quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Doutrinários e precursores do nazismo.

 



 
 
No 90º aniversário do Mein Kampf de Hitler (II):
Doutrinários e precursores do nazismo
 
 
Houston Stewart Chamberlain

 
 
                 1. Houston Stewart Chamberlain
 
 
                Figura decisivamente importante para a filosofia nazi, além de estreitamente ligada ao wagnerismo, até por se ter casado com Eva, filha de Richard Wagner,  além de ter redigido em alemão uma obra que seria um dos pilares do III Reich – Die Grundlagen des neunzehnten Jahrhunderts, publicado em dois volumes, em Munique, em 1899, traduzido para inglês e publicado nessa língua em 1910, como The Foundations of the Nineteenth Century – foi o britânico Houston Stewart Chamberlain (Southsea, Lancashire, 9-IX-1855 – Bayreuth, 9-I-1927), falecido na cidade do seu sogro. Filho de um almirante, tomou partido a favor da Alemanha durante a grande guerra, tendo feito os seus estudos em Genebra e Dresden, após o que se fixou no país que admirava, tendo conhecido Hitler em 1923, no ano do putsch da cervejaria, que o recebe como um profeta. Membro da Sociedade dos Amigos de Gobineau (Gobineau Vereinigung, 1894) – o conde francês Joseph Arthur de Gobineau (1816-1862), o diplomata que, tendo sido chefe de gabinete de Alexis de Tocqueville em 1848, publicara os quatro volumes do Essai sur l’Inegalité des Races humaines (1853-1855), uma das primeiras obras de uma longa série de livros europeus que defendiam teorias raciais, preconizamdo o racismo –, tendo conhecido pessoalmente Wagner em 1876, que lhe manifestou grande apreço pelas suas ideias, vendo o francês a chave que explicaria na história e na civilização a superioridade da raça branca sobre as demais, e entre aquelas a dos arianos, os bárbaros germânicos que tinham conquistado a Roma, no séc. IV d.C. o seu Império, dando assim um contributo apreciável para a história europeia. Estes arianos, apesar de muitos abastardamentos raciais, ainda se encontravam em algumas regiões da França, da Inglaterra, da Irlanda e dos Países Baixos e, sobretudo, numa parte da Alemanha, no oeste teutónico, ou seja, na Renânia e no Hanovre (o que explica que tivesse dedicado o seu livro ao rei do Hanovre).[1] 
Chamberlain foi, sem dúvida, um dos fundadores da doutrina racial que os nazis haviam de enaltecer, sendo, como tal, referido no Mein Kampf pelo futuro Führer como um dos grandes mestres espirituais precursores do III Reich, tendo assistido aos seus funerais na cidade santuário da música wagneriana, daquele que chegara mesmo a naturalizar-se alemão. O opus magnum do inglês germanizado, que se encontrou em Bayreuth com Wagner e a sua mulher Cosima, filha de Liszt, defendia a teoria de que a cultura europeia era essencialmente constituída por cinco vectores: i) a arte, a literatura e a filosofia da Grécia, ii) o direito, o a política estatal e cidadania de Roma, e a revelação cristã na sua vertente protestante, iii) o génio criador e regenerador dos Teutões e, por fim, iv) o elemento perturbador da influência judaica, ainda que no meio desse “caos de raças”(Völkerchaos) foram os judeus a única raça que optara pela “pureza do sangue”.
No volume I dessa obra, Chamberlain estudara sobretudo o mundo antes do século XIII, mostrando que a Grécia engendrara a perniciosa democracia, que os Romanos[2] tinham logrado suplantar resistindo à “fascínio semítico-asiático”, erguendo-se então, contra aquele, a raça teutónica, opondo-se ao domínio judeu, luta descrita no volume II da obra, dedicada à resistência da germanidade na luta dos grandes poderes pelo domínio, que se resume, num lado, nos Teutões que seriam os criadores e suportes da civilização e, por outro lado, na Judiaria, que é a força racial negativa. Tudo o que fora positivo na história moderna se devia aos teutões, desde Giotto, Petrarca, Dante, Leonardo, Galileu, Miguel Ângelo, assim como toda a Renascença. Os Judeus, como povo essencialmente estrangeiro, tinham, apesar de tudo, conseguido obter na Alemanha, ao longo do século XIX, um desproporcionado lugar de destaque. Os grandes Alemães como Frederico o Grande, Bismarck, Herder e Goethe, garante Chamberlain, consideraram a influência dos judeus como perniciosa, como um perigo social e político. Quanto a Cristo, era evidente que Jesus não fora judeu, já que se opôs às dietas judaicas e mudou bastante o sentido das escrituras. Se alguém olhasse para Jesus como judeu era decerto um ignorante.
Esta espessa obra de Chamberlain depressa se tornou um vademecum cultural e ideológico na Alemanha do seu tempo, sobretudo no período que antecedeu o aparecimento de Hitler e do seu partido nacional-socialista. Guilherme II tinha por essa obra grande estima, recomendando a sua leitura, o que levaria Chamberlain a sentir-se lisonjeado, trocando com o Kaiser uma extensa correspondência, durante mais de um quarto de século, e tratando os generais do imperador e as figuras gradas da sua corte com uma “exagerada obsequiosidade” que “achava merecida como história viva que eram”, como nota o historiador Konrad Heiden no seu The Fuehrer, editado no seu exílio inglês, em 1944.[3]   
 
