No 90º aniversário de Mein Kampf (I)
Nietzsche nazificado
Nietzsche nazificado
ou
De como o seu pensamento foi deturpado e falsificado pelos nazis
“A alma alemã
tem galerias e corredores dentro de si,
há nelas
cavernas,
esconderijos, masmorras; a sua desordem tem muito de encanto misterioso;
o alemão conhece bem os caminhos furtivos para o caos.”
Nietzsche, Para além do Bem e do
Mal (1886).
Otto Strasser comprova, no
seu livro de memórias Hitler e eu, até
que ponto o Mein Kampf (2 vols., 1925
e 1926) de Hitler seria, apesar de best-seller,
o livro mais ignorado da Alemanha, até entre nazis. A verdade é que, apesar do
seu crescente êxito editorial, o Mein
Kampf foi, na verdade, um livro que raros liam, mesmo entre os seguidores
do Führer. O mesmo dirigente nazi – e
futuro dissidente –, explicava alguns dos defeitos essenciais desta tão pouco
lida bíblia racista e ultra-nacionalista, assim como referia os principais
ideólogos que a tinham inspirado:
“Mein Kampf, em estado bruto, era um verdadeiro caos de lugares
comuns, de reminiscências escolares, de juízos subjectivos, de rancores
pessoais. Leituras políticas mal digeridas misturavam-se ali com discursos
antigos de um Lueger (fundador do Partido Cristão-Social na Áustria) ou de um Schönerer
(chefe do Partido da Grande Alemanha) e anti-semita que tinham formado os
Alemães dos Sudetas durante a dupla monarquia.
Encontrava-se ali Huston
Chamberlain assim como Lagarde, dois autores cujo pensamento tinha sido
transmitido a Hitler pelo pobre Dietrich Eckart; reconhecia-se cóleras
anti-semitas de Streicher,[1] as
suas opiniões sobre os excessos sexuais dos judeus e as visões engenhosas de Rosenberg
sobre política estrangeira. Tudo aquilo estava redigido no estilo dum aluno do
sexto ano, que seria de esperar deveras mais claros no futuro. Um capítulo.,
creio que do Padre Staempfle, que reviu a obra inteira, um só capítulo se
mostrava inteiramente original, naquele em que se trata de propaganda.
John Heartfield
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O Padre Staempfle, um
eclesiástico de uma grande erudição, chefe de redacção do jornal diário de
Miessbach, trabalhou durante meses para ordenar e condenar os pensamentos que
se exprimiam no Mein Kampf; eliminou
os erros flagrantes e as banalidades demasiado infantis. Hitler nunca lhe
perdoou, ao corrigir a sua obra, ter-se aproximado demasiado das suas
fraquezas. Fê-lo assassinar por um «destacamento especial de morte » na noite
de 30-VI-1934.
A propósito de Mein Kampf, recordo-me duma história
divertida (…). Estávamos no congresso do partido em Nuremberga, em 1927. Eu era
membro do partido há dois anos e meio e encarregado do relatório. Citei algumas
frases do Mein Kampf, o que provocou
uma certa sensação. À noite, quando eu jantava com alguns camaradas do partido,
Feder, Kaufmann e outros, estes perguntaram-me se eu tinha verdadeiramente lera
o livro que nenhum deles parecia conhecer. Confessei ter extraído algumas
frases significativas sem de todo me ter ocupado do contexto. Foi a hilaridade
geral de modo que se decidiu que o primeiro a chegar que tivesse lido o livro
pagaria a conta dos demais. Gregor Strasser, interrogado à entrada, respondeu
com um «não» sonoro, Goebbels sacudiu a cabeça acabrunhado, Goering soltou uma
gargalhada, o conde Reventlow desculpou-se dizendo que tivera falta de tempo.
Contudo nem um só estava ao corrente da sanção, de maneira que cada um teve de
pagar a sua conta.”[2]
Recordemos os
principais inspiradores, mestres e profetas do pensamento ou da visão-do-mundo
nazis que os ideólogos do III Reich consideravam como seus precursores,
começando por aqueles que Strasser mencionava como os mestres de Hitler no Mein Kampf – e aos quais acrescentaremos
outros tantos de igual importância, destacando o caso de Nietzsche, o filósofo
solitário cujo espírito fora tão céptico em relação aos seus compatriotas, o
que não impediu o regime nazi de tão ultrajantemente o fazer seu, falsificando
e deturpando-o.
Karl Lueger
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Comecemos
então com Karl Lueger (Viena, 1846 – 1910), advogado, católico anti-semita,
influenciou fortemente o pensamento de Hitler, co-fundou um novo Partido
Cristão Social, visando o interesse das classes médias austríacas, combatendo a
social-democracia marxista e o nacionalismo eslavo, com uma tónica abertamente
antijudaica, o que levaria o imperador Francisco José a recusar a sua nomeação
para o cargo de presidente da câmara de Viena em 1875, embora acabasse por o
aceitar, conservando-se nesse lugar até à sua morte. Imensamente popular, Lueger
utilizou o sentimento anti-semita austríaco como um dos seus cimentos
partidários, o que fascinaria o jovem Hitler. A famosa frase “Quem é judeu, sou
eu que decido!” (Wer a Jude ist, bestimmt
ich!) foi invenção sua, assim como garantia que os judeus exerciam
terrorismo sobre os demais através do
domínio do capital e da imprensa, sendo necessário “libertar o povo
cristão do domínio das judiaria”. Também
pensou que a “questão judaica” podia resolver-se metendo todos os judeus num
barco e afundando-o no mar alto, assim como o anti-semitismo acabaria quando os
judeus acabassem. Quando Lueger morreu, Hitler foi um dos muitos milhares de
austríacos que participou no préstito fúnebre em sua homenagem.
Georg Ritter von Schönerer
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Georg Ritter
von Schönerer (1842 – 1921), de família abastada, ficara magoado com a expulsão
do seu país da Confederação Germânica imposta pela Prússia em 1866, tornando-se
o advogado dos lavradores e artesãos sindicalizados. Criticando a rapacidade do
grande comércio, ao mesmo tempo que enaltecia a superioridade de tudo o que
fosse germânico, foi um dos mais ferozes anti-semitas austríacos, ao mesmo
tempo que criticava os católicos, os liberais e os socialistas, propondo um Anschluss da Áustria pela Alemanha, aquele
que as tropas de Hitler realizariam em 12/13-III-1938. Os adeptos de Schönerer
aclamavam-no com um “Heil!” que o III Reich instituiria, sob a forma de “Heil Hitler!”,
uma saudação nazista que substituía o geral e familiar Guten Tag!(“Bom dia”). Esta nova fórmula foi legislada, tornando-se
corrente e diária. As aulas nas escolas deviam começar por um Heil Hitler!, repetido 50 a 100 vezes por dia em
diversas ocasiões da rotina escolar diária.
