domingo, 6 de maio de 2012

Dia da Mãe.

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Na vida já vi milhares de imagens. Mas nenhuma como esta. Hesitei muito em publicá-la. Anda há anos na minha cabeça. Pensei várias vezes se tinha o direito de a divulgar aqui. A imagem foi captada nas imediações de Ivangorod, na Ucrânia, e mostra a execução de alguns judeus. Aparentemente, pelos Einsatzgruppen, mas há outras versões do que se passou. Enviada da frente Leste para a Alemanha, foi interceptada nos Correios de Varsóvia por um membro da resistência polaca que recolhia documentação sobre os crimes de guerra nazis. O original era propriedade de Tadeusz Mazur e do grande Jerzy Tomaszewksi e encontra-se hoje nos Arquivos Históricos de Varsóvia. Nas costas da fotografia, uma anotação fria, burocrática: «Ukraine 1942 - Judenaktion in Iwangorod». Os historiadores revisionistas negam a autenticidade desta imagem, com argumentos que não convencem. Eis uma razão suplementar para publicá-la. Que muitos a vejam e alguns a discutam, se quiserem. Fazê-lo no Dia da Mãe pode parecer um expediente manipulatório ou demagógico. Sinceramente, não é. Acreditem. Reparem que a mãe tem as pernas flectidas, o corpo encolhido sobre si próprio. Não sei se por ter sofrido já o impacto da bala na nuca. Ou talvez para melhor amparar e proteger o filho, que ela ergue do chão e chama a si naquele instante. Então, morreu abraçada ao que mais amava – o que converte esta fotografia numa imagem terrivelmente bela, símbolo do eterno amor materno. Quis morrer abraçada ao filho, pois poderia tê-lo largado na ansiedade tremenda do momento final. Nas representações clássicas das madonnas e pietás, é a mãe que tem nos braços o filho morto. Aqui, passa-se o inverso. Esta não é uma representação clássica. Aliás, desejamos que o não seja, nunca mais. Desconheço o que aconteceu à criança – possivelmente, o pior. Daqui a uns tempos, escreverei mais longamente sobre esta imagem. Hoje, publico-a apenas para que o leitor pense e medite – no Dia da Mãe.  

António Araújo    




2 comentários:

  1. não haveria Mãe que não o fizesse.

    as Mães são únicas.

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  2. Obrigado pelo blogue. Aprendo sempre mais alguma coisa sempre que aqui venho.

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