Há uns dias, o jornal «i», que com boa frequência
tem reportagens giraças, dava notícia do projecto do fotógrafo norte-americano
Ted Spagna, levado a cabo por de 1975 até 1988. Depois, em 1989, morreu o
fotógrafo, mas por cá deixou um livro, chamado Sleep, mostrando casais, adultos sós e crianças na placidez do
sono. Um dos princípios-base do Malomil é demonstrar que o Ocidente há muito se
despediu da originalidade: não há nada que se faça que não tenha sido feito
antes, ou refeito depois. Daí a obsessão maníaca, quase tara, com recriações e pastiches. Tudo isto para dizer que há
uma fotógrafa russa, a Jana Romanova, que às tantas deu por si rodeada de
amigas grávidas. O que para qualquer um seria um tormento social, para
Romanova foi um pretexto artístico. Vai daí, fotografou vários leitos de
grávidas, por volta das 5 ou 6 da madrugada, concluindo uma série de imagens a
que chamou Waiting. Todas as futuras
mães tinham entre 20 e 30 anos, ou seja, pertenciam à última geração dos tempos
soviéticos, ponto que Romanova diz ser relevante. Esta é, de facto, a geração
que acabou em 1989, ano da morte de Ted Spagna. Os que vão nascer verão o mundo
com outros olhos, não necessariamente mais esperançosos. Waiting está patente, ao que parece, nos Encontros da Imagem, no Mosteiro de Tibães. Outra coisa estranha da
cultura ocidental é eu saber o que se passa em Braga através de uma notícia da Slate, mas enfim.
António Araújo
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