terça-feira, 21 de janeiro de 2025

São Cristóvão pela Europa (295).

 

 

 

Continuando no departamento francês de Maine et Loire, visitei a Igreja de São Martinho de Vertou em Le Lion d’Angers. São Martinho de Vertou, nascido em Nantes no Século VI, é um santo diferente do São Martinho mais conhecido.

A Igreja tem ainda componentes do Século XI e sobretudo frescos do princípio do Século XVI. Um deles representa São Cristóvão.

 




Ainda no mesmo departamento, em Champteussé sur Baconne, existe uma outra igreja também dedicada a São Martinho de Vertou. Preservou as suas linhas românicas do Século XII e uma pintura mural representando o nosso Santo do segundo quartel do Século XVI.

 



No departamento de Mayenne, a povoação de Saint Christophe du Luat possui naturalmente uma igreja paroquial dedicada a São Cristóvão. Originária do Século XII foi profundamente alterada no Século XIX.

Esta visita não teria sido possível sem o historiador Antoine Barré a quem muito agradeço.

No altar-mor, uma tela da Última Ceia, ladeada por estátuas de Santa Genoveva e Santa Ana. Ao cimo, São Cristóvão. No interior, há ainda um pendão de procissão.

 





 

                        Fotografias de 20 e 21 de Setembro de 2024.

                                                                     José Liberato




segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Tenha cuidado, Luís Montenegro, com as reformas de Estado por pressão jornalística.

 


 


 

A jornalista Bárbara Reis escreveu uma peça no jornal Público no 18 do corrente sobre as adiadas reformas de Estado e (subliminarmente, claro está) por forma a acicatar o atual Governo veio recordar o deslumbramento que teve em 12 de março de 2005 quando José Sócrates, logo no seu discurso de tomada de posse ter anunciado que ia acabar com o monopólio obsoleto das farmácias, deixara de fazer sentido que as farmácias comunitárias vendessem medicamentos sem prescrição médica – tínhamos aqui uma reforma de Estado. A jornalista lembrou as críticas e saudações a tal iniciativa, o ponto curioso é que nesse mesmo dia um jornalista do Público pediu-me opinião sobre a decisão do primeiro-ministro e eu respondi que se tratava de um pagamento eleitoral, os supermercados batiam as palmas, era pura fantasia que estes medicamentos se poderiam ir vender em espaços comerciais de pequena movimentação. Viu-se. Promulgada a legislação admitindo novos espaços comerciais, certos supermercados lançaram-se a sério neste comércio, apareceram centenas de estabelecimentos com técnicos de farmácia à frente, como a legislação prescrevia. Passado vinte anos, em que deu esta portentosa reforma de Estado que a tão entusiasta jornalista recorda a Luís Montenegro como um bom exemplo? As centenas de estabelecimentos fecharam as portas, não possuíam dimensão para vender a gama de medicamentos não prescritos, é certamente com gáudio que a jornalista se abastece hoje com o cartão Continente quando vai à Wells ou aproveita o cartão PoupaMais do Pingo Doce (aí o negócio é minorca, são uns armários e uma certa gama de medicamentos).

Vê-se quem ganhou com a reforma de Estado, em que deu a espaventosa afirmação de Sócrates que “é tempo de resolver os estrangulamentos que impedem que o interesse geral imponha aos interesses particulares e corporativos que não servem a maioria dos portugueses”. Mas a medida de Sócrates tinha subjacente uma vingança e uma desforra. O PS pusera em outdoors que ia tomar uma medida de grande benefício, criar farmácias sociais. O então presidente da Associação Nacional das Farmácias zurziu, a medida era inconcebível, desafiou que explicassem publicamente o que era isso de farmácias sociais. Não houve troco, o que o PS propunha era pólvora seca.

Por razões do meu empenho participativo, fui durante alguns anos um dos diretores de uma associação europeia dos consumidores, curioso com esta proposta das farmácias sociais, bati à porta de colegas ligados ao setor farmacêutico democrata-cristão, liberal e socialista, queria saber se a Bélgica e em qualquer país da União Europeia vigoravam-se as farmácias sociais, a resposta foi pronta, era coisa do passado, havia ainda uma reminiscência de duas na Bélgica e ligadas diretamente a instituições de filantropia.

