No 90º
aniversário da publicação do Mein Kampf
de Hitler (3):
Hitler: do putsch
da cervejaria bávara, em Novembro de 1923, à publicação do breviário hitleriano
(1923-1925)
1. O putsch da
cervejaria bávara em 8/9 de Novembro de 1923
“Assim, certa
manhã, quando as autoridades acordaram, Munique estava nas mãos de Hitler.
As
repartições públicas tinham sido ocupadas pelas suas tropas e os jornais foram
obrigados a anunciar, sob a ameaça das pistolas, que a revolução
hitleriana havia triunfado em toda a linha.
E eis que, como caído das nuvens, para onde a ingénua e confiante república até
então estivera sonhadoramente voltada, aparecia o general Ludendorff, o deus ex machina, o primeiro dos muitos
que julgaram que se podiam servir de Hitler e não foram mais do que os seus
seguidores. Mas (…) o certo é que a famosa revolução, que se anunciara
triunfante em toda a Alemanha, havia começado pela manhã e ao meio dia já
estava terminada. Hitler fugira, mas fora preso pouco depois. Estávamos em
1923. As cruzes gamadas desapareceram e, com elas, eclipsaram-se também as milícias
de assalto. O nome de Adolfo Hitler caiu no esquecimento e mais ninguém pensou
que tal personagem pudesse se ainda um factor político digno de nota.
Porém, alguns
anos depois. Hitler surgiu novamente no cenário da vida política. E, desta vez,
a onda altaneira de descontentamento popular elevou-o rapidamente (…). Mas
ninguém reparava verdadeiramente na gravidade da situação, Alguns dos poucos
intelectuais que se deram ao trabalho de ler o livro de Hitler não só não
fizeram caso das suas doutrinas, mas até escarneciam da prosápia que elas
revelavam.”
Stefan Zweig, O Mundo de Ontem.[1]
O programa político de
Adolf Hitler, publicado em dois volumes,
o primeiro em 1925 e o segundo em 1927, foi escrito pelo futuro Führer[2]
quando este se encontrava preso na prisão-fortaleza de Landsberg am Lech
(Baviera), após a condenação pelo tribunal a cinco anos de prisão como um dos
promotores do putsch iniciado com uma
manifestação que ocorreu na
Bürgebräukeller, uma famosa cervejaria de Munique, na noite em 8 de
Novembro de 1923, aventura que duraria
poucas horas, tendo começado com um assalto ao local, onde estavam reunidos
três mil espectadores para ou virem
discursar algumas das figuras mais destacadas das forças armadas e
policiais da cidade, tais como Ritter von Kahr,
comissário do estado da Baviera, o general Otto von Lossov, comandante
do exército local e o coronel Hans von
Seisser, chefe da polícia militar. A
cervejaria foi então invadida por cerca de 600 membros das SA, o braço armado
do partido nazista, saltando Hitler para uma cadeira, disparou um tiro para o
tecto e bradou que a “revolução nacional” acabara de eclodir e que tanto os governos de Berlim como da Baviera tinham sido depostos,
dirigindo-se depois para o palco, ordenando que os mencionados oradores fossem
com ele para uma sala, onde os informou de que, com ajuda do famoso general Erich Ludendorff,
tinham formado um novo governo. [3]
John Heartfield
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Como não tivessem levado
a sério, Hitler enfureceu-se, voltou à sala e gritou que no dia seguinte
haveria um governo nacional ou estariam eles mortos. Os chefes militares com os
quais falara, lograram entretanto fugir do local e alertaram as chefias
políticas e militares de Berlim sobre o Putsch em curso. No dia seguinte,
pelas 11h da manhã, um punhado de nazis e de grupos SA implicados no golpe,
brandindo bandeiras com a suástica, dirigiram-se em desfile pelas ruas em
direcção à Matrienplatz, no centro da cidade, onde se realizaria uma
manifestação com a presença de Hitler, de Ludendorff, Goering e Julius
Streicher. Todavia, chegado o grupo pustchsita à Odeonplatz, peto do
Feldherrnhalle, uma força policial armada barrou-lhes o caminho. Tendo Hitler
intimado a polícia a render-se, esta replicou aos insurrectos com uma saraivada
de tiros. Hitler, antigo soldado na guerra 14-18, teve o reflexo, aprendido na
grande guerra, de se atirar imediatamente para o chão, o que Goering não o
imitou, ficando ferido. Em breve havia já 16 nazis e 3 guardas feridos. Hitler
fugiria num carro amarelo, enquanto Ludendorff seguia marcialmente em frente,
trajecto que a polícia não quis interromper por respeito à aura do famoso
general. A meio dos discursos
destes, diante duma plateia de três mil ouvintes, que bebiam cerveja, sentados
nas suas mesas, pelas 9h menos um quarto da noite, foi a cervejaria
inesperadamente cercada por cerca de 600 membros das S.A., o bando paramilitar
do partido nazista, enquanto Hitler entrava na sala e os seus homens instalavam
uma metralhadora junto da porta, saltando aquele para cima duma cadeira,
disparando um tiro de pistola Browning para o tecto, bradando em seguida que
uma “revolução nacional” acabara de eclodir, pelo que tanto os governos de
Berlim como da Baviera tinham sido depostos, dirigindo-se depois para o palco,
ordenando que os mencionados oradores fossem com ele para uma sala anexa, onde
os informou de que, com a ajuda do general Erich Ludendorff,[4]
tinham formado um novo governo. Como não o tivessem levado a sério, recusando
os três citados palestrantes a aderir ao golpe daquele antigo cabo austríaco – rejeitado
como fisicamente débil pelo exército do seu país mas incorporado num regimento
bávaro em 1914, o regimento List –,
Hitler enfureceu-se, voltou à sala e gritou que no dia seguinte haveria um
governo nacional ou estariam eles mortos. Os chefes militares com os quais
falara, lograram entretanto fugir do local e alertaram as chefias políticas e
militares de Berlim sobre o putsch em
curso.
