I prefer to deal through you as hats are the most important thing.
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Enclosed is a sample of a tailored coat I have ordered from Bem Zuckerman.
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I must have these for Inauguration Day so yo'll have to rush - send to Washington
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Oh dear it was so pleasant when I didn't have to wear hats!
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I do like the crocodile shoes but they are too small.
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A rather different beret.
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Marina Prusakova
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No dia do 50º aniversário da morte de
John F. Kennedy será leiloado um conjunto de cartas de Jackie para Marita O’Connor,
a sua personal shopper da Bergdorf Goodman.
Escritas no início dos anos 60, as dezassete cartas mostram o cuidado extremo
de Jacqueline Bouvier com a sua aparência, mostrando que ser um modelo de
elegância, admirado mundialmente, é algo que dá muito trabalho e que requer grande
esforço e enorme minúcia, a máxima atenção aos mínimos pormenores. Não se
julgue, porém, que Jackie era, ou era apenas,
uma mulher mundana e, menos ainda, uma pessoa fútil e frívola. Para quem tenha dúvidas,
veja-se o que lia em jovem, o que escrevia e como pensava nesse
tempo. Está tudo referido numa biografia monumental e fascinante, que li há pouco,
America’s Queen, de Sarah Bradford. Irão
ser leiloadas também algumas peças de vestuário, incluindo um blazer de John Fitzgerald Kennedy.
Tudo isto é moda, nada mais do que
moda, roupas e acessórios. Sem dúvida. Haverá também alguma morbidez neste
coleccionismo de memorabilia, algo de
maníaco no instinto possessivo dirigido à intimidade das celebridades. Ir-se-ão
vender, e a preços astronómicos, as cartas de Jackie Kennedy à sua personal shopper… Mas, atenção, a moda
conta. Ganham sempre mais os que fazem as coisas no tempo certo, os que sabem cavalgar
a onda efémera. Agora, Kennedy é fashion,
porque há precisamente cinquenta anos o seu crânio foi esfacelado em Dallas. Daqui
a uns meses o momento será doutra celebridade, e JFK Kennedy
perderá valor na bolsa do comércio voyeurista.
De
um lado a vítima, do outro o assassino. E duas viúvas, como numa tragédia
shakesperiana. A moda Kennedy suscitou um estranho cruzamento leiloeiro, com
vista ao mesmo fim: o dinheiro. Há uns dias, alguém pagou 118 mil dólares pelo
anel de casamento de Lee Harvey Oswald. O comprador levou para casa, junto com
a aliança, uma carta manuscrita de Marina Oswald Porter, que em cinco páginas
conta a história do anel que Oswald comprara numa joalharia de Minsk, em 1961,
onde se casou com Marina Prusakova, então uma jovem de dezanove anos. Lee casou
com Marina dois meses depois de se conhecerem. No interior da aliança, além de
uma estrela, a marca da foice e do martelo. Horas antes do assassinato de
Kennedy, em 22 de Novembro de 1963, Lee Harvey Oswald tirou a aliança do dedo. Encontrei
versões desencontradas sobre onde terá ficado o anel, mas o que se sabe ao
certo é que, por um impedimento legal, só ao fim de cinquenta anos a aliança de
casamento foi devolvida à viúva. Até aí, estivera no cofre de uma firma de
advogados de Fort-Worth, Texas. Além do anel, foram leiloados cerca de trinta objectos pessoais de Lee Oswald, como a primeira pistola que teve na vida a uma
faca do Marine Corps. Tudo certificado com assinaturas do seu irmão, Robert. Os objectos em leilão espelham duas personalidades: os sapatos de Jackie, de um lado, e as armas de Lee, do outro.
Há
milhares e milhares de teorias sobre o assassinato de Kennedy, centenas delas
falam do anel de casamento. Um dos grandes mistérios do crime tem a ver,
imagine-se, com a dentição de Marina Oswald e com as suas idas ao dentista,
questão que foi analisada com minúcia no Relatório Warren. No
fundo, a mesma minúcia com que Jacqueline Kennedy, a outra viúva, escolhia as
suas roupas e adereços de moda. A intimidade dos Kennedy e dos Oswald é agora
exposta e posta a render; mas, durante cinco décadas, à viúva não foi devolvido
aquilo que era mais íntimo. Afinal de contas, Marina entrou em toda esta história devido ao facto de ter trocado aquela aliança com
Lee Harvey Oswald, na distante Bielorrússia. Aquele anel, guardado durante
cinco décadas, era o símbolo da sua união, com o marido e com a História. E
agora, aos setenta anos de idade, coloca o anel à venda na melhor saison, com uma carta atestando a
veracidade e relatando toda a história do objecto histórico... A celebridade das
duas viúvas deve-se ao facto de terem sido casadas com homens célebres. Mas Jacqueline,
com a sua obsessão por roupas, contribuiu muitíssimo para o glamour que rodeou a Presidência de JFK.
A moda, como vemos, tem a sua importância. Sem ela, talvez Kennedy não tivesse
a carreira política que teve, não chegaria à Presidência dos USA, não faria da Casa
Branca um lugar de sonhos, não teria um funeral tão comovente e distinto, nem
uma memória tão perene e saudosa. Se não fosse a minúcia de Jackie com os adereços, as
cartas que agora vão à praça – e que falam com minúcia de adereços… – não teriam o valor que têm. Todos ganharam,
ele e ela, e agora, postumamente, outros irão ganhar por ele ter sido como foi,
JFK, e ela ter sido como foi, America’s
Queen. Faz sentido a famosa frase, Ich bin ein fashion addict.
Desconhece-se
se Marina, a senhora dos anéis, também contribuiu para a fama, bem menos glamorosa, do seu marido. Para
o saber ao certo, escrutinaram até a intimidade da sua boca… Um dia, num leilão
qualquer, haverá quem esteja disposto a pagar pelos seus dentes, sobretudo se
forem de ouro, mais ainda se neles estiverem inscritos o martelo e a foice.
Das
mais díspares teorias que abundam sobre a morte de JFK até ao leilão das cartas
de Jackie ou do anel de casamento de Lee Oswald, tudo faz parte da mesma, grande
e estranha realidade, a América. Ou, mais do que apenas a América, do mundo
inteiro. Um lugar estranho.
António Araújo
Só lá...
ResponderEliminarCaro António, já agora peço-lhe, se for possível, mais algumas sugestões de biografias que recomende.... E parabéns pelo blogue que já há muito se tornou de leitura diária!
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras. Biografias da Jackie? Confesso que, de substancial, só li esta, da Sarah Bradford.
ResponderEliminarCordialmente,
António Araújo
Não de Jackie, simplesmente outras quaisquer que recomende...
ResponderEliminarCumprimentos,
Ricardo Sebastião