Paul Anton de Lagarde
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Paul Anton de Lagarde
(nome original: Paul Bötticher, Berlim, 2-XI-1827 – Göttingen, 22-XII-1891),
orientalista alemão, pensador político e filólogo, precursor do Nazismo, fez
carreira universitária em Göttingen, sucedendo a G. H. Ewald na filosofia
oriental, trabalhando sobretudo em antigos textos aramaicos, gregos e arábicos,
defendendo nos seus escritos um nacionalismo Völkisch (“popular”),[3]
pedindo que se procedesse a uma depuração étnica da Alemanha, além de que,
segundo ele, também o cristianismo devia ser purificado, tornando-se então uma
forma positiva de cristandade, exigindo, acima de tudo o fim do poder espiritual
e económico dos judeus, responsáveis pelo materialismo e comercialização
reinantes, “fornecedores de decadência”, não devendo haver preconceitos
“humanitários” em relação a eles, já que a judiaria seria feita de parasitas e
pestes, havendo que os suprimir o mais depressa possível. A sua influência
directa em Hitler e Rosenberg[4] foi
evidente, assim como a sua severa disposição em relação a eliminar os judeus
abria ao nazismo a via genocidária. No seu Diário,
Rosenberg cita-o 6 vezes, afirmando ali, em 17-IX-1936, que Nietzsche, Wagner e
Lagarde tinham sido “profetas.”[5]
Richard Wagner
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Quanto a Richard Wagner
(Leipzig, 22-V-1813), o compositor da Tetralogia
foi um dos precursores mais importantes do ideário nazi, como o assinalaram
tanto contemporâneos (Hermann Raushchning, Konrad Heiden) como nos estudiosos
do nosso tempo (v.g., William Shirer, Joachim Fest, Ian Kershaw).[6] Nas
suas intensas conversas com o primeiro, Hermann Rauschning,[7]
Hitler declarava que não admitia precursores: “Só uma excepção: − Ricardo Wagner”,
confessando que, desde a sua mocidade, fora muitas vezes a Bayreuth,
considerando agora não só a música do famoso compositor mas “toda a doutrina
wagneriana e a sua teoria de cultura germânica", desde o horror do mestre
à alimentação carnívora, considerando o autor do Parsifal como, “acima de tudo, a maior figura de profeta que o povo
alemã jamais possuíra”.[8].
Coincidindo com Wagner, o anti-semita que desprezava Mendelsohn e Meyerbeer[9] por
serem judeus, ainda em diálogo com o mesmo Rauschning, Hitler explicava porque
via no mundo das óperas de Wagner o mito da chefia, do herói germânico salvador
e do Graal dos homens de sangue puro:
“Não é a religião da
piedade que se glorifica, segundo o evangelho neo-cristão de Schopenhauer; é o
culto do sangue nobre e precioso, da pura e irradiante jóia em torno da qual se
agrupa a confraria dos heróis e dos sábios. Parsifal, o herói ignorante mas
puro, deve escolher entre as voluptuosidades do jardim de Klingsor, que
simboliza os desvarios duma civilização corrompida e os austeros deveres dos
cavaleiros que velam o sangue puro, fonte mística de toda a vida. É o drama de
todos nós. (…). A vida terna que nos concede o Graal é reservada só aos homens
de sangue puro, só aos homens nobres. Conheço a fundo todo o pensamento de
Wagner. A cada nova fase da minha vida, a ele regresso.”[10]
John Heartfield
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Podemos levar mais longe
esta identificação hitleriana com a mitologia anti-semita e germânica do seu adorado
mestre Wagner se pensarmos que ele procurou, nos dias finais da sua
catastrófica carreira como chefe absoluto da Alemanha nazi, fechado nesse
Bunker de Berlim bombardeado pelas tropas russas e em vésperas de ser tomado
pelos tanques do Exército Vermelho de Jukov, rivalizar com Wotan, desaparecendo
no meio das chamas de uma gigantesca pira funerária de apocalipse, à maneira
dum novo Ragnarök,[11] em
que a suprema divindade nórdica era destruída, devorada pelo colossal lobo
gigante Feirir, caindo a terra como em fogo no mar – o que dava um remate fatal
ao seu prometido vaticínio do curso do III Reich milenar como uma opção trágica
final entre Weltmacht oder Niedergang (“domínio
mundial ou declínio”): esse Walhalla da saga da visão wagneriano-hitlerianas, a
que Wotan lançava fogo no Crepúsculo dos
Deuses,[12] seria de facto e em
escala total a Alemanha destroçada nos derradeiros dias de Maio de 1945,
extinguindo-se o Führer que conduzira
esse destruição e todos os que seguiam atrás deste alucinado flautista de
Hameln.[13] Em
suma, o Wotan wagneriano-nazi tragicamente devorado pelo pelos monstros e pela
chamas da catástrofe final do seu reino não deixava de o tornar semelhante ao
Behemoth bíblico, símbolo do caos, espécie de hipopótamo diferente dessa outra
figura mítica mencionada também no Pentateuco, o Leviatã no qual que Hobbes
simbolizara o monstro da ordem e do poderio, não sendo por isso curioso que
alemão judeu exilado tivesse dado, em 1942, na primeira edição da sua
interpretação do fenómeno nazi, o título de Behemtoth.
Pensamento e Acção no Nacional-Socialismo.[14]
O ensinamento capital
recebido de Wagner por este “cabo da Boémia” (como se exprimia com desprezo
acerca dele o general Hindenburg antes de o nomear para a chancelaria, depois
de lhe ter proposto em vão um lugar de ministro dos correios), o antigo
vagabundo e artista recusado duas vezes pela Academia de Belas Artes de
Viena, que falhara nas suas grandes
esperanças milenaristas como dirigente político carismático e absoluto, destino
que levou um dos seus melhores biógrafos, Joachim Fest, a considerar que, com o
compositor de Leipzig venerado por Hitler como seu mestre absoluto, cuja música
era “a conquista desonesta da multidão que começa”(Fest, op. cit., p.48): na senda do seu entranhado wagnerismo, igualmente
ultranacionalista e anti-semita, delirantemente apocalíptico, Hitler aprendera
a manipular desonestamente a multidão, primeiro com o Putsch de farsa em 1923, depois pelo “milagre” desta Machtergreifung (conquista do poder) de
30 de Janeiro de 1933.[15]
Passemos agora a um
filósofo da segunda metade do século XIX que seria abusivamente considerado como
precursor do nazismo e que a movimento da suástica faria um uso deturpado e inteiramente
falseado: Nietzsche. O filósofo foi, de facto, utilizado, de modo espúrio e
desonesto pela ideologia nazi como sendo um dos seus alegados profetas, sobretudo
em dois vectores da sua filosofia, a ideia do super-homem (Übermensch ou sobre-homem) do Assim
falava Zaratustra, herói no qual Hitler se julgara profetizado, e, por
outro, no seu desprezo pelo cristianismo, condenado este como religião de
raízes judaicas, o que facilitaria a sua injustificada assimilação como
pensador anti-semita, interpretação que não tinha base alguma, dada a simpatia
pessoal e genérica que o filósofo tinha pelos judeus e ainda pela seu asco
pelos sentimentos anti-semitas da sua irmã Elizabeth e do seu cunhado Förster.
Lembrando que a irmã do filósofo oferecera a Hitler uma bengala que pertencera
ao irmão, Daniel Halévy, um dos biógrafos franceses de Nietzsche, indignara-se
com esse gesto incompreensível: “O cajado do peregrino solitário nas mãos do
homem das multidões, que erro! Sabíamos, já de longa data, que Lizabeth era
especialista em cometer gaffes.