A numerosa assistência na
sala começou então a protestar tão alto que Goering se sentiu na necessidade de
ir até à tribuna, garantindo que os invasores tinham intenções pacíficas,
perguntando: “-Mas de que se queixam? Não têm a vossa cerveja?” O antigo
vagabundo de Viena tornou à sala e foi à tribuna anunciar à multidão hostil que
na sala ao lado o triunvirato aceitara formar com ele um novo governo, mentira
que teve o condão de tranquilizar os bebedores de cerveja, muitos dos quais até
aplaudiram a falsa notícia acabada de dar. Apareceu então o próprio Ludendorff,
presença que tranquilizou a assistência da Bürgerbräu, embora o generalíssimo
se enfurecesse ao saber que o anunciado governo de salvação seria presidido pelo
antigo cabo austríaco do 16º regimento de infantaria de reserva da Baviera na
guerra 14-18. Os três chefes militares e policiais regressaram à tribuna da
cervejaria, dando mostras de aceitar a revolução em curso, Ludendorff serenou e
Hitler sentiu-se apoteoticamente aclamado. Nesta comédia de enganos, tanto Lossov
como Kahr e Seisser mudariam rapidamente de atitude e avisaram o governo de que
havia que agir sem demora para deterem os sublevados, ainda que, de facto,
Röhm, conseguisse entretanto assenhorear-se dos escritórios do ministério da
guerra em Munique.[5] No dia seguinte, pelas 11h
da manhã, com uma multidão composta sobretudo de uns dois mil SA implicados no
golpe da cervejaria, brandindo bandeiras com a suástica, desfilara pelas ruas
em direcção a Marienplatz, no centro da cidade, onde se realizaria uma manifestação
com a presença de Hitler – sempre
acompanhado pelo seu guarda-costas pessoal, Ulrich Graf – carniceiro de
profissão – e pelo generalíssimo Ludendorff, além de Goering, Hesss, Julius
Streicher, Wilhelm Frick e outros. Todavia, chegados os putschistas à
Odeonplatz, perto do Feldherrnhalle, que dava acesso àquela praça e ao
ministério das guerra, onde se achava Röhm em posição de força, esperava-os ali
uma força da polícia, armada de espingardas, travando-lhes o caminho. Como os
golpistas nazis persistissem em avançar, a polícia replicou com uma saraiva de
tiros. Hitler, antigo soldado na guerra 14-18, teve o reflexo de se atirar
imediatamente para o chão, sofrendo nessa queda a luxação dum ombro. Goering
não o imitou, ficando ferido numa perna, sendo detido mas conseguindo, mesmo
assim, fugir para a Áustria, vivendo primeiro na Itália e depois na Suécia,
donde só voltaria à Alemanha em 1926, amnistiado. Outro nazi a seu lado, Alfred
Rosenberg (embora não viesse a ser detido após o putsch) era um alemão nascido na Estónia e fora apresentado a
Hitler pelo poeta, dramaturgo e jornalista católico Dietrich Eckart[6], que
participara na malograda intentona da cervejaria, brandisse também um revólver,
conseguindo fugir a tempo do local. Em breve havia já 16 nazis mortos e 3
guardas feridos. Quanto a Hitler, fugiria num carro amarelo, abandonando os
camaradas do partido feridos ou mortos pelo tiroteio policial, sendo levado
para casa do seu amigo Hanfstängl, em Uffing, onde foi tratado, sendo preso dois
dias depois. Quanto a general Erich Ludendorff, o famoso herói guerreiro,
seguiu marcialmente em frente, trajecto que a polícia não quis interromper por
respeito à aura do famoso general, acabando esse errático guerreiro por se
entregar às autoridades quando a intentona se gorou, ficando em liberdade em
troca da sua palavra de militar, à espera do julgamento que se seguiria. Seria
o único réu totalmente inocentado pelo tribunal, perdão que derivava da sua
fama de comandante militar durante o conflito de 14-18 e ainda pela simpatia
que o ministro da Justiça da Baviera, o Dr. Gürtner, tinha pelo herói fardado,
aquele que lançara, na primavera de 1918, a derradeira mas falhada grande ofensiva
germânica contra os Aliados na Flandres, batalha em que as tropas lusas do
C.E.P. seriam tão trucidadas no 9 de Abril desse ano. Entretanto, junto do
ministério da guerra de Munique, Röhm era cercado por soldados da Reichswehr,
acabando por ser detido sem qualquer troca de tiros entre os grupos antagónicos
no local, sendo posto em liberdade provisória, acabando por ser declarado
inocente no julgamento subsequente. Viveria, em seguida, como caixeiro viajante
e editor de obras patrióticas, até
partir para a Bolívia, como instrutor militar, só tornando à Alemanha em 1930 ,
para ser encarregado por Hitler, no ano seguinte, de chefiar as milícias nazis,
SA.