 
Heinrich von Treitschke
 
2. Heinrich von Treitschke


Uma outra figura merece ser sublinhada como uma das mais influentes na formação do conceito prussiano de unidade germânica: referimo-nos ao historiador Heinrich von Treitschke, nascido em Dresden em 1834 e falecido em Berlim em 1896, professor de História na Universidade de Berlim, desde 1847 até à sua morte, diante de uma assistência entusiasta e numerosa onde havia, além de jovens estudantes, muitos oficias do Estado-Maior alemão e, burocratas. Treitschke, com a sua tão lida História alemã no séc. XIX (1879-1894), tornara-se o mestre da prussofilia, exerceu uma fortíssima influência prussianizante graças à sua visão do mundo e da história, desde do reinado de Guilherme I no período do II Reich,[4] sendo, deste modo, o porta-voz oficial da nova Alemanha saída vencedora da guerra com a França de 1870-71 e o teorizador do pangermanismo em nome da superioridade da raça germânica, destinada a governar os assuntos do mundo inteiro, dando ainda uma acentuada leitura anti-semita da literatura alemã, como o fez quando negou que o esprit do grande poeta judeu alemão Heine pudesse ser considerado Geist no sentido germânico.[5] No seu Ecce Homo, Nietzsche não poupa Treitschke, nomeadamente o seu anti-semitismo: “Há uma maneira de escrever história de acordo com a Alemanha imperial e receio até que haja uma maneira anti-semita – há uma maneira de escrever história para a corte, coisa que não ignora, aliás, o senhor de Treitschke…”, acrescentando logo em seguida: “ Tais coisas levam-me ao extremo da paciência e vêem-me ímpetos de lembrar aos alemães tudo de quanto já são responsáveis – é dever dizê-lo – de todos os grandes crimes contra a cultura neste últimos quatro séculos.”[6] Esta obra autobiográfica de Nietzsche está repleta de páginas escandalosamente mordazes, dizendo que os seus compatriotas o enchem de vergonha e desdém, levando-o a um verdadeiro massacre de tudo quanto tem proveniência germânica, tanto no pensamento como na arte ou até na psicologia. Uma breve selecção desses azedas reprimendas e ferozes sarcasmos bastará para ver até que ponto o autor do Zaratustra se sentia estrangeiro, isolado e solitário na sua pátria, preferindo de longe paisagens ou cidades italianas ou suíças, embora nunca tivesse visitado Paris, embora, quando ensinava em Basileia, tivesse ido a Ferney-Voltaire, no Ain, em Abril de 1876, para visitar a casa onde o seu idolatrado Voltaire vivera, dedicando, em 1878, à memória do autor de Candide o seu livro Humano, demasiado Humano, por ocasião do centésimo aniversário da morte daquele endiabrado francês que tanto admirava.[7]
Os alemães, diz Nietzsche, “são responsáveis por tudo quanto se seguiu (após Napoleão), por tudo quanto hoje está perante nós, responsáveis do absurdo mais contrário à cultura que tem existido, «o nacionalismo». Essa doença, essa nevrose endémica de que sofre a Europa, esse proliferar de pequenos estados e de pequena política. Arrebataram à Europa a sua própria significação e sua razão de ser, empurraram-na para um beco sem saída…Será possível ainda ligar de novo os europeus? (…). Os alemães, em relação a mim, fizeram tudo quanto puderam para que a mais formidável missão desse luz a um rato. Portaram-se até agora comigo o pior possível e duvido que no futuro façam melhor. (…). Os meus naturais leitores e ouvintes são presentemente ainda russos, escandinavos e franceses (…). O «espírito alemão» é ar viciado: e eu respiro mal na promiscuidade dessa imundície «in psychologicis», que se tornou habitual em cada palavra, em cada atitude dos alemães. (…). Produziram acaso os alemães um único livro que se possa considerar-se profundo? Conheci sábios que tinam Kant por profundo, receio que na corte prussiana tenham por profundo o senhor Treitschke. (…). Os alemães são-me insuportáveis. Quando pretendo imaginar uma espécie de homens absolutamente opostos a todos os meus instintos, é sempre um alemão que se apresenta ao meu espírito. (…). Ao fim e ao cabo, os alemães não têm pés, têm só pernas…Não possuem ideia alguma de quanto são vulgares – o que com constitui o superlativo da vulgaridade (…). Em vão procurei da parte deles qualquer sinal de tacto e de delicadeza para comigo. Tive-a de judeus, nunca dos alemães.”[8]
 