Nietzsche teria rido amargamente dessa aristocracia de setenta milhões de seres
que o nazismo pretendeu criar.”[16]
Não deixa de ser
surpreendente que, nas suas conversas com Rauschning, Hitler lhe dissesse:
“Quem considera o nacional-socialismo senão como movimento político, bem pouco
o entende. O nacional-socialismo e mais do que uma religião – é a vontade de
criar o super-homem”, observando-lhe o céptico autor do Hitler disse-me que lhe parecia “impossível realizar a cultura
biológica do super-homem”, pois lhe lembrava uma ideia de criadores de gado, ao
que o Führer retorquiu que “toda a
política que não tenha uma base biológica ou objectivos biológicos é uma
política de cegos, uma política realmente cega”, acrescentando triunfalmente:
“O homem novo vive a nosso lado. Está ali! (…). Vou-lhe dizer um segredo. Vi o
homem novo. É intrépido e cruel. Senti medo diante dele” – e o então presidente
do senado de Dantzig e futuro dissidente do nazismo acrescenta que Hitler,
pronunciando “estas palavras singulares (…), vibrava e tremia de êxtase.”[17] Esta
versão tão absurda e deturpada do nietzschismo e do seu Super-Homem mostra-nos
bem como foi espúrio e falsificador da obra de Nietzsche a leitura feita pelos
homens que brandiam a suástica como bandeira, incapazes que eram de compreender
o grande poema lírico ditirâmbico sobre o profeta que, aos trinta anos, desceu
da montanha para anunciar aos homens da cidade que lhes vinha ensinar “o
sobre-humano”, já que “o homem é algo que deve ser superado”, porquanto “Deus
morreu” e o homem não passava duma “corda amarrada entre o animal e o
super-homem – uma corda por cima d de um abismo.(…). O que é grande no homem é
que ele é uma ponte e não um fim”.[18]
Sumarizemos o essencial
desta inaceitável assimilação nazi do pensamento de Nietzsche.[19] Em
muitas das suas obras o filósofo do Zaratustra
[20] condena
repetidamente os alemães e faz o elogio dos judeus, como em Para além do Bem e do Mal (Jenseits von Gut und Böse, 1886): desde
a frase que figura em epígrafe deste estudo, garantindo que “o alemão conhece
bem os caminhos furtivos para o caos”(Schleichwege
zum Chaos)[21] até à pergunta “o que
deve a Europa aos judeus?”, Nietzsche levantava invencíveis críticas aos seus
compatriotas, da mesmo modo que via no povo da Aliança um força que admirava,
respondendo à referida questão com esta passagem “Muitas coisas boas, boas e
más, e sobretudo uma, que é ao mesmo tempo das melhores e das piores: o grande
estilo na moral, a terrível majestade de infinitas reivindicações. De infinitos
significados, todo o romantismo e todo o carácter sublime das problemáticas
morais”, respondendo: “Nós, artistas entre os espectadores e filósofos, temos
por isso, para com os judeus – gratidão”, acrescentando logo a seguir que eles
eram “a raça mais forte, mais rija, mais pura de quantos vivem actualmente na
Europa”, de tal modo que, “um pensador em cuja consciência pés a
responsabilidade pelo futuro, contará em todos os projectos que fizer sobre
este futuro, com os judeus e com os russos, como sendo os dois factores, por
enquanto mais seguros e mais prováveis, no grande jogo do conflito de forças”,
garantindo que eles “não trabalham
para nesse sentido. Querendo apenas ser integrados na Europa e por ela
absorvidos, (estando) sequiosos por se fixarem seja onde for e, uma vez
admitidos, respeitados, acabarem com a vida nómada, com o «Judeu Errante» − e
devia-se atender a esta aspiração e ir
ao seu encontro”[22]. Filo-semita, tendo entre
os seus amigos mais íntimos diversos judeus, Nietzsche detestava os
anti-semitas, a começar pela sua irmã e o marido desta, Bernhard Förtser,
acrescentando, no mesmo livro citado, que “talvez fosse útil e conveniente expulsar
do país os vociferadores anti-semitas”.[23]
Além de profundamente
crítico da germanidade e do “alienamento doentio que a loucura do nacionalismo
provocou e ainda provoca entre os povos da Europa”(die Entfremdung, welche der Nationalitäts-Wahnsinn zwischen die die
Völker Europas gelegt und noch legt), em ruptura com Wagner por este se
revelar um feroz, anti-semita, além de
progressivamente cristão com o seu Parsifal, contra “a guincharia sórdida” deste (dies schwüle Kreischen), ao mesmo tempo
que o compositor apregoava o “caminho para Roma”, [24] além
de autor, desde 1850, de uma furiosa obra anti-semita do mesmo contra a música
judaica, O Judaísmo na Música (1850),
enquanto Nietzsche se distanciava cada vez mais dos seus compatriotas, a ponto
de garantir em 1883, e mais tarde, ao crítico e filósofo dinamarquês Georg
Brandes, em carta de 10-IV-1888, uma ascendência nobre polaca para o seu
apelido, os Nietzky (o que nunca foi confirmado pelos genealogistas),[25]
enaltecendo a França e o espírito gaulês ou apreciava sobremaneira o “espírito
de bom humor, exaltado e amoroso” de Mozart, lembrando que este, “por
felicidade, não era alemão”.[26] Um
dos primeiros politólogos do nazismo, Franz Neumann, acima referido, lembrava
em 1942 que Nietzsche atacara o nacionalismo e o imperialismo alemão com o
mesmo desprezo com que repudiava a democracia, o liberalismo e o cristianismo,
sublinhando ainda que, embora a sua filosofia e a ideologia nacional-socialista
contivessem muitas semelhanças, “há entre elas um abismo intransponível, já que
o individualismo daquele transcende o nível de toda a ordem autoritária.”[27] Sublinhe-se
que a assimilação do pensamento de Nietzsche pelo III Reich teve ainda a
facilitá-lo a acção da figura da abusiva irmã do filósofo, a já mencionada
Elizabeth Nietzsche-Förtser. (Röcken, Saxónia,1846 – Weimar, 8-XI-1935).[28]
Elisabeth Nietzsche
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Elizabeth Nietzsche casou
com um antigo professor liceal, Bernard Förster, rabioso anti-semita, acabando
ambos por emigrarem ambos, em 1887, para o Paraguai, onde fundaram uma colónia
germânica de fazendeiros, a Nueva
Gernania, experiência de emigração
que acabaria por se revelar desastrosa, acabando o cunhado do filósofo por se
suicidar em 3-VI-1889 e regressando a viúva à Alemanha, quatro anos depois. Em
cartas à irmã, de 1887, o filósofo repetiria a sua aversão pelo anti-semitismo
do seu cunhado, assim como pela sua colonização sul-americana da Nueva Germania: “Dizes que a
Neo-Germania nada tem a ver com o anti-semitismo, mas sei de modo certo que o
projecto de colonização é de carácter essencialmente anti-semita por essa
famosa «Correspondência» que me enviam em segredo e apenas aos membros mais
seguros do partido. (Esperemos que o senhor meu cunhado não ta dará a ler! Ela
torna-se cada vez mais desagradável). Ah, meu bom lama, como é que tu te
pudeste lançar numa semelhante aventura?” (carta enviada de Chur, 21-V-1887).
“O teu casamento com um chefe anti-semita exprime, para toda a minha maneira de
ser, um afastamento que me enche sempre de rancor e de melancolia. Bem me dizes
que casaste o colonizador e não com o anti-semita (…), mas aos olhos do mundo
Förster ficará sempre até à sua morte, o chefe dos anti-semitas.”(carta de Nice, 26-XII-1887).[29]
Após o colapso mental do
irmão em Turim,[30] Elizabeth velaria pelo
filósofo, seguindo-o no hospício onde seria internado, ficando, sobretudo, com
o encargo de conservar o seu espólio, que se transformaria, algum tempo
volvido, no Arquivo Nietzsche, em Weimar,[31]
local de peregrinação de Hitler e outros dirigentes do III Reich, como Alfred
Rosenberg e o Dr. Wilhelm Frick, o
jurista e íntimo do Führer nos anos
de tomada do poder, nomeado ministro do Interior na Turíngia (1930) e, depois,
ministro do Interior do Reich (1933), o autor das leis antijudaicas de 1935,
sendo, por fim julgado em Nuremberga e condenado à forca, sendo ali executado.[32]
Quanto à irmã de Nietzsche, coube-lhe a honra de receber as visitas do Führer no Arquivo Nietzsche em Weimar,
sendo Hitler fotografado ali, olhando com ar grave e concentrado um busto de
pedra do filósofo do Ecce Homo, autor
que ele nunca tenha lido. Quanto a Frau
Nietzche-Förtser, faleceu em 8-XI-1935 e no seu funeral daquela que não
hesitara em fabricar uma obra que o irmão nunca escrevera, agora pastichado pela
irmã e imbuído de espírito nazificante, o Wille
zur Mchat (Vontade de Poderio),
estariam presentes os barões do III Reich, a começar com Hiutler, estando ainda
nessa cerimónia fúnebre Alfred Rosenberg, Baldur von Schirach,[33]
Wilhelm Frick, Fritz Stauckel, além de uma guarda de honra da SA e da SS.
