sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Humanitarismo, modos de usar.

 
 






 
 
 
 
Na excelente revista Electra um artigo de António Baião e António Pedro Marques com o título, misto divertido, misto provocador: «As Minhas Fotos das Férias com os Pretinhos, ou: O Voluntarismo como Performance Ética». Começa por falar de Humanitarians of Tinder, uma antologia dos que usam como instrumento de sedução no Tinder não os seus atributos físicos ou intelectuais mas a exibição de virtudes éticas. Dá que pensar. Outrora, a «cooperação» com o então chamado «Terceiro Mundo» era também uma virtude ética tantas vezes propalada aos quatro ventos. Mas era, de igual modo, uma afirmação política e ideológica, tantas vezes desastrada. Que agora seja usado como forma de auto-promoção tão descarada é algo que, repito, dá que pensar. Não devemos, como é óbvio, fazer generalizações e descartar os extraordinários exemplos de trabalho voluntário em todo o mundo. Mas que isto também existe, na era do Tinder e das selfies, é tão gritante que não podemos ignorar. O mundo é mesmo um lugar estranho.
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Observatório Azul Bege.






O Observatório Azul Bege é uma instituição particular de solidariedade social ou mesmo talvez uma organização não governamental também de solidariedade social que visa fazer o levantamento de Indivíduos com Camisa Azul e Calças Bege. Tem registado inúmeros avistamentos, pelo que não podemos deixar de saudar o meritório trabalho de recolha, compilação e competente tratamento visualo-estatístico. Isto, sim, é Sociologia com Maiúscula. Parabéns.
 

 
 
 
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Diane Burko, o planeta azul.

 
 

 

         No último número da New York Review of Books, num texto a propósito do relatório do Intergovernamental Panel on Climate Change, publica-se uma imagem impressionante, que logo me chamou a atenção.
         Uma pintura de Diane Burko, baseada em fotografias que mostram a evolução do glaciar Grinnell no Glacier National Park, Montana, entre 1938 e 2006. Repare-se como os gelos e as neves recuaram de forma tão notória e dramática que a mudança até se vê a olho nu – e até é possível fazer fotografias e pinturas que ilustram estas alterações. Diane Burko é uma fotógrafa e pintora norte-americana, nascida em Brooklyn em 1945, que se tem dedicado às alterações climáticas, sobre as quais tem telas e fotografias espantosas, na melhor tradição paisagista dos Estados Unidos. Até Janeiro de 2019 o seu trabalho estará exposto na prestigiada National Academy of Sciences, Washington.
 
 
 
 
         Vem isto a propósito das alterações climáticas. Há cépticos, e ainda bem que há cépticos. É próprio da Ciência com maiúscula. Convém todavia não confundir cepticismo com negacionismo. O cepticismo questiona com base em provas e evidências (má tradução do inglês), apresenta factos, alimenta uma atitude de dúvida quer quanto ao que questiona (o aquecimento global) quer quanto ao que afirma (a negação do aquecimento global). O verdadeiro céptico, o céptico honesto e merecedor desse epíteto, não é unilateral nem maniqueísta: duvida de tudo até prova em contrário; duvida até daquilo que põe em dúvida.
 
 
         Não é essa a atitude do negacionista. O negacionista tem certezas absolutas e preconceitos (ou pré-conceitos) inquestionados. Parte das suas convicções e só aceita aquilo que as confirme e satisfaça. Descarta o que lhe não interessa, entrincheira-se numa posição irredutível. E mesmo quando a maioria – a esmagadora maioria – das provas e dos estudos apontam num sentido, mantém-se irredutível, reclamando uma condição «minoritária». Com o passar do tempo e a acumulação de provas em seu redor, e para não perder a face e a arrogância, refugia-se em teorias da conspiração. O negacionista não duvida. Encontra nas dúvidas alheias motivo para confirmar as suas certezas.
         Há anos li um livro sobre a década de 1970 em que o autor, David Frum, fazia humor com o facto de nessa década os cientistas alarmarem a opinião pública com o risco de surgimento de uma Idade do Gelo. A moda da época, pensava-se, não era o aquecimento global mas precisamente o oposto. Bastaria isto para julgarmos que os alertas para as alterações climáticas são uma moda efémera, um alarmismo passageiro. O facto é que as alterações climáticas tanto podem dar azo a aquecimento como a arrefecimento. E mesmo que no passado tenha havido erros ou excessos tal não deve servir de argumento para deixarmos de nos preocupar com o presente – e sobretudo com o futuro.
 