A jornalista Bárbara Reis desvaloriza a banalização da venda de medicamentos fora da farmácia, esquece-se que, em primeiro lugar, devia haver um técnico qualificado nos supermercados ou estruturas adjacentes para comunicar com o adquirente de medicamentos, quer ela acredite ou não, não há medicamentes inócuos. Tirando o caso específico das associações de doentes em que se dá informação que serve para que as escolhas de medicamentos não tenham efeitos adversos quando se associa um medicamento de venda livre aos medicamentos que servem para terapêuticas de doentes crónicos, por exemplo, a falta de literacia em Saúde justifica prudência e aconselhamento farmacêutico. Não se pode tomar à toa o que quer que seja para tratar uma constipação, o nariz entupido, o mal-estar do estômago, uma prisão de ventre, por exemplo, esses medicamentos apresentam precauções de utilização, como todos os outros. Há dezenas de medicamentos diferentes para tratar a constipação, uns não podem ser tomados por pessoas com problemas de estômago, como gastrite ou úlcera; outros não podem ser tomados por doentes asmáticos e alérgicos; outros não podem ser usados por doentes cardíacos, pessoas que tiveram enfarte, arritmias com pulso rápido; alguns são perigosos quando usados muito tempo, porque podem ocasionar hemorragias cerebrais. E chega.

O mais surpreendente deste convite subliminar de reforma a reforma, problema a problema, dizendo a jornalista espaventosamente que o elefante se corta às postas, era muito mais interessante que sugerisse quer aos farmacêuticos quer aos doentes que tivessem posturas mais rigorosas ao balcão, sobretudo os farmacêuticos, que, independentemente dos serviços farmacêuticos que prestam (caso das vacinas contra a gripe e covid-19) não deviam limitar-se a uma mera dispensa de medicamentos porque a saúde é mais do que comércio; e que os Ministérios da Saúde e da Educação apostassem nessa reforma de Estado que é a de gerar literacia em Saúde, uma dimensão da cidadania associada a estilos de vida mais saudáveis, quer a exigir aos profissionais de saúde que habilitassem os doentes a tratar o medicamento como deve ser – vende-se numa atividade comercial, mas deve ser sempre dispensado com conselho, seja medicamento prescrito ou não prescrito.

Mas posso compreender que esta reforma de Estado não seja um elefante que se corta às postas, não dá lucros imediatos, nem melhora o cash-flow das empresas, apesar de vinte anos depois da portentosa reforma de Estado de Sócrates o ganho está nos supermercados (isto, sem prejuízo do consumidor e utente de saúde ter alguns ganhos na caixa registadora do supermercado). 


                                                                            Mário Beja Santos





sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Usbequistão: encruzilhada de civilizações (9).

 

 

 

Amin Maalouf é um escritor líbano-francês nascido em Beirute, Prémio Goncourt em 1993, Secretário Perpétuo da Academia Francesa. Entre as suas obras mais conhecidas encontra-se o livro Samarcanda. A cidade é o cenário das vicissitudes de um livro de poemas do poeta persa Omar Khayyam (1048-1131) dedicados ao vinho. A história decorre entre o Século XI e (spoiler!) o naufrágio do Titanic.

 

Os poemas eram escritos em papel. Desde o Século VIII, Samarcanda fabricava papel a partir da seda. O segredo foi obtido a partir de prisioneiros de guerra chineses. O papel de Samarcanda, raro e caro, era muito procurado no Ocidente. Em fase posterior, utilizou-se igualmente a casca da amoreira. Recentemente, esta tradição foi retomada com o apoio da UNESCO num quadro de grande beleza. Aí se pode ver o processo de fabricação do papel, o esmagamento da casca da amoreira e o polimento das folhas.

 






Um monumento extraordinário de Samarcanda é o observatório mandado construir na primeira metade do Século XIV por Ulugh Beg (1394-1449), neto de Tamerlão e grande astrónomo.

Não existe um complexo semelhante desta época. Samarcanda era a capital da observação astronómica nesta primeira metade do Século XV.

Hoje pode-se visitar a parte subterrânea de um sextante gigantesco. Prologava-se até ao topo de um edifício de três andares.

Ulugh Beg e os seus colaboradores determinaram as coordenadas de 1018 estrelas, estabeleceram métodos de cálculo para prever eclipses e mediram o ano estelar com uma precisão que só os computadores recentes conseguiram ultrapassar. Tanta curiosidade científica inquietou os movimentos islâmicos que acabaram por o depor e promover a sua decapitação.

 






                                Fotografias de 28 de Setembro de 2024

                                                                José Liberato

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

São Cristóvão pela Europa (294).

