quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Usbequistão: encruzilhada de civilizações (2).

 

 

 

A História do território que hoje é o Usbequistão é, em grande parte, a História das suas invasões por povos e exércitos.

Os povos primitivos desenvolveram de forma perfeita a técnica do tiro ao arco a cavalo, tornando ferozes os combates com os povos invasores. Segundo a tradição, foram vários os povos invasores que soçobraram nas suas intenções. As vitórias eram celebradas com o costume bárbaro de beber o sangue dos inimigos com os seus crânios fazendo de taças.

O imperador Ciro o Grande, que terá morrido numa batalha perto do Mar de Aral em 530 a. C., conseguiu finalmente estender o domínio da Dinastia Aqueménida à Região. E com ele a imposição do zoroastrismo como religião de Estado. Foi a primeira época estável que estes povos conheceram.

Em 329 a. C. esta Região marca encontro com a epopeia de Alexandre o Grande que, desde a Macedónia, vai atingir a Índia. Atravessa o mítico Rio Oxus, hoje Amu Darya, que atravessa o País, usando, segundo os relatos, peles de ovelha insufladas. Na região que é hoje o Usbequistão, então a Transoxiana ou para lá do Oxus, fundou uma Alexandria do Oriente. Aí casou com Roxana, filha de uma individualidade local. Dela teve um filho que já nasceu póstumo. Teria sido o herdeiro de Alexandre, mas foi assassinado criança durante um período de novo caos.

O Século VIII assiste à vitória do Islão. Um milénio depois de Alexandre, em 706, os Árabes vencem os Sassânidas, decidindo atravessar o Rio Amu Darya e ocupar as cidades da Região impondo a nova fé do Profeta Maomé. Mas só um século depois se consegue respirar uma atmosfera de estabilidade e prosperidade num contexto árabe.

A presença islâmica perpetua-se até hoje.

Mas mais invasões viriam. Mas ficam para outras crónicas…

Em Taschkent a Madraça (estabelecimento de ensino islâmico) Bark-Khan, a Mesquita Tellia Cheikh e a Madraça Kukeldash são alguns dos monumentos que nos revelam aquela presença.

A primeira foi construída no Século XVI e contem uma preciosa versão do Alcorão composta por 353 páginas de pergaminho escritas no Século VII. É o Alcorão do Califa Osman. Servia para o estudo dos alunos da Madraça.

 



 


                                                                    Fotografias de 25 de Setembro de 2024

                                                                                                             José Liberato




terça-feira, 26 de novembro de 2024

São Cristóvão pela Europa (287).

 

 

 

Continuando em Viena de Áustria, na Feldkellergasse, uma imagem num nicho:

 



Na Altgasse, muito perto de Schönbrunn, a fachada de um antiquário apresenta um baixo-relevo:




A Igreja de São Leopoldo está integrada num enorme complexo psiquiátrico. Garanto-vos que não foi fácil lá chegar. Mas é uma das mais notáveis igrejas de Arte Nova do Mundo!

É da autoria de um dos arquitectos famosos do movimento Secessão de Viena: Otto Wagner (1841-1918). Este movimento constituiu, no final do Século XIX, uma dissidência das normas tradicionais vigentes.

A igreja foi inaugurada em 1907 pelo Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono, o que foi assassinado em Sarajevo. Detestando as formas modernas da igreja recusou-se mesmo a cumprimentar o arquitecto…

Atrás do altar-mor, um mosaico com vários santos nomeadamente São Cristóvão.

 




Na Breitenfurterstrasse, um mosaico numa empena, da autoria de Hubert Tuttner (1920-2007), já mencionado no post 273:

 



Finalmente, na Buchengasse, outro mosaico:

 


 

                                                                Fotografias de 5 de Agosto de 2024 

                                                                                    José Liberato



segunda-feira, 25 de novembro de 2024

São Cristóvão pela Europa (286).


 

 

Muito próximo do Danúbio ergue-se a Donaukapelle de Langenlebarn. Foi reconstruída em 1670 após destruição por uma grande inundação do rio.

