quarta-feira, 31 de julho de 2013

Perguntais, e muito bem: quem é este marreco?

 
 
 

Pedro Chagas Freitas




 

Ei-lo, o criador do Ilusionismo Linguístico (sic) e do Teste de QI Linguístico (também sic). Pedro Chagas Freitas (n. 1979). Escritor criativo, aos dezoito aninhos já capitaneava a direcção da  revista Estádio D. Afonso Henriques, versão vimaranense da Vogue Magazine. Autor de várias obras literárias (em 2010, de esguicho, foram 10 livritos), reza a biografia oficial  que «foi, a 19 de Abril de 2012, um dos speakers de referência da ICSC European Conference, uma das mais importantes conferências mundiais a nível do retalho». Se retalhou a nível de…, tudo bem. Pela Sinapsis Editores, expeliu, no annus mirabilis de 2010,  os Espasmos de Pânico e, prosseguindo em espargata, os Espasmos d'Alma (também de 2010). E uns Espasmos na Tromba, para quando? Entretanto, o humilde Eu Sou Deus (2012, «um livro de crónica e autodesenvolvimento») e, com um originalíssimo título, In Sexus Veritas (2013). Remontemos às primícias. Corria o ano de 2007 e, sob a chancela da Corpos Editora, Chagas largou cá para fora Já Alguma Vez Usaste o Sexo sem Necessitares de Usar o Corpo? A resposta a esta inquietante dúvida chegaria apenas em 2010, com Só os Feios É Que São Fiéis, dedicado à esposa. Pelo meio, tivemos dois Espasmos, já citados, entre muita outra coisa, toda em bom (foi autor, entre 2006 e 2009, de «biografias e livros genéricos»).  Escreveu em 2007 uma obra sobre a Guerra da Secessão que tem por título: A Guerra da SecessãoNo éter, adoptou um registo confessional e autobiográfico («Ensaios Sobre a Imbecilidade», apresentados desde 2010 aos microfones da Rádio Fundação).  Pedro Chagas Freitas, que conta com 13 mil fãs no Facebook, estreou-se nas letras em 2005 com o livro Mata-me. Infelizmente, ninguém lhe fez a vontade. Sobreviveu Chagas, portanto. E deu nisto.


 
 
 
 

Grandes Efemérides.

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cerimónia de Tomada de Posse da Provedora do Animal de Lisboa.






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À Drª Marta Rebelo, Malomil deseja os maiores sucessos nestas suas novas, exigentes e prestigiadas funções.




 

A Modas e Bordados e o Processo Revolucionário Em Curso.










Modas e Bordados, nº 3300, de 14-5-1975, pág. 3







fiz amor na noite do 25 de abril

 

Nasci em 1960, tenho quinze anos embora muitos me dêem mais idade.

         Venho de uma família burguesa, apolítica e muito obstinada. Tirei a instrução primária num colégio de freiras que eu detestava porque sempre fui muito amiga da justiça e tudo quanto via não me agradava. Tratava logo de contestar e de dizer que não queria, fosse o que fosse! Isto era um suplício para as freiras que se desculpavam, dizendo que as coisas se deviam aceitar como eram, como um sacrifício, por Deus. Deus, Deus, Deus, só me falavam em Deus e mais nada, era tudo por Deus.

         De qualquer modo já estava habituada e até gostava d’Ele.

         Um belo dia descobri que estava para chegar um irmão! Eu tinha 7 anos. Durante os 9 meses de espera o irmãozinho querido viveu comigo, para me abandonar, logo depois de 48 horas de ter nascido. Era tão lindo e eu amava-o tanto! Nasceu no fim das férias e quando voltei ao colégio as freiras disseram-me que ele tinha morrido por vontade de Deus. A minha reacção imediata foi gritar que odiava Deus, que Ele era mau, que o meu irmão nunca lhe tinha feito mal e que eu nunca mais rezava. E não rezei! Obrigavam-me a ir á missa o que me revoltava ainda mais. Quando já tinha 9 anos acabei de receber a hóstia, saí da igreja e cuspi-a na rua.

         Depois de fazer a quarta classe não me quiseram mais no colégio, porque eu dava mau exemplo às outras meninas.