Goebbels, estando adoentado com uma constipação, enviou os seus pêsames e uma
coroa funerária. Durante esse funeral nacional, a face do Führer exprimia um profundo pesar, não tendo dito uma só palavra,
cabendo a Fritz Sauckel fazer a oração fúnebre.[34]
Futuro general das SS e ministro do Trabalho, seria acusado pelo tribunal
internacional de Nuremberga como dirigente do trabalho escravo do III Reich,
além responsável pelo extermínio de operários judeus na Polónia, sendo
enforcado em 1946.[35]
John Heartfield
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A mais dramática e
mórbida coincidência é que, nesse funeral da irmã de Nietzsche, quatro dos seus
participantes mais altos na esfera dos barões do III Reich seriam todos
enforcados, por decisão do tribunal internacional de Nuremberga, nessa mesma
data de 16-X-1946: Alfred Rosenberg, o “filósofo” nazi da raça, Hans Frank, o
carrasco da Polónia conquistada pela Wehmacht depois de celebrado o infame
tratado russo-alemão de 1939,[36]
Wilhelm Frick, o jurista que confeccionara as leis racistas anti-judaicas de
Nuremberga, em 1935, e Fritz Sauckel, o ministro dos escravos na indústria
germânica durante a guerra, o distinto orador mencionado, que ali fazia a
oração fúnebre em honra da abusiva irmã do filósofo de Para além do Bem e do Mal. Podemos assim dizer, sem forçar os
factos, que a sombra ominosa e perturbadora de Elizabeth Nietzsche-Förster,
pairara sobre esse julgamento internacional que decorrera entre 1945 e 1946 na
mesma cidade que o nazismo fizera um dos seus santuários e, ao mesmo tempo,
sinónimo de leis racistas e, por fim, da Nemesis internacional encarregada de
julgar todos esses assassinos, psicopatas, além de falsificadores do pensamento
do autor de Assim falava Zaratustra.[37]
João Medina
NB: Este texto é um excerto dum ensaio nosso intitulado Hitler como ideólogo e político do Nazismo (inédito).
A continuação deste capítulo será oportunamente publicada no Malomil.
[1] Julius Streicher (Fleinhausen, Alta Baviera, 12-II-1885
– Nuremberga, 16-X-1946), nazi fanático, homem brutal e violento nas suas
actuações, soldado condecorado na grande guerra, embora tido como
indisciplinado, foi uma das figuras mais delirantes e violentas do nazismo no
poder, sendo o seu jornal violentamente anti-semita Der Stürmer (O Assaltante),
fundado em 1923, era um jornal ilustrado com imagens gráficas e caricaturas
obscenas, mostrando raparigas violadas por judeus e faces judaicas repulsivas,
sendo uma das publicações políticas mais pornográficas do ódio anti-semita.
Ingressara no NSDAP em 1922, participara no putsch
de 1923, sendo nomeado Gauleiter da
Francónia de 1925 a
1940, deputado no Reichstag em 1933, impulsionador das leis raciais de
Nuremberga (1935), dirigidas contra os judeus destinadas a exclui-los da
cidadania, sendo um dos promotores dos progroms contra os judeus em 10-XI-1938,
com a destruição das suas sinagogas tanto na Alemanha como na Áustria(“Noite de
Cristal”). Caindo em desgraça em 1940, sendo destituído de todos os seus cargos
e ficando com residência fixa desde então. Julgado em Nuremberga por quatro
crimes, foi condenado à forca, nomeadamente por fazer “propaganda da
morte”. Quando subiu para o patíbulo, gritou “Purim!”(festa hebraica celebrando
a derrota de Haman, perseguidor dos judeus nos tempos bíblicos) e as suas
derradeiras palavras foram “Heil Hitler!”
[2] Otto Strasser
(Mülheim an der Ruhr,1897- Munique, 1974), Hitler
et Moi, Paris, Éditions Bernard Grasset, 1940, pp.67-69. Strasser, representante da ala socialista do Partido
Nazi, juntamente com o seu irmão Gregor (nasc. em 1892 e eliminado pela SS na
Noite das Facas Longas, em 1934), exilar-se-ia na Checoslováquia e, mais tarde,
no Canadá, só regressando à Alemanha em 1955.
[3] Völkisch é
uma expressão alemã intraduzível, sendo insuficiente vertê-la como “popular”,
embora derive de Volk (povo), uma vez
que designa uma disposição de vários grupos de pensamento e política cuja
referência primária é o povo germânico considerado na sua especificidade
cultural. O termo torna-se corrente no séc. XIX, significando uma corrente
cultural que obra em prol do despertar da consciência nacional entre os alemães
nas províncias e nas grandes aglomerações urbanas. O termo völkisch teve um regresso em força nos anos 20 durante a República
de Weimar: o jornal muniquense de Hitler, o Völkischer
Beobachtar (o Informador Popular)
é um exemplo dessa adesão do nazismo ao conceito, já que os hitlerianos
consideravam que raça e povo coincidiam no sentido duma definição étnica da
germanidade, unindo os alemães da Prússia, do resto da Alemanha e de todos os
demais territórios habitados por alemães, como na Boémia ou noutras regiões.
[4] Alfred Rosenberg (Revel, actual Talinin, Estónia,
12-I-1893 – Nuremberga, 18-X-1946), filho dum comerciante alemão da Lituânia e
duma mãe da Estónia, fez estudos de arquitectura em Moscovo, assistindo ali à
revolução bolchevista de 1917, tornando-se um inimigo do comunismo. Obtém um
diploma de engenheiro em Riga, emigra para Paris e dali para Munique (1920),
recebendo a cidadania germânica, filia-se na sociedade germanista e ocultista
Thule, conhece Hitler através de Friedrich Eckart, edita obras anti-semitas,
como As Marcas dos Judeus na História do
Mundo (1919), reedita Os Protocolos
dos Sábios de Sião, participa no putsch
da cervejaria muniquense de 1923, sendo nomeado em 1923 editor do Völkischer Beobachtar, o jornal do NSDAP
e, mais tare, responsável da editorial do partido nazi (1926) e da revista
mensal A Batalha mundial. Em 1930
publicou o tratado de filosofia nazi O
Mito do séc.XX, que, com o Mein Kampf de Hitler, se tornam as duas
bíblias ideológicas do nazismo, tendo a obra de Rosenberg edições que em 1936
rondam os 500.00 exemplares e em 1943 780.000, chegando ao milhão em 1944. Com
o advento do III Reich é feito director da secção dos assuntos externos do
partido. Durante a guerra, participa na pilhagem das obras de arte nos países
ocupados e em 1941 é nomeado ministro do Reich encarregado dos territórios do
leste, dirigindo a deportação em massa de judeus e de ucranianos, dando
cobertura aos crimes alemães na URSS. Sai condenado pelo tribunal militar
internacional de Nuremberga e enforcado em 18-X-1946. Deixou um volume de
memórias, recentemente editadas, nomeadamente em francês: Journal. 1934-1944, apresent. de
Jurgen Matthäus e Frank Bajohr, Paris, Flammarion, 2015.
