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Já aqui disse, várias vezes, e repito, que o mundo é um lugar estranho. Perante a mixórdia de temáticas hoje aqui apresentada, direi mesmo que o mundo é um lugar muito estranho. Vamos lá a isto:
....Nos arcaicos tempos da repressão sexual, havia mulheres-objecto e homens-objecto. Era um mundo a preto e branco, como as emissões televisivas do TV Rural e o Koniec do Vasco Granja. Agora, a realidade que nos circunda tem muito mais cor e calor. Há gente que, por exemplo, se apaixona por objectos. Não, não me estou a referir àqueles sapatos Manolo Blahnik que sempre desejou ter a seus pés. Refiro-me a gente que se apaixona mesmo por objectos. Numa altura em que o grosso da populaça vai mais para o sexo ocasional ou, quando muito, para a união de facto, os intrépidos amantes de objectos optam pela via crucis do matrimónio. Antes que cases, vê o que fazes… lá dizia o azulejo colocado nos umbrais das portas, nas aldeias do Portugal cândido e pacóvio doutros tempos, tempos em que havia chefes de família e em que uma sardinha dava para três.
....Nos arcaicos tempos da repressão sexual, havia mulheres-objecto e homens-objecto. Era um mundo a preto e branco, como as emissões televisivas do TV Rural e o Koniec do Vasco Granja. Agora, a realidade que nos circunda tem muito mais cor e calor. Há gente que, por exemplo, se apaixona por objectos. Não, não me estou a referir àqueles sapatos Manolo Blahnik que sempre desejou ter a seus pés. Refiro-me a gente que se apaixona mesmo por objectos. Numa altura em que o grosso da populaça vai mais para o sexo ocasional ou, quando muito, para a união de facto, os intrépidos amantes de objectos optam pela via crucis do matrimónio. Antes que cases, vê o que fazes… lá dizia o azulejo colocado nos umbrais das portas, nas aldeias do Portugal cândido e pacóvio doutros tempos, tempos em que havia chefes de família e em que uma sardinha dava para três.
Apresentemos Erika Eiffel. Tendo ponderado os prós e contras das uniões nupciais, com o auxílio da sempre arguta Drª Fátima Campos Ferreira, a Srª D. Erika Eiffel matrimoniou-se com a Torre Eiffel, adoptando o apelido da consorte. A cerimónia culminou uma vida muito pautada por amores inconstantes, que começou na juventude por uma paixoneta inconsequente por uma ponte situada à beira da casa de seus pais. É só ver o vídeo acima. Aliás, Erika não é caso único, pois toda a gente ama a Torre Eiffel, não é verdade, João? Adiante, private joke. A Srª Eiffel e a Torre conheceram-se em 2004. Foi o coup de foudre. Casaram em 2007, após três anos de namoro. Mas, calma aí, namoro à antiga. Na verdade, não consta que, durante os três anos de namorico, Erika e a Torre tenham dormido sob o mesmo tecto, até porque não é assim lá muito prático meter em casa uma obra de 324 metros de altura e 7.300 toneladas de peso. Há as miniaturas da Torre em plástico, é certo, mas não eram elas que agitavam o coração de Erika. Esta gostava mesmo era da Torre, da verdadeira, de rijo ferro, terminando em ponta. Erika não ia em réplicas. No ano de 2009, o casal Eiffel comemorou, com um jantar só para a família e amigos, dois anos de vida nupcial. Compareceram os sogros de ambos, tendo o pai Gustave bebido o seu copito a mais da champanha, o que o levou a embater o automobile nas traseiras da Notre Dâme, que ficou lívida e perdeu a cor, ficando branca como a cal, mas manteve a compostura pétrea que todos bem conhecemos de há muitos séculos.
