sábado, 23 de janeiro de 2016

Hitler: do putsch da cervejaria ao Mein Kampf.

 
 
 
 
 
No 90º aniversário da publicação do Mein Kampf de Hitler (3):
Hitler: do putsch da cervejaria bávara, em Novembro de 1923, à publicação do breviário hitleriano (1923-1925)
 
 
 
1. O putsch da cervejaria bávara em 8/9 de Novembro de 1923
 
“Assim, certa manhã, quando as autoridades acordaram, Munique estava nas mãos de Hitler.
As repartições públicas tinham sido ocupadas pelas suas tropas e os jornais foram obrigados  a anunciar, sob  a ameaça das pistolas, que a revolução hitleriana havia triunfado em toda a  linha. E eis que, como caído das nuvens, para onde a ingénua e confiante república até então estivera sonhadoramente voltada, aparecia o general Ludendorff, o deus ex machina, o primeiro dos muitos que julgaram que se podiam servir de Hitler e não foram mais do que os seus seguidores. Mas (…) o certo é que a famosa revolução, que se anunciara triunfante em toda a Alemanha, havia começado pela manhã e ao meio dia já estava terminada. Hitler fugira, mas fora preso pouco depois. Estávamos em 1923. As cruzes gamadas desapareceram e, com elas, eclipsaram-se também as milícias de assalto. O nome de Adolfo Hitler caiu no esquecimento e mais ninguém pensou que tal personagem pudesse se ainda um factor político digno de nota.
Porém, alguns anos depois. Hitler surgiu novamente no cenário da vida política. E, desta vez, a onda altaneira de descontentamento popular elevou-o rapidamente (…). Mas ninguém reparava verdadeiramente na gravidade da situação, Alguns dos poucos intelectuais que se deram ao trabalho de ler o livro de Hitler não só não fizeram caso das suas doutrinas, mas até escarneciam da prosápia que elas revelavam.”
                                                        Stefan Zweig, O Mundo de Ontem.[1]
 
 
O programa político de Adolf  Hitler, publicado em dois volumes, o primeiro em 1925 e o segundo em 1927, foi escrito pelo futuro Führer[2] quando este se encontrava preso na prisão-fortaleza de Landsberg am Lech (Baviera), após a condenação pelo tribunal a cinco anos de prisão como um dos promotores do putsch iniciado com uma manifestação  que ocorreu na Bürgebräukeller, uma famosa cervejaria de Munique, na noite em 8 de Novembro  de 1923, aventura que duraria poucas horas, tendo começado com um assalto ao local, onde estavam reunidos três mil espectadores para ou virem  discursar algumas das figuras mais destacadas das forças armadas e policiais da cidade, tais como Ritter von Kahr,  comissário do estado da Baviera, o general Otto von Lossov, comandante do exército local e o coronel  Hans von Seisser, chefe da polícia militar.  A cervejaria foi então invadida por cerca de 600 membros das SA, o braço armado do partido nazista, saltando Hitler para uma cadeira, disparou um tiro para o tecto e bradou que a “revolução nacional” acabara de eclodir  e que tanto os governos de Berlim  como da Baviera tinham sido depostos, dirigindo-se depois para o palco, ordenando que os mencionados oradores fossem com ele para uma sala, onde os informou de que, com  ajuda do famoso general Erich Ludendorff, tinham formado um novo governo. [3]
 
 
 
John Heartfield
 
 
 
Como não tivessem levado a sério, Hitler enfureceu-se, voltou à sala e gritou que no dia seguinte haveria um governo nacional ou estariam eles mortos. Os chefes militares com os quais falara, lograram entretanto fugir do local e alertaram as chefias políticas e militares de Berlim sobre o Putsch em curso. No dia seguinte, pelas 11h da manhã, um punhado de nazis e de grupos SA implicados no golpe, brandindo bandeiras com a suástica, dirigiram-se em desfile pelas ruas em direcção à Matrienplatz, no centro da cidade, onde se realizaria uma manifestação com a presença de Hitler, de Ludendorff, Goering e Julius Streicher. Todavia, chegado o grupo pustchsita à Odeonplatz, peto do Feldherrnhalle, uma força policial armada barrou-lhes o caminho. Tendo Hitler intimado a polícia a render-se, esta replicou aos insurrectos com uma saraivada de tiros. Hitler, antigo soldado na guerra 14-18, teve o reflexo, aprendido na grande guerra, de se atirar imediatamente para o chão, o que Goering não o imitou, ficando ferido. Em breve havia já 16 nazis e 3 guardas feridos. Hitler fugiria num carro amarelo, enquanto Ludendorff seguia marcialmente em frente, trajecto que a polícia não quis interromper por respeito à aura do famoso general. A meio dos discursos destes, diante duma plateia de três mil ouvintes, que bebiam cerveja, sentados nas suas mesas, pelas 9h menos um quarto da noite, foi a cervejaria inesperadamente cercada por cerca de 600 membros das S.A., o bando paramilitar do partido nazista, enquanto Hitler entrava na sala e os seus homens instalavam uma metralhadora junto da porta, saltando aquele para cima duma cadeira, disparando um tiro de pistola Browning para o tecto, bradando em seguida que uma “revolução nacional” acabara de eclodir, pelo que tanto os governos de Berlim como da Baviera tinham sido depostos, dirigindo-se depois para o palco, ordenando que os mencionados oradores fossem com ele para uma sala anexa, onde os informou de que, com a ajuda do general Erich Ludendorff,[4] tinham formado um novo governo. Como não o tivessem levado a sério, recusando os três citados palestrantes a aderir ao golpe daquele antigo cabo austríaco – rejeitado como fisicamente débil pelo exército do seu país mas incorporado num regimento bávaro em 1914, o regimento List –, Hitler enfureceu-se, voltou à sala e gritou que no dia seguinte haveria um governo nacional ou estariam eles mortos. Os chefes militares com os quais falara, lograram entretanto fugir do local e alertaram as chefias políticas e militares de Berlim sobre o putsch em curso.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              
 