 

 

 

A Catedral de São Maurício de Angers é uma imponente catedral gótica construída entre os Séculos XII e XIII. Tem três torreões tendo o do meio sido acrescentado no Século XVI.

Como em todos estes edifícios religiosos de grande envergadura, a construção nunca parou nem mesmo no momento que passa. Com efeito, encontra-se em curso uma remodelação completa do pórtico principal. O arquitecto é o japonês Kengo Kuma, o mesmo que reconfigurou o edifício do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian. A solução é ousada, mas introduz certamente um cunho moderno no edifício da Catedral como se vê na maqueta que aqui trago…

Os vitrais de São Maurício são excepcionais. Dois são dedicados a São Cristóvão. Ambos do Século XVI.

O primeiro é o mais controverso pois alguns pretenderam ver nele um exemplo do São Cristóvão cinocéfalo (com cabeça de cão) como se pode encontrar na Igreja Bizantina ou em Segóvia. Na realidade, o rosto não é muito visível, admitindo-se que tenha sido alterado até porque o vitral foi composto no local com elementos de diversas proveniências. Os outros santos são São. Paulo, São Pedro e Santo André, mais um quatro, talvez outro apóstolo.

O segundo representa São Cristóvão e Santo Eustáquio, ambos em episódios que se relacionam com a travessia de rios. São Rémi e Santa Maria Madalena são os outros.

 




 

A Igreja de Nossa Senhora de Cunault, próxima de Angers, junto ao rio Loire e também no departamento de Maine et Loire, é uma das mais belas igrejas românicas de França. Deve-se ao escritor Prosper Mérimée (1803-1870), na sua condição de Inspector dos Monumentos Históricos, a salvação do Monumento. Um fresco do Século XV representa o nosso Santo.





                                                    Fotografias de 20 de Setembro de 2024

                                                                                         José Liberato




segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Usbequistão: encruzilhada de civilizações (8).

 

 

As madraças da Praça do Reghistan em Samarcanda não são apenas espectaculares no exterior. O interior é igualmente deslumbrante:

 





Mas o que dizer da Praça do Reghistan à noite?

 





                        Fotografias de 27 e 28 de Setembro de 2024

                                                                José Liberato






domingo, 12 de janeiro de 2025

Avisos importantes à nossa cidadania: Não se deve usar o digital de ânimo leve, há que conhecer os nossos direitos.

 



Este ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos de título Direitos Fundamentais para o Universo Digital, por Jorge Pereira da Silva, 2024, merece ainda mais a nossa atenção numa altura em que se corre o risco de soberaníssimas plataformas digitais, comandadas por multimilionários aduladores do presidente Donald Trump pretenderem comprometer o quadro legal que nos protege na União Europeia.

O autor é um universitário que já dirigiu a Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Católica, domina o assunto, começa por se debruçar sobre o conteúdo da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, apanha-lhe os pontos frágeis mas releva os pontos nobres e não deixa de enfatizar que os direitos consagrados pela Carta são efetivamente direitos fundamentais, e ele traça o histórico desses direitos para concluir que a autorregulação no universo digital é uma mera utopia, são bem gravosos os abusos que se podem praticar neste ciberespaço onde é imenso o poder económico e tecnológico dos gigantes da era digital.

Abordando as sucessivas gerações dos direitos fundamentais não deixa de chamar à atenção para o facto de estes estarem ainda numa fase embrionária. Acresce que a perspetiva da União Europeia e a dos Estados Unidos sobre a temática de um ciberespaço entregue a si próprio serem radicalmente distintas, no quadro europeu têm-se dado passos firmes no sentido de sujeitar o universo digital aos princípios do constitucionalismo digital.

O autor elenca as diferentes gerações de direitos, desde os direitos civis, as liberdades, passando pelos direitos políticos, o direito de voto, os direitos sociais, estas três gerações de direitos acabaram por se plasmar na Declaração Universal dos Direitos do Homem, inevitavelmente o rol de direitos cresceu, temos hoje uma nova arrumação dos direitos fundamentais na sequência das descobertas tecnológicas (privacidade, identidade genética, esquecimento, a desligar). Daí ele proceder a uma apresentação das diferentes funções dos direitos fundamentais que por ora culmina num domínio em aberto sobre a inteligência artificial, daí a referência que faz à proposta da Comissão Europeia a um regulamento sobre a inteligência artificial, onde se procura graduar as diferentes aplicações segundo o grau de risco envolvido, definindo um sistema de proibições, absolutas ou relativas.