´
Em poucas horas o putsch da cervejaria estava destroçado e
os seus principais instigadores, Hitler e alguns dirigentes do partido nazi – de
imediato dissolvido – foram detidos e julgados a partir de 26-II-1924, sendo
condenados em 1-IV desse ano por alta traição, cabendo a Hitler uma das penas
mais pesadas, cinco anos por alta traição, tendo os quarenta putchistas detidos
sido encarcerados em Landsberg.[7] Hess
e Goering fugiram para o estrangeiro, sendo o primeiro capturado pouco depois e
levado também em
Landsberg. A mansuetude do sistema carceral permitia aos
putschistas da cervejaria, no entanto, uma vida de certo luxo: por exemplo,
Hitler, tratado como hóspede de honra, fora dotado de uma cela particular, com
uma vista esplêndida sobre o Lech, tomando o seu pequeno-almoço na cama,
podendo ler abundantemente, além de receber visitas e conversar com amigos e os
demais co-detidos, o que lhe permitiria dizer, mais tarde, que nunca na sua
vida fora tão bem tratado num cárcere. Ao seu advogado Hans Franck, Hitler
diria com ironia que Landsberg fora “o seu estágio na universidade a custo do
Estado”.[8] Entre
os visitantes mais assíduos achava-se Alfred Rosenberg, o ideólogo anti-semita
e futuro autor do tratado “filosófico” nazi, O Mito do Século XX (o mito do sangue, o despertar da “alma da
Raça”), publicado em 1930, a
segunda bíblia do nacional-socialista.
Otto Strasser
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3.Hitler dita o seu Mein Kampf
Achava-se também na
fortaleza-prisão o irrequieto agitador nazi Otto Strasser (1897-1974), antigo
social-democrata que, com o seu irmão Gregor Strasser (1892-1934),[9]
também partilharia da vida em
Landsberg. A acreditar na obra de Otto, dedicada a narrar os
seus contactos com o dirigente do putsch
de Munique, Hitler e Eu (1935), na
qual recordaria a atmosfera e a importância dessa clausura naquela aprazível
prisão bávara e, sobretudo, um conselho providencial que o seu irmão Gregor
daria ao futuro Führer da Alemanha. A
vida na prisão daquela pitoresca cidadezinha bávara à beira dum rio parecia
mais a que se podia levar num sanatório ou num hotel do que o cativeiro numa
fortaleza para prisioneiros acusados de graves crimes como aqueles. Cada preso
tinham direito um ou dois quartos à sua disposição, nos quais, todos os dias,
recebia frequentes visitas passando a vida junto, fumando e solicitando aos
guardas os pratos preferidos para as suas refeições. No rés-do-chão, os detidos
gozavam pelo menos da vantagem de não terem de ouvir as arengas diárias do
“homem do primeiro andar”, o fatigante tagarela. Foi então que Gregor Strasser
teve uma ideia brilhante (Otto chama-lhe exactamente “maquiavélica”, nas suas
citadas memórias): “E se ele escrevesse as suas memórias?”[10]
Sugestão que Hitler acolheu com satisfação, de maneira que o antigo pintor que
por duas vezes não conseguiu entrar para a Academia de Belas Artes de Viena,
iria lançar-se num empreendimento que teria repercussões extraordinárias e
inesperadas para a formação do seu mito de chefe nacionalista. Emile Maurice[11] ,
seu amigo íntimo, motorista e guarda-costas, começa por ser o seu escriba,
embora fosse a pessoa menos indicada para a tarefa imensa, uma vez que era um
boémio e relojoeiro, Segue-se-lhe, nessa tarefa, Rudolf Hess,[12] que
lhe caninamente devotado e que nunca se lembraria de lhe chamar a atenção para
as inexactidões históricas do seu depoimento memorialístico, vai escrevendo o
que Hitler lhe dita. Este remanso carceral tão tranquilo permitiria a Hitler
entregar-se com entusiasmo – com a ajuda inicial do referido guarda-costas e
motorista Emil Maurice, bem como, sobretudo, do seu fiel amigo Rudolf Hess, que
entretanto fora capturado e levado também para Landsberg – a ditar a extensa autobiografia e programa
político que funcionaria durante o “Reich de Mil Anos” como bíblia do nazismo.
