Deodatus (Roggenburg, Alemanha) |
St Albertus (Baviera, Alemanha) |
St Benedictus (Munique, Alemanha) |
St Friedrich (abadia de Melk, Áustria) |
St Getreu (Ursberg, Alemanha) |
St Luciana (Baviera, Alemanha) |
St Valentin (Bad Schusssenried, Alemanha) |
St Valentinus (Waldsassen, Alemanha) |
St Valerius (Weyan, Alemanha)
|
St Vincentus (Innsbruck, Áustria) |
Dr. Paul Koudounaris |
Tenho
uma amiga que é uma santa, ou para lá caminha. Gosta de nuvens e é tão devota, mas tão devota,
que me passa os dias, as manhãs solares, a comprar pagelas nas
Paulinas, à Baixa da capital. Já nem a podem ver entrar nas Paulinas, acreditem
n’Isto! Compra pagelas como antigamente se compravam cromos da bola, já tem
santos e santas para dar e trocar. E, como é generosa até mais não, deu-me esta notícia de um jornal de paróquia, O Guardião.
Esta notícia remetia, por sua vez,
para o trabalho de um rapaz muito giro, o Dr. Paul Koudounaris, que vive em Los
Angeles e se doutorou na University of California Los Angeles, a reputadíssima
UCLA, no Departamento de História de Arte. Admiro há muito este rapaz, não só
porque é muito giro mas também porque faz uns livros cheios de fervor. Dele
tenho um coffee table book, saído há dois anos, The Empireof Death. A Cultural History of Ossuaries and Charmel Houses. Aqui
há atrasado, creio que no ano passado ou no anterior, a Mena (outra senhora
piedosíssima), contou-me que tinha ido ver a Capela dos Ossos, a Évora. Em
resposta, disse-lhe que havia alguns ossários daqueles, tão bons ou até em
melhor, por essa Europa fora (dizem que na Hungria é com cada capela dos ossos
que até faz vista e o Paulo está sempre, mas sempre, a falar-me do que viu em
Itália, na cripta da Santa Maria della Concezione dei Capuccini). Recomendei à Mena, claro, o livro do Dr. Koudounaris, que ela mandou logo
vir da Amazon. Depois contou a história dos ossários numa das suas crónicas
semanais do Expresso.
Agora, aqui há uns tempos recentes, o
Dr. Koudounaris acaba de lançar novo livro, versando uma temática mais ou menos
parecida. Heavenly Bodies trata de
relíquias macabras, santos adornados pela opulência do barroco bávaro e
austríaco (já na altura eram povos riquíssimos). No transacto mês de Junho,
passei uma temporada ainda grande por aquelas terras, onde a cada esquina somos
esmagados pelo esplendor das igrejas. Em todas elas, a figura da Morte, tópico
obsessivo do drama barroco alemão. Deve existir alguma ligação, provavelmente
remota, entre estas figurações da Morte e o nazismo. Não sei, parece-me. Pelo
menos, as SS cultivavam muito as caveiras, com roupas Hugo Boss, como bem
sabeis e até já deu polémica.
A concluir, apenas um pensamento que
me ocorreu mesmo agora: se repararmos bem, há alguma continuidade entre os
santos com aquelas jóias todas, numa opulência espectacular e desmesurada, e os décors em que o Dr. Paul Koudounaris
gosta de se fazer fotografar. O look
do Dr. Koudounaris, doutorado pela Universidade da Califórnia e publicado pela
prestigiada Thames & Hudson, remete muitíssimo para o look de St. Benedictus ou de St Friedrich (não traduzi os nomes
para não meter água). Antigamente, colocavam jóias luzidias para brilhar e
ofuscar os crentes, agora são piercings,
animais empalhados, barbichas e chapéus altos. É óbvio que, para lá de uma
eventual identificação algo insana com os seus objectos de estudos, o look do Dr. Koudouranis constitui um
artifício de marketing, com aqueles
cenários góticos e gore,
carregadíssimos de material visual. Mas também não sucedia assim com os
relicários barrocos, uma operação de marketing
para dar nas vistas? Nada disto é, ou pretende ser, ofensivo para a religião ou
para a devoção do povo, entendamo-nos bem. Quem vir esta reportagem, sobretudo
as imagens, da «santa» de Arcozelo, vai compreender o poder de atracção destas
figuras, outrora homens e mulheres santíssimos mas que agora já nem a pele trazem no corpo. Veja-se a quantidade de povo e de preces
que atraem, mesmo quando são visualmente fraquitas, como acontece com a «santa»
Maria Adelaide de Arcozelo (decididamente, não tinha uma boa dentição). A
continuidade visual entre o St. Benedictus e o Dr. Koudounaris é que me
intriga o espírito, confesso. O mundo é, e foi, um lugar estranho, Quanto ao mais, que não é pouco, a minha eterna gratidão à devota das pagelas,
uma santa com S. grande.
António Araújo
Grande post! :-)
ResponderEliminarQue exagero, Paulo!
ResponderEliminarGrande abraço,
António