 
 
 
 
A numerosa assistência na sala começou então a protestar tão alto que Goering se sentiu na necessidade de ir até à tribuna, garantindo que os invasores tinham intenções pacíficas, perguntando: “-Mas de que se queixam? Não têm a vossa cerveja?” O antigo vagabundo de Viena tornou à sala e foi à tribuna anunciar à multidão hostil que na sala ao lado o triunvirato aceitara formar com ele um novo governo, mentira que teve o condão de tranquilizar os bebedores de cerveja, muitos dos quais até aplaudiram a falsa notícia acabada de dar. Apareceu então o próprio Ludendorff, presença que tranquilizou a assistência da Bürgerbräu, embora o generalíssimo se enfurecesse ao saber que o anunciado governo de salvação seria presidido pelo antigo cabo austríaco do 16º regimento de infantaria de reserva da Baviera na guerra 14-18. Os três chefes militares e policiais regressaram à tribuna da cervejaria, dando mostras de aceitar a revolução em curso, Ludendorff serenou e Hitler sentiu-se apoteoticamente aclamado. Nesta comédia de enganos, tanto Lossov como Kahr e Seisser mudariam rapidamente de atitude e avisaram o governo de que havia que agir sem demora para deterem os sublevados, ainda que, de facto, Röhm, conseguisse entretanto assenhorear-se dos escritórios do ministério da guerra em Munique.[5] No dia seguinte, pelas 11h da manhã, com uma multidão composta sobretudo de uns dois mil SA implicados no golpe da cervejaria, brandindo bandeiras com a suástica, desfilara pelas ruas em direcção a Marienplatz, no centro da cidade, onde se realizaria uma manifestação com a presença de Hitler –  sempre acompanhado pelo seu guarda-costas pessoal, Ulrich Graf – carniceiro de profissão – e pelo generalíssimo Ludendorff, além de Goering, Hesss, Julius Streicher, Wilhelm Frick e outros. Todavia, chegados os putschistas à Odeonplatz, perto do Feldherrnhalle, que dava acesso àquela praça e ao ministério das guerra, onde se achava Röhm em posição de força, esperava-os ali uma força da polícia, armada de espingardas, travando-lhes o caminho. Como os golpistas nazis persistissem em avançar, a polícia replicou com uma saraiva de tiros. Hitler, antigo soldado na guerra 14-18, teve o reflexo de se atirar imediatamente para o chão, sofrendo nessa queda a luxação dum ombro. Goering não o imitou, ficando ferido numa perna, sendo detido mas conseguindo, mesmo assim, fugir para a Áustria, vivendo primeiro na Itália e depois na Suécia, donde só voltaria à Alemanha em 1926, amnistiado. Outro nazi a seu lado, Alfred Rosenberg (embora não viesse a ser detido após o putsch) era um alemão nascido na Estónia e fora apresentado a Hitler pelo poeta, dramaturgo e jornalista católico Dietrich Eckart[6], que participara na malograda intentona da cervejaria, brandisse também um revólver, conseguindo fugir a tempo do local. Em breve havia já 16 nazis mortos e 3 guardas feridos. Quanto a Hitler, fugiria num carro amarelo, abandonando os camaradas do partido feridos ou mortos pelo tiroteio policial, sendo levado para casa do seu amigo Hanfstängl, em Uffing, onde foi tratado, sendo preso dois dias depois. Quanto a general Erich Ludendorff, o famoso herói guerreiro, seguiu marcialmente em frente, trajecto que a polícia não quis interromper por respeito à aura do famoso general, acabando esse errático guerreiro por se entregar às autoridades quando a intentona se gorou, ficando em liberdade em troca da sua palavra de militar, à espera do julgamento que se seguiria. Seria o único réu totalmente inocentado pelo tribunal, perdão que derivava da sua fama de comandante militar durante o conflito de 14-18 e ainda pela simpatia que o ministro da Justiça da Baviera, o Dr. Gürtner, tinha pelo herói fardado, aquele que lançara, na primavera de 1918, a derradeira mas falhada grande ofensiva germânica contra os Aliados na Flandres, batalha em que as tropas lusas do C.E.P. seriam tão trucidadas no 9 de Abril desse ano. Entretanto, junto do ministério da guerra de Munique, Röhm era cercado por soldados da Reichswehr, acabando por ser detido sem qualquer troca de tiros entre os grupos antagónicos no local, sendo posto em liberdade provisória, acabando por ser declarado inocente no julgamento subsequente. Viveria, em seguida, como caixeiro viajante e  editor de obras patrióticas, até partir para a Bolívia, como instrutor militar, só tornando à Alemanha em 1930 , para ser encarregado por Hitler, no ano seguinte, de chefiar as milícias nazis,  SA.
 