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Nascida em 1972, com o nome de baptismo Erika LaBrie, a rapariga integrou os corpos da Força Aérea norte-americana, facto que explicará alguns insucessos registados pelos E.U.A. lá por bandas do Afeganistão, do Irão, do Paquistão e de outros países terminados em «ão», como o Marão (Para além do Marão…). Uma noite, no quartel, Erika foi alvo de uma tentativa de abuso sexual, tendo-se defendido com um sabre japonês. Até estou arrepiado só de pensar no que terá acontecido ao coitado do alferes. Um abusador, é certo, mas aquilo ninguém merece. Como informa a Wikipedia, depois do incidente os médicos concluíram que Erika sofria de stress pós-traumático, uma vez que, desde então, tinha sempre na cama, agarradinho a si, o sabre nipónico. Coisas… Mais tarde, tornou-se arqueira premiada (segundo diz, o seu sucesso deve-se à relação sentimental que mantém com o arco de competição). Erika «Aya» LaBrie, agora Erika Eiffel, fundou a OS Internationale (Objectùm Sexuality Internationale), uma organização não-governamental (ONG) que tem como associados todos os que possuem e assumem esta inclinação afectiva, que tecnicamente se chama «objectofilia». Na Alemanha há por lá muito disso, ao que parece. Até cunharam um termo próprio, Objektphil. Entre nós, exceptuando aquela quezília amorosa entre o Dr. Santana Lopes e a Pala do Sporting e a duradora relação entre José Castelo Branco e a estátua da Betty, desconhecemos situações de objectofilia. Neste como noutros planos, somos um país periférico, como diria o Prof. Boaventura. Em todo o caso, devemos estar atentos a potenciais atitudes negativamente discriminatórias. Trata-se de uma orientação sexual minoritária, é certo, mas que devemos respeitar, em nome do princípio da igualdade, inscrito da Constituição da República.
Há um mundo de questões que se descobre, um vendaval de problemas inesperados que a objectofilia suscita. Desde logo, não é fácil obter o imprescindível consentimento do objecto amado. Como é que o oficial do registo sabe se a Ponte Vasco da Gama quer mesmo casar comigo? Ou a Torre dos Clérigos com a Deputada Isabel Moreira? E o Cristo-Rei com Isilda Pegado? A sexualidade com objectos é também um domínio que suscita inúmeros problemas, como a Drª Marta Crawford nos tem elucidado à saciedade. Além da objectofilia, verifica-se igualmente a «urbanofilia» («Amor a Lisboa», proclamam sempre bem alto vários cartazes eleitorais). Ou a «hidrofilia». Todos sabemos, até porque o próprio não o esconde, que Pedro Miguel Ramos tem um caso tórrido com o rio Tejo vai para muitos anos. E isto, pasme-se, perante o olhar complacente da esposa, a actriz Fernanda Serrano. Amo.te Tejo.
Objectofilia |
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No universo da objectofilia, ele há gente que se embeiça por automóveis, outra que sente atracções irresistíveis por gradeamentos e cercados, outra ainda que dá umas voltinhas ocasionais com balaustradas. Os atrevidos atiram-se a mais altos voos, reclamam amantes possantes, de maior porte. A Srª Erika Eiffel, antes de estar casada com a Torre de Gustave, manteve uma relação de 20 anos – repetimos: 20 anos, uma vida! – com o Muro de Berlim. O Muro, coitadito, ficou inconsolável ao ver-se trocado por aquela lambisgóia da Torre, francesinha. De corazón partido, abriu fendas e tombou para o lado. História triste, mas comovente, que até já deu um espectáculo musical. História triste, decerto, não fora o facto de a mágoa irreparável do Muro ter permitido, volvidos quarenta anos de dolorosa ruptura conjugal, que se concretizasse, enfim, a relação sáfica entre as duas Alemanhas. Em 1989, a Federal e a Democrática juntaram os trapinhos – e o mundo todo viu e chorou, emocionado. Agora, está-se-me a Europa inteira em maus lençóis. E de quem é a culpa? Da Erika, claro. Não te percebo, rapariga. Tu tinhas-me a vida feita com o Muro de Berlim, que era rapaz tímido e de poucas falas, mas sólido nos relacionamentos, que não te faltava com nada em casa, e vais-te encrençar pela Torre Eiffel?
A ruptura com o Muro de Berlim |
Foi difícil, também para ela. 20 anos de relacionamento. Não são 20 dias |
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Há quem leia estas linhas e julgue que estou a brincar. Não. A brincar andam eles. E à nossa custa. Sustentar a Torre Eiffel ou o Muro de Berlim não deve sair nada barato. E quem paga, é a Erika do arco e flecha? Ainda a estou mas é a ver pedir uma pensão de alimentos ou queixar-se de maus-tratos conjugais. Daqui a uns tempos, assevero, Erika LaBrie, bonita como veio ao mundo, irá trocar a Torre Eiffel pela mais pontiguada Pirâmide de Gizé ou pelo exótico Taj Mahal. Sou eu que sou intriguista, ai é? Vão falar com o Muro de Berlim e ele vos contará o calvário que passou naqueles vinte anos com esta Erika endiabrada. O que o rapaz aturou naqueles vintes anos... Conto-vos só uma: não é que enquanto o Muro trabalhava de sol a sol, como um alemão brioso, a menina teve um affair com a Golden Gate, em São Francisco? Porca.
