sábado, 21 de março de 2020

Tempo Aprazado.

 
 
 
 
 
 
 
TEMPO APRAZADO
 
 
 
Vêm aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar os sapatos
e recolher os cães nos casais da lezíria,
pois as vísceras dos peixes
arrefecem ao vento.
Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
 
 
 
Do outro lado enterra-se-te a amante,
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.
 

Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe os cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!
 
 
Vêm aí dias difíceis.
 
 
Ingeborg Bachmann


(Tradução de Judite Berkemeier e João Barrento)
 
 
 
















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