Foi recentemente publicada entre nós, sob a chancela da Casa das Letras, a obra Mulheres de Ditadores (tradução de Oscar Mascarenhas, revisão de Fernando Milheiro).
A autora, Diane Ducret, foi antiga aluna da Sorbonne e da École Normale Supérieure, sendo descrita na badana do livro como «historiadora, filósofa e jornalista». Apresentou o Forum de l’Histoire no Canal História e, segundo a sua nota biográfica, «realiza documentários culturais e é radialista de programas dedicados à História». Diz-se ainda que é «bem conhecida do mundo dos media».
De acordo com a Wikipedia, obteve um grau em Filosofia, na Sorbonne, sendo alvo de felicitações de Bernard-Henri Lévy, e tendo defendido uma mémoire com o título La modernité scientifique et la pensée du transcendental chez Husserl. Depois, obteve um DEA na mesma especialidade, abordando o tema La mort comme critique de la totalité: lecture de L’Étoile de la Rédemption de Franz Rosenzweig. Posteriormente, realizou um Magistére de Philosophie Contemporaine na École Normale Supérieure.
Diane Ducret |
«Diane Ducret, poliglota, colaborará depois na realização de documentários históricos na France 3 para o programa Des racines et des ailes e, em 2009, apresentou Le Forum de l’Histoire, no Canal História. Em Janeiro de 2011, publicou o seu primeiro livro, nas edições Perrin. Participa ainda na Europe 1, como comentadora habitual da emissão On va s’gêner, de Laurent Ruquier», informa ainda a Wikipedia. Poderá obter mais informação junto da sua agente, Catherine Davray, aqui.
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Edição francesa (Perrin, Janeiro de 2011). |
O livro da sua autoria já foi traduzido para o italiano (Le donne dei dittatori, Garzanti, 2011) e, agora, para português. Encontra-se prevista, para 2012, a saída de um segundo tomo de Femmes de Dictateur. A obra inclui, quer na edição original francesa, quer na edição italiana, um capítulo sobre António de Oliveira Salazar.
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Edição italiana (Garzanti, 2011) |
Sucede, porém, que o capítulo sobre Oliveira Salazar (não analisámos os restantes), além de ser, do princípio ao fim, um mero resumo de Os Amores de Salazar, de Felícia Cabrita (que Diane Ducret, sublinhe-se, cita como fonte), contém, em diversos trechos, paráfrases ou plágios do livro de Felícia Cabrita, já referido neste blogue, aqui.
Os Amores de Salazar, de Felícia Cabrita |
Sem mais delongas e, por ora, sem preocupações de exaustividade, vejamos algumas flagrantes analogias entre os livros de Felícia Cabrita (FC) e de Diane Ducret (DD). Iremos referir as páginas das edições de 2006 da obra de Felícia Cabrita (Lisboa, A Esfera dos Livros) e de 2011, de Diane Ducret (Alfragide, Casa das Letras):
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FC – «Um dia soltou os cabelos, o sol atravessou a densa cabeleira que parecia um braseiro» (p. 33)
DD – «(…) solta com um gesto de desafio a sua cabeleira, deixando o sol atravessá-la e animá-la como um braseiro» (p. 145)
FC – «Hermínia, a irmã mais velha, trazia então na ideia fazer-se religiosa e andava na intimidade das Irmãs do Sagrado Coração de Maria» (p. 34)
DD – «Hermínia, a sua irmã mais velha, pensa tornar-se religiosa e vive na intimidade das Irmãs do Coração de Maria» (p. 145)
FC – «ouve uns passos que se acertavam com os seus» (p. 35)
DD – «ouve passos que se confundem com os seus» (p. 146)
FC – «ele passa e tira o chapéu num galanteio» (p. 35)
DD – «cruzando-se com ela (…), descobre-se galantemente» (p. 146)
FC – «E ela (…) responde ao cumprimento» (p. 35)
DD – «Ela responde à saudação» (p. 146)
FC – «voltou a rapar-lhe a porta» (p. 36)
