impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
#73 - JOE HENDERSON
Fotografia de Francis Wolf
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O percurso do jazz
ao longo do século não se conforma a um calendário medido em décadas, nem
sequer ao decálogo dos géneros que no tempo se foram determinando, porque
qualquer uma destas craveiras é demasiado asséptica e distinta quando se quer
enfiar nelas a obra de um músico. Pega-se num intérprete e repara-se que a sua
obra, mais do que descrever uma linha de evolução – fenómeno que, como se sabe,
não existe nas artes – vai serpenteando ao correr de soluções de continuidade,
interferências e influências de outras personalidades, inspirações repentinas,
arritmias, com fases de aceleração e fertilidade e outros de quase inércia.
Sendo isto uma
apreciação prosaica, ainda assim é possível dizer sem paradoxo que a carreira
de Joe Henderson deduz-se das circunstâncias peculiares da década de 60, época
impregnada da sensação, não de todo errónea, de que a história do jazz já tinha
sido feita. Como chegou “tarde” Henderson não participou nas irmandades que
deram origem ao bebop ou ao cool e muito menos incorporou a legião de órfãos
das esvaídas big bands que durante os anos 50 saltitava de clube em clube na
Rua 52 acompanhando as cabeças de cartaz ou provocando jam sessions.
Porém, Joe
Henderson foi ainda tempo de saltar para o comboio do hard bop. Talvez por
falta de espaço, oportunidade ou sorte para afirmar o seu nome como cabeça de
cartaz, mostrou consistência mais do que suficiente para que a Blue Note o
adoptasse como uma espécie de avençado. Desmente a suposta menoridade de tal
estatuto o facto de Henderson ter estado envolvido com destaque nas gravações
cruciais daquele período: “Song For My Father” e “The Cape Verdean Blues” de Horace
Silver; “The Sidewinder” de Lee Morgan; “Iddle Moments” de Grant Green; “Unity”
de Larry Young; “The Real McCoy” de McCoy Tyner. Não haja todavia a tentação de
desvendar nesta omnipresença uma eminência parda mas antes concluir que Joe
Henderson era considerado por qualquer líder de formação como um asa
extraordinariamente fiável, capaz de vitalizar uma sessão.
Page
One
1963 (2005)
Blue Note - 6473
Joe Henderson
(saxofone tenor), Kenny Dorham (trompete), McCoy Tyner (piano), Butch Warren (contrabaixo),
Pete La Roca (bateria).
Em
1992, aos 55 anos de idade, Joe Henderson publicou o disco “Lush Life: The
Music of Billy Strayhorn” aproveitado pela comunidade do jazz para agraciá-lo
com uma merecida mas tardia entronização. Nem por isso injustificados, terão
sido tributários e indemnizadores os elogios despendidos à obra, mas
louve-se-lhes o mérito de valorizarem o trabalho de Henderson desde a sua
primeira página.
“Page
One” foi editado no pouco prolífico ano de 1963 e passou como uma peça
consuetudinária do jazz de então. Hoje poder-se-á ouvi-lo como o excelente
exemplo de uma geração que nunca o foi porque o destino, ou o diabo por ele,
não permitiu – outros gigantes recebiam todas as atenções – e na qual se
definiram músicos relevantes sem que tivessem sido principais como Lee Morgan,
Stanley Turrentine, Booker Erwin, Kenny Dorham, Eric Dolphy, Donald Byrd, Hank
Mobley, etc…
Na
verdade o jazz actual e, sobretudo, a memória do jazz, deve, muito mais do que
a outros, a estes “carregadores de piano” que consolidaram o mainstream e
mantiveram a chama acesa.
José Navarro de Andrade
Grande musico mais uma agrande cronica.
ResponderEliminarAproveito este espaço para uma modesta mas sincera opinião acerca da questão Nobel-Bob.
Francisco Buarque de Holanda provavelmente um obscuro escritor e cantautor para a academia sueca estaria muito bem com o próximo(como vem não quero retirar este ao Bob).Sei que é uma loucura pensar que um representante da cultura pop não anglo saxónica possa sonhar com isso mas não ficava bem comigo se não o dissesse em público.Desculpem.
Muito obrigado pelo seu comentário.
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