Já
aqui se falou de Susan Lowndes (1907-1993), e do livro Duas
Inglesas em Portugal. Uma viagem pelo país nos anos 40. Recentemente, foi publicado, com organização de Ana Vicente,
Catolicismo em Portugal. Crónicas de Susan Lowndes, correspondente britânica (1948-1992). O título evidencia já
o amplo arco temporal das notas de Susan Lowndes, enviadas para o Reino Unido.
Não é difícil perceber o interesse extraordinário desta obra para compreender a
evolução do catolicismo português ao longo de várias décadas e para a História
da Igreja no século XX, em ditadura e em democracia. Escolheu-se, entre muitas
opções possíveis, as crónicas elaboradas a propósito da célebre vigília da
Capela do Rato. Acrescentou-se a crónica relativa ao 25 de Abril.
8
de Janeiro de 1973
Grupo
organizador de vigília pela Paz preso em Portugal
Lisboa,
Portugal – cerca de 50 pessoas foram presas em Lisboa enquanto realizavam uma
vigília pela paz em que se salientava a guerra entre os nacionalistas negros e
o governo nos territórios sob administração portuguesa. A maioria dos detidos
foi imediatamente libertada. Mas, segundo se diz, 12 continuam presos,
incluindo três padres, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, sobrinho de um
antigo embaixador de Portugal nos Estados Unidos, e o Prof. Carreira [sic] de Moura, um economista
proeminente. Portugal tem sido acusado de reprimir brutalmente os movimentos
negros de libertação nos territórios ultramarinos.
(…)
15
de Janeiro de 1974
As
autoridades da Igreja condenam o grupo da paz e a polícia
Lisboa,
Portugal – o Patriarcado de Lisboa afirmou condenar quer a acção do grupo que
levou a cabo uma vigília pela paz em que se salientava a guerra entre os
nacionalistas negros e o governo nos territórios sob administração portuguesa,
quer a polícia, que entrou na igreja para deter os participantes na vigília. Um
comunicado das autoridades da Igreja afirma que, sendo certo que o país está
envolvido numa guerra nos seus territórios ultramarinos, o debate sobre essa
questão não deve ter lugar num contexto eclesial. […] A vigília incluiu a
discussão de um documento elaborado por um grupo de católicos da diocese do
Porto e aprovado pelo bispo António Ferreira Gomes […].
26
de Abril de 1974
Bispos
portugueses reunidos em Fátima durante a Revolução
Lisboa, Portugal. Por um acaso, toda a
hierarquia da Igreja portuguesa encontrava-se reunida em Fátima esta semana,
pelo que nenhuma autoridade eclesial esteve em Lisboa aquando do golpe militar
que depôs o governo português, ocorrido ontem, 25 de Abril. A Conferência
Episcopal deve encerrar hoje, dia 26, os seus trabalhos e geralmente é emitido
um comunicado final. Na proclamação divulgada pelo Governo provisório ao
princípio da manhã, não é feita, felizmente, qualquer referência à Igreja; ainda
que existissem laços próximos entre o Governo e a Igreja em Portugal, esta não
se encontrava «estabelecida» neste país e não existia liberdade de culto.
(tradução
de António Araújo)
"A Igreja" referida nas últimas quatro linhas do último texto é, presume-se, a Igreja Anglicana. Talvez valesse a pena ter assinalado isso, porque sem isso torna-se confuso.
ResponderEliminar