[6] Ver: Konrad Heiden
(1901-1966), The Fuehrer, Londres,
Robinson, 1999, pp.181-2, 184-5 e 188-9.
William Shirer (Chicago, 1904 – Boston, 1993). Joachim
Fest (1926-2006), Hitler, vol.I, Jeunesse et conquête du pouvoir, Paris, Gallimard, 1973,pp.46-50. Ian Kershaw
(nasc. em 29-IV-1943), Hitler.1889-1936. Hubris,
Londres, Allen Lane. The Penguin Press, pp.21, 42-3, 188-9 (visita de H. à casa
de W. e relações com Winifred Wagner, mulher de Siegfried Wagner, filho do
músico) e 21-2.
[7] Hermann Rauschning
(Thorn, Prússia Ocidental, 7-VIII-1887 – Oregon. E.U.A., 8-II-1982), filho de um abastado proprietário rural e lavrador,
depois de frequentar a Escola de Cadetes de Berlim, serviu como tenente na
grande guerra, sendo ferido em combate, deslocando-se após o fim da guerra para
a região de Dantzig (hoje Gdansk, na Polónia), cidade livre sob o controlo da
SDN (1919), estudou música e história, aderiu ao Partido nazi em 1932, sendo
designado para o parlamento de Dantzig em 1932, no qual os nazis ganharam uma
maioria absoluta, nomeando-o então Hitler como presidente do senado dessa
região livre. Em 1935, desiludido com o nazismo, partiu primeiro para a Polónia
(1936), depois para a Suíça (1937), dali para a França (1938) e, por fim, para
os E.U.A, onde morreria em Portland (Oregon), em 8-II-1982. Publicou uma série
de livros denunciando o nazismo. Nacionalista tradicional, H.R. confessou
ter-se enganado ao aderir ao nazismo, que acabaria por denunciar em obras de
interesse e que tiveram enorme repercussão na época, nomeadamente Gespräche mit Hitler, em 1939, muito
traduzido (em francês, Hitler m’a dit - em português, Hitler disse-me. Confidências
do Führer sobre os seus planos de conquista do mundo, trad. portug.
de João de Barros, pref. de
Marcel Rey, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1940, que citaremos neste
ensaio, assim como A Revolução do Nihilismo
(1939), A Revolução conservadora (1941) e Tempo
de Delírio (1945). Pierre Ayçoberry destaca o contributo de H.Rauschning
como intérprete do fenómeno nazi no seu livro La
Question nazie. Les
Interprétations du National-Socialisme, 1922.1975 (Paris, Éditions du
Seuil, 1979, pp.61-63). Do mesmo modo, no seu recente estudo de interpretações
diversas do fenómeno nazi por historiadores e politólogos mais diferentes como
Arendt, F. Neumann, E. Nolte, Broszat, K.D.Bracher, etc., o britânico Ian Kershaw
(nasc. em 1943) lembra que, desde o final dos anos 30, Rauschning afirmava que
o hitlerismo só podia engendrar a “revolução do nihilismo” (cf. I. Kershaw, Quest-ce que Nazisme? Problèmes et
prespectives d’interprétation, Paris, Gallimard, col. Folio Histoire,
1992, p.265. De facto, a interpretação
apocalíptica do nazismo feita por este antigo político conservador que chegara
a servir o III Reich em Dantzig, desiludindo-se
e escolhendo o exílio para denunciar a pavorosa ilusão em que por algum tempo acreditara, como sendo na verdade
uma revolução em nome do nihilismo
(veja-se H.Rauscnhing, The Revolution of
Nihilism, Nova Iorque, Garden City Publishing Co.,1942), continua ser
valiosa. No seu diário, Goebbels refere H.R. nestes termos: “O propagandista
mais infame (…) é Rauschning. O seu livro Gespräche
mit Hitler foi escrito com extraordinária habilidade e constitui um perigo
enorme para nós. Estou a fazer que trabalhem contra ele” (Joseph Goebbels, Journal. 1939.1942, Paris, Tallandier,
2009, p.92, datado de 13-II-1940).
[9] Giacomo Meyerbeer (Berlim, 1791 – Paris, 1864), que
na verdade se chamava Jacob Liebmann Meer, nascido no seio duma família de
banqueiros judeus abastados, compôs óperas, sobretudo influenciado por Rossini
(1792-1868), escrevendo óperas em italiano, como Gli Amori di Teodoldo (1826), assim como comporia, numa altura em
que já vivia em França, óperas em francês, como Robert le Diable (1831), com libreto de E. Scribe, e ainda L’Africaine (póst., Paris, 1865), com
libreto do mesmo, baseada esta num episódio da viagem de Vasco da Gama em
direcção à Índia. Meyerbeer teve relações de amizade com Wagner, que se
tornaria mais tarde seu feroz inimigo, vituperando-o por ser judeu.
[11] Mircea Eliade (1907-1986), vivendo em Portugal, onde
era adido de imprensa na embaixada rom3na da ditadura de Antonescu, anotaria no
seu diário que a queda de Hitler no
ataque e conquista de Berlim era um Ragnarök como o concebiam as sagas
nórdicas, que a mitologia germânica adaptara e assimilara: “Está a haver
ferozes combates em
Berlim. Hitler conseguiu inclusive reactualizar o destino dos
Nibelungos e, no plano mitológico, realizar o Ragnarök, a catástrofe final. Já
em 1934 eu me perguntava como podia um movimento político revolucionário,
assimilar a mitologia pessimista que termina de maneira necessária no
Apocalipse do Ragnarök. A mitologia germânica, que Hitler tratou de
ressuscitar, supõe a luta final entre os «heróis» e os «monstros», luta que
conclui com a derrota definitiva dos heróis. Como pode alguém pedir a uma nação
que continue a assegurar que, à medida que esta compreenda a sua missão,
desembocará por fim num desastre?” (Diarío
portugués, trad. esp. , Barcelona, Editorial Kairós, 2001, p.233, datada de
23-IV. 1945).
[12] O Crepúsculo
dos Deuses (Götterdämmerung, 1876),
libreto e ópera de Richard Wagner, representada em Bayreuth em 17-VIII.76,
derradeira parte da tetralogia O Anel dos
Nibelungos (I853-76), remata as labaredas da pira funerária de Siegfried,
cujas chamas sobem e se comunicam a todo o Walhalla, que se desmoronará
sepultando todos os deuses. O pessimismo deste final exprime o desejo de
autodestruição da vontade de viver e o desejo da morte como um porto de
voluptuosidade, sendo o fim de todas as coisas sentido dolorosamente como a
destruição duma felicidade e duma beleza que já não se podem conservar. Esta
destruição final e a morte de todos os deuses antigos, assim como a restituição
do ouro do Reno através do desencadear das águas e do fogo, são o epílogo desta
tetralogia de Wagner. Veja-se Ernest Newman, História das Grandes Óperas e dois seus Compositores, Rio de
Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, Editora Globo, 5ª ed., 1954, maxime p.132 e ss (Nibelungos) e 180-3 (o fogo da destruição final).
