Covid-19
Dicas
para Pais em tempo de pandemia: VVV
1. Medo vs Pânico
O que as crianças e os adolescentes pensam e sentem depende ainda muito
da atitude dos adultos. Eles são o principal espelho da sua estabilidade
emocional. Os medos existem e protegem-nos: são estruturantes. O pânico
desorganiza, produz mais riscos sobre uma situação de tensão. Uma função dos
pais é serem verdadeiros ansiolíticos das respostas dos filhos.
2. Informação, Conhecimento
É importante mantermo-nos informados. As novas tecnologias de informação
permitem o acesso a um mundo infinito de factos e números: geram e desfazem
expectativas e ilusões. Mas a função de filtro é muito importante nestes
momentos. Nem tudo interessa. Nem tudo é verdadeiro ou tem uma base científica.
Demasiada informação já não esclarece: confunde. Convém não esquecer nunca que
aceder a informação não é sinónimo de ter conhecimentos (muito menos
sabedoria).
3. Desligar
Habituamo-nos a estar sempre ligados, totalmente dependentes da imagem e
do ecrã, que agora já é o do telemóvel. O acesso ao que se passa no mundo exterior
é imediato, pode levar-nos directamente do interior de nossas casas a um quarto
de hospital na China ou em Itália. Ninguém se organiza emocionalmente bem se
permanecer como contínuo receptor de tudo quanto sucessivamente está a
acontecer. Limitar tempos para estar ligado, a receber informação. Gerar outros
para poder desligar, respirar o silêncio, a pausa, um certo vazio estruturante;
ajude os mais novos a fazer o mesmo.
4. Isto Não É uma Guerra
A pandemia por coronavírus não é uma guerra. É uma situação difícil que
obriga a adaptações importantes e temporárias. Todos os seres humanos estão do
mesmo lado! Estamos em família, juntos, não há pais ou filhos a partirem para
outros locais, a morrerem longe ou de forma inesperada. Por outro lado, a história
recente indica que o homem tem vencido estas batalhas, mesmo que por vezes leve
algum tempo. Há cem anos atrás (quase) todos os infectados morriam de
tuberculose. Há trinta, o mesmo se passou com o VIH e a Sida. As vacinas estão
a caminhos, outros medicamentos também. O tempo que demora a chegar a resposta
é cada vez menor!
5. Riscos; Do Possível ao Provável
Neste tipo de situação morrem, infelizmente, pessoas. São sempre os de
maior idade, os já fragilizados por outras doenças. Em 2019, nos dois picos de
gripe “comum”, só em Portugal morreram cerca de 3.300 pessoas; jamais
atingiremos este número na situação actual. Estamos a agir bem! Também no nosso
país, quando há cerca de 10 anos surgiu a epidemia por gripe A, os primeiros
dados apontavam para cerca de 2 a 3 milhões de infectados e o risco de 75.000
mortos. No final, contaram-se perto de 167.000 infectados, faleceram 122
pessoas.
6. Lidar com o Desconhecido
O que talvez mais inquiete nesta situação é o desconhecido. O que não se
vê e o que não se controla. O homem habituou-se demasiado a ter a (falsa) ideia
de que sabe e domina tudo em seu redor; o aumento da sua esperança de vida e
todos os avanços científicos e tecnológicos criaram a falsa ideia de uma
imortalidade física ou, pelo menos, de uma amortalidade, isto é, não morrer
mais de causas naturais. Mas, crentes de todos os maravilhosos avanços que conseguimos,
vale a pena respeitar um conceito de transcendência: nem tudo depende de nós.
Será que ainda conseguimos?
7. Olhar para Dentro
Viver a restrição de uma circulação pública, estar confinado a um espaço
de casa ou de quarto, obriga a parar. A cessar transitoriamente determinado
tipo de estímulos. A repensar sobre o âmago da vida, da nossa existência até.
Então, há que aproveitar para distinguir o essencial do acessório, o central do
satélite. Abandonar um registo habitualmente auto-centrado. Rever o conceito de
“ser” muito para além do “ter”; “ser no mundo” é, afinal, “ser no outro”.
8. Simplificar
Como no final de um poema de Mário Cesariny, perguntar a nós próprios:
“afinal, o que importa?” Por vezes, como referiu o arquitecto Mies van der
Rohe, “less is more”: menos é mais. Para quê tanto objecto em casa? Tanta peça
de roupa no armário? Tanto detalhe ou complicação no dia a dia? Tanta hora
presencialmente gasta no trabalho, afinal a característica maior deste novo
“homo laborans”? Eric Schumacher, economista do final do século xx, também
adiantava ao referir-se a um sistema em que as pessoas contam: “small is
beautiful”.
9. Pedir Ajuda, Manter a Esperança
As situações de tensão podem conduzir ao que designamos como um
“pensamento terminal”, sentido como sem ajuda possível ou sem sentimento de
esperança algum. Pedir e aceitar ajuda não tem que ser um sinal de fragilidade;
todos somos humanos e também nos reconhecemos em diversos pontos fracos. Pedir
ajuda pode ser apenas um sinal de humildade e lucidez. Por outro lado, a
esperança é a luz que todos recebemos, mas também aquela que emitimos. Há
coisas que, mesmo no escuro, brilham: são incandescentes. Assim também nós
temos que ser agora: luz de luz. Ou, como se ouvia numa bela canção do grupo
The Smiths, “there is a light that never goes out”
10. Prosseguir,
sendo
Há um conceito importante em saúde mental, que nos remete para a
possibilidade de prosseguir, mesmo diante de situações adversas: “going on
beign”, que apela à unidade de cada pessoa, não só enquanto ser individual, mas
sobretudo como ser social, em constante interacção com os outros. E também
recorda a ideia de que, por vezes, não é mesmo possível fazer mais nada do que
serenamente deixar fluir o tempo, boiar à tona de águas difíceis e crer que,
mesmo assim, a força da corrente nos levará em breve para a areia quente de uma
praia tranquila.
Vai tudo correr bem!
VVV… Vamos Vencer o Vírus!
Vamos pôr um V no nosso olhar, nas palavras, nos sorrisos, nos abraços e
nos beijos que, por agora, nos aconselham a não dar.
Vamos por um V às nossa janelas.
Pedro Strecht, Médico Pedopsiquiatra
plstrecht@gmail.com
Muito bom!
ResponderEliminarMuito bom mesmo! VVV já está nas minhas janelas.
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