quinta-feira, 10 de março de 2016

Judaica: começa para a semana!

 
 
 

 
 
Aproxima-se a passos largos mais uma edição da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura. Dos dias 16 a 20 de Março, no Cinema São Jorge, muitos e muitos filmes. Conversa com a alma generosa deste projecto, Elena Piatok:
 
 
1 – Elena Piatok, quais são as novidades da Judaica este ano? A pergunta é difícil, mas quais são os filmes que considera imperdíveis?
 
         O cinema é de novo protagonista da Mostra. Vamos exibir no total 12 longas-metragens de ficção, 11 documentários e 4 curtas.
 
         A sua pergunta é de facto difícil, porque é natural que acho que tudo o que vamos mostrar é muito bom, mesmo que nem o próprio horário permita abarcar tudo!
 
         Posso dizer que este ano a fiçcão que apresentamos está fortemente marcada por um cariz literário, não só com o filme de abertura, o muito badalado «Uma História de Amor e Trevas» – primeiro filme realizado pela actriz Natalie Portman e baseado na maravilhosa autobiografia de Amos Oz. Trazemos um filme de uma realizadora ucraniana, «Cântico dos Cânticos», baseado na obra do grande Sholem Aleichem, no centenário da sua morte. Para qualquer amante de Tarkovsky (ou sobretudo de Roman Vishniac) é de facto imperdível. E para encerrar, o filme «Febre ao Amanhecer», do realizador e autor húngaro Pèter Gardós, que estará entre nós também por ocasião do lançamento do seu livro Carta à Mulher do meu Futuro, a inverosímil história de amor dos seus pais e que serve de inspiração para o filme. Mas...e o que dizer de «Finsterworld», considerado pelo jornal Die Welt como uma obra-prima do cinema germânico dos nossos dias?
 
         Já nos documentários, menções muito especiais para «Claude Lanzmann: Espectros da Shoah», que foi nomeado para o Óscar de Melhor Curta Documental e, na continuação do fio condutor desta edição – a questão da sobrevivência e dos refugiados –, para o documentário «Todos os Rostos Têm um Nome» do realizador sueco Magnus Gertten. Pegando em imagens que mostram a chegada de refugiados ao porto de Malmö, na Suécia, em 1945, tece um paralelo com a situação que se vive actualmente na Europa.
         Um outro documentário que merece destaque é «A Minha Herança Nazi: O que os Nossos Pais Fizeram» do realizador David Evans, em que dois filhos de altas figuras do regime nazi regressam ao passado e confrontam sentimentos de culpa, raiva, amor e negação. Teremos as honrosas presenças de Niklas Frank, filho de Hans Frank – Governador-Geral da Polónia ocupada por Hitler – e de Philippe Sands, conceituado professor de Direito Internacional, cuja família foi vítima dos pais dos protagonistas.
 
         E, fora do grande ecrã, o concerto de música klezmer de Daniel Kahn & The Painted Bird, uma banda de culto que desafia as fronteiras entre o radical e o tradicional e entre o lírico e o político, é de não perder!
 

 
2 – E vamos ter edições em vários locais, pode dizer quais?

 
Depois de Lisboa, a Judaica seguirá viagem até Cascais (8 a 10 de Abril), Belmonte (14 a 16 de Abril) e Castelo de Vide (5 a 8 de Maio), com uma rica e variada programação que vai desde palestras sobre tradições judaicas, um Colóquio Internacional sobre o tema “Inquisição, Cripto-Judaismo e Marranismo", com convidados de renome, visitas guiadas às Judiarias, degustação de produtos kosher e mais dois concertos que certamente irão deixar memória.
 
 
3 – Há a ideia, talvez infundada, de que os filmes sobre questões judaicas incidem sempre sobre o Holocausto ou a sua memória. A Judaica mostra que não é verdade, não acha?

 
A Judaica tenta o mais possível trazer filmes das mais variadas temáticas. A escolha não é feita segundo um cânone estabelecido. Vamos escolhendo o que de melhor aparece no circuito dos festivais para oferecermos aos nossos públicos. O Holocausto é certamente incontornável. As perspectivas é que mudam, os diferentes pontos de vista também e, em última instancia, o que importa é a excelência…é este critério que prevalece e que mais nos preocupa.
 

 
(entrevista de António Araújo)

Mais dados e informações, com a programação toda:



 
 
 

1 comentário:

  1. Excelente entrada. A este propósito, recomendo a leitura da entrevista de José Fialho Gouveia, na Alemanha, ao filho de Hans Frank, advogado de Hitler e governador-geral da Polónia nos piores anos da Guerra. O documentário "O que os nossos pais fizeram" relata essa experiência, de ser filho de um homem que, para Niklas Frank,o filho, "gostava de reencontrar o pai depois da morte, para arranjar um tribunal celeste que o enforcasse outra vez".

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