A
Zon lançou recentemente uma campanha publicitária ao seu serviço Íris. Por toda
a campanha aparecem uns senhores japoneses que, por se espantarem muito com os
prodígios tecnológicos do serviço publicitado, deixam o consumidor descansado
quanto à qualidade do mesmo. Para um europeu, ou pelo menos para um europeu
ignorante, tudo o que é tecnologia de ponta vem do Japão ou de algum “tigre
asiático” e, se um japonês se espanta com as maravilhas da legendagem do Íris
Fibra é porque o Íris Fibra só pode ser genial. A receita é velha. Se uma
dona-de-casa diz que o produto X é o super-herói da limpeza de fogões, é porque
é. Quem melhor do que uma dona-de-casa para perceber de limpeza de fogões?
A
publicidade lida portanto com estereótipos. Se é japonês garante tecnologia, se
é dona-de-casa sabe de limpezas, se vive numa grande vivenda de subúrbio, tem
uma mulher bonita e filhos loiros, tem de certeza um carro topo de gama cujo
volante acaricia como provavelmente não acaricia a família. Lida também com
receitas seguras e, se se tiver que fazer humor, nada como um estrangeiro com
pronúncia, uma tirada machista ou uma piadola às sogras. Resulta sempre.
Confesso que não sei nada sobre eficácia da publicidade e acho muito estranho
que mecanismos tão básicos funcionem há décadas; mas aparentemente funcionam e
com certeza nada mudará tão cedo.
O
que era escusado era juntar o abuso de estereótipos com a ignorância (é verdade
que andam frequentemente juntos). A coisa só pode dar asneira e, no caso da
Zon, já deu. Não contentes com o estereótipo da tecnologia, os responsáveis
pela campanha resolveram que era giríssimo juntar outro: o da troca do “r” pelo
“l”. E assim temos uns cartazes fantásticos com um senhor japonês que nos diz
“Aplovado” ou “Impledível”. Acontece que, levados certamente pelo humor genial
que produziam, os autores da coisa não se deram conta de que quem troca “r” por
“l” são os chineses e não os japoneses. Os japoneses, a fazerem, é exactamente
o contrário. Evidentemente, a agência de publicidade não teve intenção de
ofender ninguém. O designer que, numa exposição que vi há anos na Alemanha,
desenhou um mapa dos descobrimentos no qual todas as rotas de todos os
navegadores partiam de Madrid, também não teve e no entanto deu-me vontade de
vandalizar a coisa.
Tomemos
um exemplo tirado das legendas do próprio anuncio de televisão da Zon. O nome
do produto, Íris, aprece nelas escrito como イリス(i
ri su) no alfabeto katakana utilizado no Japão para os termos de origem não
japonesa. Temos portanto um caractere para a sílaba “ri” que se lê mesmo “ri” e
não “li”. Mais ainda, o que não existe mesmo é o som “l”. Para dar um exemplo,
o nome Luís em japonês escrever-se-á qualquer coisa como ルイス (ru i su). As legendas foram encomendadas certamente a um
falante de japonês e quem idealizou a campanha provavelmente não sabe ler
katakana, mas bastava quem concebeu os cartazes ter ouvido os personagens do
anúncio a falar para perceber que se ouvem vários “r” por entre as inúmeras
palavras que certamente a maioria de nós não entende. Tinha-se evitado a
asneira.
Nada
disto deve incomodar muito os espíritos dos responsáveis pela campanha, tanto
na agência como na Zon. Nem os dos transeuntes que vêm um japonês num cartaz a
falar com pronúncia de chinês, como se fosse tudo a mesma coisa. Não é grave. É
só bastante boçal e parvo.
Pode ver o anúncio televisivo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=QPXZcfSFjDM
Pode ver o anúncio televisivo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=QPXZcfSFjDM
João Tinoco
BRAVO! Disse tudo, João.
ResponderEliminarSubscrevo por completo. O anúncio (os anúncios, aliás: cartazes, televisão e o mais que se verá) roça, aliás, o insulto.
ResponderEliminarQuando se junta a ignorância à boçalidade, isso é... Zon. Mas podia ser qualquer marca. Ia dar ao mesmo.
Os anúncios são lamentáveis. Acresce ao ridículo o facto de a Meo também ter uns anúncios com a mesma ideia base (camónes esmagados com a nossa fantástica tecnologia), mas com Americanos. Andam-se a copiar uns aos outros?
ResponderEliminarAcho ainda bastante estúpido dizer que são os chineses, e não os japoneses que trocam os r pelos l..
ResponderEliminarGeneralização estereotipada, mais uma...