O
Expresso publicou, com o título “Portugueses chegaram à América 19 anos antes de Colombo”, esta notícia divulgada pela Lusa:
“Um museu em Toronto quer
reconhecer a presença lusitana e provar que o navegador João Vaz Corte-Real
esteve no Canadá em 1473. “A história é muito complexa, pois há sempre várias
versões dos acontecimentos”, sublinhou a presidente do Real Canadian Portuguese
Historial Museum.
O Real Canadian
Portuguese Historical Museum em Toronto, no Canadá, pretende reconhecer a
presença portuguesa na América do Norte dezanove anos antes da chegada de
Cristóvão Colombo ao continente, anunciou a instituição.
"Sempre houve
vestígios de que o navegador português João Vaz Corte-Real esteve no Canadá em
1473, 19 anos antes da chegada de Cristóvão Colombo à América do Norte",
afirmou Suzy Soares, a presidente do Real Canadian Portuguese Historial Museum
(RCPHM, sigla em inglês).
Alguns historiadores
canadianos continuam, nos dias de hoje, a ter algumas dúvidas de que o antigo
capitão-donatário de Angra (Açores) tenha estado onde atualmente se localiza o
Canadá, antes de 1492, mas em Portugal, para muitos estudiosos "é um dado
adquirido", juntando agora os vários pontos de vista e provar de que João
Vaz Corte-Real "passou realmente pelo Canadá antes de Colombo".
"Todos sabem da
existência da Pedra de Dighton, localizada em Berkley, Massachusetts (Estados
Unidos), e que tem palavras escritas que só podem ser em português. No entanto
a história é muito complexa, pois há sempre várias versões dos
acontecimentos", sublinhou.
Suzy Soares estabelece
como objetivo do museu ir à procura de mais provas e "reconhecer a
descoberta da América" pelo navegador português João Vaz Corte-Real.
O Real Canadian Portuguese
Historical Museum está a comemorar o 30.º aniversário, e no dia 5 de março,
pelas 18h30 (23h30 de Lisboa) vai homenagear 'João Vaz Corte-Real' durante um
jantar de gala.
No evento estará em
exposição uma réplica de uma caravela com três metros de comprimento, utilizada
pelo navegador na viagem até ao Canadá, e será apresentado ainda um busto de
Corte-Real.
[…]
A denominação da região
e mar do Labrador no Canadá, é em homenagem ao navegador português João
Fernandes Lavrador que em 1498, juntamente com Pedro Barcelos, explorou aquela
região. [Para a notícia completa:
http://expresso.sapo.pt/cultura/2016-02-27-Portugueses-chegaram-a-America-19-anos-antes-de-Colombo]
There we go
again! Sempre a mesma obsessão e nada de factos
novos, como se pode comprovar lendo a notícia. Pelo menos na notícia do Expresso ficou claro tratar-se de um
museu português e não canadiano propriamente dito. Museu português no
estrangeiro significa quase sempre história patriótica.
Divisão
entre historiadores? Várias versões?
Sobre o assunto, desconheço divisões. O que sei é que há uma divisão entre os
historiadores profissionais e os amadores auto-encartados que acham que
qualquer um pode emitir opiniões em história. Os estoriadores responsáveis pelo museu demonstram a sua competência
com afirmações do teor desta:
Todos sabem da
existência da Pedra de Dighton […] e que tem palavras escritas que só podem ser
em português.
Não, não conheco nenhum
historiador sério que assine uma afirmação dessas.
Para
não me repetir, deixo aqui uma ligação para dois textos meus cheios de dados e
argumentos sobre o assunto:
1.
Irmãos Côrte-Real: os mitos e os factos e a sua importância identitária:
2.
Pedra de Dighton: um desconhecido registo de leituras não fanáticas das suas
inscrições:
Quanto
ao Canadá, o historiador que mais atenção tem dado à suposta prioridade
portuguesa na descoberta é por sinal uma historiadora. Trata-se de Darlene
Abreu-Ferreira, de ascendência portuguesa, como o nome indica. Muito respeitada
professora na Universidade de Winnipeg, tem uma vasta e sólida bibliografia à
sua conta. Sobre o tema desta nota,
leia-se o seu sólido texto publicado em 1998 em The Canadian Historical Review - “Terra Nova through the Iberian
Looking Glass: The Portuguese Cod Fishery in the Sixteenth Century”:
A
redacção do Expresso deveria tomar
nota destas informações e, da próxima, não se fiar tão candidamente nas bocas
da Agência Lusa. Porque o jornal tem outras obrigações. Pelo menos assim nos
obrigou a reconhecer há décadas.
Onésimo Teotónio de Almeida
ResponderEliminarÉ motivo de orgulho ter entre nós, portugueses da diáspora, alguém que,
como o Onésimo de Almeida, hasteie bem alto e corajosamente o estandarte da
verdade histórica portuguesa. Os "Castanheiros patrioteiros" como os que
o grande Eça fustiga, sem dó nem piedade, com certeiros golpes
de ironia, em "A Ilustre Casa de Ramires", devem ser esconjurados.
Muito obrigado e cordiais saudações
do
António Cirurgião