[13] Sobre a devastadora e total derrocada militar da
Alemanha, veja-se a obra de Ian Kershaw, The
End. Hitler´s Germany, 1944-1945, Londres, Penguin Books, 2012, maxime pp.386-400 (“Anatomia da
auto-destruição”). Kershaw não menciona Wagner nesta obra.
[14] Cf. Franz Neumann (Katovice, Polónia, 1900 – 2-IX-1954,
Suiça), Behemoth. Pensamiento y Acción en
el Nacional-Socialismo, México e Madrid, Fondo de Cultura Económica, 1983. A primeira tradução,
a inglesa, desta obra publicou-se no
Canadá, em 1942. Neumann estudou na Alemanha, sendo desde a juventude membro do
SPD alemão e, depois, advogado dos sindicatos, exilando-se, primeiro na Inglaterra,
onde trabalhou com o professor universitário Harold Lasky, que foi secretário
do Partido Trabalhista, fixando-se depois nos EUA (1943), onde foi professor de
Ciência Política na Columbia University e, mais tarde, na Universidade Livre de
Berlim, tendo ainda colaborado com os OSS americanos (Office of Stategic Services), tendo sido conselheiro do tribunal
internacional de Nuremberga. Faleceu num acidente de automóvel na Suiça. Sobre
o seu importante contributo para a compreensão historiográfica do nazismo do
seu livro Behemoth (Toronto, 1942),
mostrando que a ditadura hitleriana não era monolítica, mas antes composta de
quatro grupos distintos – a burocracia,
a elite do partido, a indústria do Estado e o exército –, veja-se P. Ayçoberry,
La Question
nazie, pp.132-39, que define o livro Behemoth
como “o primeiro em data dos clássicos”(p.138).
[15] Veja-se Georges Gorely, Hitler prend le Pouvoir, Bruxelas, Éditions Complexe, 1985. Quanto ao
termo utilizado para definir a tomada do poder em 30-I-1933, sublinhe-se que a
expressão “milagre” fez parte das expressões mais usadas pelos sequazes de
Hitler para transformarem aquele mal preparada entrada do Führer num gabinete de elementos sem coerência política ou
partidária. Como o escrevia Goebbels, no dia seguinte, a 31-I-33, no seu
diário: “Já está! Estamos na Willhemstrasse. Hitler é chanceler do Reich, É
como um conto de fadas.” Joseph Goebbels, Journal.
1933-1939, ed. cit., p.97 (a rua mencionada era a da chancelaria da
Alemanha, perto da porta de Brandenburgo, no coração da capital, onde, na noite
de 30-I-.1933, os seguidores de Hitler fizeram
uma apoteótica marche aux
flambeaux para celebrar a chegada ao poder do seu chefe).
[16] Daniel Halévy (Paris, 12-XII-1872 – idem, 4-II-1962), Nietzsche, sem indicação do tradutor, Porto, Editorial Inova Lda, i1ust.,
s.d., p.404. Esta obra, Vie de Friedrich
Nietzsche, fora publicada em 1909, sendo reeditada em 1944. D. Halévy, de
família protestante, amigo de Georges Sorel (1847-1922), sindicalista
revolucionário, discípulo de Proudhon, cuja obra Refléxions sur la
Violence (1908) foi editada por Halévy, agradando tanto a
Lenine como a Mussolini, orientando-se D.H. progressivamente para o
antiparlamentarismo e a extrema-direita em 1934, embora sem aderir ao fascismo
ou ao nazismo, apoiara o regime de Pétain, publicando ainda Essai sur l’Accélération de l’Histoire, Degas parle, Michelet (1928), etc.
[18] F. Nietzsche, Assim
falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém, Lisboa, Relógio d’Água,
1998, trad. de Paulo Osório de Castro,
pp.12-13 e 14.
[19] Veja-se, num sentido englobante do que foi a
visão-do-mundo nazi, o estudo essencial de George L. Mosse, Les Racines intellectuelles du Troisième
Reich, Paris, Seuil, col. Points, 2008. Sobre Nietzsche abusivamente
recuperado pelo o nazismo, recordemos alguns títulos essenciais: -Nietzche, Godfather of Fascism?,
colecção de diversos ensaios, organiz. por Jacob Colomb e Robert Wistrich, Princeton e
Oxford, Princeton University Press, 2002 (maxime os estudos de “How to de-nazify Nietzsche’s philosophic
anthropology”, de Jacob Colomb, pp.19-46;, “Nietzsche and «Hitler»”, de
Alexander Nehamas, pp.90-106; “Nietzsche and the jews”, de Menahem Brinker,
pp.107-125; Nietzsche contra Wagner and the Jews”, de Yirmiyahu Yovel,
pp.126-143; “Between the cross and the swastika” de Robert S. Wistrich,
pp.144-169; “A godfather too: nazism as a nietzschean «experiment»”, pp.291-290
e ainda “ “The Elizabeth legend: the
cleansing of Nietzsche and the sullying of his sister”, de Robert C. Olub,
pp.215-234. – Karl Schlechta, Le Cas
Nietzsche, Paris, Gallimard, 1960, maxime
pp.105-112 (a falsificação do espólio de
N. pela sua irmã Elizabeth Förster-Nietzsche, anti-semita e directora do
Arquivo Nietzsche em Weimar, assim como a apropriação de N. por Hitler). – H.Rauschning,
Hitler disse-me, pp.258-9). –Arno
Münster, Nietzsche et le Nazisme,
Paris, Éditions Kimé, 1995, maxime pp.13-14
(v.g., Rosenberg e N., Heidegger e N., pp.99-.108).− Keith Ansell-Person, Nietzsche as political Thinker, Nova
Iorque, Cambridge University Press,1994, maxime
pp.31-34 (o papel de Elizabeth, a irmã de N., na nazificação do seu pensamento
por autores nazis como A. Rosenberg, Alfred Baemler e Heinrich Härtle, além da
publicação de pequenas antologias do seu pensamento contendo as principais
afirmações “nazis” do autor da Gaia
Ciência).
[20] Sobre esta obra de F.N., ver: − Pierre Héber Suffrin,
Le Zarathoustra de Nietzsche (com uma ytrad. do prólogo do A. f .Z., pp.8-22), Paris, P.U.F., 1999.
– Pierre Montebello, Nietzsche. La Volonté de Puissance,
Paris, P.U.F., 2001 (começando por lembrar que o livro conhecido como Vontade de Poderio, edit. pela irmã de
N.,“não é um livro de Nietzsche”, mas “uma compilação arbitrária de fragmentos
póstumos de Nietzsche, publicada por Heinrich Köselitz (Peter Gast) e Elizabeth
Förster-Nietzsche”, “uma dupla invenção”(p.5). − Hans-Georg Gadamer
(1900-2002), Nietzsche l’Antipode. Le
Drame de Zarathoustra ( seguido de Nietzsche
et Nous, diálogo entre Theodor Adorno e Mark Horkheimer e H.-G. Gadamer,
pp.51-68).), Paris, Editions Allia, 2000.–José Maria Valverde, Nietzsche, de Filólogo a Anticristo,
Barcelona, Planeta, 1993 (maxime
pp.124-145). – João Medina, De Homero a Kafka,
passando por Cervantes e Nietzsche: grandes mitos do imaginário cultural
europeu, separata da revista Clio,
Lisboa, Univ de Lisboa, nº 11, 2004, pp.13-p2, ilustr. (maxime: pp.60-68, “Zaratustra ou a morte de Deus”; dois retratos de
F.N., p.90).
[21] Nietzsche, Jenseits
von Gut und Böse, no vol.2 das suas Werke
in Zwei Bände, Berlim, Darmstad e
Viena, C.A.Koch Verlag, s.d., p.132 (na
trad. portug. cit,, p.169). Karl Schlechta é o responsável por esta edição.
