domingo, 27 de abril de 2014

Raquel Varela, cinéfila alternativa.

 
 
 

 
 
O livro de Raquel Varela A História do Povo na Revolução Portuguesa é, todo ele, muito bom. Até nas imagens – ou, melhor dizendo, nas legendas que as acompanham.
Temos, por exemplo, esta pérola: «Populares nas ruas de Lisboa apoiam a vitória dos militares revoltosos – 25 de abril de 1974»:
 
 
 
 
 
 
 
Populares aglomeram-se, de facto. Mas nas escadarias do Cinema Império, à Alameda Afonso Henriques, por onde não consta que a revolução tenha passado.
 
Melhor ainda, o filme em exibição: «O Couraçado Potemkin», de Eisenstein. Estreou em Lisboa a 2 de Maio de 1974. As imagens, claro está, são da manifestação do 1º de Maio. O filme estrearia no dia seguinte, como se explica desenvolvidamente aqui e aqui ou até na Infopédia, aqui. Já agora, uma outra imagem, de um ângulo diferente:
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Raquel Varela discorda. E apresenta uma  leitura historiográfica alternativa destes acontecimentos. Segundo a historiadora, a imagem exibe, isso sim: «Populares nas ruas de Lisboa apoiam a vitória dos militares revoltosos – 25 de abril de 1974».
Pensar que no dia 25 de Abril de 1974 estava em cartaz o filme de Eisenstein, que o governo de Marcelo Caetano permitiria a exibição de «O Couraçado Potemkin» é não perceber NADA do que era o Estado Novo, a repressão e a censura.  
Confirma-se, uma vez mais.
Raquel Varela escreve do que não sabe ou já não sabe o que escreve.



 

19 comentários:

  1. Respostas
    1. Desculpe - e muito obrigado!
      Cordialmente,
      António Araújo

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  2. Toda e qualquer vontade que tinha de ler este livro ficou aqui arrasada...

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  3. É no que dá ser uma contadora de estórias onde o povo está em todo o lado e em nenhum. Temos obra!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Que fita.
    O cinema e o Estúdio já não existem, como muitos outros e o cartaz publicitário é delicioso "Conheça Portugal - Visite Moçambique".

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  6. Este debate começou muito bem, mas parece agora limitado ao exercício de desqualificação dos intervenientes. Porque nao explorar mais a fundo as inconsistências da tese do povo que tomou o destino nas suas maos, em vez de insistir nesta pesca a linha dos erros da autora? A forma de tratar o 'povo' no livro, como o Antonio Araújo bem assinalou, nao e convincente, o que torna muito problemática a intenção de redefinir o momento inaugural da democracia portuguesa. Como leitor assíduo do Malomil, estou mal habituado a ver questoes como esta da natureza de regimes políticos serem tratadas com originalidade e substancia. No entanto, nao percebo de que forma os erros apontados neste post contrariam o cerne das teses da autora.
    Cordialmente,
    Tiago Saraiva

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    1. os erros assinalados são deliciosos.
      Sobretudo indiciam o método (rigoroso e de confiar, claro) e a «capacidade».
      Juntando isto com a famosa tentativa de raspanete moralista dado na RTP a um aluno que a desmoralizou com apenas 2 respostas temos uma aqui uma fofoquice gostosa e reveladora das «skills» da dra

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    2. 2 palavras enão 2 respostas já fará sentido - esta mania de escrever à maluca...

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  7. Por acaso, estes erros factuais nas fotos de apoio ao texto, são tão graves como os possíveis erros factuais da narrativa. Significa tão só que não houve um minimo de cuidado na identificação correcta e factual das fotos, de tal forma que elas correspondem a outros acontecimentos que não os narrados no texto que é suposto ser histórico e, portanto, rigorosamente factual. Perante isto, qualquer potencial leitor do livro questionar-se-há genuinamente que outras gralhas graves e típicas do descuido na compilação da obra existirão? Isto, em meu entender e num livro que descreve factos históricos, isto descredibliza completamente a obra.

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    1. Totalmente de acordo .
      Se imagens que ainda estão bem vivas na mente de uma parte significativa dos portugueses que viveram esses tempos são tratadas assim , também é de admitir que factos menos conhecidos e reconhecíveis sejam apresentados de forma ainda menos "cuidadosa" pois que terão menos hipóteses de serem confrontados .

      De qualquer modo a grande maioria dos que não os viveram e dos que não os viram (a informação era ainda muito "urbana" à época) vão acreditar em tudo sem questionarem nada .
      Daí a importância destas chamadas de atenção , por secundárias que possam parecer .

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  8. Parece-me pouco provavel que a autora do livro nao tenha nocao que era impossivel o Imperio passar o Couracado Potemkin a 25 de Abril de 1974. Insistir nestas "chamadas de atencao" passa para segundo plano o problema mais importante do conceito de povo que o primeiro post tao bem tratou. Uma boa revisao editorial pode corrigir esses erros. Ja a tese do bom povo revolucionario na vanguarda da historia, nao ha editor que lhe valha.

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    1. Totalmente de acordo com a sua última frase e com o modo inteligente como a colocou no contexto geral .

      Mas não concordo com a 1ª pois é precisamente por aí que passa tudo o resto , a leviandade é do mais perigoso que há num meio pouco interessado em aprofundar o que viveu e o que não viveu e que aceita como verdade quase tudo desde que venha ao encontro das suas indignações do momento .
      Uma boa revisão só é precisa quando há incompetência pois que se houver má fé ninguém a fará .

      De qualquer modo a questão - que muito bem foca - não me parece que pudesse ser passada para 1º plano aqui , leitor assíduo do Malomil não estou a ver esse tipo de "polémica" (ou outro nome que lhe queiramos dar) num espaço com as características que o autor deu a este desde sempre.

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    2. Sim. claro. Mas agora é o momento da «questão secundária muito reveladora».
      Para mais, noutros momentos (ou posts) o A.A. deu a merecida coça ao conceito bailarino (ou ladino) de «Povo» proposto pela R.Varela.

      Porque não podemos falar de erros secundários? Não fossem aqui denunciados e ainda passariam a «factos» prontos para a k7 do costume, não acha?

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    3. Porquê impossível??? Por acaso sabe a quantidade de filmes que o império passava...cortados pela censura....mas passava, e eu vi muitos, sabe? Confirmou se a data era de antes do 25 de abril ou do 1º de maio? Confirme, vá lá! e desculpe a drª Varela de qualquer coisinha ,pois com a idade que tem muito arrojada é...e esse mérito poucos têm!

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  9. Tiago estás mesmo decidido a comer a doutora!

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  10. A dra. é comestível?

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    1. Com o devido respeito essa pergunta faz tanto sentido como a de "valeu a pena o 25 de Abril?".

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  11. Entendam-se
    http://5dias.wordpress.com/2014/04/27/antonio-araujo-a-historia-e-a-farsa/

    Pessoalmente a nota do senhor acessor politico do dr Anibal deixa-me, no minimo confuso.

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