sábado, 9 de agosto de 2014

Ilha do Fogo.

 
 
 







2 de Agosto
 
O erguer da cama, no último dia da Brava, foi às 5am para apanharmos o Fast Ferry que supostamente rumaria à ilha do Fogo pelas 7 e no entanto só largou às 10:30.
Em S. Filipe, reencontrámos o sr. Emílio, que nos fora recomendado já em Santiago. Eu queria alugar carro, mas dissuadiram-me, pois seria melhor contratar um guia local para o passeio ao vulcão. Acabei conformando-me. O sr. Emílio delegou a tarefa no filho, o Júnior, de 21 anos.
Afinal a estrada está magnífica e, ao contrário das outras ilhas, muito bem assinalada e eu poderia de facto ter alugado carro. Há vantagens neste modelo, porém. O nosso guia herdou do pai o fino trato, a simpatia e a vontade de mostrar a sua ilha sem no-la impor.
Sobe-se até ao cimo da cratera (1700 metros de altitude), sem nunca se avistar o cimo da montanha. Ele aparece-nos de surpresa quando atingimos o topo, como se à Vista do Rei das Sete Cidades. Entramos numa chã (a Chã das Caldeiras) rodeada de uma cumeeira em toda a volta e, em frente, emergindo dela, ergue-se um soberbo cone, grandioso, imponente na sua forma elegante, e sobretudo impondo respeito pelo vigor vulcânico da lava, da jorra (o nosso cascalho ou bagacina) e dos pedregulhos, tudo com sinais vivos de erupções nada afastadas no tempo (a última, no pico pequeno, em meados de noventa).
Para além da beleza geométrica do triângulo, é a imensidão e o relevo da cratera que impressionam. Por estranho que pareça, o cone não parece chegar aos 1100 metros que tem sobre os 1,700 em que assenta, embora o total ultrapasse em 500 a altitude do nosso Pico.
Há um pequeno povoado de umas quase duas mil pessoas. Uma escola, duas adegas produtoras de vinho (visitámos a do famoso Chã branco, de que ficámos fiéis devotos (por incrível que pareça há vinhas – ou pés de videira dispersos – no meio da imensa pedraria), uma igrejinha, um campo de futebol com um piso de jorra (pobres joelhos dos jogadores quando aterram) e até dois modestos restaurantes. Escolhemos um numa casa particular e comemos praticamente na cozinha. A pequenada brinca à nossa volta, locais entram e saem com grande à vontade, saúdam sempre os presentes, mangam com a cozinheira, brincam com as crianças.  Alguns deles são guias e vêm acompanhados de turistas chegados de uma escalada à montanha, que tem de ser feita logo às seis da manhã (quatro horas de subida e duas de descida). Mais tarde é impossível por causa do calor. Para mais, lá em cima o chão é quente. Com o sol a pino, seria de fritar.
A montanha está sempre toda descoberta. Dizem-me que permanece assim. Aqui nunca há nuvens. É como a paisagem da Madeira: igual de manhã à noite. Para obtermos nuances, há que viajar pela cratera em cata de ângulos novos, porque as cores estão já lá todas nas pedras, não advêm da luz que as banha, nem se desdobram em matizes. Por isso este Fuji Yama é isto que aqui está, vigoroso, hercúleo, mas impávido e sereno. E sem as poses de trombudo ou irado, nem os caprichos do seu primo Pico, dos Açores, que nos irrita fazendo negaças e encobrindo-se, mas também nos delicia com o seu strip-tease da roupagem de nuvens, por vezes com tantas camadas quantas as saias das mulheres da Nazaré e por isso matizam a luz do sol à medida que se desnuda ou se cobre.
Uma outra diferença é a ausência do acentuado perfil do pico salientando-se sobre a ilha por causa das dimensões da cratera. O todo da sua altitude só de um ângulo da ilha se obtém e só o captei do avião. A silhueta da montanha não consegue, porém, a imponente elegância da sua congénere açoriana. O portento do cenário do Fogo disfruta-se é na sua cratera, uma festa para os olhos, um mergulho num interior da terra desventrado a torrar ao sol. E não a apreciei por inteiro porque seria necessário pernoitar. Já tínhamos organizado a viagem quando soubemos dessa possibilidade. Fica essa vontade acrescentada ao já assente desejo de voltar.
 

 
Onésimo Teotónio de Almeida








1 comentário:

  1. Belas fotografias! Pode crer que são das mais bonitas que tenho visto do imponente e
    algo assustador vulcão da ilha do Fogo. Um abraço amigo
    Ondina

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