 
        
        Podemos, como é óbvio, ser cépticos. Mas, num campo tão polarizado e politizado como este, a margem para um cepticismo saudável e honesto é cada vez mais estreita, fina como um pedaço de gelo prestes a derreter-se. Rapidamente o cepticismo resvala no negacionismo militante, pois o que está em causa deixou de ser ciência e passou a ser política. É preciso que se perceba que o que aqui está em causa não é de esquerda nem de direita; o planeta é azul, mas não tem cor política. E repare-se como os «cépticos» já não apresentam sequer estudos globais ou investigações sistemáticas que neguem a existência de alterações climáticas como um todo; limitam-se a apontar erros pontuais e lapsos aqui e ali, para a partir dessa falsa premissa tentarem construir uma «teoria». Não há, que eu saiba, um estudo ou uma investigação de grande fôlego (com a dimensão do relatório do IPCC, por exemplo), feita por uma instituição credível, que negue globalmente a existência de alterações climáticas no planeta.  
       Ora, perante tantas centenas de estudos que referem os riscos de alterações climáticas, perante os alertas de tantas e tantas organizações e instituições tidas por independentes ou credíveis (ou haverá uma conspiração mundial que envolva milhares de universidades, laboratórios, ONG’s, cientistas?), o que impõe o elementar princípio da precaução é que nos preparemos para o worst case scenario. Porque o que aqui está em causa não é a decisão errada de ir para uma guerra desastrosa e regressar com soldados mortos e cidades destruídas. Mesmo em situações como essas, catastróficas, tremendas, há uma reversibilidade que permite tomar a opção A ou a opção B, sabendo que elas são passíveis de ser corrigidas. Não é isso que sucede neste caso: o que fizermos ou não fizermos neste domínio sempre será irreversível. Daí que seja mais prudente e avisado preparamo-nos sem alaridos nem vozearias – e, sobretudo, sem partidarismos políticos e ideológicos – para o pior cenário. Depois, se o pior não ocorrer, se só ocorrer algo de muito mau ou apenas mau, podemos ficar descansados. Por agora, não temos motivos nenhuns para estar descansados, tantas são as provas que se avolumam sobre os riscos de uma tragédia imensa. Sobretudo, de uma tragédia irreversível, que a todos nos cabe evitar, por mais cépticos que sejamos.
 
 
 



 
 
 

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Mass Observation Project: e por cá?

 
 


Falou-se aqui há dias do projecto DATAR, uma cartografia da França dos anos 1980. Hoje é tempo de UK. Em 1937, Charles Madge, poeta sul-africano, jornalista e comunista, juntou-se ao cineasta Humphrey Jennings e ao antropólogo Tom Harrisson. O objectivo desta união era encontrar uma forma de ultrapassar a distância entre o modo como a imprensa e as sondagens representam a opinião pública e a vida concreta e vivida das pessoas, nos seus anseios e devaneios (aqui). Nascia então o Mass Observation Project: pedia-se que as pessoas escrevessem diários, registassem o quotidiano, as suas paixões e os seus sonhos. O resultado, claro está, é um imenso e inesgotável caudal de informação e um arquivo fabuloso, à guarda da Universidade de Essex, que serve, como poucos, para fazer a história social do Reino Unido no século XX (http://www.massobs.org.uk/).
Por cá, nada. Há o esforço de uns bem-intencionados para resgatar os diários perdidos de cidadãos comuns. Mas falta entre nós uma tradição de memórias e diários. Daí ficarmos estarrecidos com o que vamos encontrando, como o extraordinário registo da vida no Barreiro feito ao longo de décadas por José António Marques. A Junta de Freguesia de Santo André e a Câmara Municipal do Barreiro publicaram, em 2013, o volume relativo à década de 1920. Precioso! E parabéns, Drª Rosalina Carmona. Seria bom publicar-se mais – seja o diário de José António Marques, ferroviário barreirense, seja os diários que para aí houver. Se os tiver, avise.


 
 
 

Conta-me Histórias, Lisboa.




Vi há dias noticiada no jornal i  a existência desta página no Facebook. Conta-me Histórias, Lisboa, de Helena Aguiar, uma jovem estudante de 60 anos da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa que decidiu recolher imagens e histórias da capital. Recomenda-se vivamente: https://www.facebook.com/pg/contamehistoriaslisboa/posts/
 
 
 



segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Brown University, suave lusco-fusco.

 



Fotografias de Onésimo Teotónio de Almeida
 

A Filha da Tempestade, de Rider Haggard.

 

São Cristóvão pela Europa (74)


 
 
Na Basílica de São Lamberto em Düsseldorf existe uma magnífica estátua de São Cristóvão.
 