DD – «vai bater-lhe levemente à porta» (p. 146)
FC – «Estava já com 23 anos e (…) andava sempre triste» (p. 38)
DD – «Apesar dos seus 23 anos, uma expressão de tristeza parece nunca deixar o rosto da nostálgica Marta» (p. 147)
FC – «O rapaz acatou a decisão sem se rebelar, mas a bem da verdade, nunca teria vocação para seguir Cristo» (p. 31)
DD – «António, que pouca vocação religiosa teve até então, responde ao pedido desta mãe preocupada» (p. 148)
FC – «Aos sábados à tarde, passa a acompanhar a amiga nas visitas ao irmão» (p. 39)
DD – «Aos sábados de tarde, ela acompanha a sua amiga na visita ao irmão» (p. 148)
FC – «(…) levam-lhe marmelada e castanhas assadas» (p. 39)
DD – «Leva-lhe todas as semanas bolinhos e castanhas assadas» (p. 148)
FC – «Retira o cartão do bolso e coloca-o nas suas mãos. Marta precipitou-se para a folha para que o lessem as duas ao mesmo tempo. Mas o irmão coloca-se a seu lado, fazendo de biombo, de maneira a que só Felismina se inteirasse do seu conteúdo» (p. 39)
DD – «António passou um bilhete à linda professora. Marta, curiosa, tenta ler por cima do ombro. Ele precipita-se a interpor-se. Só ela pode ler» (p. 148)
FC – «estava disposto a mudar o seu futuro, queria formar família» (pp. 41-42)
DD – «está quase a mudar os seus planos de vida e quer fazer família» (pp. 148-149)
FC – «(…) a rapariga, que viu naquela confissão uma declaração pecaminosa» (p. 42)
DD – «Ela vê nesta confissão uma declaração de culpa» (p. 149)
FC – «O moço estava no primeiro ano de Teologia, dedicava-se ao sacerdócio» (p. 42)
DD – «ele segue um curso de teologia, prepara-se para o sacerdócio» (p. 149)
FC – «Felismina (…) esconde o rosto para que não a veja corar e retira-se a tremer» (p. 42)
DD – «Ela esconde a cara para que ele não possa vê-la corar, antes de fugir a correr» (p. 149)
FC – «Timidez? Cálculo?» (p. 42)
DD – «Será timidez? Cálculo?» (p. 149)
FC – «Através de outro seminarista faz chegar a Felismina uma encomenda» (p. 42)
DD – «Através de um outro seminarista, consegue fazer chegar uma encomenda à ruiva» (p. 149)
FC – «(…) reconhece a sua linda letra» (p. 42)
DD – «Ela reconhece a letra de Salazar» (p. 149)
FC – «confiava-lhe os mais ardentes desejos do seu coração» (p. 42)
DD – «que lhe confessa os seus desejos mais ardentes» (p. 149)
FC – «recorrendo a metáforas: “A vida do lavrador é mais bela. (…)”» (pp. 42-43)
DD – «usando as metáforas mais rebuscadas para incitá-la à vida comum» (p. 149)
FC – «teme as artimanhas do demónio e mostra-lhe frieza» (p. 43)
DD – «teme as ciladas do demónio e opta pelo distanciamento» (p. 149)
FC – «ferido no orgulho masculino» (p. 43)
DD – «ferido no seu orgulho» (p. 149)
FC – «fazia salamaleques a tudo o que fosse rabo de saia» (p. 44)
DD – «faz cada vez mais olhinhos às outras raparigas» (p. 149)
FC – «No fim do ano escolar» (p. 45)
DD – «No fim do ano lectivo» (p. 150)
FC – «Era a primeira vez que viajava de comboio e era a primeira vez que ficava longe da asa protectora da família» (p. 45)
DD – «E a primeira vez que viaja sozinha» (p. 150)
FC – «Foi toda a viagem receosa» (p. 45)
DD – «Vai ansiosa todo o trajecto» (p. 150)
FC – «quando se apeou, e ninguém a esperava» (p. 45)
DD – «ninguém está à sua espera» (p. 150)
FC – «vê sair da gare a correr, com o guarda-sol aberto» (p. 46)
DD – «vê aparecer Salazar, de guarda-chuva na mão» (p. 150)
FC – «A mãe, o pai, as quatro irmãs de António, mimaram-na de tal forma que se sentiu em família» (p. 46)
DD – «A mãe, o pai e as quatro irmãs de António recebem-na como sendo da família» (p. 150)
FC – «com apenas 17 anos já era o senhor da casa» (p. 46)
DD – «Ele tem 17 anos, mas é já o responsável pela casa» (p. 150)