Uma escapadela amorosa com a Golden Gate |
Haverá quem pense que isto é só fogo-de-vista, que tudo não passa de uma parvoeira para consumo das multidões. Por mim, mantenho o que disse no início: o mundo é um lugar estranho. Um mundo estranho que alguns entranham radicalmente. Conhecem Kenneth Pinyan, o malogrado engenheiro da Boeing? Viram, a respeito dele, o documentário Zoo, que marcou o Festival Sundance em 2007 e foi escolhido para ir a Cannes? Ouviram falar desse caso bizarro, que ficou conhecido por Enumclaw horse sex case? Para não ser porco em pormenores vou ser parco em detalhes e ficamo-nos por aqui, está bem? Quem quiser detalhes (sórdidos e mórbidos), clique nos linques.
Sendo Erika LaBrie e a Torre Eiffel dois adultos, maduros e esclarecidos, no pleno uso das suas faculdades mentais, nada há a opor. A vida é deles, cada um sabe de si. Sobram dúvidas, porém, quanto à magna questão do consentimento. Todos sabemos que há muito monumento que anda a ser abusado vai para muitos, muitos anos. Para obviar a isso, criou-se a UNESCO, certo? Em Portugal, então, proliferam casos de violação arquitectónica, estupro de azulejos barrocos, um fartar vilanagem de Norte a Sul do território. Pois é tempo de instituir uma ONG que defenda estas vítimas de abusos, sexuais e outros, por parte dos objectófilos. Que estes apreciem monumentos, até é prova de bom gosto. Mas alguém perguntou a opinião da Torre Eiffel ou do Muro de Berlim? Não estaremos perante casos de violência que mereceriam ser objecto de investigação? Insofismavelmente, andam a abusar do Mosteiro dos Jerónimos. E não, não me refiro a pombas e gaivotas. Falo doutras aves d’arribação. Refiro-me a esta gente da objectofilia. Por ali, turismo sexual é mato. Todos os dias, hordas de objectófilos entram portas adentro do Museu de Arqueologia, julgando estarem perante a jóia do manuelino português. Logo depois, regressam disciplinamente aos autocarros. O que entristece é que tudo isto, uma pouca-vergonha, se passa nas barbas das autoridades, à vista de todos. A polícia, como sempre, não quer actuar, só autuar. E os tribunais… os tribunais são o que a gente sabe. É urgente, pois, fundar a Associação dos Monumentos e Sítios Abusados e Vítimas de Violência Objectófila.
....O mundo é um lugar estranho. E eu, um estranho neste lugar.
Cartaz de Zoo |
Kenneth Pinyan (1960-2005) |
Sendo Erika LaBrie e a Torre Eiffel dois adultos, maduros e esclarecidos, no pleno uso das suas faculdades mentais, nada há a opor. A vida é deles, cada um sabe de si. Sobram dúvidas, porém, quanto à magna questão do consentimento. Todos sabemos que há muito monumento que anda a ser abusado vai para muitos, muitos anos. Para obviar a isso, criou-se a UNESCO, certo? Em Portugal, então, proliferam casos de violação arquitectónica, estupro de azulejos barrocos, um fartar vilanagem de Norte a Sul do território. Pois é tempo de instituir uma ONG que defenda estas vítimas de abusos, sexuais e outros, por parte dos objectófilos. Que estes apreciem monumentos, até é prova de bom gosto. Mas alguém perguntou a opinião da Torre Eiffel ou do Muro de Berlim? Não estaremos perante casos de violência que mereceriam ser objecto de investigação? Insofismavelmente, andam a abusar do Mosteiro dos Jerónimos. E não, não me refiro a pombas e gaivotas. Falo doutras aves d’arribação. Refiro-me a esta gente da objectofilia. Por ali, turismo sexual é mato. Todos os dias, hordas de objectófilos entram portas adentro do Museu de Arqueologia, julgando estarem perante a jóia do manuelino português. Logo depois, regressam disciplinamente aos autocarros. O que entristece é que tudo isto, uma pouca-vergonha, se passa nas barbas das autoridades, à vista de todos. A polícia, como sempre, não quer actuar, só autuar. E os tribunais… os tribunais são o que a gente sabe. É urgente, pois, fundar a Associação dos Monumentos e Sítios Abusados e Vítimas de Violência Objectófila.
....O mundo é um lugar estranho. E eu, um estranho neste lugar.
António Araújo
muito bom :)
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