 
 
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         2. A prisão de Landsberg am Lech
 
Em poucas horas o putsch da cervejaria estava destroçado e os seus principais instigadores, Hitler e alguns dirigentes do partido nazi – de imediato dissolvido – foram detidos e julgados a partir de 26-II-1924, sendo condenados em 1-IV desse ano por alta traição, cabendo a Hitler uma das penas mais pesadas, cinco anos por alta traição, tendo os quarenta putchistas detidos sido encarcerados em Landsberg.[7] Hess e Goering fugiram para o estrangeiro, sendo o primeiro capturado pouco depois e levado também em Landsberg. A mansuetude do sistema carceral permitia aos putschistas da cervejaria, no entanto, uma vida de certo luxo: por exemplo, Hitler, tratado como hóspede de honra, fora dotado de uma cela particular, com uma vista esplêndida sobre o Lech, tomando o seu pequeno-almoço na cama, podendo ler abundantemente, além de receber visitas e conversar com amigos e os demais co-detidos, o que lhe permitiria dizer, mais tarde, que nunca na sua vida fora tão bem tratado num cárcere. Ao seu advogado Hans Franck, Hitler diria com ironia que Landsberg fora “o seu estágio na universidade a custo do Estado”.[8] Entre os visitantes mais assíduos achava-se Alfred Rosenberg, o ideólogo anti-semita e futuro autor do tratado “filosófico” nazi, O Mito do Século XX (o mito do sangue, o despertar da “alma da Raça”), publicado em 1930, a segunda bíblia do nacional-socialista.
 
 
 
Otto Strasser
 
3.Hitler dita o seu Mein Kampf
 
Achava-se também na fortaleza-prisão o irrequieto agitador nazi Otto Strasser (1897-1974), antigo social-democrata que, com o seu irmão Gregor Strasser (1892-1934),[9] também partilharia da vida em Landsberg. A acreditar na obra de Otto, dedicada a narrar os seus contactos com o dirigente do putsch de Munique, Hitler e Eu (1935), na qual recordaria a atmosfera e a importância dessa clausura naquela aprazível prisão bávara e, sobretudo, um conselho providencial que o seu irmão Gregor daria ao futuro Führer da Alemanha. A vida na prisão daquela pitoresca cidadezinha bávara à beira dum rio parecia mais a que se podia levar num sanatório ou num hotel do que o cativeiro numa fortaleza para prisioneiros acusados de graves crimes como aqueles. Cada preso tinham direito um ou dois quartos à sua disposição, nos quais, todos os dias, recebia frequentes visitas passando a vida junto, fumando e solicitando aos guardas os pratos preferidos para as suas refeições. No rés-do-chão, os detidos gozavam pelo menos da vantagem de não terem de ouvir as arengas diárias do “homem do primeiro andar”, o fatigante tagarela. Foi então que Gregor Strasser teve uma ideia brilhante (Otto chama-lhe exactamente “maquiavélica”, nas suas citadas memórias): “E se ele escrevesse as suas memórias?”[10] Sugestão que Hitler acolheu com satisfação, de maneira que o antigo pintor que por duas vezes não conseguiu entrar para a Academia de Belas Artes de Viena, iria lançar-se num empreendimento que teria repercussões extraordinárias e inesperadas para a formação do seu mito de chefe nacionalista. Emile Maurice[11] , seu amigo íntimo, motorista e guarda-costas, começa por ser o seu escriba, embora fosse a pessoa menos indicada para a tarefa imensa, uma vez que era um boémio e relojoeiro, Segue-se-lhe, nessa tarefa, Rudolf Hess,[12] que lhe caninamente devotado e que nunca se lembraria de lhe chamar a atenção para as inexactidões históricas do seu depoimento memorialístico, vai escrevendo o que Hitler lhe dita. Este remanso carceral tão tranquilo permitiria a Hitler entregar-se com entusiasmo – com a ajuda inicial do referido guarda-costas e motorista Emil Maurice, bem como, sobretudo, do seu fiel amigo Rudolf Hess, que entretanto fora capturado e levado também para Landsberg –  a ditar a extensa autobiografia e programa político que funcionaria durante o “Reich de Mil Anos” como bíblia do nazismo.
Nesses meses de detenção, que terminariam pouco antes do Natal de 1925, Hitler ditaria a sua bíblia que sairia mais tarde, em 1925 e 1927, em dois grossos livros, beneficiando ambos os volumes de revisões e correcções de alguns colaboradores, que acabámos de citar (Maurice, Hess e Stempfle, que adiante havemos de referir com mais detalhe), além de Josef Czerny (que germanizou o seu apelido para Stolzing), jornalista anti-semita, colaborador no Völkischer Beobachtar, um poeta e crítico musical nazi de origem checa que acompanhara três vezes Hitler em idas a Beyreuth para escutar Richard Wagner, que se encarregara de revisão gramatical e da ortografia desleixada do segundo volume do Mein Kampf, com a ajuda também do antigo frade jerónimo Bernard Stempfle, que dirigira o Miesbacher Anzeiger, um jornaleco provincial bávaro, que também simpatizava com o movimento. [13] 
 