[22] Nietzsche, Para
além do Bem e do Mal, trad. do alemão de Hermann Pflüger, Lisboa, Guimarães
Editores, 1958. pp.169, 175-8); itálicos no original.
[23] Nietzsche, Para
além do Bem…, p.178. N. acreditava que os povos europeus se queriam unir,
“misteriosa síntese” que ele elogiava (p.185). Sobre a relação de N. como ideal
europeu e a questão judaica, veja-se David Ferrell Krell e Donald L. Bates, The Good European. Nietzsche’s Work Sites in
Word and Image, Chicago e Londres, The University of Chicago Press, 1997,
obra ilustrada com excelentes fotografias dos locais em que decorreu a vida do
pensador.
[24] Nietzsche, Para
além…, pp.184 e 187 ( ver o mesmo texto em alemão, no já cit. Jenseits von Gut und Bôse, in Friedrich Nietzsche, Werke in Zwei Bände, C,A, Koch´s Verlag,
vol.2, s.d., pp.143 e 145
[25] Veja-se o vol. I da biografia de N. por Curt Paul
Janz, Friedrich Nietzsche, I. Infancia y
Juventud, Madride, Alianza
Editorial, 1987, pp.26-32 (baseado no livro escrito por um primo de N., Max Oehler, Nietzsche Abnamen, 1938). Tanto pelo lado paterno como materno, os
antepassados de N. da região da Suábia e da Turíngia, território centro-alemão,
tinham, sido pastores, como sucedeu com o seu pai Ludwig e o seu avô, do mesmo
modo que, como do lado da sua mãe, os Herold, que tinham sido pastores durante
cinco gerações. Quanto ao mencionado escritor, político e professor
universitário de literatura dinamarquês Georg Brandes (nome completo: Georg
Morris Cohen Brandes, Copenhaga, 4-II-1842 –idem, 19-II-1927), membro de uma
família de judeus não praticantes, da classe média, tendo vivido desde 1877 em
Berlim, voltando em 1883 para a Dinamarca, onde fundou, de colaboração com o
seu irmão, do jornal Politiken
(1884), e do Partido Radical Liberal (Det
Radikale Nemstre), autor de vários volumes
de ensaios e de história da literatura, tradutor de Ibsen e
propagandista da literatura nórdica, pronunciou uma série de conferências, com
largo sucesso público, sobre a filosofia de Nietzsche. Trocaram ambos várias
cartas, tendo G.B. tentado persuadir o alemão a ler Kierkegaard, conselho que
não parece ter sido seguido. Voltaremos a referi-lo adiante.
[26] Nietzsche, Ecce
Homo et Nietzsche contre Wagner, Paris, GF-Flammarion, 1996, p.188, assim
como rompia com o wagnerismo desde 1877 e se considerava nos antípodas do
compositor de Parsifal (v.g.,
pp,186-192). Vej-se Nietszche, Le Cas
Wagner suivi de Nietzsche contre Wagner, textos coord. por Giorgio Colli e
Mazzino Montinari, Paris, Gallimard, 1980.
[28] Ver Ben
Macintyre, Forgotten Fatherland. The
Seartch for Elizabeth Nietzsche, Londres, Macmillan. 1992, ilustr.
[29] Cartas de Nietzsche à sua irmã Elizabeth, Lettres Choisies, trad de A.Vialatte,
Paris, Gallimard, 1937, respectiv. pp.251 e 267-8. Numa outra carta, enviada a
Malwida von Meysenbug, de Chur, na Suíça), N. mostra a sua antipatia pelos seus
compatriotas nacionalistas: “ sou um Alemão que não se sente parente na Europa
presente a não ser com os Franceses e os Russos mais cultos e de modo nenhum
com a elite dos meus compatriotas que julga sempre tudo a partir do princípio
do «A Alemanha, a Alemanha acima de tudo!»”(p.248). As críticas aos Alemães são
frequentes nesta correspondência: vide
v.g., pp.191, p.195 (ao amigo Peter Gast, enviando-lhe o A. f. Zaratustra, dizendo “não sou feito
para este país”, a Alemanha, p.195), p.215 (carta de Nice, a Malwida:
“Aconteceu-me nestes dias folhear Schopenhauer – ah!, esta estupidez alemã,
como estou farto dela! Ela corrompe todas as coisas grandes!”); à sua mãe,
enviada de Veneza, em 18-X-87, diz que falta aos Alemães “antes de mais, a
cultura, a seriedade que seria precisa para abordar os problemas que considero
mais graves”, p.257, acrescentando que “continuo sempre a não ter o menor
desejo de me aproximar do Sr. meu cunhado. As opiniões dele e as minhas são
opiniões diferentes, e eu não o lamento”, p.258), voltando a referir-se com
desprezo a Förster, em carta à irmã, de Nice, em 26-XII-87, pp.267-8: “O teu
casamento com um chefe anti-semita exprime para toda a minha maneira de ser um
afastamento que me enche sempre de rancor e de melancolia. Tu dizes bem que que
casaste com um colonizador e não com um anti-semita, mas aos olhos do mundo
Förster ficará até à sua morte o chefe dos anti-semitas. (…). Pois, bem o vês,
meu bom lama, é para mim uma questão de honra observar em relação ao
anti-semitismo uma atitude absolutamente nítida e sem equívoco, a saber: a de
oposição, como o faço nos meus escritos”, referindo ter sido atacado por
jornais anti-semitas e que “a minha repulsa por esse partido (que bem gostaria
muito de se prevalecer do meu nome!) é tão pronunciada quanto possível, mas o
me parentesco com Förster e do contra-ataque do anti-semitismo de Schmneitzner,
meu antigo editor, não cessam de fazer crer aos adeptos desse desagradável
partido que eu seja um dos deles. Quanto isso me prejudica e me tem prejudicado
não te posso dar uma ideia”, deplorando ainda que a mesma imprensa anti-judia
teria utilizado o nome de Zaratustra, o que o deixara “várias vezes doente”. Em
outra carta a Malwida, de Sils-Maria, em 20-VII-88, deplora que “ na sua cara pátria me tratem
como um indivíduo digno de viver numa cabana”, como “se exprime o cretinismo de
Bayreuth”, embora se console referindo que na Dinamarca, o filósofo Georg
Brandes tenha feito conferências sobre ele, com notável sucesso público. Numa
das suas cartas a G. Brandes, N. acusava os Alemães de terem “sobre a
consciência o crime de terem esvaziado de sentido a última grande época da história, a Renascença, no momento em que os valores cristãos, os
valores da decadência, sucumbiam, no momento mesmo em que os instintos
contrários, os da vida, os suplantavam até no mais alto clero. Atacar a Igreja
era restaurar o cristianismo (César Bórgia no trono papal seria o espírito da
Renascença, o seu verdadeiro símbolo” (N. visava, evidentemente, os ataques de
Lutero ao catolicismo renascentistas, acrescentando que os seus compatriotas
“me deixam num abandono absoluto”(carta de Turim, em 20-XI-1888, p.301). A
antipatia por Lutero é expressa de modo acentuado no Ecce Homo: “Foi Lutero, esse monge fatal, quem restabeleceu a igreja e, pior mil vezes, o cristianismo no
próprio momento em que este sucumbia.”(pp.168-9).