Arthur Moeller van den Bruck
 
3. Arthur Moeller van den Bruck
 
         Nascido em Solingen em 23-IV-1876, von den Bruck,[9] historiador e crítico de pendor nacionalista e racial, foi líder, em Berlim, duma grupo de jovens conservadores alemães durante o período de Weimar, o Juniklub (o “Clube de Junho”), um agrupamento anti-democrático que pretendia reacender a “mística da ideia nacional”, que o seu livro Das Dritte Reich (O III Reich, 1923), publicado dois anos da sua morte por suicídio, constituiria uma das obras que tornaria o seu autor um dos precursores essenciais da ideologia nazi. Note-se que o termo do Terceiro Império tem  a ver com o longínquo sonho cristão milenarista do monge beneditino calabrês Joaquim de Floris (c.1135-1202), que falava do reino do Espírito Santo, como o final, depois dos reinos do Pai e do Filho,  sendo o Primeiro o do Velho Testamento, também chamado idade de São Pedro, o Segundo o do Novo Testamento, o da igreja ou idade de São Paulo, e o Terceiro o do Espírito Santo, no qual surgiriam, após um breve domínio do Anti-Cristo,  de novo o amor e a liberdade, o reino de São João, o alegado autor do Apocalipse, tornando-se a humanidade fiel a dos amigos de Deus,. Este ideário seria retomado por alguns franciscanos dissidentes, heréticos do Espírito Livre e pelos Fraticelli, condenados em meados do século XIII pelo papa Alexandre IV e no século XIV por Clemente V. A verdade é que a expressão de Terceiro Império se tornara corrente, como sucederia, mais tarde, com Der Untergang des Abendlandes (A Decadência do Ocidente, 2 vols., 1918-22) de Oswald Spengler (1880-1936), que considerava que as culturas estavam sujeitas, como os organismos vivos, a ciclos de vigor e decadência, obra pessimista que em parte inspirou o nazismo, já que o seu autor definia ali esse “Terceiro Reich” como “uma aurora eterna na qual todos os homens, de Dante a Nietzsche e Ibsen, ligaram as suas existências”, embora o seu autor nunca se filiasse nas falanges da suástica.[10]
Hitler, com o fim da República de Weimar, serviu-se naturalmente do título deste livro para designar aquele Terceiro Império (ou reino) germânico.[11] Com a nomeação de Hitler como chanceler alemão em Janeiro de 1933, a expressão de Terceiro Império logo se imporia naturalmente como a designação desse novo regime, império sem imperador mas com um Chefe (Führer) desse III Reich que o seu fundador augurava que esse reino seria milenar, apesar de, na realidade, só havia de durar doze anos vividos no caos frenético de uma ditadura absoluta e de intenções de extermínio racial, tendo terminado nas colossais chamas do Götterdämmerung, no Bunker bombardeado, assaltado e tomado pelos tanques e pelos soldados do Apocalipse soviético, como desmoronamento total do sonho totalitário e racista de domínio mundial, um novo Ragnarök. O discurso “profético” que Hitler pronunciaria, a poucos meses de declarar a guerra à Europa, falando no Reichstag em 30-I-1939,[12] continha uma clara ameaça genocidária que de algum modo serviria de prólogo da “solução final da questão judaica”, ou seja, a exterminação em massa do todo o povo judeu, não só aquele que vivia ainda no espaço alemão, mas de todo o Lebensraum (“espaço vital”)[13] que o hitlerismo ambicionava anexar com o intuito de criar a Grande Alemanha. Note-se ainda que o uso obrigatório, para todos os judeus vivendo em território alemão, da discriminatória e vexatória estrela judaica a amarela (Judenstern), medida imposta em 19-IX-1939, tinha já, um sentido premonitório simbólico: os membros do povo da Aliança eram marcados para abate no massacre vindouro.
         Voltando a van den Bruck, sublinhemos que o seu livro de título profético trazia a mística das raça nórdica e duma verdadeira revolução, desprezadora do racionalismo ocidental e exaltadora dum vivificante Volkstum (“nacionalidade” ou “carácter nacional”) ou seja, uma espécie de totalidade viva na qual os alemães vibrassem num “ritmo nacional”, criando uma nova Alemanha com um direcção totalmente centralizada e uma economia planificada. Publicado no ano do putsch da cervejaria de Munique, este breviário nacionalista não podia deixar de agradar ao Hitler que seria por ele influenciado ao escrever os dois espessos volumes do Mein Kampf.



