domingo, 6 de abril de 2014

Reconciliação.

 
 
 
 
 
Deogratias Habyarimana (ex-assassino, à dir.) e Cesarie Mukabutera (sobrevivente)

Dominique Ndahimana (ex-assassino, à esq.) e Cansilde Munganyinka (sobrevivente)

Laurent Nsabimana (ex-assassino, à dir.) e Beatrice Mukarwambari (sobrevivente)

Godefroid Mudaheranwa (ex-assassino, à esq.) e Evasta Mukanyandwi (sobrevivente)

François Ntambara (ex-assassino, à esq.) e Epiphanie Mukamusoni (sobrevivente)

Jean Pierre Karenzi (ex-assassino, à esq.) e Viviane Nyiramana (sobrevivente)

Juvenal Nzabamwita (ex-assassino, à dir.) e Cansilde Kampundu (sobrevivente)


escrevi aqui sobre o Ruanda e os massacres de 1994. Não é um tema a que se deseje voltar muitas vezes, mas este regresso é ditado por uma razão simples: na Fundação Calouste Gulbenkian está patente uma retrospectiva do fotógrafo Pieter Hugo (n. Joanesburgo, 1976). Essa, sim, vale a pena visitar e regressar vezes sem conta – mesmo no dia seguinte. Da exposição não consta, como é evidente, o trabalho mais recente de Pieter Hugo, concluído há cerca de um mês. Quem vir a exposição na Gulbenkian notará uma continuidade flagrante entre outras obras do autor e este seu novo projecto. Hugo já estivera no Ruanda, onde captou imagens que bem lembram delicadas naturezas-mortas neerlandesas da Idade do Ouro. Agora, neste regresso ao Ruanda, fotografou pessoas que se reconciliaram. Sobreviventes e antigos assassinos. Lado a lado, com o olhar inexpressivo que caracteriza os retratos de Hugo, estão os autores dos massacres e os que então – há 20 anos –  perderam pais, irmãos, maridos ou filhos. As imagens transmitem um silêncio estranho, não necessariamente pacífico. Talvez um perdão resignado, pois a morte não tem conserto. Os diálogos estão aqui. Ficam também as imagens, com uma exortação que é quase súplica: não perder a exposição da Gulbenkian. Em breve regressarei a Pieter Hugo. Todo o regresso é a reconciliação com qualquer coisa. Foi bom regressar à Gulbenkian, numa manhã chuvosa de um sábado que passou ontem.
 



2 comentários:

  1. Sempre excelente e em cima do acontecimento. Só não percebi, e confesso que não gostei, do ex-assassino. Como raio um assassino se torna em ex?

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  2. Obrigado pelas suas palavras. No NY Times falava em «perpetrator», o que achei que não deveria traduzir para «perpetrador» (isto é, a pessoa que cometeu os massacres). Coloquei «assassino» (ou «ex-assassino»), expressão que, reconheço, não é feliz.
    Cordialmente,
    António Araújo

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