Foi em
1976. Estando eu em ano sabático, resolvi ir passá-lo ao Brasil, tanto por
razões profissionais, como por razões pessoais. Razões profissionais, devido ao
facto de haver sido convidado a proferir uma série de conferências em
universidades brasileiras e devido à necessidade de fazer pesquisas sobre
literatura brasileira, que tinha vindo a ensinar, desde Setembro de 1969, na
Universidade de Connecticut, em Storrs. Razões pessoais, devido ao facto de,
por esse tempo, ter várias pessoas muito amigas a residir e a trabalhar no Rio
de Janeiro.
Tendo Juan
Perón, presidente da Argentina, falecido no dia primeiro de Julho de 1974, foi
empossada no cargo de presidente a sua viúva, Isabel Perón (mais conhecida por
Isabelita), uma vez que era ela a vice-presidente da República. A viver uma
crise política, económica, financeira e social, que já vinha de muito longe,
mas que se agravava vertiginosamente, a Argentina era o prato do dia da rádio,
da televisão e da imprensa do Brasil
Praticamente
desde a minha chegada ao Brasil, em princípios de Janeiro de 1976, a imprensa
brasileira fazia especulações quase diárias sobre a eventualidade de um golpe
de estado na Argentina, para depor Isabelita Perón.
À medida que
as semanas iam passando, a insistência da imprensa brasileira num golpe de
estado na Argentina aumentava de tom e de volume, chegando ao ponto de os dois
jornais mais importantes do Rio de Janeiro, Globo e Jornal do Brasil,
descreverem com grande pormenor a maneira como se daria o golpe de estado, quem
constituiria a Junta Militar, para onde seria levada Isabelita, etc., etc.
Amigo de
aventuras, desde que me conheço, a ponto de alguns dos meus amigos dizerem que
tenho a vocação do abismo, chegou um momento em que me disse: "Estou eu
aqui tão perto de um país em que vai haver um golpe de estado e eu não vou
assistir? Tenho que aproveitar esta oportunidade única na vida. Os golpes de
estado não são coisa de todos os dias."
E, ansioso
por assistir a uma revolução ou a qualquer coisa parecida com ela, decidi
viajar para a Argentina, sem mais demora. E como o peso argentino estava
altamente desvalorizado, tanto em relação ao dólar americano, como ao cruzeiro,
que ao tempo era a moeda oficial do Brasil, a ponto de uma viagem de avião da
Foz de Iguassú a Buenos Aires, do lado brasileiro, custar à volta de oitenta
dólares, e do lado argentino, custar apenas à volta de quinze dólares, resolvi ir
de ónibus do Rio até à Foz de Iguassú e de avião da Foz de Iguassú, do lado
argentino, até Buenos Aires.
Ora sucedeu
que no dia em que cheguei de ónibus à Foz de Iguassú, 24 de Março de 1976, se
deu o tão propalado e esperado golpe de estado. Embora informados, ainda antes
de chegarmos à Foz de Iguassú, que a fronteira do Brasil com a Argentina estava
fechada, eu e um estudante argentino que, por mera casualidade, encontrara no
ónibus, apenas chegados à Foz de Iguassú, por volta da meia-noite, decidimos
tomar um táxi e dirigir-nos imediatamente à fronteira, em vez de esperarmos,
como todos os outros fizeram, num hotel da Foz do Iguassú, até que chegasse a
notícia de que a fronteira entre o Brasil e a Argentina estava aberta.
E, como era
de esperar, quando o táxi parou junto do posto de controlo da fronteira, do
lado do Brasil, um guarda, de uniforme, armado de metralhadora e devidamente
perfilado, apressou-se a informar-nos que a fronteira estava fechada, pelo que
não podíamos seguir viagem para Buenos Aires.
Sedentos de
aventura e desejosos de ir assistir à revolução, insistimos com o guarda que
nos deixasse atravessar a fronteira, dada a urgência que tínhamos em chegar a
Buenos Aires, o estudante argentino para ver a sua família e eu para ver as
maravilhas da capital da Argentina.
