Entre a meia-dúzia de génios que
Portugal produziu no século XX, Zeca Afonso foi um deles. Podem questionar,
impugnar, discordar, o que quiserem. É a minha opinião, subjectiva. Para
opiniões objectivas existem outros lugares na Rede, de acesso livre e até mesmo
sem publicidade. É também sem intuitos publicitários que se louva O Último dos Colonos. Entre um e outro mar,
que acaba de desaguar pela mão de João Afonso dos Santos. São as memórias de
João, não de José. Mas a presença de Zeca está lá, em cada página. Não deve ser
fácil ter um irmão genial. João Afonso dos Santos convive muito bem com isso –
e até já dedicou um livro ao irmão mais novo, com um terno subtítulo: Zeca Afonso. Um olhar fraterno. Agora,
neste primeiro volume das suas memórias, que começam pelo nascimento em
Portugal, atravessam África colonial e terminam em Timor sob invasão nipónica, João Afonso dos Santos traz-nos uma narrativa
exemplar: nostálgica ma non troppo,
com pinceladas bem-humoradas, uma ou outra alusão reveladora da sua cultura sólida,
própria de uma época (os filmes de Tati, os romances de Bernanos ou Hemingway...).
O livro acaba algo abruptamente, terminando com dois extensos documentos
escritos pelo pai de João e José. Aguarda-se o segundo volume,
que finda em 1975. Porque não um terceiro volume?
Sobre Zeca Afonso muita coisa já está
escrita e dita. Inclusivamente, já existem biografias, algumas de qualidade. Mas, para a feitura de
uma obra mais encorpada, como o seu génio tanto merece, este livro de João será, doravante,
referência fundamental. Atenção, porém: O Último
dos Colonos é uma obra de memória que vale por si – e vale muito a pena ser lida.
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