 
Gottfried Feder
 
4. Gottfried Feder
Uma derradeira influência na génese inicial da Weltanschauung do nazismo, esta no domínio da economia, veio dum conselheiro de Hitler em matérias económicas, Gottfried Feder (Wurzburg, 1883- Murnau, 1941). Embora fosse uma figura influente nos círculos hitlerianos nos anos 20. Feder acabaria por se tornar uma presença periférica no III Reich. Nascido em Würzburg (Baviera) em 27-IO-1883, engenheiro em 1905, estabelece-se em Munique e trabalha na construção de hangares de aviões, orientando-se depois para a economia política. Convencido de que a ruína da Alemanha se devia aos manipuladores da alta finança, propunha uma política orientada para o controlo dos bens de produção como as, as minas e a maquinaria, abolindo o juro porque era este que criava o valor, tornando como básico da sua teoria a ideia do “escravatura do juro”, formando então uma associação para a combater, a Aliança Germânica para a Destruição do Juro da Escravatura, procurando interessar nela o líder socialista judeu Kurt Eisner, responsável pela revolução que derrubou em Munique a monarquia e proclamou a República bávara em 1918.[14] No ano de 1919 tornou-se Feder membro dum pequeno grupo político DAP (Deustche Arbeiterpartei, Partido Alemão dos Trabalhadores), partido dirigido por Drexler,[15] e que viria pouco depois dar origem ao NSDAP liderado por Hitler, que confessaria no Mein Kampf que este homem lhe explicara o significado do capitalismo internacional., sendo necessário combater o capital internacional, sendo messe sistema financeiro conduzido peloso judeus. Foi Feder que ajudou Dietrich Eckart e Anton Drexler a escreverem os 25 pontos do programa do NSDAP, já liderado por Hitler.
Feder tornar-se-ia depois o editor da Biblioteca Nacional-Socialista, publicando obras contra o plano Dawes que melhorara de modo considerável a situação económica alemã desde meados dos anos 20, assim como contra a Maçonaria e a imprensa judia. Publicando ainda Die Flamme (A Chama) e, em Nuremberga, Der Streiter (O Lutador), em Frocheim e ainda o Essenhammer (O Martelo de Essen), em Darmstadt. Quando saiu da prisão de Landsberg, Hitler encontraria o seu partido dividido em facções, sendo uma a tendência populista, rural e anti-industrialista, na qual se destacava o ruralismo de Feder, e a outra a dos irrequietos irmãos Strasser, Georg e Otto, que defendiam uma posição oposta no Reichstag, para o qual tinham sido eleitos em 1924. Em 1930, tendo o NSDAP já 107 eleitos no parlamento, Hitler teve que escolher o seu clã, sendo na altura advertido pelo todo poderoso perito e mago financeiro Dr. Hjalmar Schacht[16] para a necessidade de abandonar o idealismo agrário “Blud und Boden”(Sangue e Solo)[17] de Feder, aceitando antes o apoio dos industriais da Renânia, como Gustav Krupp von Bohlen und Halbach  e da Companhia Siemens, abandonando os planos de uma reunião de rurais e urbanos proposta pelo antigo conselheiro económico de Hitler.[18] Este afastou então Feder, em Dezembro de 1934, do Ministério das Economia, onde fora colocado no início do III Reich. Feder tornou e não à sua vida privada, vendo doravante o regime como um revolução traída, vindo a falecer em Murnau, em 24-IX-1941. 