Nesses meses de detenção,
que terminariam pouco antes do Natal de 1925, Hitler ditaria a sua bíblia que
sairia mais tarde, em 1925 e 1927, em dois grossos livros, beneficiando ambos
os volumes de revisões e correcções de alguns colaboradores, que acabámos de
citar (Maurice, Hess e Stempfle, que adiante havemos de referir com mais
detalhe), além de Josef Czerny (que germanizou o seu apelido para Stolzing),
jornalista anti-semita, colaborador no Völkischer
Beobachtar, um poeta e crítico musical nazi de origem checa que acompanhara
três vezes Hitler em idas a Beyreuth para escutar Richard Wagner, que se
encarregara de revisão gramatical e da ortografia desleixada do segundo volume
do Mein Kampf, com a ajuda também do
antigo frade jerónimo Bernard Stempfle, que dirigira o Miesbacher Anzeiger, um jornaleco provincial bávaro, que também
simpatizava com o movimento. [13]
João Medina
[1] Stefan Zweig (Viena, 28-XI-1881 – Petrópolis, Brasil,
22-II-192), O Mundo de Ontem. Memórias de
um Europeu, Porto, Livraria Civilização, 1953, trad. do alemão por Manuel
Rodrigues, pp.452-3. Este admirável livro de memórias fora completado no Brasil
e o seu original entregue ao editor pouco antes de S.W. e a mulher se
suicidarem em Petrópolis.
A obra publicou-se em Estocolmo, em 1942 e, em inglês, em
1943. Filho de um rico industrial, S.W. tornou-se cedo conhecido como poeta,
romancista e contista, além, de autor de uma série de biografias de grandes
figuras como Erasmo, Maria Stuart, Fernando de Magalhães, Fouché, Montaigne,
etc.. Em 1919 instala-se em Salzburgo, publicando uma série de ensaios sobre
Nietzsche, Hoelderlin, Tolstoi, Freud, Stendhal, etc. As suas obras são
incluídas entre os livros queimados em autos de fé na praça pública, em Berlim
e em toda a Alemanha, (10-V-1933), acabando por se exilar em Inglaterra em
1934, divorcia-se de Frederika von Winternitz (1938), casando-se com a sua
secretária inglesa Charlotte Altmann. Percorre o mundo e acaba por se fixar no
Brasil (1941), em Petrópolis, onde se
suicida juntamente com a mulher.
[2] Para a compreensão deste termo e da construção e
evolução histórica do seu significado, sobretudo a partir do putsch de 1923 e da publicação do Mein Kampf, até 1936,veja-se o
monumental estudo de Ian Kershaw (nasc em 1943), Hitler.1889-1936. Hubris, Londres, Allen LKane /The Penguin Press,
1998, ilustre. E, do mesmo autor britânico, o seu estudo monográfico The “Hitler Myth”. Image and Reality in the Third Reich, vol.I, 1990,
pp.24 ss, 221 e 231ss. O historiador católico
britânico Ian Kershaw (Odlhsam, Lancashire, 29-IV-1943), fez investigação na
Baviera, sob a orientação do prof. Martin Broszat, ensinou na Universidade de Sheffield e no
Menton College, Oxford, onde se doutorou. Tendo começado pró investigar a
história dos campesinato alemão na Idade Média, orientou-se para o estudo do
fenómeno nazi, tendo publicado diversas obras como O Mito Hitler (1987), a monumental biografia Hitler (2 vols., 1998 e 2000), participando na controvérsia de
historiadores alemães chamada “Historikerstreit”, 1886-1989, que envolveu
autores como Broszat, Joachim Fest, Ernst Nolte, Hillgruber, Eberhard Jäckel,
Saul Friedländer, critica as teses da
obra de Daniel Goldbeerg, historiador norte-anericano e defende que não se deve explicar o nazismo a
partir de Hitler mas da situação dos milhões de alemães entre 1933 e 1945.
Quanto à liderança de Hitler, inclui-a naquela forma a que M.Weber chamava
“chefia carismática”. Publicou ainda Estalinismo
e Nazismo (com Moshe Lewin, 1997) e A
Ditadura nazi. Problemas e Perspectivas de Interpretação (1985).
[3] Otto Strassser (vide
infra), na sua narrativa desta intentona nazi em que ele mesmo participou,
dá este número (cf. Hitler et Moi,
p.50), que Kershaw retém (cf. I. Kershaw, Hitler
– 1889-1936: Hubris, p. 206); quanto ao número de putschistas que no dia
seguinte, 9-XI, partem para o centro de Munique, cifra-os em 2.000, a maioria deles
armados (p.210).