 
João Medina
 


[1] Stefan Zweig (Viena, 28-XI-1881 – Petrópolis, Brasil, 22-II-192), O Mundo de Ontem. Memórias de um Europeu, Porto, Livraria Civilização, 1953, trad. do alemão por Manuel Rodrigues, pp.452-3. Este admirável livro de memórias fora completado no Brasil e o seu original entregue ao editor pouco antes de S.W. e a mulher se suicidarem em Petrópolis. A obra publicou-se em Estocolmo, em 1942 e, em inglês, em 1943. Filho de um rico industrial, S.W. tornou-se cedo conhecido como poeta, romancista e contista, além, de autor de uma série de biografias de grandes figuras como Erasmo, Maria Stuart, Fernando de Magalhães, Fouché, Montaigne, etc.. Em 1919 instala-se em Salzburgo, publicando uma série de ensaios sobre Nietzsche, Hoelderlin, Tolstoi, Freud, Stendhal, etc. As suas obras são incluídas entre os livros queimados em autos de fé na praça pública, em Berlim e em toda a Alemanha, (10-V-1933), acabando por se exilar em Inglaterra em 1934, divorcia-se de Frederika von Winternitz (1938), casando-se com a sua secretária inglesa Charlotte Altmann. Percorre o mundo e acaba por se fixar no Brasil (1941),  em Petrópolis, onde se suicida juntamente com a mulher.
[2] Para a compreensão deste termo e da construção e evolução histórica do seu significado, sobretudo a partir do putsch de 1923 e da publicação do Mein Kampf, até 1936,veja-se o monumental estudo de Ian Kershaw (nasc em 1943), Hitler.1889-1936. Hubris, Londres, Allen LKane /The Penguin Press, 1998, ilustre. E, do mesmo autor britânico, o seu estudo monográfico The “Hitler Myth”. Image and Reality in the Third Reich, vol.I, 1990, pp.24 ss, 221 e 231ss. O historiador católico britânico Ian Kershaw (Odlhsam, Lancashire, 29-IV-1943), fez investigação na Baviera, sob a orientação do prof. Martin Broszat,  ensinou na Universidade de Sheffield e no Menton College, Oxford, onde se doutorou. Tendo começado pró investigar a história dos campesinato alemão na Idade Média, orientou-se para o estudo do fenómeno nazi, tendo publicado diversas obras como O Mito Hitler (1987), a monumental biografia Hitler (2 vols., 1998 e 2000), participando na controvérsia de historiadores alemães chamada “Historikerstreit”, 1886-1989, que envolveu autores como Broszat, Joachim Fest, Ernst Nolte, Hillgruber, Eberhard Jäckel, Saul Friedländer,  critica as teses da obra de Daniel Goldbeerg, historiador norte-anericano e  defende que não se deve explicar o nazismo a partir de Hitler mas da situação dos milhões de alemães entre 1933 e 1945. Quanto à liderança de Hitler, inclui-a naquela forma a que M.Weber chamava “chefia carismática”. Publicou ainda Estalinismo e Nazismo (com Moshe Lewin, 1997) e A Ditadura nazi. Problemas e Perspectivas de Interpretação (1985).
[3] Otto Strassser (vide infra), na sua narrativa desta intentona nazi em que ele mesmo participou, dá este número (cf. Hitler et Moi, p.50), que  Kershaw retém (cf. I. Kershaw,  Hitler – 1889-1936: Hubris, p. 206); quanto ao número de putschistas que no dia seguinte, 9-XI, partem para o centro de Munique, cifra-os em 2.000, a maioria deles armados (p.210).
[4] Erich Ludendorff (Kruszenia, perto de Posen, 1865 –Tuzing, Baviera, 20-XII-1934), ingressou no corpo de Cadetes do exército em 1998, fazendo depois uma brilhante carreira militar durante a grande guerra, sendo um dos responsáveis pelo plano da invasão da Bélgica e da França, comandando durante o conflito, começando como quartel-mestre do II Exército,  conquistando  a fortaleza de Liège na Bélgica, mostrando bravura nesse ataque vitorioso, sendo então designado por Hindenburg para o estado-maior. Mais tarde, foi transferido para o comando do VIII exército na frente leste, o que se havia de se traduzir nas vitórias sobre os russos em Agosto/Setembro de 1914 e outros sucessos na frente oriental em 1916. A nomeação de Hindenburg como comandante supremo do exército alemão (1916) levaria Ludendorff a seu assessor, o que permitiu progressos das tropas germânicas na frente ocidental após os desaires sofridos em Verdun e na Somme. Brilhante estrategista, Ludendorff decidiu privilegiar, desde 1917, a guerra submarina, sendo ele que negociou o leonino tratado de Brest-Litovski com os bolchevistas (Março de 