelos empregados do La Bonne Casserole, um restaurante de Hanói onde, segundo John Mecklin, Capa “aterrorizava os criados de mesa, lançava charme às clientes e ensinara o barman a misturar martinis à moda americana”. Na coroa de flores do pessola do La Bonne Casserole, a fita dizia apenas:
 
A notre ami
 
 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. gosto muito de Capa. mais um post excelente. obrigada :)

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  2. Tirando lá o episódio da mina, quem me dera ter tido uma vida parecida. Por acaso no meu blog "Contador de Viagens" até tenho umas fotos jeitosas.

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