O mural representando São Cristóvão está datado de 1953 e é da autoria de Sepp Zöchling que já aqui mencionámos a propósito de Baden no post 281.

 



Já no Bosque de Viena (Wienerwald), existe um santuário chamado Lourdesgrotto. Numa pedreira abandonada construiu-se uma gruta semelhante à do Santuário de Lourdes onde terão ocorrido os milagres em que participou Bernardete Soubirous. Na inauguração em 1925 participaram 60000 pessoas e é hoje um dos principais locais de peregrinação da Áustria.

À entrada, uma estátua do nosso Santo.

 



E entramos na cidade de Viena. Como veremos, são inúmeras as representações de São Cristóvão.

Na Schenkendorfgasse, um mosaico num prédio de habitação da autoria do artista austríaco Wilhelm Kocian (1942-2010):

 


Do mesmo autor, uma estátua na Kaisermühlendam:

 



 

Na Alseggerstrasse, um mural na sede de uma empresa de transportes rodoviários:

 


Finalmente a chamada Sandleitenkirche dedicada a São José e construída em 1936 tem um enorme mural na torre sineira representando São Cristóvão. A sua construção inseriu-se nas Políticas do Estado Corporativo Austríaco iniciado por Dolfuss e prosseguido por Schuschnigg por contraste com o período da Viena Vermelha, caracterizado por construções de habitação social de inspiração socialista com o é o caso da Karl Marx-Hof.



                                                        Fotografias de 4 de Agosto de 2024

                                                                            José Liberato


domingo, 24 de novembro de 2024

Carta de Bruxelas.

 



                                                                                        Pânico nas ruas de Amesterdão

 

    Já lá vão uns anos. Em 1933, Trotsky, o «velho» como era carinhosamente tratado pelos seus proches no exílio, escrevia «o pogrom torna-se a prova suprema da superioridade racial.» Na época, pagava-se a cegueira face à realidade com a falsa moeda da irracionalidade racial.  Hoje a acusação agravou-se. O pogrom tornou-se a prova suprema da superioridade moral, para os participantes, os que o aplaudem ou que a ele assistem passivamente mas, no íntimo, com satisfacção. A troco da violência, apazigua-se a má consciência imaginária por meio do ataque ao ocidente. Mas há pior. Como uma casa pobre se revela mais miserável pela mobília gasta e decrépita do que pelo espaço vazio, o presságio sinistro do pogrom revelou-se na dissimulação moral daqueles que olham para o lado fingindo que não vêem o que vêem. Sentados no recato e conchego do lar, talvez a ler livros de história da Alemanha nazi, pretendem não ouvir as facas que estão a ser afiadas para os degolar. É difícil imaginar sinal mais desesperado do desespero. E mais cobarde.


                                                                                João Tiago Proença




 


sábado, 23 de novembro de 2024

Natal em Novembro.

 


Comecei ontem à noite e ainda não parei, pois este é, de facto, um livro apaixonante, onde facilmente ficamos presos, enredados, sequestrados, ademais com muito gosto e prazer, eem doce síndrome de Estocolmo. 

Trata-se, se quisermos, de uma história cultural do surf – ou, melhor dito, de uma história culta do surf – escrita a partir de um assombroso trabalho de investigação e pesquisa (a bibliografia final é quilométrica, e só encontrei uma lacuna, e essa de certo vulto, o livro de Sven A. Kirsten, Tiki Pop, da Taschen, que deveria figurar numa obra que vai tão a fundo, e tão bem, na história do Havai; e, já agora, de Colapso, de Jared Diamond, que tanto fala das migrações no Pacífico e da Ilha da Páscoa).

Desenganem-se, porém, os que julgarem que a obra só trata de surf ou só poderá interessar aos fanáticos dessa modalidade marinha. Longe disso: além ou para lá do surf, o livro aborda coisas tão diversas como a epopeia dos açorianos no Havai, a génese da aeronáutica norte-americana ou a vida absolutamente extraordinária da condessa Canavarro (como é possível não existir um livro sobre ela em Portugal, Deus meu?!) ou a viagem do São Gabriel, entre o estertor da Monarquia e os alvores da República (como é possível não haver uma obra de divulgação sobre essa fabulosa odisseia?!).   