[4] Erich Ludendorff (Kruszenia, perto de Posen, 1865
–Tuzing, Baviera, 20-XII-1934), ingressou no corpo de Cadetes do exército em
1998, fazendo depois uma brilhante carreira militar durante a grande guerra,
sendo um dos responsáveis pelo plano da invasão da Bélgica e da França,
comandando durante o conflito, começando como quartel-mestre do II
Exército, conquistando a fortaleza de Liège na Bélgica, mostrando
bravura nesse ataque vitorioso, sendo então designado por Hindenburg para o
estado-maior. Mais tarde, foi transferido para o comando do VIII exército na
frente leste, o que se havia de se traduzir nas vitórias sobre os russos em
Agosto/Setembro de 1914 e outros sucessos na frente oriental em 1916. A nomeação de
Hindenburg como comandante supremo do exército alemão (1916) levaria Ludendorff
a seu assessor, o que permitiu progressos das tropas germânicas na frente
ocidental após os desaires sofridos em Verdun e na Somme. Brilhante
estrategista, Ludendorff decidiu privilegiar, desde 1917, a guerra submarina,
sendo ele que negociou o leonino tratado de Brest-Litovski com os bolchevistas
(Março de 1918). Na primavera/verão de 1918 esteve ligado a uma grande ofensiva
na frente ocidental, operação falhada, o que, com a derrocada das tropas alemãs
nos Balcãs, levaria o general Ludendorff a solicitar ao governo imperial um
tratado de paz com as forças aliadas, sendo demitido pelo príncipe Max de Bade
(26-X-1918). Após o armistício de Novembro, partiu para a Suécia, onde escreveu
as suas memórias, voltando para a Baviera em 1919, momento em que, sempre com a
derrota alemã na guerra no espírito, o general optaria por uma crescente adesão
aos movimentos nacionalistas extremistas do seu país, ao mesmo tempo que, por
influência da sua segunda mulher, Mathilde Spiesss, se tornaria anti-semita,
ajudando a fundar em 1926 a
Tannenberg Bund, uma liga de antigos combatentes d 14-18, destinada a atacar os
“poderes acima do Estado”, ou seja, os Judeus, os Jesuítas, os Maçons e os
Marxistas, ao mesmo tempo se tornava anticristão e pedia a criação duma nova
religião pagã fundada nos deuses nórdicos e se tornava pacifista. Contactando
com Hitler, o militar participaria no putsch
da cervejaria, em Munique, sendo por essa razão preso, embora absolvido no
julgamento de 1924. Foi deputado no Reichstag nesse mesmo ano e apresentou-se
com no candidato presidencial de Março de 1925, embora obtendo um sufrágio
irrisório (0,6 % dos votos). Em 1926, afastando-se de Hitler, criou a citada
liga Tannenberg (nome da famosa batalha que os alemães ganharam aos russos em
Agosto de 1914), Além de autor de panfletos anti-semitas e anti-maçónicos, o
general escreveu Recordações de Guerra
(1919) e A Guerra total (póst.,
1935).
[5] Ernst Röhm 28-XI-1887), homem de pequena estatura,
entrara para o exército antes da guerra começar, sendo três vezes ferido nela,
ficando com parte do nariz destruído e uma bala alojada na face, o que lhe dava
um ar azedo e feroz. Acabada a guerra, mantendo o seu posto de capitão do
exército em Munique, sua terra natal, participara no movimento Freikorps, formado por milícias armadas,
aptas a acções no tumulto político alemão pós-1918, desempenhando um elemento
agressivo e, sobretudo, permitindo recrutar combatentes anticomunistas para
além dos contingentes armados autorizados pelo tratado de Versalhes. Desentendendo-se
com Hitler após o Putsch de 1923, Röhm parte para a Bolívia como instrutor
militar, com o posto de tenente-coronel, só tornando ao seu país em 1931, sendo
então encarregado por Hitler de chefiar da S.A. (Sturmabteilung, Secção de Assalto), criada em 1921 pelo capitão
Pfeiffer von Salomon, a partir dos corpos francos armados (Freikorps). Inicialmente, a SA era um pequeno exército partidário
dirigido por oficiais do exército como Goering e depois von Salomon, passando, assim,
desde 1931, os “camisas castanhas” para a chefia de Röhm – um dos raros membros
do partido que tratavam Hitler por tu. Desde a sua criação, a SA fora o
verdadeiro braço armado e militarizado do movimento hitlerista, competindo-lhe
exercer todas as tarefas de propaganda, desde colar cartazes aos combates com
rivais políticos nas ruas, sobretudo os comunistas e socialistas. Contando considerado
o general Groener, no governo Brüning, que este corpo militarizado constituía
um “Estado dentro do Estado”, proibiria a S.A. em 13-IV-1932, medida que Papen
revogaria no ano seguinte. A função
essencial da SA era a de assegurar o serviço de ordem durante as reuniões do