1918). Na primavera/verão de 1918 esteve ligado a uma grande ofensiva na frente ocidental, operação falhada, o que, com a derrocada das tropas alemãs nos Balcãs, levaria o general Ludendorff a solicitar ao governo imperial um tratado de paz com as forças aliadas, sendo demitido pelo príncipe Max de Bade (26-X-1918). Após o armistício de Novembro, partiu para a Suécia, onde escreveu as suas memórias, voltando para a Baviera em 1919, momento em que, sempre com a derrota alemã na guerra no espírito, o general optaria por uma crescente adesão aos movimentos nacionalistas extremistas do seu país, ao mesmo tempo que, por influência da sua segunda mulher, Mathilde Spiesss, se tornaria anti-semita, ajudando a fundar em 1926 a Tannenberg Bund, uma liga de antigos combatentes d 14-18, destinada a atacar os “poderes acima do Estado”, ou seja, os Judeus, os Jesuítas, os Maçons e os Marxistas, ao mesmo tempo se tornava anticristão e pedia a criação duma nova religião pagã fundada nos deuses nórdicos e se tornava pacifista. Contactando com Hitler, o militar participaria no putsch da cervejaria, em Munique, sendo por essa razão preso, embora absolvido no julgamento de 1924. Foi deputado no Reichstag nesse mesmo ano e apresentou-se com no candidato presidencial de Março de 1925, embora obtendo um sufrágio irrisório (0,6 % dos votos). Em 1926, afastando-se de Hitler, criou a citada liga Tannenberg (nome da famosa batalha que os alemães ganharam aos russos em Agosto de 1914), Além de autor de panfletos anti-semitas e anti-maçónicos, o general escreveu Recordações de Guerra (1919) e A Guerra total (póst., 1935).
[5] Ernst Röhm 28-XI-1887), homem de pequena estatura, entrara para o exército antes da guerra começar, sendo três vezes ferido nela, ficando com parte do nariz destruído e uma bala alojada na face, o que lhe dava um ar azedo e feroz. Acabada a guerra, mantendo o seu posto de capitão do exército em Munique, sua terra natal, participara no movimento Freikorps, formado por milícias armadas, aptas a acções no tumulto político alemão pós-1918, desempenhando um elemento agressivo e, sobretudo, permitindo recrutar combatentes anticomunistas para além dos contingentes armados autorizados pelo tratado de Versalhes. Desentendendo-se com Hitler após o Putsch de 1923, Röhm parte para a Bolívia como instrutor militar, com o posto de tenente-coronel, só tornando ao seu país em 1931, sendo então encarregado por Hitler de chefiar da S.A. (Sturmabteilung, Secção de Assalto), criada em 1921 pelo capitão Pfeiffer von Salomon, a partir dos corpos francos armados (Freikorps). Inicialmente, a SA era um pequeno exército partidário dirigido por oficiais do exército como Goering e depois von Salomon, passando, assim, desde 1931, os “camisas castanhas” para a chefia de Röhm – um dos raros membros do partido que tratavam Hitler por tu. Desde a sua criação, a SA fora o verdadeiro braço armado e militarizado do movimento hitlerista, competindo-lhe exercer todas as tarefas de propaganda, desde colar cartazes aos combates com rivais políticos nas ruas, sobretudo os comunistas e socialistas. Contando considerado o general Groener, no governo Brüning, que este corpo militarizado constituía um “Estado dentro do Estado”, proibiria a S.A. em 13-IV-1932, medida que Papen revogaria no ano seguinte. A  função essencial da SA era a de assegurar o serviço de ordem durante as reuniões do partido nazi, recrutando em poucos meses, em 1931, 170.000 membros, que seriam já três milhões em 1933. Hitler recompensou Röhm com um lugar no gabinete do Reich, mas em breve voltariam os dois desentenderem-se porquanto o capitão queria que o exército fosse substituído pela SA. Hitler incompatibilizou-se com Röhm, não só por não querer hostilizar o exército alemão, mas ainda pelo facto de haver demasiados homossexuais entre os seus membros, procedendo à sua impiedosa decapitação na “Noite das Facas Longas” (de 29 para 30-VI-1934), em Bad Wiessee, perto de Munique, matança executada com a presença do próprio Führer, tendo este quem lhe bateu à porta do quarto de hotel onde aquele dormia, insultando-o e ordenando que o antigo camarada fosse detido e, por fim, tendo Röhm recusado usar a pistola que lhe deixaram na