Perante a
nossa insistência, o guarda limitou-se a repetir que a fronteira estava fechada
e que, por isso, nem nós nem ninguém podia cruzá-la. Que tomássemos um táxi de
regresso à Foz do Iguassú e que esperássemos pela notícia da abertura da fronteira,
que ela lá haveria de chegar, mais dia menos dia, quem sabe – acrescentou ele –
se não no dia seguinte.
E nós, como
duas criancinhas mimadas que querem que os pais lhes dêem a lua, a todo o
custo, ainda continuámos a insistir. E perante essa nossa atitude, o guarda -
ou membro da polícia militar - mexeu lá não sei em que parte da metralhadora e
as balas começaram a tilintar nas pedras da calçada, uma a uma. Feito o quê,
perguntou-nos se compreendíamos finalmente o que ele se tinha cansado de
repetir. Que sim: que compreendíamos muito bem, que pedíamos desculpa e que lá
esperaríamos num hotel da Foz do Iguassú pela notícia sobre a abertura da
fronteira.
E no dia
seguinte chegou a notícia dizendo que, enquanto as outras fronteiras
continuavam fechadas, a da Foz de Iguassú estava aberta, em virtude do seu
pequeno movimento.
Foi o tempo
de pagar o hotel, chamar um táxi, desta vez sozinho, e partir para a fronteira.
Tomado um
avião do lado argentino, cheguei nesse mesmo dia, 25 de Março de 1976, a Buenos
Aires.
O aeroporto
internacional de Ezeiza, a quarenta quilómetros da cidade de Buenos Aires, não
tinha quase nenhum movimento, para desilusão minha. Viam-se aqui e além alguns
soldados armados de metralhadora e praticamente mais ninguém. De táxis nem
sombra. Carimbados os passaportes e
feita a alfândega, onde todas as malas e bolsas de mão foram passadas a pente
fino, as autoridades acompanharam-nos a um autocarro e aí vamos nós a caminho
de Buenos Aires, tendo-me tocado um assento de coxia, pelo meio do autocarro.
Havíamos
percorrido uns três ou quatro quilómetros, quando uns soldados, armados de
metralhadora e postados no meio da estrada, parcialmente bloqueada com grandes pedras
e troncos de árvores, fizeram sinal ao motorista para que parasse.
O autocarro
a parar e eu a levantar-me do meu assento com a máquina fotográfica à tiracolo –
a minha Konika japonesa – e a correr para junto do motorista, a fim de
fotografar a cena, dado que era esse o primeiro testemunho, embora modesto, de
que algo estranho estava a ocorrer na Argentina.
Estava eu a
começar a focar para tirar a primeira fotografia, quando vejo uma mão aberta a
cobrir-me a lente da máquina e uma boca autoritária a dizer-me que não podia
tirar fotografias.
Fazendo-me
desentendido, perguntei por quê, tanto mais que a pessoa que me cobria a lente
com a palma da mão e me dizia que não podia tirar fotografias não trazia
qualquer uniforme. A resposta foi rápida, ríspida e directa: que era proibido
tirar fotografias e que voltasse para o meu assento.
Com um leve
sorriso postiço nos lábios e com uma espécie de vénia, à sacristão, voltei cortesmente
as costas, dirigi-me ao meu lugar e sentei-me.
Após uma
revista aos passageiros do autocarro e uma breve troca de palavras sussurradas
entre os dois soldados armados que fizeram a revista ao autocarro e o
cavalheiro à paisana que me proibira de tirar fotografias, prosseguimos viagem
em direcção a Buenos Aires.
