terça-feira, 10 de abril de 2018

Forescom.

 
 
 


 
 
Entre outras maravilhas, a exposição de Sammy Baloji e Filip de Boeck na Galeria da Avenida da Índia, em Lisboa, levou-me a conhecer a Torre Forescom. O nome vem da entidade que a construiu – a Société Forestrière et Commercial du Congo (Forescom) – e o edifício foi inaugurado em 1946, selando a marca da presença belga na então Leopoldsville, actual Kinshasa. A Forescom foi criada em 1912 pela Forminière, uma das quatro grandes companhias fundadas pelo rei Leopoldo (sim, o sanguinário monarca cujo fantasma foi perseguido por Adam Hochshild num livro terrível de famoso). A Forminière, como o nome indica, tinha as minas por negócio; minas de diamantes, mais precisamente. Ali, tudo era belga: a Forescom foi construída por Henri Trenteseaux (curioso nome), arquitecto belga sobre o qual não consta grande coisa na Internet. Num blogue sobre o passado de Kinshasa, onde estas fotografias foram pilhadas com despudor, diz-se que Tretenseaux se fixou no Congo em 1939 e aí desenvolveu actividade como construtor civil. Mas não foi Trenseaux quem desenhou esta torre modernista e até brutalista, cujo formato de ferro de engomar faz-nos lembrar – como não? – o Flatiron Building de Nova Iorque, ainda que em pior e menos gracioso. O autor do traço foi outro arquitecto, R. Fostier, sobre o qual a Internet também devolve quase nada, ou muito pouco. A construção começou em 1945 e terminou em 1946, o que significa, portanto, que durou um ano. E a Forescom até tinha ar condicionada, conforto tropical raro para a época – e, pelos vistos, também raro nos dias de hoje em Kinshasa, em que, como o demonstram fotografias contemporâneas, a Forescom está bastante amarrotada.
 
 
 
 
A emulação dos arranha-céus norte-americanos era tão óbvia e pacóvia que até lhe chamaram building, o que não impediu a Forescom de se tornar o epicentro da modernidade na pacata Leopoldsville: desde a câmara de comércio do Canadá até aos consulados da Dinamarca ou da África do Sul, tudo acorreu ali. Ali, onde até meados dos anos 1960 o British Council manteve a sua biblioteca aberta ao público. Sete andares de escritórios, mais um espaço comercial no rés-do-chão e, no topo, um clube nocturno e um restaurante. Não é possível saber muito o que sucedeu depois. Depois do processo de «zairição» do Congo levado a cabo por Mobutu, a torre mudou o nome para Nioki, isto nos inícios da década de 1970. E a coisa deve ter ido por aí abaixo, a pontos de o grande marco da história contemporânea da Forescom ter sido a abertura, em 2006, do restaurante Taj Tandori, o que não pressagia nada mas mesmo nada de bom. De Leopoldo a Mobutu, tristes tropiques.
 

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