sua cela para se suicidar, seria abatido, sendo presos outros 150 membros das SA, dos quais entre 75 a 100 foram fuzilados na Escola de Cadetes. Desta purga sangrenta de 1934 resultaria uma eliminação sistemática da ala esquerdista do partido nazi – falando a 13-VII-34 no Reichstag para explicar as razões daquele massacre, Hitler definiu a liquidação desse grupo como perigosos dissidentes no interior do III Reich, um bando de “revolucionários esquerdistas”  e “verdadeiros portadores dos bacilos de perturbação”. Além disso, o Führer queria pôr fim àquela côterie de homossexuais agregados em volta de Röhm que manchava a imagem de virilidade que se pretendia dar à chefia do regime ariano (veja-se: -Jean François , L’Affaire Röhm-Hitler, Paris, Gallimard,1939, maxime pp.129-163. -Nikolai Tolstoi, Night of the Long Knives, Nova Iorque, Ballantine Books, 1972. -Otto Strasser, Hitler et Moi, pp.204-208). A SS, que participara activamente nessa purga sangrenta, ficariam a partir de então, sob o comando de Himmler, com as funções essenciais da decapitada SA, que continuou a existir, embora sendo o seu número de membros reduzido a milhão e meio de aderentes, entre os quais havia, desde 1939, membros da Stahlhelm e de sociedades rurais de equitação. Em 1946, o tribunal internacional de Nuremberga não chegou a declarar a SA, como uma organização criminosa, embora classificasse a SS (Schutzstaffel, Grupo de Protecção) como tal. Joachim Fest considera que Röhm pertence a uma “geração perdida” que apareceu “depois da grande guerra com vagos mas consistentes sentimentos de oposição, de protesto, no Freikorps e na associações nacionalistas armadas de modo a transmutarem a sua incapacidade de uma vida civil em aventureirismo extremo e criminalidade mascarada de nacionalismo. Desordem activa, prontidão para tomar riscos, crença na força e irresponsabilidade eram os elementos psicológicos essenciais que estavam atrás do niilismo organizado desses cuja experiência formativa tinha sido a guerra, com o sentido subjacente do declínio da cultura e cujo mito heróico era o espírito do soldado da linha da frente. Agentes duma revolução permanente sem nenhuma ideia revolucionária do futuro, não tinham qualquer finalidade, mas apenas inquietação; nenhuma ideia de valores que olhassem parta o futuro, mas apenas o desejo de eternizar os valores das trincheiras.” (J. Fest, The Face of the Third Reich, p.207). Sobre este tema da influência na cultura europeia da vida e da psicologia dos combatentes durante a guerra de 14-18, veja-se o estudo de Enzo Traverso, À Feu et à Sang. De la Guerre civile européenne 1914 -18, Paris, Stock, 2007, maxime pp.193-209 e  p.211ss). Ver ainda George L. Mosse, De la Grande Guerre au Totalitarisme. La brutalisation des sociétés europénnes, Paris, Hachette, 2003, ilustr., maxime pp.63-82 e 181-206.,
[6] Dietrich Eckart (Neumarkt, Alto Palatinado, 1868- Bercthesgaden, 1923) – autor de algumas das primeiras canções de propaganda do hitlerismo, seria ainda o director, com a ajuda do seu protegido estoniano, do diário nazi Völkischer Beobachter, falecendo em Berchtesgaden com um ataque cardíaco em Dezembro desse mesmo ano do putsch da cervejaria. Hitler mencionaria com caracteres grossos, no segundo volume do M.Kampf, o nome do seu amigo e colaborador Eckart, que estivera também filiado no DAP (Partido dos Trabalhadores Alemães) de Drexler, que tanto o ajudara a ingressar no meios políticos de Munique e fora ainda o autor de um dos primeiros panegíricos do futuro Führer, um diálogo entre ele e Hitler, intitulado O Bolchevismo de Moisés a Hitler (1923), um diálogo entre o autor e o seu novo protegido e amigo.