Mais outros
três ou quatro quilómetros e o autocarro a parar novamente pelas mesmas razões
por que tinha parado anteriormente. E pelas mesmas razões por que da primeira
vez me tinha levantado do meu lugar e me tinha dirigido para a parte dianteira
do autocarro com a máquina fotográfica engatilhada, eis-me de novo interpelado
pelo mesmo sujeito à paisana, mas desta vez em tom mais assertivo, saído de uma
boca ameaçadora. Que se não se tinha feito entender da primeira vez; se eu não
sabia que não se podiam tirar fotografias. E eu fiz-me novamente desentendido
e, com o ar mais ingénuo do mundo, perguntei-lhe por que é que não podia tirar
fotografias. Que não podia porque sim – foi a resposta que ele me deu. E então
eu, com o mesmo ar ingénuo de antes, perguntei-lhe em nome de quem me proibia
isso, uma vez que ele não exibia nada que o fizesse acreditar como autoridade.
E foi então que ele me disse peremptoriamente que era proibido tirar
fotografias porque os militares assim o haviam determinado e assim o queriam.
Que fosse imediatamente para o meu lugar e que não voltasse a repetir a cena,
porque, de outro modo, me faria voltar sem mais para o aeroporto e me obrigaria
a abandonar o país.
Perante uma
atitude tão enérgica e tão inequívoca, limitei-me a dizer, com um ar entre
compungido e inocente, que finalmente tinha compreendido as razões por que não
podia tirar fotografias, não deixando de lamentar que era uma pena que não
pudesse levar recordações de um país que eu visitava pela primeira vez.
De cara
fechada, o guarda à paisana voltou-me as costas e pôs-se às ordens dos dois
soldados, os quais, tal como tinha sucedido anteriormente, entraram para o
autocarro e passaram a revistar, um a um, todos os passageiros.
E sem mais
peripécias, chegámos a Buenos Aires.
Com um
câmbio que me permitia pagar uns cinco dólares por um quarto de hotel que
naquele tempo me custaria uns setenta dólares em Nova Iorque, naturalmente que
me hospedei num hotel de cinco estrelas.
E como a
minha preocupação fundamental, mesmo na primeira visita a Buenos Aires, era
assistir a uma revolução, depois de haver tomado um bom banho e mudado de
roupa, saí para as ruas de Buenos Aires à procura de cenas de revolução. Mas
brevemente me dei conta de que procurar “cenas de revolução” nas ruas de Buenos
Aires era como procurar agulha em palheiro. Cada vez que mais de duas pessoas
se reuniam e paravam a conversar no passeio de uma rua ou numa praça pública,
aparecia logo um sujeito, vestido à paisana, com rosto fechado e autoritário, a
mandar dispersar.
Manifestações
de rua, por exemplo, a favor de Isabelita, nem de microscópio se viam. Praticamente,
ninguém em Buenos Aires levantou um dedo para a defender. E por que é que assim
acontecia? Por medo de qualquer tipo de repressão ou retaliação, por parte dos
novos donos do poder? Pelo facto de à partida, logo que foi elevada à
presidência, em substituição do marido, ter uma base muito reduzida de apoio
popular, com excepção da cúpula de alguns sindicatos, simbolizados pelo
famigerado José López Rega, uma figura que os meios de comunicação social
tinham pintado quase tão sinistra e tão odiosa como Rasputine? Fosse por que
motivo fosse, a verdade é que durante as duas semanas que passei em Buenos
Aires não presenciei nenhuma manifestação pública de apoio político a Isabel
Perón, então a viver num palácio, com residência fixa.
Com todos
os estabelecimentos de ensino fechados, desde as escolas primárias às
universidades, as manifestações públicas mais espontâneas, e mais comuns, nos
países do mundo ocidental, em circunstâncias idênticas, primaram pela não
existência, na esparramada capital da Argentina, com quase um terço da
população do país, então à volta de vinte e oito milhões de habitantes. Mesmo
assim – e sobretudo por causa disso –, os meus dias de turismo em Buenos Aires
começavam com uma visita à faculdade de direito da Universidade de Buenos
Aires, sempre na esperança de que as autoridades autorizassem a reabertura das
escolas e de que se me tornasse possível conversar com professores e estudantes
sobre a revolução.