João Medina 
                     
 





[1] Sobre Gobineau e H. S. Chamberlain, veja-se George L. Mosse, Les Origines intellectuelles du Troisième Reich, Paris, Calmann-Lérvy, 2008, 167-71 (Gobineau) e pp.172-4 e 178-9 (Chamberlain).


[2] Veja-se de Johann Chapoutot, Le National-Socialisme et l’Antiquité, Paris, PUF,2009, ilustr., uma obra notável sobre a visão nazi do mundo dos valores greco-romanos: v.g., “A história como luta de raças”( p.355 e ss), “Historia magistra vitae: Hitler e a História” (pp.120-26), “a imitação da Antiguidade” (pp.191-236), o Reich como “segunda Esparta”(p.237 e ss), “Do Imperium ao Reich”(p.283 e ss), “a coreografia do fim: estetismo, nihilismo e a encenação da catástrofe final”(p.445 e ss), Heidegger e o regresso ao pensamento grego do ser”(p.175 e ss), as “olimpíadas de Berlim em 1936”(p0.195 e ss), os nazis e os nus antigos em escultores Thorak ou Arno Breker (pp.227 e ss,), o “ariano como o Prometeu da antiguidade”(p.32 e ss).


[3] Konrad Heiden (Munique, 7-VIII-19801 – Nova Iorque, 18-VI-1966), jornalista e historiador alemão de origem judia, membro do Partido Social-Democrata alemão, expatriado no Sarre, depois na Suíça, na França e, por fim, nos EUA, autor de diversos estudos sobre o fenómeno do nazismo, tais como A História do Nacional-Socialismo (1932), A Nova Inquisição (1939), Nascimento do III Reich (1944) e The Fuehrer (1944). Citamos a edição The Fuehrer, Robinson, Londres, 1999, pp.188-194 (sobre H.S. Chamberlain) e 202-3 (Treitschke).


[4] Veja-se Heinrich A. Winkler, Histoire de l’Allemagne. XIXe-XXe siècle. Le long Chemin vers l’ Occident, Paris, Le Grand Livre du Mois, 2005, maxime pp.180-85 (guerra franco-prussiana), p. 180e ss(a Guerra franco-prussiana pp.186-319 (a era guilhermina) e pp.320-468 (“a República falhada” de  Weimar, 1918-1933). Mais de metade desta (Düsseldorf, 1797- Paris, 1856) obra é dedicada ao III Reich (pp.469-1003).