         Um dos meus primos foi preso pela D.G.S. quando eu tinha 12 anos. Ele tinha 16 e ao fim de um ano voltou a Caxias e a família quase que o excluiu. Era apenas uma criança e não era justo porem-no à parte, só porque ele tinha sido preso. Eu achava que ele tinha sido extraordinário. Era e é socialista.

         Comecei a encontrar-me com ele às escondidas, falámos muito, de tudo, de Caxias, e eu beijava-o na face, molhando-o com as minhas lágrimas.

         Passado 6 meses sobre o início dos nossos encontros secretos, ele quis fazer amor comigo; eu era liberal nessas coisas mas tinha 13 anos e a minha mãe com as suas ideias ainda imperava em mim. Não o fiz nessa altura, mas prometi-lhe que no dia em que eu tivesse a certeza de amá-lo que o fazíamos.

         No dia 25 de Abril estava eu em Lisboa com o meu primo. Ele estava esfuziante, parecia doido, pulava, ria, gritava! Segui-o por toda a parte, ele contagiava-me, ofereci flores aos soldados, juntei a minha voz à do povo. E não sei o que nos levou a fazê-lo, talvez a sensação de liberdade, na noite de 25 para 26 de Abril, fizemos amor, até ao fim! Foi maravilhoso, embora a princípio ficasse decepcionada.

         Tinha 14 anos e ele 18.

         Hoje, volvidos quase 12 meses estou aqui a escrever a história da minha vida. Os meus pais estão mais democratizados mas mantêm-se apolíticos.

         Estão separados na vida conjugal mas vivem junto por causa do escândalo. Discutem frequentemente. O casamento e o divórcio para mim não passam de disparates mas se estivesse no caso deles divorciava-me.

         Quando acabar o quinto ano do liceu vou viver com o meu primo e emprego-me. Tiro o sétimo ano à noite, gosto de estudar. Quero ajudar o meu país a viver. Asfixiava quando oi libertámos, é preciso dar-lhe oxigénio. Quero ter filhos e não os revoltados como eu, logo no início da vida.

         Não me considero revolucionária, até porque mal tive tempo de o ser, mas não deixarei que a minha liberdade morra, a minha e a dos outros, todos devem ser livres.

         Quero ajudar Portugal seja como for.      

 

GISELA


(in Modas e Bordados, nº 3300, 14 de Maio de 1975, pág. 3)
 






quinta-feira, 25 de julho de 2013

Moçambique: notas de campo (16).

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Viajei de chapa, os transportes semi-colectivos de passageiros, as Toyota Hiace, da cidade de Maputo para o bairro do Fomento, na Matola, uma distância de cerca de dez quilómetros. A entrada no chapa, na baixa de Maputo, foi mais ou menos uma disputa pela sobrevivência em que nos atropelávamos uns aos outros. Dentro do chapa, pouco depois, a música em bits africanos soava a altos berros, a ponto de terminar os cerca de trinta minutos do percurso com dores nos ouvidos. Num transporte previsto para quinze passageiros magros e baixos, estavam vinte, mais o motorista e o cobrador. Por isso, algumas pessoas iam penduradas umas nas outras. Num dos locais de anda-e-pára do trânsito, a Praça dos Trabalhadores (antiga Praça Mac-Mahon), fomos vitimados por um autocarro a gasóleo, ao lado, e por um carro a gasolina em mau estado, à frente, entre outros, que por momentos nos fizeram pairar num balão de fumos tóxicos. Ao menos a poluição sonora passou a ter companhia atmosférica. Com a densidade do que se ia passando no interior do veículo, nem deu para prestar atenção ao estilo de condução ou aos riscos da estrada, a outra parte do episódio. Mas bastou ir observando o semblante de muitos dos meus companheiros do chapa para entender que eles, como muitas pessoas comuns, vivem resignados aos incómodos da sobrevivência, abandonados que estão aos instintos primários de uns quantos que se exibem na vida pública e que, em certos contextos, a controlam, impondo-se de modo grosseiro sobre um povo em geral pacífico. Portanto, a curta viagem que descrevo poderá valer como retrato das relações de poder em diversas situações. Neste e certamente noutros países africanos, com os mesmos recursos materiais o quotidiano das gentes comuns poderia ser muitíssimo mais suportável, saudável, delicado, polido. Bastava que melhorassem certas atitudes e comportamentos que condicionam diversas das pequenas e grandes relações de poder ou equilíbrios sociais. E para isso não vislumbro outra fórmula que não seja a censura, a crítica, a rejeição de muitas e muitas atitudes e comportamentos que também – ou sobretudo – fazem a pobreza em África. Se eles existem um pouco por todo o lado, nesta África assumem uma dimensão muito prejudicial porque não se limitam à periferia da vida social, mas por vezes pairam no seu âmago. Em face disto, uma fórmula maior de rejeição de África e dos africanos resulta da incapacidade de criticar de modo bem mais incisivo e persistente o que prejudica o quotidiano. A cultura da vitimização dos africanos, alimentada dentro e sobretudo fora do continente, muito colada aos sentidos interpretativos que habitualmente se atribuem a fenómenos como a escravatura, a colonização ou o racismo, foi e vai matando há várias décadas a função decisiva e insubstituível da crítica social. É como se as elites intelectuais e académicas se tivessem desprendido do quotidiano da gente comum, escapando-lhes sistematicamente os detalhes onde moram pequenos diabos que transformam em infernos simples mas importantes actividades do dia-a-dia.
 
