TEMPO APRAZADO
Vêm aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar
os sapatos
e recolher os cães nos
casais da lezíria,
pois as vísceras dos
peixes
arrefecem ao vento.
Mortiça arde a luz dos
tremoceiros.
O teu olhar abre caminho
no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Do outro lado
enterra-se-te a amante,
a areia sobe-lhe pelo
cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a
despedida
depois de cada abraço.
Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe os cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!
Vêm aí dias difíceis.
Ingeborg Bachmann
(Tradução de Judite
Berkemeier e João Barrento)
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