Faz hoje 70 anos que, pela primeira
vez, um filme foi exibido como prova da acusação num julgamento. O julgamento decorreu em Nuremberga e os réus
eram os principais responsáveis nazis capturados vivos. No dia 29 de Novembro
de 1945, as luzes apagaram-se na sala de audiências e num écran colocado à
frente da assistência e ao lado no espaço entre juízes e réus, no meio de um
absoluto silêncio, iniciou-se a projecção do filme Nazi Concentration Camps.
Com imagens cuja captação pelas
tropas aliadas no momento da libertação dos campos de concentração obedecera a
um pormenorizado conjunto de regras e registos com vista à apresentação das
mesmas como prova no futuro julgamento dos responsáveis nazis, o seu impacto na
sala de audiências foi imenso. Quando acabaram as imagens, os juízes
levantaram-se e saíram da sala em silêncio, adiando a audiência.
Após a projecção de um mapa com a
localização dos campos da morte criados pelos nazis e a leitura de um
compromisso de honra de John Ford e George Stevens atestando a veracidade das
imagens, o écran encheu-se de horrores captados em diversos campos de
concentração: desde as pilhas de cadáveres dos prisioneiros que tinham morrido
na manhã do dia da libertação até às câmaras de gás e aos fornos crematórios
ainda com cadáveres passando pela talvez mais contundente prova dos crimes
cometidos − os prisioneiros que, num estado de extrema fraqueza e miséria,
olhavam para as câmara incapazes de esboçar sequer um sorriso pelo fim do
pesadelo.
Embora num curto texto, a história
está contada por Christian Delage e é ilustrada com suficiente pormenor e
detalhes no livro ”Images of Conviction –
The construction of visal evidence” para nos transportar até aquele momento
único da história da Humanidade e da Justiça.
O livro, com uma imensa qualidade e
rigor dos textos e uma excelente apresentação gráfica, debruça-se sobre onze
“momentos” da imagem como prova judicial: desde os primórdios da fotografia
forense de Alphonse Bertillon até a imagens captadas por um telemóvel de um
ataque por um drone no Paquistão
passando pelo Santo Sudário, as vítimas de Staline e a destruição de edifícios
na Palestina pelo Estado de Israel.
Uma obra que o Malomil não podia
deixar passar e que encontrou na 6.ª edição da Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, que ainda
pode visitar hoje no Arquivo Municpal de Lisboa – Núcleo Fotográfico na Rua da
Palma n.º 246.
Francisco Teixeira da Mota
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