[30] Veja-se: − E.F.Podach, L’Effondrement de Nietzsche, Paris Gallimard, 1978, maxime p.491 e ss. N. enlouqueceu em
Turim, em 3-I-1890, foi levado para a clínica em Iena (p.65 e ss, 130 e ss),
depois para Basileia (pp.111 e ss) e
para Weimar (pp.159 e ss, 162 e ss), passando a irmã a tomar conta dele,
gerindo ela os seus direitos autorais (pp.151-8), vindo também a sua mãe
visitá-lo, falecendo o filósofo em Weimar, em 25-VIII-1900 ( pp.172-4). Em
1896, Elizabeth conseguira apoderar-se do espólio literário do irmão, criando
em 1897 um Arquivo Nietzsche em Weimar, na Wörthstrasse, nº5. Além da
publicação abusiva e falsificada da Vontade
de Poderio (Wille zur Macht),
Lizabeth reeditaria um Ecce Homo
truncado, empresa na qual colaborou Peter Gast sem se dar conta da deturpação
feita pela irmã do filósofo. Recordemos que Peter Gast era o pseudónimo de
Heinrich Köselitz (1954-1918). K. e N. conheceram-se em Basileia, quando o
filósofo ali ensinava, tendo-lhe este dado a alcunha de “Peter Gast” (Convidado de Pedra , alusão à personagem
do Don Giovanni de Nozart). K.
estudou música em Leipzig, tornando-se amigo íntimo de N., ajudando-o quando
este teve problemas de visão, transcrevendo textos que aquele lhe ditava, desde
1876 em diante, assim como havia de colaborar com Elizabeth, a irmã do filósofo
quando esta dirigiu o Arquivo Nietzsche em Weimar, desde 1899 a 1909, e levou adiante
a edição espúria de Vontade de Poder.
K. compôs a ópera O Leão de Veneza,
que só seria levada à cena, com outro título, em Danzig (1891), publicando
ainda, sob diversos pseudónimos, alguns livros.Veja-se Nietzsche, Dernièes
Lettres - Hiver 1887 – Hiver 1889
(Paris, Éditions Manucius, 2011 (lista e
biografias dos seus correspondentes neste período: pp.247-53; P.Gast:
pp.249-50).
[31] Para o final da vida de Nietzsche, ver o vol. 4 da biografia que lhe dedicou Curt Paul Janz,
Friedrich Nietzche, 4. Los Años de Hundimiento.(Enero de 1889 hasta la
miuerte el 25 de Agosto de 1900), Madride, Alianza Editorial, 1986, maxime pp.22 e ss (o colapso mental de
N. em Turim), e 141-174.
[32] Wilhelm Frick concedeu subsídios ao Arquivo Nietzsche
em Weimar (sobre as sua relações com Elizabeth Nietzsche-Förster, vide B.Macintyre, op. cit., pp.179.80, 194 e 196 -7). W. Frick (Alsenz, Palatinado,
em 12-III-1877,1877 – Nuremberga, 16-X-1946), estudou direito em Göttingen e
Heildelberg, foi dispensado de fazer a guerra por deficiência pulmonar, dirigiu
a polícia bávara de 1919 a
1923 e a secção criminal até 1925, convertendo-se à ideologia nazi e
participando no Putsch da cervejaria,
sendo então detido por quatro meses par investigação, tornando-se um dos
elementos mais afectos a Hitler nesse período, foi nomeado ministro do Interior
e da Educação da Turíngia (1932), região onde combateu a influência dos
socialistas, criou na Universidade de Jena uma cátedra de Antropologia Social
para o professor racista Hans F. K. Günther, proibiu o livro pacifista de Erich
Maria Remarque Nada de novo na Frente
ocidental, procedendo ainda a uma purga de todos os elemento da polícia
adversos ao nazismo, sendo depois recompensado com o lugar de Ministro do
Interior do Reich, afastando todos os juízes e advogados judeus em Berlim,
publicando em 15-IX-1935 as leis da cidadania e da raça de Nuremberga.
proibindo os judeus de se casarem com não-judeus, relegando-os para uma categoria de segunda classee
mandando cerca de 100.000 deles para campos de concentração. Em 1943, por
inimizade de Himmler, é perde a sua influência no III Reich, sendo nomeado
protector da Boémia-Morávia. Acusado pelo Tribunal de Nuremberga de crimes
contra a humanidade, crimes de guerra e ainda por ser largamente responsável
por ter nazificado o regime alemão através de leis e práticas racistas, sendo
enforcado em 16-X-1946.
[33] Baldur Von Schirach (Berlim, 1907 – Kröv, 1974),
chefe da Juventude Hitlekria (Hitler
Jugend), filho duma americana e dum oficial prussiano, conhece Hitler aos
16 anos de idade, entra aos 18 para o NSDAP,
e abre os salões da grande burguesia de Berlim ao líder dos nazis, sendo
nomeado chefe de todas as juventudes do partido, como a Hitler Jugend, as associações de estudantes alemães e os albergues
de juventude. Em 1939 ingressa no exército, estando entre as tropas que ocupam
a França em 1940, sendo depois nomeado Gauleiter
em 1940 da região de Viena, conduzindo uma política de deportação de judeus,
embora acabasse por protestasse contra o extermínio sistemático destes, o que o
faz cair em desgraça. No
julgamento de Nuremberga é condenado a 20 anos de prisão, sendo libertado após
o cumprimento dessa pena.
[35] Fritz Sauckel (Hassfurt am Main, 27-X-1894 –
Nuremberga, 16-X-1946), trabalha a bordo
de vários paquetes e, depois da grande guerra, estuda engenharia durante dois anos, desempenha vários
mesteres, como perito de construção,
entra para a SA (1922) e filia-se no NSDAP(1923), tornando-se notado p4la sua
fidelidade a Hitler, sendo nomeado Gauleiter da Turíngia em 1927,
depois governador da Turíngia (1933) e
deputado no Reichstag e depois comissário da Defesa do Reich (1942), pondo ao
serviço do III Reich a mobilização maciça dos trabalhadores alemães e estrangeiros,
sendo responsável pelo maior sistema de escravatura da história europeia, como
Plenipotenciário Geral par a Mão de Obra, o que valerá ser julgado no Tribunal
de Nuremberga por crimes contra a humanidade e
crimes de guerra, sendo enforcado a 146-X-1946.
[36] Sobre o pacto germano-soviético de 25-VIII-1939,
veja-se Yves Santamaria, 1939, le Pacte germano-soviétique,
Bruxelas, Éditions Complexe, 1998 (o tratado e os protocolos anexos:
pp.19-132).
[37] O psiquiatra americano Leon M. Goldensohn (N. Iorque,
1911 – 24-X-1961), alistado no exército americano em 1943, seria encarregado
pelo tribunal militar internacional, reunido em Nuremberga para o julgamento
dos dirigentes nazis ali presos, de prestar assistência psiquiátrica, de
Janeiro a Julho de 1946, por um lado, vigiando a saúde mental dos réus e por
outro, conversando com eles, entrevistas que reuniu num livro de enorme
interesse histórico: Les Entretiens de Nuremberg
conduits par Leon Goldnsohn, introd. de Robetrt Gellately, Paris,
Flammarion, 2004: veja-se o que ele escreve, v.g., sobre Rosenberg (pp.255-62), Sauckel
(pp.263-76), Frick (pp.83-90) e Baldur
von Schirach (pp.299-14). Veja-se ainda as entrevistas com Goering (pp.150-186),
Hess (pp.187-9) e J.Streicher (pp.317-28).
Em adolescente, comprei numa banca de rua a 1ª edição portuguesa (“Afrodite”, do saudoso Fernando Ribeiro de Mello). Não me recordo de haver alguma vez lido um livro mais enfadonho. Nunca cheguei a compreender porque é que uma coisa daquelas era proibida.
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