segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ao País. O primeiro manifesto do Partido Comunista Português.

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PT/TT/PIDE/001/00001, descrição aqui
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Aos treze dias do mês de Março de 1922, eram ainda sete da manhã, José Carlos Rodrigues Frias, barbeiro de vinte anos de idade, foi detido em sua casa, um rés-do-chão na Calçada de São Vicente, em Lisboa.
 
O guarda Afonso Vaz apalpou-o na esquadra, descobrindo nos interstícios da algibeira o manifesto «Ao País». O exemplar guardado no bolso do barbeiro é o primeiro documento de propaganda da história do Partido Comunista Português.
 
José Carlos Rodrigues Frias, disse, não tinha ideais políticos – nem sociais. Era sócio da associação dos empregados de barbearia de Lisboa, por dever de ofício, e frequentara a Juventude Sindicalista, por amor ao teatro. E não teve qualquer intervenção na greve da Carris.
 
Uma história pequenina no meio da História grande.





António Araújo   







1922


Processo Nº 52 – S


Arguido



José Carlos Rodrigues Frias





Exm Snr.

Para os fins que julgar convenientes faço apresentar a V.Exa.  José Carlos Rodrigues Frias, de 20 anos de idade e morador na Calçada de S. Vicente nº 103 R/C, que hoje pelas 7 horas foi por mim detido na casa da sua residência por ordem superior, onde lhe foi passada uma busca que não deu resultado algum, apalpado nesta esquadra foi-lhe encontrado na algibeira um pespeto [sic] que junto se remete. Foi acompanhado na busca pelos guardas nº 619 Joaquim Dias, e 929 António Freire Leal.

                                                        Lisboa 13 de Março de 1922
O Guarda nº 1910
Adolfo Vaz







AUTO DE PERGUNTAS


Em quinze de Março de mil novecentos e vinte e dois, no Forte de Sacavém, onde vim por ordem do Excelentíssimo Director da Polícia de Investigação Criminal perante mim José Batista da Fonseca, agente da mesma polícia.
Compareceu o preso José Carlos Rodrigues Frias
que diz ser filho de António Rodrigues Frias
e de Conceição da Graça
ter vinte anos, de profissão barbeiro
natural de Porto
e residente na Calçada de São Vicente, número centro e três, rés-do-chão
À matéria dos autos disse: Que não tem ideal algum político ou social, estando apenas filiado na associação dos empregados de barbeiros de Lisboa a cuja classe pertence e que sendo certo que já foi sócio da Juventude Sindicalista, foi-o somente com o fim de até ensaiar vários elementos para uma peça dramática e não com quaisquer fins sociais, tendo já deixado aquela actividade há cerca de mês e meio, tendo por isso pertencido ali apenas um mês. Que o manifesto que lhe foi aprendido quando foi detido, lhe foi entregue na [?] casualmente por um indivíduo que não conhece. Que não tem a menor intervenção na greve da Companhia Carris, como também não é autor dos atentados contra os carros a ela pertencentes, nem mesmo sabe quem praticou tais atentados, como igualmente nada sabe com referência à greve geral revolucionária, a não ser o relato dos jornais. Que é barbeiro e trabalha na barbearia da Rua do Salvador, número centro e três, pertencente a Benjamim da Cruz. E mais não respondeu. E para constar lerei o presente auto que lido ao respondente o achou conforme pelo que o vai assinar comigo José Baptista da Fonseca que o escreveu:
José Baptista da Fonseca
José Carlos Rodrigues Frias




 AUTO DE PERGUNTAS


Em trinta de Março de mil novecentos e vinte e dois no Forte de Sacavém onde vim por ordem do Excelentíssimo Senhor Director da Policia de Investigação Criminal, perante mim Clemente Garcia, Agente da mesma policia.
Compareceu o preso, José Carlos Rodrigues Frias
que diz ser filho de António Rodrigues Frias
e de Conceição da Graça
ter vinte anos, de profissão barbeiro
natural do porto
e residente na Calçada de São Vicente número centro e três, rés do chão
À matéria dos autos disse: Que confirma as sua anteriores declarações, e acrescenta que não pode precisar qual o número de sócio que teve quando pertenceu à Juventude Sindicalista, em virtude de nunca ter tido caderneta, porquanto apenas foi filiados na mesma Juventude cerca de um mês, tendo deixado de ser sócio acerca de mês e meio, pois que apenas para ali tinha entrado com o fim de ensaiar o Grupo dramático da mesma Juventude, o que não pode entretanto provar em virtude de nem conhecer os membros daquele Sindicato. E mais não respondeu. Lidas as suas respostas as ratificou e assina com as testemunhas José Rodrigues da Cruz e António Moraes Agentes desta polícia e comigo que as escrevi.
José Carlos Rodrigues Frias
José Rodrigues da Cruz
António Moraes
Clemente Garcia 






A documentação referente a este processo encontra-se disponível no Arquivo da PIDE-DGS, consultável na Torre do Tombo.

2 comentários:

  1. Não entendo: PIDE em 1922??

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  2. No texto não é referida a PIDE, mas a Polícia de Investigação Criminal. Simplesmente, a documentação da Polícia de Investigação Criminal transitou para a PVDE e, depois, para a PIDE, pelo que se encontra nos arquivos desta última, na Torre do Tombo.
    António Araújo.

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