Não pode haver adesão cidadã sem que se percecione a contextualização do universo digital, temos aqui um capítulo muito bem elaborado onde vamos chegar às plataformas digitais, às redes, ao comércio e aos serviços digitais, é necessário entender o que pretendem estes pesos pesados da economia digital e a sua carga ideológica, como pretendem comandar a internet das coisas ao serviço de um projeto político. Daí as questões de Direito suscitada pelo digital, o autor expõe os argumentos pró e contra da relação jurídica, manifestando-se a favor das regras do Direito, em que, aliás assenta, a Declaração Comum sobre os Direitos e Princípios para a Década Digital (a União Europeia possui já um acervo de regulamentos, por exemplo, o acesso à internet aberta, os serviços digitais, a proteção de dados e uma Agência Europeia para a Cibersegurança).

Na sequência desta apresentação segue-se um capítulo sobe direitos fundamentais, muitos deles já constantes, no caso português, da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital (acesso à rede, proteção de dados pessoais, segurança digital, proteção em face da inteligência artificial, liberdade de expressão nas redes sociais), apresenta-nos um argumento explicativo destes diferentes domínios. Põe o foco na proteção em face da inteligência artificial e ajuda o leitor a perceber a complexidade da questão: “A inteligência artificial, é, na realidade, muito pouco inteligente. As suas incomensuráveis potencialidades decorrem da extraordinária capacidade de processar dados em quantidade e rapidez e, em última análise, de aprender com essas mesmas operações de processamento. Por isso, é capaz de desempenhar tarefas que, quando executadas por humanos, exigem a utilização daquilo a que chamamos inteligência. Além disso, a inteligência artificial tem sobre a mente humana enorme mais-valia de não esquecer.” E enuncia alguns dos riscos da utilização da inteligência, refere aplicações dessa inteligência que têm de ser juridicamente proibidas. E ajuda-nos a compreender a complexidade das coisas:

“O problema da discriminação algorítmica é, no essencial, o de que as pessoas se sentem discriminadas por sistemas de inteligência artificial, mas muitas vezes não conseguem explicar porquê. Por outro lado, os algoritmos sofrem de opacidade crónica no seu funcionamento e, como é evidente, não fundamentam as decisões que tomam. E por outro lado, produzem as suas decisões com base, não num único critério arbitrário, mas numa combinação muito alargada de critérios objetivos, como o local da residência, o percurso escolar e académico, a experiência profissional, o nível salarial, entre outros semelhantes. Sucede que o resultado dessa combinação, ao invés de ser objetivo, revela-se na prática enviesado, por exemplo, prejudicando especialmente as mulheres de cor, estatisticamente com níveis de escolaridade e renumeração mais baixos.” Todos os aspetos da liberdade de expressão nas redes sociais são ventilados neste estudo, concluindo que a liberdade de expressão se converteu numa espécie de direito de participação pública, comportando o direito positivo aos instrumentos de projeção da voz e do pensamento, direito positivo este que nunca existiu em relação aos meios de comunicação social tradicionais.

Havendo concluir, prevê o autor: “A regulação do universo digital é um desafio grande para as instituições públicas, mas que a União Europeia está a levar muito a sério. Nesse esforço de regulação, tem vindo a ser constituído um corpo de normas jurídicas que, não obstante a diversidade de fontes e de posição hierárquica, pode designar-se por Direito Digital. Mais do que um novo ramo de Direito, trata-se de um outro ordenamento jurídico, com um processo de formação descentralizado e que, por ora, tem ainda natureza fragmentária. Um dos capítulos mais dinâmicos desse ordenamento é justamente o Direito Constitucional Digital, onde está a ser formada novíssima geração de direitos fundamentais. Considerando fontes nacionais e fontes europeias, normas constitucionais e normas legais, é possível identificar pelo menos cinco novos direitos fundamentais das pessoas para o universo digital: direito de acesso à rede; proteção de dados pessoais; direito à segurança no ambiente digital; proteção em face da inteligência artificial e liberdade de expressão nas redes sociais.”

Um estudo muitíssimo útil para quem deseje conhecer o coração da matéria destes direitos fundamentais que sem apelo nem agravo têm a capacidade de consolidar a democracia participativa, a despeito das ameaças que pairam no ar, seja qual for a corrente de tentação totalitária. 

                                          

                                                                      Mário Beja Santos





 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Usbequistão: encruzilhada de civilizações (7).

