quinta-feira, 28 de abril de 2016





impulso!

100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !

 

 

# 94 - JOSHUA REDMAN

 

 

 
Olhando hoje para trás fica-se sem saber se Joshua Redman saltou para o comboio dos anos 80 ainda a tempo de apanhar a última carruagem, ou foi pioneiro nos impasses que a geração milenária defrontou no jardim dos caminhos que se bifurcam do jazz do séc. XXI. Dos cardeais da geração de 80 apartam-no uns decisivos 10 anos de idade, além de não ter sido nado e criado em Nova Orleães. Também não se fez ao jazz a todo o pano, com vento ideológico a soprar seguro pelas costas; pelo contrário, Joshua Redman bolinou de rumo algo incerto nas águas de um jazz que ele apanhou cada vez mais encapeladas.
O jazz agora aprende-se nas escolas, o que é como jogar poker a feijões – os erros estão isentos de risco. Em vez de um vexame público, de um sopapo (fosse com Mingus…) ou de despedimento, como sucedia quando o tirocínio era feito a doer, diante de uma plateia, os noviços são hoje corrigidos com benevolência pelos mestres no aconchego dos colégios. Os abençoados pelo talento lançam-se à vida e desde logo descobrem que da universidade, à melhor, sair-se-á competente mas não artista, de modo que não podendo viver sempre de promessas, vão alimentando a vocação na qualidade de bolseiros, curadores, directores de festivais ou didactas, porque se acham – e muito justamente – credores de um estatuto financeiro e até social que o jazz já não aufere.
Neste processamento – há que pôr nisto uma entoação industrial – o curriculum vitae académico de Joshua Redman faria inveja a qualquer candidato a um gabinete de esquina em Wall Street. Liceal na Berkeley High School, cujo programa de artes está entre os melhores dos Estados Unidos, graduado em Harvard, onde foi par na selectíssima fraternidade Phi Beta Kapa, aos 23 anos culminou a sua instrução vencendo a Thelonious Monk International Saxophone Competition em 1991, o mais alto troféu a que um debutante poderia aspirar. Um menino tão endossado, como não havia Joshua Redman de ser logo o ai jesus de um jazz sequioso de sangue novo? Ainda de canudo a cheirar a bedum, foi desafiado por Elvin Jones a participar em “Youngblood”, no qual o veterano baterista o pôs à prova com outro chavalo, o trompetista Nicholas Payton. Daqui em diante, escoou toda a década de 90 tirocinando com os maiores.
 

Compass
2008
Nonesuch - 510844
Joshua Redman (saxofone tenor e soprano), Larry Grenadier (contrabaixo), Brian Blade (bateria), Reuben Rogers (contrabaixo), Gregory Hutchinson (bateria).
 
 
Entrado, todavia, o novo século, ou Joshua Redman ou o jazz, qual deles esmoreceu? O saxofonista perdera o fulgor dos verdes anos, repisando o vocabulário do hard bop? O jazz estreitava-o neste modelo, compelindo-o a procurar outro género se quisesse manter viva alguma chama? O certo, é que esfriou a relação entre ambos e Redman acumulou experiências e gravações que não sendo inteiramente bocejantes em nada realizavam as esperanças anunciadas.
Estava-se nisto quando em 2009 é publicado “Compass”. De mangas arregaçadas e colarinho desapertado Joshua Redman explora o formato clássico do trio, mas com uma torção que faz a diferença: a secção rítmica é duplicada, nuns casos na forma de um quarteto com dois contrabaixos, noutros na de um quinteto que acrescenta outra bateria à formação anterior. O toque de génio está no facto de esta ampliação, em vez de dar mais músculo à música, multiplica-lhe as vozes. Sobre esta sustentação o saxofone de Redman solta-se como nunca dantes ousara, entrega-se ao improviso, com os altos e baixos e desigualdades que ele implica, sem aquela perfeição penteadinha que costuma resultar das sessões em estúdio, bem produzidas por quem manda no equipamento. “Compass” é a prova cabal de que o melhor que a maturidade pode trazer é a desinibição e o desfastio.
 
 
 
José Navarro de Andrade
 

 

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