partido nazi, recrutando em poucos meses, em 1931, 170.000 membros, que seriam
já três milhões em 1933. Hitler recompensou Röhm com um lugar no gabinete do
Reich, mas em breve voltariam os dois desentenderem-se porquanto o capitão
queria que o exército fosse substituído pela SA. Hitler incompatibilizou-se com
Röhm, não só por não querer hostilizar o exército alemão, mas ainda pelo facto de
haver demasiados homossexuais entre os seus membros, procedendo à sua impiedosa
decapitação na “Noite das Facas Longas” (de 29 para 30-VI-1934), em Bad Wiessee , perto de
Munique, matança executada com a presença do próprio Führer, tendo este quem lhe bateu à porta do quarto de hotel onde aquele
dormia, insultando-o e ordenando que o antigo camarada fosse detido e, por fim,
tendo Röhm recusado usar a pistola que lhe deixaram na sua cela para se
suicidar, seria abatido, sendo presos outros 150 membros das SA, dos quais
entre 75 a
100 foram fuzilados na Escola de Cadetes. Desta purga sangrenta de 1934
resultaria uma eliminação sistemática da ala esquerdista do partido nazi –
falando a 13-VII-34 no Reichstag para explicar as razões daquele massacre,
Hitler definiu a liquidação desse grupo como perigosos dissidentes no interior
do III Reich, um bando de “revolucionários esquerdistas” e “verdadeiros portadores dos bacilos de
perturbação”. Além disso, o Führer
queria pôr fim àquela côterie de
homossexuais agregados em volta de Röhm que manchava a imagem de virilidade que
se pretendia dar à chefia do regime ariano (veja-se: -Jean François , L’Affaire Röhm-Hitler, Paris,
Gallimard,1939, maxime pp.129-163. -Nikolai
Tolstoi, Night of the Long Knives,
Nova Iorque, Ballantine Books, 1972. -Otto Strasser, Hitler et Moi, pp.204-208). A SS, que participara activamente nessa
purga sangrenta, ficariam a partir de então, sob o comando de Himmler, com as
funções essenciais da decapitada SA, que continuou a existir, embora sendo o
seu número de membros reduzido a milhão e meio de aderentes, entre os quais
havia, desde 1939, membros da Stahlhelm e de sociedades rurais de equitação. Em
1946, o tribunal internacional de Nuremberga não chegou a declarar a SA, como
uma organização criminosa, embora classificasse a SS (Schutzstaffel, Grupo de Protecção) como tal. Joachim Fest considera
que Röhm pertence a uma “geração perdida” que apareceu “depois da grande guerra
com vagos mas consistentes sentimentos de oposição, de protesto, no Freikorps e na associações nacionalistas
armadas de modo a transmutarem a sua incapacidade de uma vida civil em
aventureirismo extremo e criminalidade mascarada de nacionalismo. Desordem
activa, prontidão para tomar riscos, crença na força e irresponsabilidade eram
os elementos psicológicos essenciais que estavam atrás do niilismo organizado
desses cuja experiência formativa tinha sido a guerra, com o sentido subjacente
do declínio da cultura e cujo mito heróico era o espírito do soldado da linha
da frente. Agentes duma revolução permanente sem nenhuma ideia revolucionária
do futuro, não tinham qualquer finalidade, mas apenas inquietação; nenhuma
ideia de valores que olhassem parta o futuro, mas apenas o desejo de eternizar
os valores das trincheiras.” (J. Fest, The
Face of the Third Reich, p.207). Sobre este tema da influência na cultura
europeia da vida e da psicologia dos combatentes durante a guerra de 14-18,
veja-se o estudo de Enzo Traverso, À Feu
et à Sang. De la Guerre
civile européenne 1914 -18, Paris, Stock, 2007, maxime pp.193-209 e p.211ss).
Ver ainda George L. Mosse, De la Grande Guerre au Totalitarisme.
La brutalisation des sociétés europénnes, Paris, Hachette, 2003, ilustr., maxime pp.63-82 e 181-206.,
[6] Dietrich Eckart (Neumarkt, Alto Palatinado, 1868-
Bercthesgaden, 1923) – autor de algumas das primeiras canções de propaganda do
hitlerismo, seria ainda o director, com a ajuda do seu protegido estoniano, do
diário nazi Völkischer Beobachter,
falecendo em Berchtesgaden com um ataque cardíaco em Dezembro desse mesmo ano
do putsch da cervejaria. Hitler mencionaria
com caracteres grossos, no segundo volume do M.Kampf, o nome do seu amigo e colaborador Eckart, que estivera
também filiado no DAP (Partido dos Trabalhadores Alemães) de Drexler, que tanto
o ajudara a ingressar no meios políticos de Munique e fora ainda o autor de um
dos primeiros panegíricos do futuro Führer,
um diálogo entre ele e Hitler, intitulado O
Bolchevismo de Moisés a Hitler (1923), um diálogo entre o autor e o seu
novo protegido e amigo.