FC – «Nos passeios pelo campo, caminham de mão dada» (p. 46)
DD – «passeios de mão dada pelos campos» (p. 150)
FC – «guardados por Maria do Resgate» (p. 46)
DD - «sob o olhar de Maria do Resgate» (p. 150)
FC – «enlaça-a pela cintura» (p. 46)
DD – «agarra Felismina pela cintura» (p. 150)
FC – «Em que haveria no mundo uma senhora como a senhora» (p. 47)
DD – «Que havia no mundo uma mulher como tu» (p. 151)
FC – «Oh!» (p. 47)
DD – «Oh!» (p. 151)
FC – «“Por diz oh! Sempre?”. E ela voltou-lhe as costas para não ter de responder» (p. 48)
DD – «Porque dizes sempre oh?”. Ela volta-lhe as costas sem responder» (p. 151)
FC – «Como castigo foi, durante o mês de Setembro, aprender a bordar com as Irmãs Franciscanas» (p. 49)
DD – «Como castigo, terá de passar o mês de Setembro a bordar na casa das irmãs franciscanas» (p. 151)
FC – «Em 1906, novamente no dia 5 de Outubro, António voltava ao seminário» (p. 49)
DD – «Em 1906, novamente a 5 de Outubro, Salazar está de regresso ao seminário» (p. 151)
FC – «Felismina é finalmente colocada em Mouramorta» (p. 53)
DD – «Felismina volta para o ensino em Moura Morta» (p. 152)
FC – «ordena-lhe que ponha termo à relação. O que ele parece acatar» (p. 57)
DD – «pede-lhe que ponha termo a esta relação. O que ele faz» (p. 152)
FC – «E António (…) mostrava-se terno» (p. 56)
DD – «António mostra-se terno» (p. 152)
FC – «De novo, Felismina é convidada para Santa Comba» (p. 59)
DD – «De novo convidada, nesse verão, para Santa Comba» (p. 152)
FC – «começavam as primeiras peguilhas» (p. 63)
DD – «é o tempo das primeiras discussões» (p. 153)
FC – «Nas mãos levava um belo ramo de violetas, para quem seria?» (p. 63)
DD – «com um ramo de violetas na mão. A quem se destinam?» (p. 153)
FC – «Traz já outra na mira» (p. 63)
DD – «tem uma outra mulher debaixo de olho» (p. 151)
FC – «Bom partido» (p. 63)
DD – «Um bom partido» (p. 153)
FC – «a rapariga escangalha-se a rir» (p. 63)
DD – «Hermínia (…) ri-se das suas frases» (p. 153)
FC – «último morgado da família Perestrelo» (p. 153)
DD – «último descendente da poderosa e respeitada família Perestrelo» (p. 153)
FC – «o prestígio desta família abre-lhe outras portas» (p. 64)
DD – «O prestígio desta família benfeitora abre-lhe portas» (p. 154)
FC – «Os católicos organizam-se e reagem ao anticlericalismo da República» (p. 64)
DD – «os católicos insurgem-se contra o anticlericalismo da jovem república» (p. 154)
FC – «Aí vai firmar amizades» (p. 64)
DD – «onde cria amizades fiéis» (p. 154)
FC – «emagrecera uns quilos, o que lhe acentuou os olhos profundos e encovados» (p. 64)
DD – «as suas feições macilentas acentuam-lhe a profundidade do olhar» (p. 154)
FC – «Toma-lhe a mão e passa-a pelas suas costas» (p. 65)
DD – «segura-lhe a mão e passa-a pelo fundo das suas costas» (p. 154)
FC – «Ele mostra-se indiferente, apressa o passo para se libertar» (p. 65)
DD – «Ele fica indiferente, e apressou o passo para libertar-se» (p. 154)
FC – «Nos três anos seguintes, enquanto António, em Coimbra, abria alas na estreita escadaria do sucesso, Felismina conhecia os rumores da solidão» (p. 65)
DD – «Nos três anos seguintes, enquanto António estuda em Coimbra, Felismina atravessa um dos períodos mais sombrios» (p. 154)
FC – «Escolhe Deus como responsável do seu fado» (pp. 65-66)
DD – «Deus é o culpado ideal da sua infelicidade» (p. 154)
FC – «O padre (…) quis saber quem se ocultava do outro lado» (p. 66)
DD – «O padre (…) quer saber o que está por detrás daquele mal-estar» (p. 154)
FC – «Não havia quem não soubesse em Viseu da sua loucura pelo estudante de Direito, e a sua própria irmã era a primeira a abrir caminho aos falatórios» (p. 66)