 
 
 
 

E no Museu Kunstpalast na mesma cidade outra estátua em madeira do primeiro quartel do Século XVI oriunda da Alta Suábia na Alemanha da autoria do chamado Mestre de Ottobeuren. Foi policromada.
 
 
 
 

 
 
Fotografias tiradas em 28 de Julho de 2018.


José Liberato
 
 
 
 
 

domingo, 25 de novembro de 2018

Tantas Palavras.

 
 


Contado não se acredita: sete netos, a caminho dos oitenta. Pois é, até Chico envelhece – e nós com ele. Tantas Palavras, livro que acaba de sair cá, e que muito se recomenda, reúne as letras e os poemas do nosso colectivo envelhecimento. Volume precioso, precioso. Complementado por uma extensa e bela introdução biográfica, quiçá um tanto hagiográfica, da autoria de Humberto Werneck. Pressente-se aí o génio atormentado, ainda hoje inseguro em palco, o homem sem jeito para dançar e sambar, que consulta psicoterapeuta e toma remédio para dormir. Mas também o músico e poeta que conheceu exílios e agora passa temporadas de dois, três meses no seu apartamento no Marais, Paris, a escrever romances, o mais recente dos quais sobre a demanda do seu meio-irmão alemão, uma história digna de filme. Também navegou Chico Buarque por essas águas do cinema, sem grande êxito nem fama igual àquela que lhe dão as músicas e os poemas.  E não, ao contrário do que diz a lenda, não começou tudo como A Banda. Se quiser saber mais, leia. É puro deleite.




 

sábado, 24 de novembro de 2018

DATAR, vive la France.

 
 








         Tenho muita pena e devemos ter todos muita, muita pena que em Portugal não tenha havido um projecto como este, avalizado ao mais alto nível primo-ministerial. Foi nos anos 1980, DATAR, acrónimo de Délégation à l’aménagement du territoire et à l'action régionale. Cartografar a França através do olhar dos melhores fotógrafos: Gabriele Basilico, Robert Doisneau, Raymond Depardon, Josef Koudelka, um time de luxo. A Missão Fotográfica terminou em 1989, mas deixou um legado imortal, grandioso. Melhor que tudo, pode ser consultado aqui. Vive la França.
 
 

 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Por favor, preocupem-se.

 

 
 
 
 
 
         Há dias, o Le Monde trazia um extenso dossier sobre o risco de catástrofes climáticas em cascata. Mais iminente do que se pensa. A fonte é um artigo saído no passado dia 19 na revista Nature Climate Change, cujo sumário pode ser consultado aqui. Já agora, e além do vídeo acima (há mais, veja no YouTube), consulte por favor este gráfico animado. Simplesmente aterrador. Infelizmente, há quem continue a negá-lo.
 
 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O fim da macacada.

 
 



A RTP, talvez em cumprimento de uma indecifrável missão de serviço público, decidiu abrir o canal aberto ao Oculto, maiúsculo. Portugal Culto e Oculto, assim se chama uma séria bem digna de Portugal, país sensacional. Pois tivemos no Episódio 5 a Alquimia «verdadeira mãe da Química e da Física modernas», onde o microfone foi passado ao Professor José Medeiros e Gilberto Lascariz, que é escritor e investigador. E, em entrega anterior (episódio nº 4, portanto), dedicada à «Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas» ficámos a saber que «o Druidismo é uma das mais antigas tradições espirituais da Europa e, particularmente, do território nacional». Significa isto, portanto, que Portugal foi terra de druidas, muito mais do que noutras partes da Europa. Já o episódio 6 foi dedicado aos Rosa Cruz, com entrevista ao Grande Conselheiro para Portugal e Moçambique, além de testemunhos de distintos rosacrucianos que se dedicam ao Voluntariado na Área da Educação e da Saúde (com maiúsculas). O episódio inaugural foi atribuído à Maçonaria, abordada «de forma pedagógica». Bem, que canais comerciais nos vendam cenas destas, ainda vá. Que a RTP se dedique a tais macacadas é uma coisa que, enfim, não se percebe. Só vê quem quer, é certo. Mas pagar, pagamos todos. Dizem que é «serviço público». Talvez um druida consiga explicar porquê.
 


 

 

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Um grande anúncio.

 





 

Sugestão de Natal.

 
 
 
 
Sabia que em Benfica existe uma araucária-da-queenslândia? E que há uma árvore chamada árvore-da-castidade? E que há um metrosidero no Campo de Santana? E, ao Rato, uma maltratada figueira-da-austrália? Três percursos pelas árvores classificadas da cidade de Lisboa, um itinerário frondoso e deslumbrante. Árvores na Cidade, de Graça Amaral Neto Saraiva e Ana Ferreira de Almeida. Da By the Book.