[7] A condenação de Hitler pelo tribunal de Munique em
1924 levaria as autoridades alemãs a tentarem expulsá-lo para a Áustria, desejo
que o seu país natal recusou ( Kershaw, op.
cit., p.237). Hitler só conseguiria obter a nacionalidade alemã, em
26-II-1932, quando o Estado de Brunschschveig lhe deu, um lugar de funcionário
público no governo, o que automaticamente o habilitava a reclamar a cidadania
germânica e até a apresentar-se como candidato presidencial nas eleições de
10-IV desse ano: Hindenburg foi eleito, com 36,8 % dos votos, ficando Hitler em
segundo lugar e Thaelmann em terceiro. Depois , nas eleições de Julho de 1932, os nazis obtiveram 231 deputados no
Reichstag, um resultado extraordinário; mas o parlamento foi de novo dissolvido
e as eleições seguintes, em Novembro de 1932,
levaram 196 deputados hitlerianos para o Reichstag. O novo chanceler, o
general Schleicher, decidiu encetar uma luta decisiva contra o nazismo, com o
apoio da Reichswehr, embora von Papen, dirigente da ala extrema-direita do Zentrum (Centro, partido católico
conservador) negociasse secretamente com ele, que acabou por se demitir, o que
permitiu que a 30-I-1933 o presidente da República Paul von Hindenburg (Pozsam,
1847- Neudeck, Prússia. 2-VIII-1934) chamasse o ex-austríaco para a chancelaria
do Reich. Em uma, a concessão de germanidade a Hitler, permitia que este
jurasse servir um Estado que ele estava determinado em destruir” (ibidem, p.362). Acrescente-se que
Hindenburg facilitou a célere nazificação da Alemanha, deixando abrir, sem,
protestar, os primeiros campos de concentração, dissolver os partidos políticos
e até que se executasse o sangrento morticínio da Noite das Facas Longas. Após
a sua morte, Hitler mandaria erguer-lhe um imponente mausoléu, que seria
destruído pelos soviéticos em 1945. O prussiano Hindenburg foi, assim, um dos
grandes responsáveis e coniventes na trágica transformação de “um países de
poetas e pensadores” num “país de juízes
e carrascos” (recorde-se a tão citada fórmula rimada: “Dichter und Denker,
Richter und Henken”).
[8] Apud Joachim Fest, Hitler, vol. I, Jeunesse et
conquête duu pouvoir, Paris, Gallimard, 1973, p.341. Quanto a Hans Franck (Karsruhe,
1900- (Nuremberg, 16-X-1946), nazi inscrito no DAP e depois no NSDAP, membro da
S.A., participante no putsch da
cervejaria, advogado de Hitler em 150 processos que lhe foram movidos, ministro
da Justiça em 1934 e, desde 1939 governador-geral da Polónia ocupada, país que
tratou com uma brutalidade ilimitada, sendo um verdadeiro carrasco do povo polaco, considerando que
este polacos era escravo do Grande Império Alemão, sendo condenado à forca pelo
tribunal internacional de Nuremberga,
[9] Os irmãos Otto e Gregor Strasser acabariam ambos por
se afastar, em 1930, do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães,
o NSDAP (Nationalsozialistische Deutsche
Arbeiterpartei), por insistirem no programa “socialista” dos seus começos,
o que incomodava Hitler, interessado como estava nos apoios dos industriais da
Renânia, detestando o “socialismo de salão” dos irmãos Strasser, acabando estes
por criar uma dissidência partidária, a efémera União dos Nacionais-Socialistas
Revolucionários, mais conhecida como “Schwarze Front”( Frente Negra), sediada em Praga. Em 1932, Hitler nomeara
Gregor Sttrasser Reichsorganizionsleiter
do partido nazi, mas acabando os dois por se incompatibilizarem, sendo Gregor
afastado do partido, substituindo-o pelo fiel Hess. Em 30-VI-1934 seria preso e
morto a tiro na prisão, durante a já referida purga sangrenta dessa altura.
Quanto ao seu irmão Otto, abandonaria a Alemanha, indo para Praga e depois para
o Canadá, publicando em 1935, na Suíça, Hitler
und Ich, um livro sobre Hitler, com
destaque para o relato da Noite das Facas Longas, a purga sangrenta na qual o
seu irmão fora eliminado e por o partido nazi (editou-se em França, este livro,
Hitler et Moi, Paris, Editions
Grasset, 1940). Voltaria à Alemanha em 1955. Sobre Otto Strasser, veja-se Ian
Kershaw, Hitler (1889—1936) Hubris,
pp.325-9.
[11] Emil Maurice (Westermoore, 19-I-1897 – 6-II-1972), destacando-se
mais tarde como um dos assassinos mais implacáveis ao serviço do NSDAP, participando
em diversos assassinatos nazis, tanto nas matanças da Noite da Facas Longas de
Junho de 1934. como ainda na misteriosa morte de Geli Raubal, sobrinha do
futuro Führer, associado a um bando
de criminosos que levaria à eliminação do antigo Pe. Bernhard Stempfle, sendo
designado SS-Oberführer em 1937, caso que tinha relação com o alegado suicídio
ou morte violenta, em 18-IX-1931, de Geli Raubal, sobrinha e amante de Hitler.