[7] A condenação de Hitler pelo tribunal de Munique em 1924 levaria as autoridades alemãs a tentarem expulsá-lo para a Áustria, desejo que o seu país natal recusou ( Kershaw, op. cit., p.237). Hitler só conseguiria obter a nacionalidade alemã, em 26-II-1932, quando o Estado de Brunschschveig lhe deu, um lugar de funcionário público no governo, o que automaticamente o habilitava a reclamar a cidadania germânica e até a apresentar-se como candidato presidencial nas eleições de 10-IV desse ano: Hindenburg foi eleito, com 36,8 % dos votos, ficando Hitler em segundo lugar e Thaelmann em terceiro. Depois, nas eleições de  Julho de 1932,  os nazis obtiveram 231 deputados no Reichstag, um resultado extraordinário; mas o parlamento foi de novo dissolvido e as eleições seguintes, em Novembro de 1932,  levaram 196 deputados hitlerianos para o Reichstag. O novo chanceler, o general Schleicher, decidiu encetar uma luta decisiva contra o nazismo, com o apoio da Reichswehr, embora von Papen, dirigente da ala extrema-direita do Zentrum (Centro, partido católico conservador) negociasse secretamente com ele, que acabou por se demitir, o que permitiu que a 30-I-1933 o presidente da República Paul von Hindenburg (Pozsam, 1847- Neudeck, Prússia. 2-VIII-1934) chamasse o ex-austríaco para a chancelaria do Reich. Em uma, a concessão de germanidade a Hitler, permitia que este jurasse servir um Estado que ele estava determinado em destruir” (ibidem, p.362). Acrescente-se que Hindenburg facilitou a célere nazificação da Alemanha, deixando abrir, sem, protestar, os primeiros campos de concentração, dissolver os partidos políticos e até que se executasse o sangrento morticínio da Noite das Facas Longas. Após a sua morte, Hitler mandaria erguer-lhe um imponente mausoléu, que seria destruído pelos soviéticos em 1945. O prussiano Hindenburg foi, assim, um dos grandes responsáveis e coniventes na trágica transformação de “um países de poetas e pensadores”  num “país de juízes e carrascos” (recorde-se a tão citada fórmula rimada: “Dichter und Denker, Richter und Henken”).
[8] Apud Joachim Fest, Hitler, vol. I, Jeunesse et conquête duu pouvoir, Paris, Gallimard, 1973, p.341. Quanto a Hans Franck (Karsruhe, 1900- (Nuremberg, 16-X-1946), nazi inscrito no DAP e depois no NSDAP, membro da S.A., participante no putsch da cervejaria, advogado de Hitler em 150 processos que lhe foram movidos, ministro da Justiça em 1934 e, desde 1939 governador-geral da Polónia ocupada, país que tratou com uma brutalidade ilimitada, sendo um verdadeiro  carrasco do povo polaco, considerando que este polacos era escravo do Grande Império Alemão, sendo condenado à forca pelo tribunal internacional de Nuremberga,
[9] Os irmãos Otto e Gregor Strasser acabariam ambos por se afastar, em 1930, do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o NSDAP (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei), por insistirem no programa “socialista” dos seus começos, o que incomodava Hitler, interessado como estava nos apoios dos industriais da Renânia, detestando o “socialismo de salão” dos irmãos Strasser, acabando estes por criar uma dissidência partidária, a efémera União dos Nacionais-Socialistas Revolucionários, mais conhecida como “Schwarze Front”( Frente Negra), sediada em Praga. Em 1932, Hitler nomeara Gregor Sttrasser Reichsorganizionsleiter do partido nazi, mas acabando os dois por se incompatibilizarem, sendo Gregor afastado do partido, substituindo-o pelo fiel Hess. Em 30-VI-1934 seria preso e morto a tiro na prisão, durante a já referida purga sangrenta dessa altura. Quanto ao seu irmão Otto, abandonaria a Alemanha, indo para Praga e depois para o Canadá, publicando em 1935, na Suíça, Hitler und Ich, um livro sobre Hitler, com destaque para o relato da Noite das Facas Longas, a purga sangrenta na qual o seu irmão fora eliminado e por o partido nazi (editou-se em França, este livro, Hitler et Moi, Paris, Editions Grasset, 1940). Voltaria à Alemanha em 1955. Sobre Otto Strasser, veja-se Ian Kershaw, Hitler (1889—1936) Hubris, pp.325-9.
[10] O. Strasser, Hitler et Moi, p.64.
[11] Emil Maurice (Westermoore, 19-I-1897 – 6-II-1972), destacando-se mais tarde como um dos assassinos mais implacáveis ao serviço do NSDAP, participando em diversos assassinatos nazis, tanto nas matanças da Noite da Facas Longas de Junho de 1934. como ainda na misteriosa morte de Geli Raubal, sobrinha do futuro Führer, associado a um bando de criminosos que levaria à eliminação do antigo Pe. Bernhard Stempfle, sendo designado SS-Oberführer em 1937, caso que tinha relação com o alegado suicídio ou morte violenta, em 18-IX-1931, de Geli Raubal, sobrinha e amante de Hitler.
