Basílica de Nossa Senhora da Assunção, Maastricht, 11
de Março de 2018.
Entre 1904 e
1912 escreve o grande romance da sua vida, Jean-Christophe, em 10
volumes.
Jean-Christophe
Krafft é um compositor alemão e o livro acompanha-o do nascimento à morte.
No último
volume, terminada a agonia de Jean-Christophe, chegado o fim da sua vida,
entregue a sua alma ao Criador, o livro conclui com uma invocação de São
Cristóvão:
E Cristóvão
atravessou o rio. Durante toda a noite, avançou contra a corrente. Tal como um
rochedo, o seu corpo de membros atléticos emerge sobre as águas. No seu ombro
esquerdo vai a criança, frágil e pesada. E Cristóvão apoia-se num pinheiro
arrancado que verga. E o seu torso também verga. Os que o viram partir disseram
que nunca chegaria e durante muito tempo foi seguido pelas suas troças e pelos
seus risos. Mas depois caiu a noite e eles cansaram-se. Agora Cristóvão
encontra-se muito longe para que o alcancem os gritos dos que ficaram na outra
margem e por entre o ruído da corrente apenas ouve a voz tranquila da criança,
que, com a sua mãozinha segura uma mecha do cabelo revolto na fronte do gigante
e repete: Anda! E ele caminha com o dorso curvado, de olhos voltados para a
frente, fixos na margem escura, cujas escarpas começam a clarear.
E
subitamente ouve-se o coro dos sinos. Eis a nova aurora! Por detrás da falésia
que mostra a sua negra fachada, o Sol invisível sobre num céu de ouro. E
Cristóvão, prestes a cair, alcança finalmente a margem. E diz à criança:
-Eis-nos
chegados! Como és pesada! Criança… quem és tu?
E a criança
responde:
-Sou o dia
que vai nascer.
José
Liberato
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