pergunto-me
(e é uma pergunta retórica)
Se os homens sempre foram broncos, se agora são broncos mas têm mais
visibilidade e chegam mais longe na crueldade só porque têm a tecnologia para o
fazer? Este programa é obsceno e degradante, mas as famílias vêem-no e revêem-no,
com delícia, para as crianças aprenderem o que é uma “brincadeira” e o que se
entende por “entretenimento”… Hoje só há duas instâncias verdadeiramente
pedagógicas: uma é a televisão, a outra é a vida e estão cada vez mais
parecidas, infelizmente. Quando me insurjo contra esta degradação, de quem
concorre por dinheiro e necessidade de exposição pública (duas razões que
parecem justificar tudo), o que me espanta é que se espantem genuinamente com a
minha reacção. Os concorrentes são pessoas maiores, e embora seja doloroso para
elas (e não será doloroso para os apresentadores fazerem figura de alegres
carrascos?) hão-de eventualmente ganhar dinheiro. Todos hão-de ganhar dinheiro.
E a televisão de entretenimento é mesmo assim: prostituição justificada e generalizada.
Enfim, é mesmo intrigante tudo isto. Temos de ser duros, parece ser a mensagem dominante.
Matar em nós o que ainda fala pela dignidade. Ser maus. A cantar.
Luísa Costa Gomes
E não te digam ou nos digam, Luísa, que quem entra nisto são adultos
livres, que deram o seu consentimento para sofrer em público. Choques eléctricos ou picadas de escorpiões para uma plateia de milhões. Milhões que não
se incomodam nem sequer se interrogam. Não nos digam que isto é só um,
mais um, programa de televisão, que a televisão é assim mesmo, nada que se deva
levar muito a sério. Ou ainda, argumento clássico, que quem não gostar
muda de canal, ninguém é obrigado a ver o que não quer. Nada disso. As pessoas
vêem o que lhes mostram – e formam-se, aprendem e comportam-se de
acordo com o que lhes mostram. Certamente haverá coisas piores, pois
existe gente imaginativa que é paga para inventar coisas sempre cada vez mais
piores. Depois, quando chegam ao cúmulo do pior, exibem-no. Na
televisão, em canal aberto e horário nobre. O que mais me desconcerta e
intriga? Chamarem a isto "entretenimento".
António Araújo
Em nota final: só o falar nisto e escrever sobre isto é contribuir para dar mais
realidade, mais peso e mais antena a um programa que é apenas outro degrau na
escada para os infernos. A perversidade é esta: quanto mais se fala nisto,
mais “eyeballs” o programa terá, ou seja, maior audiência. Não se medem as
razões pelas quais as pessoas vêem os programas, apenas se os vêem ou não.
Pode existir pior baixaria que os "reality shows"?
ResponderEliminarA meu ver, este tipo de programas leva-nos, daqui a algum tempo, aos que nos apresentarão como entretenimento, a morte.
ResponderEliminarA morte em directo é o graal das televisões, as tentativas estão cada vez mais próximas desta futura realidade.
A única boa noticia é que não sou estudioso de audiências nem de programas de entretenimento, por este motivo, é provável que eu esteja enganado.
"As pessoas vêem o que lhes mostram"
ResponderEliminarNão, as pessoas vêem o que querem ver. Quem não tem TV por cabo com uma centena de canais á escolha, mesmo assim ainda têm 4 canais por onde optar.
Não há volta a dar. As pessoas querem ver disso e o administrador do canal faz o seu papel. Dá aquilo que eles querem e maximiza as audiências.
O que é muito preocupante é que exista um numero elevado de pessoas que tem como entretenimento ver o sofrimento alheio.
Comentário perfeito de EMS.
ResponderEliminarPor muito que nos custe na realidade a esmagadora maioria do povo português é como ele o descreve.
Pode no entanto ainda piorar.
Outra coisa que me admira é a naturalidade com que os apresentadores deste e das tardes de domingo (apenas um exemplo) que se consideram civilizados e até intelectuais estão no palco com (outro exemplo) a Rosinha a vender os números de valor acrescentado.
Atrasados mentais e gente mal formada sempre houve. A televisão feita por canalha só aumentou o número. O que é realmente preocupante é que quem tem o dever de legislar e quem tem a obrigação de aplicar a lei não o faça. Quantas leis não são infringidas diariamente pelos balsemões e pais do amaral? Alguém ousa meter-se com eles? ná....
ResponderEliminarsempre existiram pessoas cruéis. o problema é que agora têm de ser "pro-activas" e "empreendedoras".
ResponderEliminarde resto, está tudo como sempre esteve.
sempre existiram pessoas cruéis. o problema é que agora têm de ser "pro-activas" e "empreendedoras".
ResponderEliminarAHAHAHAHA