 

 

 

Samarcanda é uma das cidades míticas da rota da seda.

Como tal, é também uma referência da Cultura ocidental. Samarcanda e Tamerlão estão presentes nos poemas de Goethe, Keats e Poe, Philip Marlowe celebra-os na sua peça de teatro de 1587 Tamburline the Great. Händel compôs em 1724 a ópera Tamerlano, Alessandro Scarlatti (o pai de Domenico Scarlatti, músico na corte de D. João V) é o autor em 1706 da ópera Il gran Tamerlano.

Os dramas, as crueldades têm como contraponto os sucessos arquitectónicos.

E nestes avulta sem dúvida a esplendorosa praça do Reghistan (que significa, de forma pouco inspirada, praça da areia) e as suas três madraças: Ulugbek, Tilla-Khari e Sherdon. Tamerlão foi o inspirador de tudo isto, mas foram os seus sucessores a concretizar a obra.





No próximo post, veremos interiores das madraças e, sobretudo, o Reghistan de noite.

 

                            Fotografias de 27 de Setembro de 2024

                                                                     José Liberato



São Cristóvão pela Europa (293).

 

 

 

Ainda na região francesa da Normandia, agora no departamento de Orne, situa-se Saint Christophe le Jajolet. Nesta localidade, o culto de São Cristóvão é atestado pela existência de uma confraria desde 1673.

O Papa Pio X atribuiu-lhe em 1912 o título de arquiconfraria. Uma arquiconfraria é uma confraria que agrupa uma série de outras confrarias com objectivos comuns, neste caso São Cristóvão.

É por esta época que é erigido um grande santuário em honra do nosso Santo e destinado a acolher as peregrinações, cada vez mais frequentes.

Chegou a estar mesmo planeada a construção de uma estátua de 100 metros de altura, equipada com um ascensor no cajado do Santo. Mas a ideia não se concretizou…

No santuário, existem um pendão de procissão, um fresco exterior, uma estátua (inaugurada em 1937) e uma pequena imagem na fachada da igreja.

 





E viajei para a cidade de Angers, capital do departamento de Maine et Loire no Pays de la Loire. Nela se destacam o rio Loire, as muralhas do Castelo dos Duques de Anjou e a famosa tapeçaria do Apocalipse.

A tapeçaria foi realizada no final do Século XIV e é uma das melhor preservadas tapeçarias da Idade Média. Originalmente seria composta de 90 quadros, subsistindo hoje 68.

Sofreu graves degradações. Durante a Revolução Francesa foram usados como cortinados, até como selas de cavalos. Como exemplo deixo aqui o quadro das almas dos mártires.

Quanto ao nosso São Cristóvão em Angers, fica para o próximo post.

 




                                         Fotografias de 19 e 20 de Setembro de 2024

                                                                                         José Liberato





terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Carta de Bruxelas.



 

            Para assinalar um ano e três meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023

 

«Chi meglio di te?» foram as palavras de Elia Dalla Costa, cardeal de Florença, a Gino Bartali. Em 1943, o ciclista já vencera o giro e o tour de France. Bom católico, Gino aceitou a missão. Tratava-se de transportar documentos falsificados entre as duas Itálias, a ocupada e a livre. A pretexto de que se treinava, e sendo uma figura popular que não levantava suspeitas, Bartali contrabandeou os documentos, escondidos nos tubos do selim e do guiador, contribuindo dessa forma para salvar muitos judeus. Hoje tem uma árvore no Yad Vashem, tal como o cardeal Elia Dalla Costa.

Na interpelação do cardeal florentino, não reside uma exigência abstracta e sem destinatário. «Quem melhor do que tu?» é uma interrogação que se dirige a uma pessoa concreta nas suas circunstâncias concretas. O que afirma tem em conta esses elementos mas transcende-os. A pergunta depende dos talentos do espírito, das qualidades do temperamento e dos dons da fortuna, sem dúvida. Mas o que lhes dá sentido e unidade é de outra ordem: qual a finalidade do seu uso? Nessa acepção pode ser universalizada, reencontrando por essa via o messianismo judaico, o mundo só poder ser completado pelo Homem. Em tempos de perseguição – menos do que nunca  –, a pergunta do cardeal não fica no passado, relegada ao pó dos arquivos, é de hoje, é a que tem de ser feita a si mesmo por cada qual nas suas circunstâncias: Chi meglio di te?


                                                                                João Tiago Proença