De permeio, escritores ilustres, como Jack London ou Agatha Christie, aventureiros, viajantes, um universo infindável de pequenas e grandes histórias. Por vezes, reconheço, o autor mete-se por atalhos e faz desvios de percurso, na ânsia de tudo explicar e tudo contextualizar – e também, estamos em crer, pelo fascínio que decerto sentiu ao descobrir tantas histórias d’assombração – como o compreendemos… Também por vezes, muito poucas, há um certo estilo wikipédico de apresentar as personalidades entradas em cena (veja-se, por exemplo, o modo como Pedro Arruda nos traz Ferreira de Castro, na página 176). Tudo pecados veniais, menoríssimos, em face da grandeza desta obra fascinante, que fica a par, ou até supera, outro livro que li sobre o tema, Dias Bárbaros. Uma Vida no Surf, de William Finnegan. Agora, com vossa licença, vou retomar a leitura, que está quase no fim, que pena. 


                                                                    António Araújo 

 

P.S. – também curioso: Luís Filipe Pereira Dantas, Juventude e Tribos Urbanas. Os surfers no Barlavento do Algarve, dissertação de mestrado em sociologia, Évora, Universidade de Évora, 1997. Concluiu-se aí que os praticantes da modalidade eram maioritariamente homens, de idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos, nascidos e residentes em Portimão, com progenitores com diferentes graus de habilitações literárias, havendo maior predominância de mães com estudos superiores e, quanto aos pais, de empresários de comércio e quadros técnicos. O estudo é de 1997, pelo que é possível, até provável, que as coisas tenham mudado, com um crescendo de praticantes femininas e uma maior diversidade de origens sociais. Em todo o caso, aqui fica uma sugestão de leitura para Pedro Arruda, caso este leia esta nota, que julgo lhe interessará dado o seu conhecimento enciclopédico em matéria surfista, e não só. 



sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Usbequistão: encruzilhada de civilizações (1).

 


 

Nos últimos dias de Setembro e primeiros de Outubro voltei a integrar um grupo organizado pelo Le Monde integrando diplomatas, jornalistas e leitores do jornal. Desta vez, o objectivo da viagem era a descoberta do Usbequistão.

O Malomil gentilmente acedeu a publicar umas crónicas dessa visita.

Já antes aqui publiquei Hotel Rwanda (sobre o Ruanda), A porta do Oriente (sobre o Líbano), Entre Oriente e Ocidente (sobre os Balcãs) e Argélia: tempo da Fraternidade? (sobre a Argélia).

O Usbequistão (ortografia em Português do Dicionário da Academia das Ciências) situa-se no centro da Ásia Central. E o pleonasmo à volta do Centro é mesmo justificado. Com efeito, proclama-se no país que o Usbequistão é o único país do Mundo que, não tendo acesso ao mar, é rodeado por países que também não têm acesso ao mar. Evidentemente que para o raciocínio estar correcto é preciso excluir o Mar Cáspio que é, apenas, um mar interior…

O Usbequistão é cerca de 5 vezes o tamanho de Portugal, tem 33 milhões de habitantes e está rodeado pelo Cazaquistão o Turquemenistão, o Afeganistão e a Quirguízia e o Tadjiquistão.

Como entidade política e com esse nome foi criado quando em 1924, Josef Estaline, na altura Comissário do Povo (Ministro) das Nacionalidades, resolveu dividir o que até então se chamava Turquestão em quatro entidades políticas diferentes com base nas etnias predominantes.

Tachkent é a capital. Um facto importante e pouco conhecido é que era a quarta cidade da antiga União Soviética depois de Moscovo, São Petersburgo, e Kiev. Hoje é a maior cidade da Ásia Central.

Em Tachkent não resta muito do período pré soviético.

O Memorial da II Guerra Mundial, contendo os nomes de todos os mortos usbeques e o túmulo de um soldado desconhecido, foi construído num estilo tradicional. Uma escultura representa a dor da Mãe Pátria, tendo em frente uma chama permanente.