DD – «Ninguém em Viseu ignora a sua paixoneta pelo estudante de direito e a sua própria irmã é a primeira a alargar-se em mexericos» (p. 155)
FC – «cravava as unhas na pele até sangrar» (p. 66)
DD – «crava por vezes as unhas na pele até fazer sangue» (p. 155)
FC – «No Verão de 1912, os tormentos de Felismina atingem o seu auge» (p. 66)
DD – «Numa noite do verão de 1912, os seus tormentos atingem o apogeu» (p. 155)
FC – «como se a morte tivesse entrado pela janela» (p. 67)
DD – «a morte entrou pela janela» (p. 155)
FC – «na sua cabeça uma voz sussurrava-lhe» (p. 67)
DD – «Na sua cabeça, uma voz sussurra» (p. 155)
FC – «Mas, a voz da tia Nascimento que acordou com o rumor, jogou-lhe a mão naquele momento de azougo» (p. 67)
DD – «Mas a voz da sua tia, que acordou, recondu-la à realidade» (p. 155)
FC – «Na manhã seguinte, levantou-se cedo e olhou-se ao espelho (…). Envelhecera uns poucos de anos» (p. 67)
DD – «No dia seguinte de manhã, Felismina olha-se ao espelho e tem a impressão de ter envelhecido vários anos» (p. 155)
FC – «confidencia-lhe que perdera a fé» (p. 67)
DD – «confessa-lhe ter perdido a fé» (p. 155)
FC – «Este, muito admirado, disse-lhe: “Ah! O Salazar passou também uma crise semelhante.”» (p. 67)
DD – «Ele ficou espantado e conta-lhe que Salazar atravessou uma crise similar» (p. 155).
FC – «Com Felismina, tenta manter correspondência» (p. 67)
DD – «Tenta manter uma correspondência (…) com Felismina» (p. 155)
FC – «A encomenda dela cruzava-se com uma carta do lente de Coimbra» (p. 68)
DD – «O seu correio cruza-se com uma outra carta enviada por Salazar» (p. 155)
FC – «quer saber se ela ainda o ama» (p. 68)
DD – «Ele quer saber se ela ainda o ama» (p. 155)
FC – «Felismina, que se tornara poderosa na vida política de Viseu, transforma-se numa das suas informadoras» (p. 111)
DD – «Felismina tornou-se uma das informadoras mais rigorosas do patrão do Estado Novo, fazendo dela uma das pessoas mais poderosas da vida política de Viseu» (p. 157)
FC – «Era a primeira mulher a alcançar o posto de inspectora escolar» (p. 111)
DD – «é a primeira mulher a ocupar o lugar de inspectora escolar» (p. 157)
FC – «não havia (…) outra autoridade que se aguentasse no lugar sem o seu beneplácito» (p. 111)
DD – «Não há nenhuma autoridade que se mantenha sem o seu acordo» (p. 157)
FC – «era ela quem mandava no distrito e era com ela que o ditador se aconselhava nas horas mais difíceis» (p. 111)
DD – «a sua influência alarga-se a toda a região e é junto dela que ele vem pedir conselhos nos momentos mais difíceis» (p. 157)
FC – «A correspondência com Salazar é diária» (p. 111)
DD – «A correspondência com Salazar torna-se quotidiana» (p. 157)
FC – «a inspectora dá-lhe conta de tudo o que acha suspeito» (p. 111)
DD – «a inspectora conta-lhe tudo o que lhe parece suspeito» (p. 157)
FC – «A mulher tornara-se azeda e litigante» (p. 111)
DD – «Tornou-se amarga e vindicativa» (p. 157)
FC – «Considera que o ensino caíra numa grande e aconselha Salazar a acabar com as Escolas Normais (…). O que aliás ele fez» (p. 111)
DD – «Considerando que o ensino caiu muito baixo, aconselha Salazar a acabar com as escolas normais, o que ele aceitou e fez» (p. 157)
FC – «O primeiro-ministro agradece-lhe os cuidados e espicaça-a para que se torne sua informadora» (p. 112)
DD – «O presidente do Conselho agradece-lhe os cuidados e incita-a a dar-lhe mais informações» (p. 157)
FC – «E ela torna-se, naquelas paragens, uma acérrima propagandista do salazarismo» (p. 112)
DD – «Felismina torna-se a mais feroz propagandista da ideologia salazarista» (p. 157).
(Tem continuação)
António Araújo
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