[5] Veja-se Henri Heine, De l’Allemagne, (Düsseldorf, 1797 - Paris, 1856)  Paris, Le Livre de Poche, 1981, pref. de Pierre Grappin, pp.9-32. Este ensaio de Heine sobre o seu país foi publicado em Paris, em 1855, reeditando e ampliando a edição de 1835. Sobre o papel de Treitschke como historiador prussófilo, veja-se William Shirer, Le Troisième Reich, vol.I, pp.127, 130 e 132, num contexto mais global da Alemanha do II ao III Reich, a obra indispensável do escocês-americano Gordon R. Craig (Glasgow, 13-XI-1913 - 30-X-2005), Germany 1866-1945, Oxford, Nova Iorque e Toronto, Oxford University Press, 1988, maxime pp.48-49 e 57-59 (Treitschke), pp.61-179 (Bismarck chanceler), 228-230, 398-402-8 (Guilherme II); criação e consolidação do II Império (pp. 38-100) Veja-se ainda, do mesmo autor, o livro The Germans, Harmonsdsworth, Penguin Books,1984, maxime pp.136-147 (Treitschke), pp.126-146 (os alemães e os judeus), pp. 289-309 (democracia e nacionalismo), pp.63-74, 182 e ss, pp.135-6, e ainda pp.543-553 e 568-764 (Hitler no poder, uma síntese excepcional da sua figura, acção e poderio). Quanto ao grande poeta judeu alemão Heinrich Heine verberado por T., Craig sublinha que, depois da II guerra mundial, só na comunista RDD (República Democrática Alemã) foi o poeta lido com verdadeira admiração, enquanto que na RFA não foi possível dar o seu nome à Universidade de Düsseldorf, onde Heine nascera, já que “um latente anti-semitismo” continuava ali presente, tanto mais que o autor do satírico Alemanha: um Conto de Inverno, vivera alguns anos em Paris e fora amigo de Marx (p.136), alio falecendo. E lembra ainda que, numa outra sátira, esta de Kurt Tucholsky (1890-1935), tendo o general Ludendorff, tendo chegado ao céu, perguntando-lhe Deus como é que causara 2 milhões de mortos na guerra, o militar lhe respondeu: “Querido Deus, eram Judeus!”, observando Gordon Craig que o gracejo de Tucholsky não era exagerado, já que, desde o séc.XIX, os judeus eram censurados na Alemanha como responsáveis por todos os desastres ocorridos, assim como seriam acusados de terem dado “um golpe nas costas” do exército alemão em 1918 (pp.136-7), o famigerado Dolchslegend, legenda a que Hitler daria forte crédito, associando os comunistas e os judeus. Nas suas Memórias, escritas em 1919 no estrangeiro, o próprio Hindenburg tentaria fazer acreditar esta mentira, quando, na verdade, fora o Estado Maior alemão a pedir o armistício.


[6] Nietzsche, Ecce Homo (1888), trad. de  José Marinho, Lisboa, Guimarães Editora, 1952,pp.167-8. Outras referências breves a T.: pp.109 e 172.


[7] Cosima Wagner (1837-1930) não deixaria de manifestar o seu maior desagrado perante este livro de Nietzsche, queimando todas as cartas que o filósofo lhe escrevera, afirmando que nele, “uma vez mais, a Judeia maldosamente traíra a Germânia”, assim como Wagner pegou na pena para o condenar no Bayreuther Blätter (cf. David Farrell Krell e Donald L. Bates, The Good European, p.105).  


[8] Nietzsche, Ecce Homo, pp.169-174. E F.N. lembra que foi um estrangeiro, um dinamarquês, quem fez numa universidade um curso sobre a sua filosofia, em Copenhaga – tratava-se de Georg Brandes (p.175), supracitado.


[9] Veja-se o já cit. estudo de F. Stern, The Politics of Cultural Despair, pp.183-266.


[10] Moeller van den Bruck polemicou com Spengler, em 1920, criticando-lhe a sua profecia de declínio, na medida em que, perante a derrota da Alemanha na guerra, este último deixasse de crer na ressurreição germânica (cf. F.Stern, op. cit., pp.238-9). Pensador da direita nacionalista, prussiana e monárquica, Spengler aproximou-se de certo modo do nazismo, mas acabou por se afastar dele com a matança da Noite das Facas Longas(1934). Veja-se O. Spengler, Le Déclin de l’ Occident, Paris, Gallimard, 1967, 2 vols. O vol. I desta obra, subintitulado Forma e realidade, dedicado à cultura, continua a  ser de leitura  interessante, sobretudo quando o autor disserta sobre a “alma apolínea”,  “a alma fáustica” ou germânica (p.364 e ss, 386 e 406), assim como sobre a catedral como floresta de pedra,  com a presença do pinheiro e do cipreste (pp.378-9) ou acerca do Fausto de Goethe (pp.1813. O ideal político de O.S. nos anos 20-30 era essencialmente de prussianidade monárquica, como já o exprimira no seu panfleto Preussentum und Sozialismus (Prussianidade e Socialismo, 1919), como reacção ao tratado de Versailles. Spengler considerava que a revolução nacional devia basear-se no ethos prussiano como mentalidade cultivada e reforçada ao longo de gerações e não no conceito racial caro aos nazis.


