Aproxima-se a passos largos mais uma edição da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura. Dos dias 16 a 20 de Março, no Cinema São Jorge, muitos e muitos
filmes. Conversa com a alma generosa deste projecto, Elena Piatok:
1 – Elena Piatok, quais são as novidades da Judaica este ano? A pergunta é
difícil, mas quais são os filmes que considera imperdíveis?
O cinema é de novo protagonista da
Mostra. Vamos exibir no total 12 longas-metragens de ficção, 11 documentários e
4 curtas.
A sua pergunta é de facto difícil, porque
é natural que acho que tudo o que vamos mostrar é muito bom, mesmo que nem o
próprio horário permita abarcar tudo!
Posso dizer que este ano a fiçcão que
apresentamos está fortemente marcada por um cariz literário, não só com o filme
de abertura, o muito badalado «Uma História
de Amor e Trevas» – primeiro filme realizado pela actriz Natalie Portman e
baseado na maravilhosa autobiografia de Amos Oz. Trazemos um filme de uma
realizadora ucraniana, «Cântico dos Cânticos», baseado na
obra do grande Sholem Aleichem, no centenário da sua morte. Para qualquer
amante de Tarkovsky (ou sobretudo de Roman Vishniac) é de facto imperdível. E
para encerrar, o filme «Febre ao Amanhecer», do realizador e autor húngaro
Pèter Gardós, que estará entre nós também por ocasião do lançamento do seu
livro Carta à Mulher do meu Futuro, a
inverosímil história de amor dos seus pais e que serve de inspiração para o
filme. Mas...e o que dizer de «Finsterworld», considerado pelo jornal Die Welt como uma obra-prima do cinema germânico dos nossos dias?
Já nos documentários, menções
muito especiais para «Claude Lanzmann:
Espectros da Shoah», que foi nomeado para o Óscar de Melhor Curta
Documental e, na continuação do fio condutor desta edição – a questão da
sobrevivência e dos refugiados –, para o documentário «Todos os Rostos Têm um
Nome» do realizador sueco Magnus Gertten. Pegando em imagens que mostram a
chegada de refugiados ao porto de Malmö, na Suécia, em 1945, tece um paralelo
com a situação que se vive actualmente na Europa.
Um outro documentário que
merece destaque é «A Minha Herança Nazi: O que os Nossos Pais Fizeram» do
realizador David Evans, em que dois filhos de altas figuras do regime nazi
regressam ao passado e confrontam sentimentos de culpa, raiva, amor e negação. Teremos
as honrosas presenças de Niklas Frank,
filho de Hans Frank – Governador-Geral da Polónia ocupada por Hitler – e de
Philippe Sands, conceituado professor de Direito Internacional, cuja família
foi vítima dos pais dos protagonistas.
E, fora do grande ecrã, o
concerto de música klezmer de Daniel
Kahn & The Painted Bird, uma banda de culto que desafia as fronteiras entre
o radical e o tradicional e entre o lírico e o político, é de não perder!
2 – E vamos ter edições em vários locais, pode dizer quais?
Depois
de Lisboa, a Judaica seguirá viagem até Cascais (8 a 10 de Abril), Belmonte (14
a 16 de Abril) e Castelo de Vide (5 a 8 de Maio), com uma rica e variada
programação que vai desde palestras sobre tradições judaicas, um Colóquio
Internacional sobre o tema “Inquisição, Cripto-Judaismo e Marranismo", com
convidados de renome, visitas guiadas às Judiarias, degustação de produtos kosher e mais dois concertos que
certamente irão deixar memória.
3 – Há a ideia, talvez infundada, de que os filmes sobre questões judaicas
incidem sempre sobre o Holocausto ou a sua memória. A Judaica mostra que não é
verdade, não acha?
A Judaica tenta
o mais possível trazer filmes das mais variadas temáticas. A escolha não é
feita segundo um cânone estabelecido. Vamos escolhendo o que de melhor aparece
no circuito dos festivais para oferecermos aos nossos públicos. O Holocausto é
certamente incontornável. As perspectivas é que mudam, os diferentes pontos de
vista também e, em última instancia, o que importa é a excelência…é este critério
que prevalece e que mais nos preocupa.
(entrevista de António Araújo)
Mais dados e informações, com a programação toda:
Mais dados e informações, com a programação toda:
Excelente entrada. A este propósito, recomendo a leitura da entrevista de José Fialho Gouveia, na Alemanha, ao filho de Hans Frank, advogado de Hitler e governador-geral da Polónia nos piores anos da Guerra. O documentário "O que os nossos pais fizeram" relata essa experiência, de ser filho de um homem que, para Niklas Frank,o filho, "gostava de reencontrar o pai depois da morte, para arranjar um tribunal celeste que o enforcasse outra vez".
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