 
 
NOTA: em vésperas do regresso a Portugal termina esta série de dezasseis textos. Agradeço a António Araújo ter incentivado a que os escrevesse com toda a liberdade e sem limites de extensão. Agradeço ainda aos que foram e vão lendo estes textos.
 
 
Gabriel Mithá Ribeiro
 
 
 
 
 
 
 
 

We Want Miles.

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Miles Davis
 
 
 
 
 
Para T.
 
 
 
 


quarta-feira, 24 de julho de 2013

O ciclo de pinturas da Sociedade Funerária de Praga.

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Visita ao doente 

Preces no leito da morte


O tratamento do corpo


Feitura da mortalha


Lavagem do corpo

Transporte do corpo

Abertura da sepultura

Entrada do cortejo fúnebre no cemitério

Oração fúnebre

Transporte do corpo para a sepultura

Feitura do caixão

Deescida do caixão à sepultura

Consolo aos familiares do morto

Lavagem das mãos após sair do cemitério

Membros da direcção da Sociedade Funerária

Oração anual frente ao túmulo do rabino Loew

Banquete anual da Sociedade Funerária

O Cemitério Judaico em Praga-Olsani

Entrada do Cemitério Judaico em Praga-Olsani








Há muito de infantil na nossa relação com a arte. Existe alguma, ou mesmo muita, puerilidade na forma como apreciamos, maravilhados, as figuras cómicas de Arcimboldo, os infernos de Bosch ou os paraísos terrestres de Edward Hicks. Somos capazes, inclusivamente, de achar graça às cenas mais dramáticas, devido à forma como são apresentadas: doentes e moribundos em ex-votos piedosos e ingénuos, por exemplo. Ou aqui, no ciclo de pinturas da Sociedade Funerária de Praga. Ao longo dos séculos, do enterro dos judeus se encarregaram ONG’s avant la lettre, as Chevra Kaddisha Gomle Chasadim (Irmandade dos Que Praticam Actos de Caridade, numa tradução barbaramente literal). A Sociedade Funerária de Praga foi fundada em 1564 e, em finais do século XVIII, o core business da sua actividade foi pintado num conjunto de quadros, de autor desconhecido. Os quadrinhos, postos em sequência, assemelham-se a uma banda desenhada macabra. Mas, ainda assim, encantadora para a infantilidade do nosso olhar. É dos bens mais preciosos que temos: continuarmos a ver o mundo como crianças. Talvez pensando que iremos viver para sempre, que nunca iremos precisar dos cuidados de uma sociedade funerária. Disse Guicciardini, erudito do Renascimento: «Vamos morrer. E, no entanto, vivemos como se fôssemos viver para sempre». Ainda bem!

 

 
                                                                                               Para o João Paulo Cotrim,
                                                   que gosta de banda desenhada e vai viajar para Praga.


                                         
 
 
 
 
 
 

 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Onde estiveste de noite.

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Fotografia de D'Arc


Sombras de Alguém.

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O João Gama (sempre ele…) chamou-me a atenção para o Sombras de Alguém. Disse-me que deu nas notícias – não vi. Mas vi, fui logo ver, Sombras de Alguém, que abre com a legenda: «isto é uma colecção de rolos perdidos que tenho encontrado dentro de máquinas antigas e de negativos que tenho encontrado na feira da ladra…». Fantástico.