quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Natália, por Dacosta.





 


«Os poderes que ela detinha tornavam-na, por vezes, inquietante. Contactos com mortos e extraterrestres, controlo de elementos da natureza, cumprimento de rituais iniciáticos, eram-lhe irreprimíveis. Entidades de outras dimensões e planetas, espíritos de mortos e de deuses tinham, exclamava-me, angustiada, “tendência para baixar” nela. Por isso, nunca estava sozinha em casa.

Em certas alturas, energias estranhas irrompiam de si, comunicando-se aos que a envolviam – pessoas, animais, objectos, árvores, águas, nuvens; outras irrompiam sobre si, dilatando-a, transfigurando-a. Forças indizíveis tomavam-na, tomavam-nos.  Tornava-se, então, uma vidente, uma médium de assombros. Vi-a fazer parar a chuva, retroceder agressores, imobilizar loucos, animais, crianças, ventos.»

 

(Fernando Dacosta, O Botequim da Liberdade. Como Natália Correia marcou, a partir de um pequeno bar de Lisboa, o século XX português, Alfragide, Casa Das Letras, 2013, pp. 30-31)


 

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