Desejo
baldado. Ao chegar junto aos portões da faculdade de direito, encontrava-os
sempre fechados. E quanto aos professores e aos estudantes, era cada vez menor
o número dos que aí compareciam. E, naturalmente, sempre que me aproximava de
um pequeno grupo de duas pessoas para fazer perguntas sobre a revolução, lá
surgia sempre, quase por magia, um cavalheiro vestido à paisana, com rosto
fechado e mau, a mandar dispersar. E algumas vezes, fazendo-me desentendido,
perguntava a alguns desses senhores quando é que reabririam as universidades.
Que não sabiam. Que fosse escutando a rádio, vendo a televisão e lendo os
jornais, que um dia lá viria a notícia sobre a reabertura das universidades. E
a verdade é que veio a notícia sobre a reabertura das escolas do ensino
primário; e dias depois veio a notícia sobre a reabertura das escolas de ensino
secundário; mas quanto à tão ansiada notícia sobre a reabertura das escolas
superiores, o facto é que regressei ao Brasil, sem ter tido a satisfação de
assistir à reabertura dos estabelecimentos de ensino superior.
Que vi eu
então em Buenos Aires que se parecesse com uma revolução? Vi uma coisa que só
vim a compreender anos mais tarde, quando a imprensa do mundo livre começou a
falar na “guerra suja” e nos "desaparecidos." Sobretudo, muito cedo
pela manhã, e pelo cair da noite, junto da Plaza Sanamartín via pessoas à
paisana a obrigar hordas de jovens a subir para camiões e a levá-los não sei
para onde. Vi que, entre esses jovens, havia muitos chilenos que se tinham
refugiado na Argentina depois de o General Augusto Pinochet ter tomado o poder
no seu país, no dia 11 de Setembro de 1973. Apanhados de surpresa entre fogo
cruzado, como se poderia dizer, impossibilitados de regressar a um Chile
governado por um ditador, e suspeitos numa Argentina, governada por uma Junta
Militar, pela sua conotação com as esquerdas comunistas ou marxistas, esses
jovens chilenos tornaram-se imediatamente "personae non gratae" para
o novo regime militar e direitista que tomou o poder na Argentina.
Passados
uns dias, durante os quais tinha enchido os olhos e regalado o espírito na
contemplação de alguns dos marcos turísticos mais recomendáveis de Buenos
Aires, tais como o Parque de Palermo, o bairro da Recoleta e nele o famosíssimo
cemitério da Chacarita, onde fui duas vezes, em diferentes horas do dia, para
ver os dois túmulos mais famosos e mais visitados desse mítico cemitério: o
túmulo de Carlos Gardel e o túmulo de Hermana María: a rescender de cravos
vermelhos o de Carlos Gardel e de rosas de todas as cores os de Hermana María;
Passados
uns dias, durante os quais apreciei e saboreei a vida nocturna de Buenos Aires,
alternando os espectáculos populares, de rua, da Boca – secção italiana de
Buenos Aires – e os espectáculos formais de tango, havendo dado preferência ao
Caño 14 e ao Señor Tango;
Passados
uns dias, durante os quais me tinha sido dado documentar-me melhor sobre o
velho regime peronista do que sobre o novo regime militarista (a Junta Militar era
constituída por três altas patentes dos três ramos das forças armadas:
exército, marinha e força aérea), na medida em que as paredes das casas das
velhas ruas de Buenos Aires ainda estavam enfeitadas de "grafitti"
referentes aos presumíveis malefícios causados pelo regime chefiado por Isabel
Perón, e, portanto, pelos peronistas, lá vislumbro um dia, para grande alegria
minha, dois tanques postados em frente da Casa Rosada, ou palácio presidencial,
dominando o lado leste da emblemática Plaza de Mayo.
Como de
costume, procurei disfarçar a minha indiferença pelo minúsculo – mas simbólico –
aparato militar, começando por tirar fotografias ao palácio, ao mesmo tempo que
me ia encaminhando para os tanques. E, uma vez próximo, foquei-os e comecei a
fotografá-los. Tinha eu tirado a segunda fotografia, quando vejo uma
metralhadora apontada na minha direcção. Aparentando a maior serenidade, deixei
a máquina fotográfica pender sobre o peito, e levantei os braços. Estava eu
parado, de braços erguidos, quando o oficial que estava a comandar a guarda à
Casa Rosada, me fez sinal com o dedo para que me aproximasse dele. Com o
coração a bater tresloucado e com os lábios a esboçar o sorriso possível,
aproximei-me dele, sempre de braços no ar.