 



O Monumento à Independência foi erigido onde antes estava um monumento de Lenine. Não será de um gosto extraordinário, mas dá para avaliar a evolução do regime soviético para a actualidade.


Ainda há vestígios do período czarista. O palácio Romanov foi a residência do Grão-duque Nicolau Konstantinovitch, sobrinho do Czar Alexandre II e, portanto, primo direito do último czar Nicolau II, exilado pela corte após um escândalo envolvendo joias da família.



A Ópera de Taschkent, o Teatro Navoy, honra o nome de Alisha Navoy (1441-1501), escritor e poeta muito considerado no país do tempo do Império Timúrida, fundado por Tamerlão. Foi inaugurado em 1947 e na sua construção foram sobretudo usados prisioneiros de guerra japoneses.



 

                            Fotografias de 25 de Setembro de 2024

                                                                 José Liberato




segunda-feira, 18 de novembro de 2024

São Cristóvão pela Europa (285).

 

 

 

O post de hoje refere-se aos distritos de Holabrunn e Horn no Estado da Baixa Áustria.

Em Ravelsbach, uma estátua de pedra representa São Cristóvão. É da autoria do escultor Werner Marinko (1887-1965), nascido na Croácia, activo na II Guerra Mundial numa aldeia próxima e do lado errado. Os derrubadores de estátuas não estão activos nestas paragens…

 


Schöngrabern, a 20 quilómetros da fronteira com a Chéquia, é célebre por ter sido o cenário de um combate das guerras napoleónicas ocorrido entre as batalhas de Ulm e Austerlitz. Teve lugar em 16 de Novembro de 1805 e é tratado por Tolstoi na Guerra e Paz. É o episódio do baptismo de fogo do Príncipe André.

A igreja paroquial dedicada a Nossa Senhora da Natividade tem duas metades completamente diferentes: a românica e a barroca.

A românica é notável e de uma beleza extraordinária. No exterior, vários baixos relevos de grande qualidade, nomeadamente o que representa do lado esquerdo uma caça ao javali e do lado direito a roda do tempo.

No interior, um fresco de cerca de 1350 onde se apresenta o nosso Santo numa atitude de poder com manto de arminho e coroa ducal.

 

 


 No distrito de Horn, Gars am Kamp chegou a ser capital da Áustria no Século XI no tempo da família Babenberg. Numa ponte à entrada da localidade existe uma estátua de São Cristóvão inaugurada em 1974. Ao fundo o castelo dos Babenberg.

 

 

Finalmente, a igreja paroquial de Sigmundsherberg é dedicada a São Cristóvão e foi consagrada em 1937. Possui um fresco no coro da autoria de Franz Pitza e uma estátua de madeira.

 



                                            

                                                Fotografias de 4 de Agosto de 2024 

                                                                    José Liberato


sábado, 16 de novembro de 2024

São Cristóvão pela Europa (284).

 

 

 

Krems an der Donau é a quinta maior cidade da Áustria. Centro económico, comercial e cultural, vive sob a égide do Danúbio, sofrendo aliás das suas inundações como aconteceu este ano. Tem também uma presença do nosso Santo, nomeadamente nos seus arredores.

 

Em Mautern an der Donau, na outra margem do Rio, um mural na Mauterbach, na empena de um edifício:

 


Em Stein an der Donau, a Igreja de São Nicolau é a que figura em primeiro lugar na fotografia. No exterior tem um mural em mau estado.

 



 

Em Krems, na Hohermarkt, uma consola suporta uma pequena estátua de São Cristóvão datada de 1468. É uma cópia, estando a original no Museu local. O edifício é gótico.

 




Finalmente em Rehberg, a Igreja de São Tiago Maior tem um grande mural na sua torre representando São Cristóvão com elementos diferentes do habitual dado que o Menino Jesus se encontra suspenso no ar.

Na sacristia, convenci o sacristão a libertar um fresco do nosso Santo que se escondia atrás de um painel de madeira.


 


                                                    Fotografias de 3 e 4 de Agosto de 2024 

                                                                                    José Liberato