[11] O Segundo Império alemão, o chamado Sacro Império germânico, começara em 962 d.C. com a coroação de Otto o Grande que fora rei da Germânia, desde 936, como chefe saxónio, império seria abolido em 1806. O Segundo Império foi fundado por Bismarck, em 1871, após a vitória da Prússia na guerra com a França, chamando “era Guilhermina” – começara com a coroação de Guilherme I, proclamado imperador na galeria dos espelhos de Versalhes, em Janeiro de 1871, ao qual sucederia Guilherme II, desde 1888, que acabaria em 1918 com a derrota da Alemanha e a fuga de derradeiro imperados para o exílio holandês, onde morreria a 4-VI-1941.Veja-se: - Virginia Cowles, The Kaiser, Londres, Collins, 1963, ilustr. (H. e o ex-imperador Guilherme II: pp.421-5). - Mathias Fischer, Guilherme II, o último Imperador da Alemanha, S.João do Estoril, Principia Editora, 2007, ilustr., e com mapas.


[12] “Eu quero hoje ser de novo profeta: se a judiara da finança internacional, dentro e fora da Europa, tivesse sucesso em mergulhar as nações, uma vez mais, numa guerra mundial, o resultado não seria a bolchevização da terra e portanto a vitória da judiaria, mas a aniquilação da raça judia na Europa!” (Hitler falando ao Reichstag, em 30-I-1939, apud Ian Kershaw, Hitler. 1936-1945. Nemesis, p.127).


[13] O termo Lebensraum, largamente referido no Mein Kampf, remonta ao período anterior à grande guerra de 1914-18, designando desde então, sobretudo após o armistício de 1918, a reivindicação alemã de um território vital para o seu escasso solo arável, o que implicaria a expansão territorial para leste. Se no século anterior, esse termo estava na base do colonialismo alemão em África, em vigor ainda durante a grande guerra, após o tratado de Versalhes ele seria retomado pelos imperialistas alemães como a urgência em conquistas, a que Hitler daria satisfação com a guerra iniciada em 1939, visando anexar territórios como, v.g., a Ucrânia, o celeiro da Europa. Para Hitler, esse espaço vital não se ficava, obviamente, pelas fronteiras da Alemanha, pois englobava todos os alemães espalhados pela Europa, o que viria a designar-se por Grande Alemanha. Por outro lado, dadas as premissas raciais do nazismo, era natural que os povos inferiores eslavos, da Polónia e da Rússia viessem a ser aniquilados para favorecer o repovoamento desses territórios pelos alemães, tendo a SS criado um departamento especial com esse fito. Sobre a “marcha dos alemães para leste”, anunciada no Mein Kampf, veja-se a ed. daquele livro em francês, sob o título de Ma Doctrine, Paris, Librairie Arthème Fayard, 1942, na capítulo “Território e espaço”, pp.283-92.


[14] Kurt Eisner (1867-1919), jornalista judeu do jornal Vorwärts, crítico teatral, organizador do movimento revolucionário que derrubou em Munique a dinastia dos Wittelsbach e proclamou a República bávara (8-XI-1918), sendo seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Perdendo as eleições de Fevereiro de 1919, ia a a caminho da assembleia para se demitir, sendo então assassinado por um oficial monárquico ( 21-II-1919), o que desencadeou uma greve e a proclamação dum governo comunista.


