Krutchev, de dedo em riste |
Nixon, de dedo em riste |
Não existia um encontro oficial entre soviéticos e americanos desde 1955, quando se avistaram em Genebra. Em Julho de 1959, o então vice-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, desloca-se a Moscovo, onde participa na inauguração da American National Exhibition. Para esta exposição, que exaltava a american way of life, foi construída uma réplica perfeita de uma típica casa norte-americana de um subúrbio de classe média. Nixon quis mostrar a Krutchev os avanços dos Estados Unidos e a superioridade do capitalismo sobre o comunismo, usando como argumento a ultra-moderna e bem equipada cozinha made in USA. O caldo entornou e, sempre de sorriso nos lábios, os dois líderes trocaram uma série histórica de alfinetadas e mesmo de acusações recíprocas, algumas delas em tom brutal, como era apanágio de Krutchev. Uma acesa troca de galhardetes, em que cada uma das partes provocava demonstrar que o «seu» sistema era melhor do que o do adversário. No final, tudo acabou em bem, com Krutchev a provar uma Pepsi-Cola – segundo se diz, o primeiro produto ocidental a obter comercialização na terra dos sovietes. Os debates foram objecto de gravação pela TV (ponto que o ardiloso Nixon salientou...), o que fez toda a diferença e muito contribuiu para que este tenha sido um dos momentos mais visíveis – e curiosos – do confronto entre o Ocidente e o Leste. A Guerra Fria numa cozinha servida por grandes chefes da política, de permeio com outras personalidades fundamentais, os intérpretes. O histórico Kitchen Debate e o modo como Richard Nixon, mesmo jogando em terra alheia, esteve à altura do humor ácido e das tiradas ferozes do adversário contribuíram decisivamente para aumentar a sua popularidade junto do povo americano, sendo um elemento-chave da sua trajectória política vindoura – que terminou da triste forma que conhecemos. Existem versões mais completas dos debates, aqui e aqui (a luta não se travou apenas na cozinha) e transcrições em texto. Mostramos apenas uma parte, imperdível, de um dos momentos de quezília entre sorrisos. No fundo, um pugilato entre dois mestres da encenação, com avanços e recuos, ataques brutais e promessas de cooperação fraterna. O humor foi a grande arma, mas ambos quiseram mostrar, até para consumo interno dos respectivos países, que eram líderes firmes e que não se deixavam intimidar. Um encontro memorável:
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Krutchev e Pepsi-Cola, sob o olhar atento de «Trickie Dickie» |
Rampa de lançamento, até ao Watergate |
António Araújo
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