segunda-feira, 4 de maio de 2015

Chá no Chile.

 
 
 





Veio do Chile, passou pelo IDFA em Amesterdão e agora vai à XII edição do DocumentaMadrid. Apanhámo-lo no trajecto pois é das coisas que Malomil mais aprecia: histórias de pessoas. Se atravessarem o passar do tempo, melhor ainda.

         É o caso deste filme documental, La Once. Desde pequena, a cineasta chilena Maite Alberdi via a sua avó tomar chá com um grupo de amigas. Uma vez por mês, todos os meses do ano, mesmo que chovesse em Santiago. Andam nisto há 60 anos. Maite Alberdi, como é evidente, só apanhou uma parte da história sexagenária, os últimos cinco anos. Desde 2009, todos os meses aguardava a reunião das cinco senhoras que andam a tagarelar e a mexericar há seis décadas. Não falham um encontro, são antigas amigas do colégio e assim se mantiveram pela vida fora. Falam do passado, da morte circundante e, como é natural, muito pouco do futuro.
 
 
 
            Presenciamos apenas a recta final deste grupo de senhoras, mas pomo-nos logo a pensar, muito cuscas: de que falariam quando eram mais novas? Comentariam a vida política, Allende e Pinochet? As torturas e as mortes, os desaparecidos? Na sinopse do filme, disponível no site que o acompanha (http://www.teatimethemovie.com), refere-se que estas senhoras, por origem e formação, têm uma orientação conservadora. Mas dá-se a entender que algumas divergências políticas terão provocado discussões acesas no interior do grupo. Mas, por maiores que fossem as discrepâncias de opinião – e bem fortes elas terão sido, num país tão dilacerado –, jamais foram capazes de abalar a amizade antiga, forjada nos bancos de colégio. Há gente estúpida capaz de se zangar por diferenças de opinião. Outros, pior ainda, fazem da ideologia uma fronteira de inimizade. Não percebem que, com isso, só se empobrecem, e empobrecem a vida toda. A vida deles e a nossa, a nossa comunidade de destino. Aqui não aconteceu nada disso. Durante 60 anos, prevaleceu o bom senso e a amizade.  Mesmo chovendo em Santiago, o ritual manteve-se, entre bolos de creme e maquilhagens carregadas. Conservador, talvez. Encantador, sem dúvida.







 
 

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