Entre
outras maravilhas, a exposição de Sammy Baloji e Filip de Boeck na Galeria da
Avenida da Índia, em Lisboa, levou-me a conhecer a Torre Forescom. O nome vem
da entidade que a construiu – a Société Forestrière et Commercial du Congo
(Forescom) – e o edifício foi inaugurado em 1946, selando a marca da presença
belga na então Leopoldsville, actual Kinshasa. A Forescom foi criada em 1912
pela Forminière, uma das quatro grandes companhias fundadas pelo rei Leopoldo
(sim, o sanguinário monarca cujo fantasma foi perseguido por Adam Hochshild num livro terrível de famoso). A Forminière, como o nome indica, tinha as minas por negócio; minas
de diamantes, mais precisamente. Ali, tudo era belga: a Forescom foi construída
por Henri Trenteseaux (curioso nome), arquitecto belga sobre o qual não consta
grande coisa na Internet. Num blogue sobre o passado de Kinshasa, onde estas
fotografias foram pilhadas com despudor, diz-se que Tretenseaux se fixou no
Congo em 1939 e aí desenvolveu actividade como construtor civil. Mas não foi
Trenseaux quem desenhou esta torre modernista e até brutalista, cujo formato de
ferro de engomar faz-nos lembrar – como não? – o Flatiron Building de Nova
Iorque, ainda que em pior e menos gracioso. O autor do traço foi outro
arquitecto, R. Fostier, sobre o qual a Internet também devolve quase nada, ou
muito pouco. A construção começou em 1945 e terminou em 1946, o que significa,
portanto, que durou um ano. E a Forescom até tinha ar condicionada, conforto
tropical raro para a época – e, pelos vistos, também raro nos dias de hoje em
Kinshasa, em que, como o demonstram fotografias contemporâneas, a Forescom está
bastante amarrotada.
A emulação dos arranha-céus norte-americanos era tão óbvia
e pacóvia que até lhe chamaram building,
o que não impediu a Forescom de se tornar o epicentro da modernidade na pacata
Leopoldsville: desde a câmara de comércio do Canadá até aos consulados da
Dinamarca ou da África do Sul, tudo acorreu ali. Ali, onde até meados dos anos
1960 o British Council manteve a sua biblioteca aberta ao público. Sete andares
de escritórios, mais um espaço comercial no rés-do-chão e, no topo, um clube
nocturno e um restaurante. Não é possível saber muito o que sucedeu depois.
Depois do processo de «zairição» do Congo levado a cabo por Mobutu, a torre
mudou o nome para Nioki, isto nos inícios da década de 1970. E a coisa deve ter
ido por aí abaixo, a pontos de o grande marco da história contemporânea da
Forescom ter sido a abertura, em 2006, do restaurante Taj Tandori, o que não
pressagia nada mas mesmo nada de bom. De Leopoldo a Mobutu, tristes tropiques.
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