Estava eu a
dois passos do oficial, quando ele me perguntou sem qualquer preâmbulo:
- Que está
fazendo o senhor aqui?
- Tirando
fotografias à Casa Rosada, como vê.
- À Casa
Rosada ou aos tanques?
- À Casa
Rosada.
- Passe-me
para cá a máquina fotográfica e todos os rolos que tem no bolso.
- Mas...
porquê? – perguntei eu com todo o respeito.
- Porque eu
assim o quero e assim o mando.
E eu não
tive outro remédio senão passar-lhe a minha máquina fotográfica para as mãos e
dar-lhe os dois ou três rolos que tinha no bolso.
Como se de
um perito se tratasse, o oficial (de que arma e de que patente não sei,
ignorante que sou em ciência e hierarquia militar), abriu a máquina, tirou o
rolo, e devolveu-me a máquina sem rolo e ainda aberta. Feito o quê,
perguntou-me:
- Sabe o
senhor o que é o estado de sítio?
Assumindo a
maior tranquilidade, respondi que não, que não sabia.
- Bom,
então vou tentar explicar-lhe. Estado de sítio ... bom...estado de sítio é...bom...
olhe, estado de sítio [como é difícil definir uma coisa, caro senhor oficial!
Como eu sei isso, na minha qualidade de professor universitário!]...estado de
sítio... bom...uma pessoa suspeita, e o senhor é uma pessoa suspeita, ao apontar
uma máquina fotográfica a um tanque, em regime de estado de sítio...bom... uma
pessoa suspeita como o senhor pode ser abatida a tiro, sem que as autoridades
tenham que dar qualquer explicação ou satisfação, seja a quem for.
-
Oh...desculpe a minha ignorância...
- Vamos lá
ver. Que faz o senhor aqui em Buenos Aires?
- Estou
aqui como turista. Ainda não conhecia a Argentina e resolvi vir visitá-la.
Todos me diziam tantas maravilhas deste país, que eu resolvi vir conhecê-lo.
- Em que
hotel está?
- Estou no
hotel Hilton.
- Então
este soldado vai acompanhá-lo ao seu hotel para aí deixar a máquina
fotográfica. Depois, se de facto quiser conhecer e admirar esta bela e
encantadora cidade, aconselho-o a que vá visitar os nossos belos parques e os
nossos belos jardins e as boutiques e os salões de chá da Calle Florida e que à
noite vá à Boca ou ao tango e que saboreie os nossos deliciosos e incomparáveis
churrascos e que se esqueça da máquina fotográfica e das fotografias. Se quiser
levar recordações desta grande e bela cidade, aconselho-o não só a que compre,
ao preço da chuva, por causa dum câmbio que lhe é tão favorável, umas boas
peles de vicunha, uns belos pares de sapatos de pele e uns preciosos casacos
também de pele, mas aconselho-o também a que compre uma boa colecção de postais
ilustrados, que tem muito por onde escolher.
E,
devidamente sermonado pelo representante castrence e competente guia turístico
sobre a maneira como eu podia e devia desempenhar-me e disfrutar do meu
estatuto de turista na nova Argentina da Junta Militar (constituída pelo
General Videla e companhia), lá fui eu escoltado até ao meu hotel por um
soldado, e lá passei eu a ver Buenos Aires, com menos risco do que o que tinha
corrido até então...não sem lamentar, então e pela vida fora, que me tivessem
sido confiscados documentos fotográficos sobre o que viria a cobrir a Argentina
de vergonha perante ela mesma e perante os olhos do mundo civilizado: a
"guerra suja."
Manchester, Connecticut
António Cirurgião
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