[15]Anton Drexler (Munique, 13-VI-1884 – idem, 24-II-1942), operário serralheiro que Hitler lembraria no Mein Kampf como um homem nada vocacionado para discursos –, colaborador do programa dos 25 pontos do partido nazi, Nationalksozialistische Deutsche Arbeiterpartei, o NSDAP –, que sucedeu ao velho DAP, fundado por Drexler –, aprovado em Munique a 24-II-1920, partido que o antigo cabo austríaco comandaria. O Partido Nazi, daria um cargo honorário ao antigo operário serralheiro, o que lhe valeria uma pequena pena de prisão por causa do putsch da cervejaria em 1923. Quando o NSDAP foi reorganizado com novas bases em 1925, Drexler afastou-se dele, vindo no entanto a reconciliar-se em 1930, embora nunca mais participasse no movimento nazi, falecendo em Munique, em 1942.


[16] Dr. Hjalmar Schacht (Horace Greeley), nasceu em Tingleff, no Schleswig, Dinamarca, 22-I-1877 – falecendo em Munique, em 3-VI-1970), financeiro de origem dinamarquesa, tendo os seus pais emigrado para os E.U.A. e adquirindo estes a nacionalidade americana, voltariam porém para a Alemanha após a vitória da Prússia na guerra com a França. Schacht começou os seus estudos em Berlim, depois em Medicina em Kiel e Filologia em Berlim, além de Ciência política em Munique, doutorando-se em Economia em Berlim, após o que trabalhou durante uma década no Dresdener Bank, sendo nomeado presidente do Reichsbank, Schacht (1923), mas demitindo-se em Março de 1930 por discordar do plano Young de resgate monetário do país. Depois de ler o M.K, de Hitler, convenceu-se de que era este o único homem capaz de salvar o país, conseguindo atrai-lo para o círculo dos industriais renanos, passando a estar por detrás do Führer no imparável avanço deste para a tomada do poder, sendo de novo nomeado para a chefia do Reichsbank (1933), além de ministro da Economia desde 1934 a Novembro de 1937, embora se distanciasse das purgas sangrentas de 1934, assim como das perseguições contra os judeus, demitindo-se do seu posto de ministro em 1937, embora Hitler o mantivesse como ministros em pasta até 1943, A entrada da Alemanha na guerra levou Schacht a resistir ao III Reich, chegando a ser encarcerado depois da tentativa de assassinato do Führer (21-VII-1944). Preso pelos americanos no final da guerra, foi transferido para diversas prisões, inclusive na Áustria, sendo julgado em Nuremberga, embora inocentado, mas vindo a enfrentar mais tarde um tribunal alemão, sendo condenado a quatro anos de prisão, embora a não cumprisse a pena, devido a apelos judiciais que se prolongaram até 1948, só terminado de vez em 1950. Em 1953 fundaria um novo banco, o Schacht & Co,, em Düsseldorf.


[17] Blut und Boden, contraído em “Blubo” (Sangue e solo), expressão muito usada no período inicial do moimento nazi, reflectindo o espírito anti-urbano dum socialismo de tipo, agrário, conjugando o Sangue e o Solo e juntando os operários das cidades com os lavradores. Os bons estudantes arianos eram supostos fazerem trabalho rural como um dever patriótico.


[18] George L. Mosse faz remontar a 1921 a luta entre as duas facções antagónicas no seio do NSDAP, a de Feder (nacionalista) e a dos irmãos Strasser (socialista), fundindo-as na “revolução anti-judia. Com esse tema, Hitler encontrara a base da unidade psicológica e ideológica que convinha a esse pequeno partido fanático.”(Les Origines intellectuelles…, p.474). Por outro lado, insiste Mosse, “o anti-semitismo de Hitler não era um estratagema oportunista para chegar ao poder e conservá-lo. Ao contrário, foi precisamente porque se tratava duma convicção sincera cujo dinamismo conseguiu ter o país em forma que Hitler pôde levar o seu partido à vitória.” (p.467). Os 25 pontos do partido nazi tornavam-no o chefe incontestado do movimento völkisch que tinha uma das suas bases essenciais no anti-semitismo. Sobre os irmãos Strasser como facção anti-hitleriana, vide op. cit.,  pp.459-464.

1 comentário:

  1. Esqueceu-se de Martinho Lutero:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2015/12/as-raizes-luteranas-do-nazismo.html

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