Nas nuvens.
A fechar a rubrica e a infinita salada apaziguadora começada
ontem, essa a recheio de música inspirada pelo encantamento e pela contemplação
de algo ou alguém, persiste-se hoje na tentativa de meter um Rossio de igual
tamanho na mesma Betesga: o do amor, nas suas também infinitas tonalidades e
desdobramentos. Amor divino e amor terreno, amor com maiúsculas e com
minúsculas, Calibri ou Times New Roman, físico e metafísico, animal, vegetal,
postal, gasoso e atmosférico.
1) Coração e Boca e Atos
e Vida, como é
conhecida a Cantata Jesus Bleibet Meine
Freud, de J. S. Bach. É com tudo isso que
nos embala o coral final, com o que “há de dar testemunho, sem temor nem hipocrisia”, de coisas divinas e da felicidade
humana. Aqui num arranjo para dois pianos, interpretado por Lucas e
Arthur Jussen.
2) Se Leonor ia fermosa
e não segura pela verdura, já as ovelhinhas de todas as idades podem pastar com
a maior segurança e, sobretudo, na mais maravilhosa paz com Schafe können sicher weiden, de uma
outra Cantata de Bach, a da Caça. Também
num arranjo para piano, interpretado por Khatia Buniatishvili.
3) As nuvens que ilustram a primeira das três Gymnopédies, de Erik Satie, estão ali muito bem, no ambiente delas. Com sol ou chuva, as 3G são realmente serenas
e atmosféricas. Não há agitação infantil que resista à sedução do seu torpor
vaporoso. A agitação adulta também lhe sucumbe em circunstâncias e situações
variadas. Por Anne Quéféllec.
4) Na minha experiência pessoal, todavia, tiro e queda
mesmo é My Funny Valentine, na voz de
Chet Baker. Em poucos segundos induz um revirar de olhos de sonolência
fulminante, assaz distinto do enfastiado rodar para cima na oblíqua do globo
ocular aborrescente, perdão, adolescente – tantas vezes mais do que justificado,
diga-se. Em idades mais tenras, porém, é a pupila que escorrega por si para
dentro da pálpebra, deixando ver o fundo branco antes da persiana – a pálpebra
– baixar rendida ao peso feliz da beatitude. É uma coisa linda de se ver.
“My Funny [preencher com o nome
aplicável], my favourite work of art”.
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Manuela
Ivone Cunha.
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