sábado, 26 de maio de 2012

Beijos fatais.

.
.
.


Régis Bossu é um dos grandes fotojornalistas europeus da actualidade, com imagens fabulosas sobre os ex-países do bloco Leste e os seus líderes. Captou a celebérrima cena do acalorado beijo entre Brejnev e Honnecker, uma história extraordinária que pode ver aqui ou aqui.

Régis Bossu, 1979



Muro de Berlim. As autoridades mandaram apagar o grafito,
o que gerou polémica, que pode acompanhar aqui

Pintura de Dmitry Vrubel, com história aqui

Dmitry Vrubel e Régis Bossu. Ver a história aqui


Régis Bossu, 1994




No livro As Três Vidas, de João Tordo, é usada na capa uma imagem de Bossu. A ficha técnica refere-o e indica a utilização de um banco de imagens. Alguns leitores deste blogue têm colocado o problema do pagamento de direitos de autor. Não é esse o caso. O problema está em que, da imagem de Bossu, que retrata o genial Philippe Petit no arame (a não perder Man on Wire/O Homem no Arame!), apenas aproveitaram um bocadinho, o retrato do artista. Tudo o resto foi rasurado e «tratado». Compreende-se. Acrescentaram uma imagem de Nova Iorque e «limparam» o resto da fotografia. Petit andou nas Torres Gémeas há muito tempo. Mas a fotografia de Bossu é de 1994 e retrata… Frankfurt, como se indica aqui. Fácil: é só tirar Frankfurt de cena e acrescentar o skyline de Manhattan. Fácil. Só que deturpa tudo: nunca foi tirada uma fotografia de Petit daquele ângulo. Aliás, era um enquadramento impossível. O passeio de Petit foi em Nova Iorque e em 1974. A foto de Bossu é de Frankfurt e de 1994. Vinte anos de diferença, um Atlântico de distância.

Nada tenho contra o «tratamento» de imagens, com «limpeza» do fundo ou realce de um pormenor, sobretudo quando são imagens do domínio público, obras não protegidas. Mas este caso parece-me extremamente ilustrativo de um abuso. Aqui, sim, pode colocar-se uma questão de direitos (morais) de autor. Desconheço que tipo de contratos fazem os fotógrafos com os bancos de imagens. Mas duvido muito que um fotógrafo como Bossu autorize a que as suas obras sejam manipuladas de forma tão grosseira. O ponto é grave porque demonstra, para mais, que os escritores ou estão reféns das grandes editoras, ou condescendem com este abuso de obras de colegas de outros ofícios (os fotógrafos) ou pura e simplesmente não se importam com o que fazem nas capas dos seus livros.



António Araújo  

Sem comentários:

Enviar um comentário