[12] Rudolf Hess (Alexandria, Egipto, 26-IV-1894 – Spandau, 17-VIII-1987), filho dum comerciante alemão no Egipto, estudante na Escola Superior de Comércio de Neuchâtel (Suiça), soldado de infantaria no mesmo regimento em que Hitler combateu (embora não conste que se tenham conhecido nessa altura), terminando o serviço militar como piloto da força aérea, inscreve-se na sociedade ocultista e ultra-nacionalista Thule Gesellschaft, onde Eckart o apresenta a Hitler, após a guerra inscreve-se depois na Universidade de Ciências Económicas de Munique, onde convive com  o prof.Karl Haushaufer (1869-1946) – especialista de geopolítica e teorizador do Lebensraum (espaço vital) que Hitler acolheria como dogma  desde o seu M.K. –,  participa num Freikorps dirigido pelo  general Ritter von Epp, filia-se no NSDAP e partir deste momento torna-se um dos colaboradores mais íntimos do futuro Führer, participando no putsch da cervejaria, sendo secretário de Hitler na prisão de Landsberg, ascende a  chefe do partido nazi  e entra no governo do III Reich como ministro sem pasta, sendo ainda nomeado SS-Obergrupenführer, membro do conselho de defesa do regime, tem em Berlim um papel activo na matança da Noite das Facas Longas, e é considerado como o nº 3 do regime. Subitamente, em 10-V-1941, pilotando um avião Messerschmitt ME 110, sem gasolina suficiente para regressar à Alemanha, parte sozinho de Augsburgo, em direcção à Grã-Bretanha, lançando-se de pára-quedas próximo de Glasgow, perto da mansão do duque de Hamilton (1900-1971), que H. conhecera nos Jogos Olímpicos em Berlim, em 1936, facto que nunca teve explicação cabal. Sabe-se que Hess, por sugestão do seu antigo professor de Geopolítica,  Karl Haushofer, propusera a Douglas Hamilton um encontro em Portugal para discutirem a hipótese de um entendimento de paz anglo-alemão. A verdade, porém, é que nenhuma autoridade inglesa quis encontrar Hess, que ficaria detido até ao final da guerra e depois transferido para o tribunal de Nuremberga, em 1945, para ser julgado. Quanto à surpresa e irritação que esta delirante e inesperada iniciativa teve sobre Hitler, o qual ordenou a Goebbels que fizesse um discurso anunciado que Hess perdera a razão, é dada por Rosenberg no seu diário, sublinhando que o piloto solitário estava doente (veja-se Journal.1934-1944, Paris, Flammarion, 2015, pp.400-403). Ver ainda James Leaser, Rudolf Hess: The Unvited Envoy, Londres , George Allen and Unwin, 1962. Preso pelos ingleses, presente no julgamento de Nuremberga, simula nada se recordar, sendo condenado a prisão perpétua em Spandau, suicidando-se ali em 17-VIII-1987, após 41 anos de cárcere,  com 93 anos de idade, sendo o derradeiro prisioneiro nessa prisão, pois os outros condenados ali presentes tinhm partido todos em 1966. Sobre o depoimento de Hess, no tribunal de Nuremberga, veja-se Leon Goldensohn, Les Entrertiens de Nuremberg, apresent, de Robert Gellately, Paris, Flammarion, 2004, maxime  pp.174-6 (opiniões de Goering sobre Hess) e 187-9 (conversa de L.G. com Hess). L. Goldensohn era médico psiquiatara no exército americano, tendo sido encarregado pelo tribunal de Nuremberga de falar com os nazis julgados nesse processo. Veja-se ainda Jean-Marc Varault, Le Procès de Nuremberg, Paris, Le Grand Livre du Mois, 2005, ilustr., maxime pp.308-332: o caso Hess e a questão de saber se este estava em seu perfeito juízo, tendo sido positiva a opinião de vários peritos médicos consultados, achando, como o afirmou a delegação americana, que o réu, apesar da sua perda de memória, tinha suficiente compreensão dos debates, embora sofresse de uma amnésia de origem histérica, como o sublinha o parecer da delegação franco-soviética, assim como a acusação inglesa garantia que, estando ele em condições de compreender aquilo de que era acusado, não se podia contestar a sua responsabilidade dos actos que lhe eram assacados como criminoso de guerra, devendo ser julgado, mesmo que estivesse amnésico, o próprio Hess resolveu o assunto no sentido indicado pelos seus juízes, afirmando que simulara amnésia diante dos médicos e do seu advogado, assim como fizera diante do advogado geral.
[13] Cf. Konrad Heiden, The Führer, Londres, Robinson, 1999, p.233; e I.Kershaw, op. cit., pp.242 e 515-16.

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