[12] Rudolf Hess (Alexandria, Egipto, 26-IV-1894 –
Spandau, 17-VIII-1987), filho dum comerciante alemão no Egipto, estudante na
Escola Superior de Comércio de Neuchâtel (Suiça), soldado de infantaria no
mesmo regimento em que Hitler
combateu (embora não conste que se tenham conhecido nessa altura), terminando o
serviço militar como piloto da força aérea, inscreve-se na sociedade ocultista
e ultra-nacionalista Thule Gesellschaft, onde Eckart o apresenta a Hitler, após
a guerra inscreve-se depois na Universidade de Ciências Económicas de Munique,
onde convive com o prof.Karl Haushaufer
(1869-1946) – especialista de geopolítica e teorizador do Lebensraum (espaço vital) que Hitler acolheria como dogma desde o seu M.K. –, participa num Freikorps dirigido pelo general Ritter von Epp, filia-se no NSDAP e
partir deste momento torna-se um dos colaboradores mais íntimos do futuro Führer, participando no putsch da cervejaria, sendo secretário
de Hitler na prisão de Landsberg, ascende a
chefe do partido nazi e entra no
governo do III Reich como ministro sem pasta, sendo ainda nomeado SS-Obergrupenführer, membro do conselho
de defesa do regime, tem em Berlim um papel activo na matança da Noite das
Facas Longas, e é considerado como o nº 3 do regime. Subitamente, em 10-V-1941,
pilotando um avião Messerschmitt ME 110, sem gasolina suficiente para regressar
à Alemanha, parte sozinho de Augsburgo, em direcção à Grã-Bretanha, lançando-se
de pára-quedas próximo de Glasgow, perto da mansão do duque de Hamilton
(1900-1971), que H. conhecera nos Jogos Olímpicos em Berlim, em 1936, facto que
nunca teve explicação cabal. Sabe-se que Hess, por sugestão do seu antigo
professor de Geopolítica, Karl
Haushofer, propusera a Douglas Hamilton um encontro em Portugal para discutirem
a hipótese de um entendimento de paz anglo-alemão. A verdade, porém, é que
nenhuma autoridade inglesa quis encontrar Hess, que ficaria detido até ao final
da guerra e depois transferido para o tribunal de Nuremberga, em 1945, para ser
julgado. Quanto à surpresa e irritação que esta delirante e inesperada
iniciativa teve sobre Hitler, o qual ordenou a Goebbels que fizesse um discurso
anunciado que Hess perdera a razão, é dada por Rosenberg no seu diário,
sublinhando que o piloto solitário estava doente (veja-se Journal.1934-1944, Paris, Flammarion, 2015, pp.400-403). Ver ainda James
Leaser, Rudolf Hess: The Unvited Envoy,
Londres , George Allen and Unwin, 1962. Preso
pelos ingleses, presente no julgamento de Nuremberga, simula nada se recordar,
sendo condenado a prisão perpétua em Spandau, suicidando-se ali em
17-VIII-1987, após 41 anos de cárcere,
com 93 anos de idade, sendo o derradeiro prisioneiro nessa prisão, pois
os outros condenados ali presentes tinhm partido todos em 1966. Sobre o
depoimento de Hess, no tribunal de Nuremberga, veja-se Leon Goldensohn, Les Entrertiens de Nuremberg, apresent,
de Robert Gellately, Paris, Flammarion, 2004, maxime pp.174-6 (opiniões de
Goering sobre Hess) e 187-9 (conversa de L.G. com Hess). L. Goldensohn era
médico psiquiatara no exército americano, tendo sido encarregado pelo tribunal
de Nuremberga de falar com os nazis julgados nesse processo. Veja-se ainda
Jean-Marc Varault, Le Procès de Nuremberg,
Paris, Le Grand Livre du Mois, 2005, ilustr., maxime pp.308-332: o caso Hess e a questão de saber se este estava
em seu perfeito juízo, tendo sido positiva a opinião de vários peritos médicos
consultados, achando, como o afirmou a delegação americana, que o réu, apesar
da sua perda de memória, tinha suficiente compreensão dos debates, embora
sofresse de uma amnésia de origem histérica, como o sublinha o parecer da
delegação franco-soviética, assim como a acusação inglesa garantia que, estando
ele em condições de compreender aquilo de que era acusado, não se podia
contestar a sua responsabilidade dos actos que lhe eram assacados como
criminoso de guerra, devendo ser julgado, mesmo que estivesse amnésico, o
próprio Hess resolveu o assunto no sentido indicado pelos seus juízes,
afirmando que simulara amnésia diante dos médicos e do seu advogado, assim como
fizera diante do advogado geral.
[13] Cf. Konrad
Heiden, The Führer, Londres,
Robinson, 1999, p.233; e I.Kershaw, op.
cit., pp.242 e 515-16.
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